10 de agosto de 2002

Relato: Travessia da Serra Fina que levou 6 dias - Serra da Mantiqueira - Divisa SP/MG/RJ

Tudo começou depois daquela propaganda em cima da Pedra da Mina que apontava o lugar como 4º maior ponto do país em uma medição feita em 2000, que depois foi ratificado pelo IBGE no Projeto Pontos Culminantes. Naquela época chegar ao topo da Pedra da Mina era quase que obrigatório para quem curtia montanhismo e eu fui lá conferir se a Pedra era tudo isso mesmo. Com o relato do montanhista Sérgio Beck em mãos, que tinha sido publicado no livro Caminhos da Aventura, pretendia fazer a tradicional travessia em 4 dias, iniciando na Toca do Lobo e terminando no Sitio do Pierre.

Foto acima: na trilha com a Pedra da Mina ao fundo 

Fotos + croquis + mapas: clique aqui 

Alguns dias antes liguei para vários contatos em Passa Quatro para agendar o transporte da cidade até a Toca do Lobo e já acertar os valores, mas desisti depois de ter ouvido o quanto queriam cobrar, inviabilizando qualquer tentativa. 
Por estar sozinho, já imaginava que os preços não seriam baixos - deixei no final do relato vários telefones de contatos em P4 e Itamonte.
Com isso não me restou outra opção, senão o de seguir o mesmo roteiro do Sérgio Beck (vir da Rodovia até a Toca do Lobo na caminhada).
No final de Julho peguei o ônibus na Rodoviária do Tietê em direção a Passa Quatro/MG, saindo as 07:00 hrs. 
Ele segue pela Via Dutra e depois sentido Cruzeiro para só então subir a Serra da Mantiqueira. Logo que ele passa um monumento na divisa SP/MG e uns 7 Km depois, pedi para descer em frente ao galpão do Ministério da Agricultura, no Bairro do Pinheirinho a cerca de 4 Km antes de chegar em Passa Quatro. No trevo de acesso tem uma placa sinalizando Clube de Campo, à direita.
Início da caminhada da Serra Fina
Cheguei aqui pouco antes das 12:00 hrs e junto da Rodovia sai uma estrada de terra do lado direito e segue em direção da Toca do Lobo. 
Da Rodovia até o lugar são quase 3h30min e não é fácil encontrar água de boa qualidade nesse trecho, por isso pegue água nas primeiras casas ou traga na mochila.
A estrada vai seguindo por entre pastagens e com o Sol a todo momento castigando. Logo na primeira hora vão aparecendo algumas bifurcações à direita e à esquerda, mas a estrada principal é fácil de identificar e é só seguir por ela.
Passado 1 hora de estrada e pouco depois das 13:00 hrs sigo por um trecho no plano com um vale e um rio à esquerda. Do lado direito inúmeras árvores estão na beira da estrada e logo chego numa outra bifurcação. 
Pequeno curral ao longo da estrada
Aqui é bem fácil e sigo para esquerda, já visualizando uma enorme árvore à esquerda da estrada. Seus galhos e a área de sombra são enormes, sendo conhecida como Ingazeiro de Passa Quatro. É uma atração turística e é maravilhosa mesmo.
Depois de deixar a árvore para trás, a estrada inicia uma subida bem forte, passando ao lado de uma pequena Capela do lado direito (aqui se chover não é qualquer carro que passa). 
Mais uns 40 minutos e passo ao lado de um curral do lado esquerdo e depois de mais uma outra subida básica, desço em direção a uma porteira e cruzo com um riacho. 
Até aqui foram quase 3 horas de caminhada desde a Rodovia e a partir daqui estou entrando na Fazenda Toca do Lobo. 
Depois de cruzar a porteira, logo a direita já se avista a sede da Fazenda, mas o caminho é em frente pela estrada que segue ainda subindo.
Mais uns 20 minutos e a estrada se estabiliza com uma leve descida até chegar na Toca do Lobo (uma espécie de gruta bem pequena e cheia de lixo).
Cheguei aqui por volta das 15h20min e com quase 3 horas e 30 minutos de caminhada era o suficiente para o dia (engraçado que desde a Rodovia não passou um único carro por mim, que pudesse oferecer carona).
Procurei uma parte plana para montar a barraca e fui dar uma explorada pelo rio acima.
A água aqui é de boa qualidade, mas se quiser evitar um peso desnecessário, pegue água uns 30 minutos à frente na subida da crista pela trilha. 
Quando começou a anoitecer fui para dentro da barraca fazer o jantar e logo fui dormir, pois os próximos dias seriam bem mais puxados.
Crista da Serra Fina chegando
No dia seguinte acordei pouco depois das 07:00 hrs. Barraca desmontada e mochila nas costas só foi atravessar o rio uns 10 metros antes da Toca e seguir pela trilha. Vou subindo quase em zig zag para galgar a crista pelas próximas horas. Depois de sair da vegetação alta, a trilha emerge numa área de gramíneas com trilha bem demarcada, sem grandes dificuldades. 
Uns 30 minutos desde a Toca, ouço um pequeno riacho do lado direito (aqui é um bom lugar para pegar água para os próximos 2 dias e o ideal é levar uns 3 a 4 litros).
Subindo de cocuruto em cocuruto, a trilha é bem demarcada e vai seguindo por entre o capim ralo. Ao sul e a oeste pode-se ver belos sítios no Vale do Paraíba, o Pico da Gomeira e o Pico do Itaguaré.
Umas 2 horas desde a Toca e pouco antes das 10:00 hrs, num trecho plano da trilha, encontro vestígios de acampamento, mas com o problema do local ser exposto e em casos de ventos fortes, é complicado acampar aqui.
Daqui em diante a trilha segue por entre 2 vales, mas bem ao norte já visualizo o topo do Pico do Capim Amarelo, que é o meu objetivo naquele dia.
Picos da Serra Fina, com Pedra da Mina bem ao fundo
Depois do trecho pela crista que divide os Estados, entro definitivamente no capim elefante e a subida se torna mais íngreme ainda e com isso fui parando várias vezes para retomar o fôlego.
O ideal aqui é usar uma luva para evitar os cortes nos dedos provocado pelo capim.
Pouco mais de 2 horas desde o selado lá embaixo, chego a mais um outro (é um pequeno ombro do Capim Amarelo). Do local já se consegue avistar a Pedra da Mina, bem imponente a leste, se destacando na serra.
Descanso por um certo tempo aqui e pouco depois das 13:00 hrs volto à caminhada, passando por um trecho descampado no meio do bambuzal, que pode ser usado em caso de mal tempo no topo. 
Descansando
A partir daqui a trilha se torna mais íngreme e com alguns lances de escalaminhada por entre algumas pedras. A trilha segue pela mata fechada, mas que não apresenta bifurcações e de vez em quando começam a aparecer vistas a noroeste e ao norte. O topo parece estar tão próximo e pouco antes das 15:00 hrs chego nele.
Aqui no cume existem alguns lugares para montar barracas entre as clareiras e como não tinha ninguém pude escolher o melhor ponto para ir montando a barraca.
À leste já vejo a trilha que irei percorrer no dia seguinte e noto que não será assim tão fácil, pois existem algumas subidas bem íngremes.
Depois de montada a barraca, exploro as laterais do topo para encontrar a saída da trilha em direção a Pedra da Mina. Encontro alguns totens apontando para o norte e deve ser por lá que a trilha segue, já que a leste não encontro nenhum vestígio dela.
As clareiras do topo são todas protegidas pela vegetação alta, então não me preocupo com o vento, mas surge um pequeno problema. 
Ao tirar as comidas e as frutas de dentro da mochila as deixo do lado de fora e não demora muito, um pequeno ratinho veio fazer sua refeição. 
Pelo menos ele pegou só um pequeno pedaço de uma maçã e sou obrigado a jogá-la fora.
Depois dessa tomo algumas precauções para não ter outras surpresas.
Amanhecendo na Serra Fina
Dou uma lida novamente no relato do Beck, para ir me preparando para o que me aguardava no dia seguinte.
Naquela noite o ratinho não me visitou mais e saí da barraca para apreciar o visual ao redor, conseguindo ver inúmeras cidades iluminadas, principalmente a oeste e ao norte. 
Ainda acordo bem de manhãzinha para apreciar o nascer do Sol e pouco antes das 07:00 hrs já estava desmontando a barraca. 
Tinha pouco mais de 1 litro de água que era o suficiente para eu chegar na base da Pedra da Mina, onde a trilha cruza com um pequeno riacho.
Fui sair do topo pouco depois das 07h30min, seguindo por uma trilha na direção norte.
Me orientando por alguns totens, vou descendo no sentido nordeste até entrar no trecho de mata fechada, passando por bambuzais. Só me confundo quando chego numa bifurcação de 90° a esquerda. A trilha parece seguir em frente, mas logo percebo que ela se fecha. 
Voltei novamente para a bifurcação e sigo na da esquerda, orientado por algumas fitas amarradas nos galhos. Entro novamente em uma área de bambuzal e aqui a todo momento minha mochila vai se enroscando nos pequenos bambuzinhos.
Pouco mais de 40 minutos do topo saio do bambuzal e chego no trecho de capim elefante com tufos bem altos.
Aqui encontrei alguns descampados para a direita em meio aos tufos de capim elefante (é um bom local protegido para acampar, em caso do topo do Capim Amarelo estiver lotado ou se você chegar muito cedo lá). 
Tendo como referência um morro à esquerda e à leste, vou seguindo em frente e ao mesmo tempo contornando ele para a direita, evitando ganhar altitude. 
A trilha vai passando por pequenas bifurcações, mas todas com o intuito de evitar passar por tufos de capim intransponíveis. Depois de uns 30 minutos desde os descampados na base do Capim Amarelo, chego aos primeiros campinhos do lado direito da trilha. A grama é bem rala, mas não são muito bons para acampar. Se não me engano, no segundo ou terceiro campinho é um bom local para acampar, já que existem lugares planos junto da trilha. Sem dúvida, são ótimas opções para camping.
Quando vou passando pelos campinhos, já visualizo a encosta exposta à leste onde ainda terei de passar. É uma subida íngreme, mas é o caminho a seguir e assim que termino de passar pelo último campinho, do lado direito, entro em um pequeno trecho de mata fechada. Algumas bifurcações levam para a direita da encosta, mas o caminho certo é seguir um pouco para esquerda para chegar na base e assim vou subindo pelas lajes de pedras expostas, tendendo para a direita. 
A subida é árdua e o Sol castiga muito, por isso fui parando em vários momentos para descansar e retomar o fôlego.
Tendendo um pouco para direita e seguindo os totens, vou ganhando altitude com grande esforço.
Depois de umas 3 horas desde o topo do Capim Amarelo termino a subida e volto a entrar na vegetação alta tomando rumo norte por trilha bem demarcada.
Aqui não tem como errar, pois a trilha é bem visível e depois de uns 20 minutos chego a um pequeno paredão, onde a única opção é seguir pela esquerda.
Com lances de escalaminhada, vou subindo se agarrando à vegetação e às rochas e com 15 minutos chego no alto da crista para um merecido descanso. 
Pedra da Mina chegando
Daqui para frente já estou no plano, mas não por muito tempo. Logo pego a crista com capim alto e inúmeras pedras no caminho.
Pedra da Mina já começa a aparecer logo à frente e depois de mais um trecho de bambuzinhos e lajes de pedras, chego no último trecho antes da descida até as nascentes da Pedra da Mina. 
Aqui existe uma poça de água de uma pequena nascente à direita e em caso de emergência é uma opção.
O que chama a atenção aqui é a imponente Pedra da Mina logo a frente. 
É um visual que impressiona, porém ainda resta a descida do vale e subida pela trilha até o topo. A neblina já começa a surgir nas encostas da Pedra e descendo pelas lajes expostas, vou me orientando pelos totens e ao fim de uns 30 minutos chego a um local plano, onde encontrei vestígios de acampamento (provavelmente quem acampa aqui é porque chegou quase anoitecendo).
Cachoeira Vermelha
Conforme avanço pelo vale, vou passando por algumas áreas descampadas que servem de acampamento e logo avisto do lado direito uma pequena cachoeira, conhecida como Cachoeira Vermelha. 
Só tem um pequeno problema; a água tem um gosto estranho, pois é é rica em ferro. 
Por causa disso tenho de pegar água em outro ponto já que a minha tinha acabado.
A trilha vai passando pelo capim ralo e lajes expostas, com pequenas subidas de morros e depois de uns 30 minutos cruzo com outro riacho, este sim com água de qualidade. 
Ao lado há uma clareira bem grande entre os tufos de capim elefante, que é um ótimo local para acampar, mas como ainda é muito cedo (pouco depois das 14:00 hrs) sigo em frente na direção do topo.
Topo da Pedra da Mina
Mais algumas lajes de pedras e logo chego na base. 
O caminho a seguir é para sudeste onde encontro alguns totens que me orientam na subida e daqui para cima a trilha segue por entre os arbustos e declividade razoável, quase sempre em zig zag.
Em vários momentos fui parando para retomar o fôlego, já que não tinha pressa. 
Ainda passo por um pequeno ombro antes do cume e pouco depois das 15:00 hrs chego no topo da Pedra da Mina. 
A altitude aqui é de 2798 metros, sendo considerado o 4º ponto mais alto do país (os 3 primeiros são: Pico da Neblina - 2994 metros, 31 de Março - 2972 metros e Pico da Bandeira - 2891 metros).
Aqui no topo o tempo ajuda e o visual é impressionante. 
Encontro alguns acampamentos protegidos por pedras e escolho um deles para montar a barraca e depois disso exploro as laterais do cume. No lado norte vejo vestígios da trilha que desce em direção ao Paiolinho e para quem pretende encurtar essa travessia ou finalizar a caminhada devido a algum problema, essa é a rota de fuga. 
A vantagem de acampar no topo é o visual, mas com o problema do lugar ser exposto em caso de vento muito forte.
Barraca montada no topo da Pedra da Mina
Depois de apreciar o pôr do Sol, voltei para a barraca e conforme foi anoitecendo, a neblina começou a tomar conta do topo.
O visual ficou totalmente prejudicado e com isso a temperatura caiu rapidamente. Sou obrigado a me recolher para dentro do saco de dormir e depois do jantar, lá pelas 21:00 hrs, logo pego no sono.
No meio da madrugada acordo e olho para o lado de fora, mas não tenho uma boa visão, já que estava tudo encoberto e era só um presságio do que ainda estava por vir. 
Volto a me enfiar no saco e logo pego no sono novamente. Pouco antes das 08:00 hrs saio da barraca e tomo um susto. 
O topo estava totalmente encoberto com fortes rajadas de ventos e não consigo ver nada além de uns 20 metros, mas mesmo assim desmonto a barraca e resolvo seguir em frente, na direção do Pico 3 Estados.
Com o topo tomado pela neblina, vou procurando os totens na direção leste, mas nem dá tempo de iniciar a descida e começa a chover forte. 
Como já estava com as coisas dentro da mochila, não me preocupei e fui seguindo para leste, descendo por uma crista.
A chuva aumenta e a neblina piora mais ainda. Conforme fui descendo, deixo passar a bifurcação para a esquerda que me levaria às nascentes do Rio Verde, mais conhecido como Vale do Ruah.
Com a visão prejudicada pela neblina e a chuva, continuo a descer pela crista, mas logo percebo que aquele trecho não é uma trilha demarcada. Saí da trilha e agora estou perdido.
Retornar para o topo e abortar essa travessia, descendo para o Paiolinho não estava nos planos, então tento voltar um pouco para a bifurcação que deixei passar, mas não encontro. Resolvo descer a encosta por entre a vegetação mesmo. E isso tudo com a chuva forte caindo.
E quando chego no fundo do vale vou abrindo trilha por entre os tufos de capim elefante e não demora muito e encontro um riacho que segue para a esquerda e assim vou margeando ele até encontrar uma trilha bem demarcada que segue para leste por entre os tufos de capim. 
O charco por onde vou passando forma a nascente do Rio Verde (dizem que é a nascente mais alta do país, com cerca de 2500 metros de altitude). Como eu não sabia o que me aguardava mais a frente, chego a conclusão que o melhor que devo a fazer é procurar um lugar plano para montar a barraca e aguardar o tempo melhorar.
Voltando um pouco pela trilha encontro um descampado entre os tufos de capim e aqui resolvo montar a barraca e não foi fácil por causas da chuva, mas era a única opção que eu tinha no momento. 
Pelo menos o lugar era protegido pelo capim e já dentro da barraca tiro toda a roupa molhada e coloco uma seca para evitar a hipotermia. Em seguida me enfio no saco de dormir e como a chuva não parava, tive de mudar os planos. 
Vale do Ruah amanhecendo
Minha pretensão era estar no topo do 3 Estados no final da tarde desse dia, mas tive que adiar para o dia seguinte. Olho no relógio e vejo que passou das 12:00 hrs e nada da chuva e a neblina diminuir, por isso resolvo ficar o resto do dia acampado naquele lugar.
Sem nada para fazer, releio o relato do Beck e pelo resto da tarde a chuva continuou só diminuindo no início da noite. Dentro da barraca estou bem protegido e nem me preocupo.
Por volta das 22:00 hrs percebo que o tempo deu uma melhorada e pude presenciar as estrelas brilhando, mas onde estou é um vale, então não tenho visual nenhum ao redor.
Só torcia para que no dia seguinte o tempo estivesse melhor. 
Acampado no Vale do Ruah com Pedra da Mina lá em cima
Na manhã do dia seguinte, por volta das 06h30min, coloco a cabeça para fora da barraca e já vejo alguns raios de sol chegarem na encosta leste da Pedra da Mina e não demoro muito para desmontar a barraca e depois de um café da manhã sigo rumo leste, margeando o Rio Verde.
Numa das piscinas do rio, resolvo tomar banho, já que estava a 3 dias sem um e por volta das 07h30min volto para a trilha, seguindo para a direita e às vezes para esquerda. Os tufos de capim são muito altos e alguns chegam a atrapalhar a visão. 
Uns 30 minutos desde o acampamento, o rio começa a ficar cada vez mais encachoeirado, seguindo na direção norte e aqui saio de suas margens e sigo para a direita, sentido sudeste para chegar na crista do morro que visualizo bem à direita, onde chego uns 10 minutos depois.
Nesse ponto que saio do rio, encho os cantis porque daqui para frente só vou encontrar água no meio do dia seguinte e novamente 3 litros é o suficiente.
Rio Verde
Já na pequena crista encontro um descampado para umas 3 barracas e a partir daqui a trilha segue por entre os arbustos e capim elefante, sempre seguindo rente a crista. Alguns bambuzinhos chegam a incomodar, mas não tem como errar.
Às vezes seguindo para a esquerda, o meu objetivo é chegar no final da crista, onde do lado direito aparece imponente e um pouco mais alto o Pico Cupim de Boi e do lado esquerdo o Pico do 3 Estados. 
Seguindo pela crista com Pico Cupim de Boi à direita
Olhando em linha reta na direção do final da crista visualizo bem ao fundo o Pico do Agulhas Negras e tendo essa crista como referência, vou seguindo por alguns pequenos morros e umas 3 horas desde o acampamento no Vale do Ruah, chego ao final da crista, já por volta das 11:00 hrs, mas ainda tenho uma descida e longa subida até o topo do 3 Estados.
Alguns totens marcam a descida para a esquerda, como se agora estivesse seguindo rumo norte. Por entre algumas lajes de pedras, desço por uns 20 minutos e entro na mata fechada.
A trilha é bem demarcada e entre o bambuzal encontro algumas clareiras que podem servir para camping, mas sem qualquer perspectiva de encontrar água próxima. É um lugar perfeito para acampamento protegido pelo bambuzal e algumas árvores.
Passado esse trecho, saio novamente nos tufos de capim e agora é chegar no 3 Estados. Num primeiro momento vou subindo até um ombro do Pico pela trilha por entre o arvoredo e contornando pela direita vou me guiando por algumas fitas presas nos galhos e não demora muito volto a emergir nos tufos de capim elefante. 
Subindo por vários degraus de pedras, a trilha segue morro acima com alguns totens orientando e vou ganhando altitude. Não é fácil esse trecho e vou parando para descansar em vários momentos. O ataque final ao cume é de matar e os músculos da perna já estão esgotados, já que toda a força é dirigida a eles. 
No topo do Pico 3 Estados, com Itatiaia ao fundo
Nesse trecho de subida foram quase 2 horas e pouco antes das 14:00 hrs chego no topo do 3 Estados. 
São várias clareiras abertas no meio do capim elefante e pude escolher a melhor. É bem parecido com o topo do Pico do Capim Amarelo. 
Encontro antigos vestígios de um tripé de ferro e um enorme mastro (no tripé está escrito o nome dos 3 estados - SP, MG e RJ).
MG/RJ/SP
À leste visualizo a encosta do PNI (Parque Nacional do Itatiaia), mostrando em primeiro plano o Pico do Agulhas Negras e um pouco mais a direita o Prateleiras. 
Nesse dia, o tempo estava maravilhoso e nenhum sinal de nuvens negras que anunciam chuvas. 
A sudoeste se destaca a Pedra da Mina e toda a crista por onde passei neste dia. A noroeste consigo ver Passa Quatro e o bairro do Paiolinho, por onde se acessa direto para a Pedra da Mina. 
Nesse fim de tarde pude presenciar mais um crepúsculo no alto da serra com algumas nuvens, porém sem a neblina do dia anterior. 
A temperatura não caiu tanto a noite e depois do jantar, logo pego no sono. 
Por volta das 06h30min do dia seguinte presencio a última aurora, cujos raios vão emergindo atrás da crista do Itatiaia.
Para o último café da manhã, uso quase toda a água, pois o Beck diz no relato que daqui a umas 4 horas vou encontrar o último ponto de água, então não me preocupo. As últimas frutas secas que ainda restam também são rapidamente digeridas, só sobrando alguns tabletes de doces, macarrão, algumas sopas e um pouco de suco em pó.
E pouco depois das 08:00 hrs retomo a caminhada em direção à Rodovia.
A trilha de descida do 3 Estados sai ao norte do topo e vou seguindo de morro em morro pela crista. Tomado pelo capim elefante, alguns totens aparecem de vez em quando nas lajes de pedras.
Em vários trechos tive que ir agarrando na vegetação para não cair, quando estava descendo a trilha. Inicialmente ela segue rumo norte/nordeste, mas não tem como errar pois a navegação dá para ser feita só no visual. 
Pego um pequeno trecho plano onde encontro uma clareira (pouco mais de 1 hora desde o topo) boa para acampamento e paredões onde tenho de subir até o topo. 
No topo da Serra dos Ivos com Pedra da Mina ao fundo
Percebo à frente o último morro (é o topo da Serra dos Ivos) ainda a quase 2 horas de caminhada. O capim e o bambuzal dificultam muito esse trecho de subida até o topo e vou parando em vários momentos. E com pouco mais de 3 horas desde o 3 Estados chego no topo da Serra dos Ivos.
Aqui paro para descansar por um certo tempo, já que existem alguns descampados, mas todos eles desprotegidos, sendo desaconselhável acampar por aqui.
Olhando na direção norte vejo uma antena, mas o caminho a seguir é descer na direção nordeste e leste, por entre as lajes de pedra.
Vou descendo por uma crista, perdendo altitude rapidamente e conforme vou avançando, a vegetação vai mudando. Passo por um bambuzal e alguns arbustos até entrar num trecho de mata atlântica, com muitas folhagens caídas no chão.
Não demora muito e já encontro uma cerca de arame que de vez em quando aparece à esquerda e à direita da trilha. Depois de uns 40 minutos desde a cerca de arame sou obrigado a seguir para a esquerda, agora no sentido norte. 
A trilha vai seguindo por uma encosta do lado direito; na verdade essa trilha parece ter sido uma antiga estrada que foi tomada pelo mato a muitos anos e pouco antes de completar uns 30 minutos por essa trilha, passo ao lado de uma bica de água do lado direito e com tempo de pouco mais de 4 horas desde o topo do 3 Estados.
Só pego pouco mais de 1 litro, pois sei que o final da travessia está terminando. 
Alguns minutos à frente e chego em uma estradinha onde sigo para a esquerda e mais uns 20 minutos nas primeiras casas que aparentemente estavam vazias. Ao longo da descida outras bicas de água vão aparecendo e em uns 15 minutos chego próximo à entrada da fazenda, marcada por uma descida bem íngreme em zig zag. 
Mais alguns metros e chego na última casa à direita, bem ao lado do portão de acesso à Fazenda e aqui só encontro uma criança, mas nada dos pais. O lugar é conhecido como Sítio do Pierre e parece que a muitos anos atrás era alguma pousada.
Dou tchau para a criança e fecho a porteira, dando graças a Deus por não ter acontecido nada de grave na travessia. 
Mais alguns minutos e pouco depois das 13:00 hrs chego na Rodovia. 
Aqui tenho 3 opções: tentar carona para a esquerda, sentido Itamonte ou seguir para a direita, serra acima até a Garganta do Registro, onde conseguir carona é bem mais fácil. 
Uma outra opção é ligar para um dos contatos de Itamonte que estão no final desse relato e combinar com algum para vir me buscar. 
Atravesso a Rodovia e do outro lado fico tentando carona para Itamonte, mas tá difícil.
Decido então que o melhor é seguir para a Garganta do Registro e lá vou eu, para mais uma subida (essa era pior, pois é toda no asfalto). 
Chego na Garganta em pouco menos de 1 hora e aqui tento carona com caminhoneiros que param para tomar água ou comprar alguma coisa nas barraquinhas. 
Engraçado que alguns carros particulares sempre tem uma desculpa: alguns dizem que não vão até Itamonte, outros que vão até um sítio logo abaixo. 
Uma desculpa esfarrapada atrás da outra e até o pessoal do IBAMA que estava em uma Toyota comprando algumas frutas e iam descer para Itatiaia se recusaram a dar carona também.
Demora um pouquinho, mas consigo com um caminhoneiro que nem faz muitas perguntas.
A carona é em um caminhão baú que está fazendo entregas nas cidades da região e o motorista até me dá algumas dicas e diz que o melhor jeito de voltar para SP é pegar um ônibus na avenida principal de Itamonte e seguir para Itanhandu e lá teria facilidades para encontrar ônibus e é o que eu faço.
Chego na Rodoviária de Itanhandu pouco depois das 15:00 hrs e compro uma passagem para o horário das 16h30min direto para SP onde chego por volta das 20:00 hrs.

Depois dessa, ainda voltei mais 2x na Serra Fina. Na primeira estava fazendo a Transmantiqueira (Marins-Itaguaré, Serra Fina e Serra Negra todas juntas) - relato aqui
Já na segunda vez estava cruzando a Serra Fina de sul a norte pela Trilha do Rio Claro - relato aqui.


Dicas e informações importantes (Atualizado Julho/2020)

# Para essa travessia, o ideal é levar uns 3 a 4 litros de um ponto de água a outro. 

# Uso de óculos e luvas é quase obrigatório. Se não tomar cuidado o capim elefante e os bambuzinhos vão provocar um estrago grande. Esse tipo de capim corta com facilidade.

# Muito cuidado com o isolante. Procure não deixá-lo fora da mochila ou pelo menos deixe-o bem protegido, porque os bambuzinhos vão acabar com ele.

# A navegação por essa travessia é muito complicada, já que na época do verão a vegetação vai se repondo e fechando a trilha.

# Sinal de telefone celular pega sem problemas no alto dos picos e na crista.

# Protetor solar é item também obrigatório.

# Bivacar na Serra Fina acho muito perigoso. É preferível levar uma barraca para se proteger dos ventos e da baixa temperatura durante a noite. É um peso extra, mas é o ideal.

# Na primavera e verão é uma época de chuvas e é extremamente perigoso caminhar, já que as tempestades são comuns nessa região. 
Inverno, mesmo com temperaturas muito baixas, é a melhor época para se fazer essa travessia.

# Próximo da Toca do Lobo agora funciona um refúgio, que é um ótimo local para pernoite: www.refugioserrafina.com.br

# Na cidade de P4 uma das melhores opções de hospedagem é o Hotel Serra Azul:

# Abaixo seguem alguns contatos que oferecem transporte para a Toca do Lobo ou para pegar no final da travessia, no Sitio do Pierre:
- Edson da Toyota: (35) 99963-4108 ou (35) 3371-1660 (Passa Quatro); 
- Sr. Caetano: (35) 3771-1510 (Passa Quatro);
- Eliana Brito da 4P4 Ecoturismo: (35) 98841-7206 / (35) 98438-5948 / (35) 99108-7100 – email: ecoturismo4p4@hotmail.com (Passa Quatro)
- Taxistas Schmidt e Boni: (35) 3371-2013 e (35) 99962-4025 (Passa Quatro).
- Moutinho: (35) 99103-4878 (Passa Quatro)
- Geraldo/Donizete: (35) 99832-0171 (Passa Quatro)
- Hotel Serra Azul: (35) 3371-1291 (Passa Quatro) - nesse Hotel já consegui um contato de um taxista que faz ponto em frente.
- Taxista Marquinhos: (35) 99113-1214 (Itamonte) - Um dos + baratos; 
- Sr.Samuel: (35) 99113-1700 (Itamonte); 
Neivaldo: (35) 3363-3078 - (35) 9140-3751 - (35) 98465-3451 - (35) 99889-1171 (Itamonte).
- Zé Roberto: (35) 3363-1356 - (35) 99854-0567 - (35) 99113-4325 - (35) 99155-0442 (Itamonte).
- Lazaro: (35) 99137-6434 - (35) 99913-6305 - (35) 98424-7068 (Itamonte).
- Mauro: (35) 99176-3152 - (35) 99931-0128 (Itamonte).

- Carlinhos  (35) 99109-1185 (Itamonte)
- Maú (35) 99216-4793 (Itamonte)
- Amarildo: (35) 99934-7249 e (35) 99129-7522 (Itamonte).

# Outra opção barata também são taxistas ou moto-taxistas de Itamonte/MG: clique aqui.

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