3 de fevereiro de 2025

Relato: Trekking Rota do Descobrimento - Prado x Porto Seguro/BA

Com 2 meses de férias para tirar no final de 2024 (novembro e dezembro) tinha planejado viagens com a família, mas queria também conciliar com algumas caminhadas e a primeira coisa foi ligar no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros para me informar sobre as trilhas e se estavam liberadas no final do ano, mas infelizmente as travessias não eram permitidas no verão, somente na época seca. Uma pena porque esse é um lugar que tá na minha lista a muitos anos, mas nunca dá certo fazer.

E aí pensei, verão tem a ver com praia né. E lá fui eu atrás de opções de caminhadas longas pelas praias. Na pesquisa apareceram muitas pelo litoral e uma delas eu conheci um pequeno trecho, quando viajei por alguns dias para Porto Seguro, na Bahia.
É a Rota do Descobrimento, também conhecida como Trekking da Costa do Descobrimento, que se inicia em Prado e finaliza em Porto Seguro.
É uma caminhada de mais de 120 Km, inteiramente feita pela areia das praias, com pequenos trechos pelo topo de algumas falésias. Para quem gosta de praia, é um prato cheio e foi essa que escolhi.

Fiquei alguns dias pesquisando vários sites de viagens, mas com menos de 1 mês não seria fácil adquirir passagens aéreas por um bom preço e ainda teria de despachar a mochila por causa da barraca. Preferi não arriscar esperando o preço abaixar e escolhi ir de ônibus mesmo.

Depois de estudar tracklogs e ler alguns poucos relatos, elaborei o planejamento da travessia para ser feita em 7 dias, de acordo com as vilas e praias ao longo do percurso onde iria me hospedar (acrescentei 2 dias a mais para ter uma segurança). A caminhada se iniciou em Prado e terminou em Porto Seguro, próximo ao centro histórico da cidade. Para ser mais exato, junto ao Marco do Descobrimento.



Nas fotos acima: Muitas falésias e piscinas naturais ao longo da caminhada


Fotos - dividi em 2 álbuns - Prado x Praia do Espelho: clique aqui

                              Praia do Espelho x Porto Seguro: clique aqui

      
Tracklog para GPS: clique aqui



Fiz essa caminhada entre Novembro e Dezembro e não encontrei ninguém ao longo da caminhada. 

E muito menos nos campings que passei. Em plena alta temporada e ninguém caminhando por lá?
Conversando com proprietários dos respectivos campings, aparentemente recebiam somente pessoas de agencias que organizavam essa travessia. Uma rápida pesquisa na internet e surgem muitos anúncios com preços em torno de $3500 sem incluir passagens aéreas - um exagero e com menos dias de caminhada.

Pode parecer monótono caminhar pela areia de muitas praias, porém em mais de 120 Km era uma diferente da outra.
Enormes falésias, restingas, muita vegetação, praias preservadas e literalmente desertas, praias de águas mornas e transparentes, piscinas naturais, muitos recifes de corais, áreas de manguezais e travessias de rios. Uma natureza esplêndida. Sem dúvida nenhuma 
uma das caminhadas mais fantásticas que já fiz. 

Descansando embaixo de uma amendoeira com piscinas naturais ao fundo
Pode ser considerada também um trekking pela história já que no segundo dia, no trecho Cumuruxatiba-Corumbau, cruzei a foz do Rio Cahy, que é conhecido como primeiro ponto onde os portugueses avistaram o Monte Pascoal antes de aportarem em Coroa Vermelha, Porto Seguro. 

Por isso o local é considerado como a 1ª praia brasileira e junto da falésia tem uma réplica da cruz de madeira e uma enorme placa comemorativa com um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha (clique aqui e leia o texto).

Mas foi uma caminhada muito desgastante com raros pontos de água potável, poucas áreas de sombras e muito Sol. Outros trechos difíceis foram em costões rochosos e na foz de alguns rios, onde a maré alta poderia complicar mais ainda, mas é se planejar com a tabua de marés e não se arriscar onde tem dúvidas, já que na foz de muitos rios, a água não é transparente e não dá para saber a profundidade. E para quem dispõe de vários dias e não tem pressa, dá para fazer num ritmo mais lento, em camping selvagem e carregando mais comida e água.

Rio dos Frades
O relato a seguir é de toda essa caminhada com algumas informações úteis dos lugares onde se hospedar, o que levar, o que ver, as dificuldades que podem surgir e algumas outras dicas.


Por onde iniciar: Prado ou Porto Seguro?
De poucos relatos de bikers e caminhantes que encontrei na internet a maioria segue na direção sul-norte, iniciando em Prado ou Cumuruxatiba. Claro que isso depende da quantidade de dias disponíveis e o quanto está preparado, então é uma escolha muito pessoal. Finalizando a caminhada em Porto Seguro, as opções de hospedagem e passeios são muito maiores e por ser uma cidade tipicamente turística, tem atração para todos os tipos de bolsos e gostos.
Outra vantagem de finalizar em Porto Seguro é a oferta bem maior de ônibus ou avião saindo de lá.


Logística
As opções são ônibus ou avião.

Saindo de São Paulo a empresa Gontijo opera uma linha direta com poucos horários de ônibus para Itamaraju/BA (tempo de viagem em torno de 25 hrs) e lá você pega um circular até Prado em vários horários ao longo do dia (1h15min de viagem).
Existem outras empresas de ônibus, mas para isso é preciso trocar de ônibus em Belo Horizonte ou Governador Valadares, tornando o tempo de viagem bem mais longo.
De avião, a opção é ir até Porto Seguro com muitos horários operados por todas as cias aéreas. E de lá, seguir de ônibus da Rodoviária da cidade (que fica a poucos minutos do Aeroporto) direto até Prado (apenas 1 horário) ou vários horários até Itamaraju (3 a 4 hrs de viagem) e de lá em ônibus circular até Prado.
As diferenças de preços entre um e outro são grandes, podendo ser 2 a 3x mais, se for escolher avião.


Quantidade de dias ideais
Saindo de Prado e se hospedando em campings e pousadas nos vilarejos e nas principais praias, leva-se em torno de 7 a 8 dias para chegar em Porto Seguro, mas é sempre bom acrescentar alguns dias a mais. Ao longo da caminhada, algumas praias ou vilas merecem ser desfrutadas por mais de 1 dia. 


Onde ficar 
Abaixo relacionei os lugares onde fiquei hospedado, assim como os valores e a quilometragem entre um ponto e outro.

Cheguei em Prado no início da noite do dia 26 de Novembro e fiquei no Camping Recanto do Sol Brilhante (73) 98863-2969 com valor de $50 Reais/pessoa. Ótima infraestrutura e atendimento para no dia seguinte iniciar a caminhada.


Dia 1 (27/Nov): Prado x Cumuruxatiba – 27 Km. 

Camping Ôxatiba (73) 99900-3152 ($40 Reais/pessoa).


Dia 2 (28/Nov): Cumuruxatiba x Corumbau – 23 Km. 

Camping Vila Segóvia (73) 99989-2305 ($50 Reais/pessoa).


Dia 3 (29/Nov): Corumbau x Caraíva – 18 Km.
Pousada Hibisco Xandó (73) 99992-5324 ($100 Reais/pessoa).


Dia 4 (30/Nov): Caraíva x Praia do Espelho – 12 Km.
Camping e Estacionamento do Lota (73) 99994-2319 ($60 Reais/pessoa).


Dia 5 (01/Dez): Praia do Espelho x Trancoso – 21 Km. 

Camping Mandacaru (73) 99936-7225 ($40 Reais/pessoa).


Dia 6 (02/Dez): Trancoso x Arraial D'Ajuda – 14 Km.
Pousada Lá na Magia, a poucos metros do centro do Arraial. (73) 99976-0101 ($80 Reais/pessoa).


Dia 7 (03/Dez): Arraial D'Ajuda x Porto Seguro – 8 km. 

Finalizei no Marco do Descobrimento e de lá segui para Rodoviária da cidade, onde embarquei de volta para São Paulo.

Em Caraíva e Arraial D´Ajuda, onde fiquei hospedado em pousadas, fiz a reserva no dia anterior, pesquisando no Booking e no Google Maps.
Já nos campings, ligava na noite anterior ou ao longo do trecho e pagamentos sempre no PIX.


Para quem prefere ficar em camping selvagem, existem opções ao longo de toda a travessia, mas para água potável tive que recorrer a alguns pontos não muito confiáveis. Em 3 oportunidades tive que pedir água em casas de fazendas ou comércios ao longo da caminhada. Quiosques também são encontrados em algumas praias, onde podem ser compradas garrafas de água. 
Cruzando rios
A escolha dos lugares para acampar vai depender do ritmo da caminhada, mas por existirem muitos trechos de praias desertas e vegetação ao lado, é bem tranquilo encontrar esses lugares.

Já para quem pretende ficar em pousadas durante toda a travessia também é possível. Em todos os Distritos e Vilas que passei era possível encontrar pousadas e com isso não há a necessidade de barracas e acessórios, economizando no peso da mochila (nessa opção uma simples mochila de ataque já é o ideal), mas aumentando nos valores gastos.


O que levar (os mais importantes)
- Mochila Cargueira: o tamanho da mochila vai depender dos lugares onde ficará hospedado e onde fará as refeições. Já se for acampar na areia da praia e fazer sua própria comida, leve então uma mochila cargueira de boa qualidade. É possível também comprar a própria comida nas Vilas, economizando no peso da mochila.
- Calçado: Um tênis leve de boa qualidade e com uma boa palmilha já é o ideal. Usei também uma papete com meias, mas ao longo da caminhada surgiram bolhas na planta do pé. 
Não vi necessidade de uma bota para caminhada. São muitos rios para cruzar e tirar a bota ou o tênis é um saco. 

- Barraca ou rede: Se pretende acampar na areia da praia ou ficar em campings estruturados, uma barraca de boa qualidade é essencial. Em 2 dias que fiquei nesses campings estruturados, choveu um pouco durante a noite. Já se quiser levar uma rede não esqueça de uma boa cobertura.
- Saco de Dormir/Isolante Térmico: Não levei saco de dormir e não senti falta dele. Levei apenas um isolante inflável e um pequeno lençol, já que durante a noite também fazia calor. 
- Alimentação: Nessas caminhadas sempre levo meu mini fogareiro que cabe no bolso e cartuchos de Tekgas. 
Para comida, levei algumas massas e sopas juntamente com carnes defumadas que não necessitavam de refrigeração como calabresas, salames e alguns enlatados de peixes. Além de frutas secas, barras de cereais e alguns pães. 
Agua potável não é tão fácil de encontrar entre uma Vila e outra. São vários rios, riachos e algumas lagoas que desaguam nas praias ao longo dessa travessia, mas não recomendo o consumo dessa água. Pequenas nascentes foram muito poucas que encontrei. Em alguns momentos tive que sair um pouco do trajeto para comprar água em um pequeno mercado e recorrer a 2 casas de fazendas para encher os meus cantis.
Pequena nascente
Nos primeiros dias da caminhada saia pela manhã somente com 1 garrafa PET de 1,5 litros que se revelou insuficiente. Por isso recomendo levar no mínimo 2 litros. 

Ao longo de toda a caminhada encontrei muito coco verde, mas tinha uma dificuldade de como apanhá-los e furá-los. 
Se puder não deixe de provar alguns pratos com peixes. A Bahia é muito famosa pela sua culinária. Só achei a comida um pouco cara, mas vale a pena.
- Lanternas (headlamps): Obrigatório levar uma. Em alguns dias da caminhada saia do camping ainda no escuro ou finalizava a caminhada já anoitecendo.
- Celular com power bank: Foram raros os momentos em que não encontrei sinal de telefonia celular. A Vivo tinha ótima recepção ao longo do trajeto. Se pretende acampar na areia da praia, um power bank é essencial também. Como fiquei hospedado em campings e pousadas, consegui recarregar a bateria do celular nesses lugares. E claro, usei apps de GPS do telefone celular para gravar todo o percurso. Tem o Geo Tracker, Wikiloc, GPX Viewer. Só para citar alguns.
- Protetor Solar e Repelente: Obrigatórios. Durante toda a travessia era Sol na cabeça o tempo todo. Áreas de sombra eram raras e cheguei a usar quase 2 frascos de protetor solar. O Sol só dava uma amenizada já final da tarde devido a posição dele.
- Boné e óculos de Sol: Imprescindível o uso de um boné e de preferencia aqueles de pescador, que possuem proteção para o pescoço. Óculos de Sol nem se fala. 
- Roupas de trekking: Levei poucas porque no final de cada dia sempre lavava para usar novamente no dia seguinte. O meu vestuário diário era boné, camiseta branca, bermuda e uma papete com meia ou tenis.
- Mascara e Snorkel: São várias as praias onde é possível mergulhar em piscinas naturais junto de recifes de corais ou somente para se refrescar.

Achei totalmente desnecessário o uso de um bastão de caminhada, já que o percurso é sempre pela praia e quase que totalmente no plano. O que incomodava as vezes era a areia fofa, onde eu afundava o pé. Por isso sempre caminhava próximo da água ou às vezes onde tinha restinga.


Quando ir
Normalmente na Bahia é Sol o ano inteiro, mas na época do verão podem ocorrer chuvas esparsas ao longo da noite, como aconteceu em 2 dias dessa travessia, porém o calor não deu uma amenizada. 
Ao longo de todo o trecho não choveu em nenhum momento.
Iniciei essa caminhada no final de Novembro e o calor era muito forte. Nas pousadas que fiquei hospedado o ar condicionado era obrigatório. Ao longo da caminhada a temperatura ficava em torno de 30 a 35°C. Foram vários os trechos que tive de parar em áreas de sombra devido ao Sol.
O que amenizava um pouco eram os ventos que sopravam no sentido norte-sul e batiam de frente. 
Maré alta tomando conta da praia
Se for acampar na areia da praia, muito cuidado com a maré alta. Ao longo do dia são 2 horários de maré baixa e outros 2 horários de maré alta. Peguei na internet a lista da tabua de marés com os respectivos horários da maré baixa e maré alta, com o intuito de cruzar foz de rios na maré baixa, já que não queria perder algumas horas preciosas ao passar por esses trechos. Em mais de 1 dia da caminhada tive que acordar por volta das 04h30min da madrugada para evitar a maré alta.

Alguns trechos, principalmente onde haviam enormes falésias, a largura da areia da praia era bem curta em alguns horários do dia, pois de um lado era um enorme paredão e do outro as ondas. Atente a isso.
No link abaixo é só escolher PORTO DE ILHÉUS – MALHADO e ir acompanhando os dias que irá fazer a caminhada para observar os horários de maré alta e maré baixa.
www.marinha.mil.br/chm/tabuas-de-mare





                                                     Relato


Dia 1 - Prado x Cumuruxatiba
Depois de uma longa viagem de ônibus, desembarquei em Itamaraju/BA por volta das 15:00hrs e de lá embarquei num ônibus circular até Prado, chegando no inicio da noite no Camping Recanto do Sol Brilhante, a pouco metros da praia. 

Quem me recebeu foi Seu João, que já tinha contatado alguns dias antes. Pessoa muito receptiva e maravilhosa. Depois de fazer o meu jantar, fui dormir por volta das 22:00hrs.
Acordei por volta das 04h30min já com dia clareando. Demorei um pouco para desmontar a barraca e tomar um café da manhã e depois de uma breve conversa com Seu João, que estava saindo de bike para seu passeio matinal, era hora de iniciar a longa caminhada até Porto Seguro. Esse dia é o mais longo de todos os trechos (quase 30 Km). 
Início da caminhada
A praia está a poucos metros do camping e com Sol um pouco alto inicio a caminhada as 05h45min pela areia da praia, que nesse momento está deserta. Por enquanto é tudo alegria ao longo da caminhada e do meu lado esquerdo uma pequena encosta com acessos a algumas ruas e trilhas me acompanha por um longo trecho. Bem ao fundo vão surgindo as falésias avermelhadas que é a marca registrada nesse dia. Serão as maiores e mais altas. E também as cores da areia que em alguns trechos era negra ou avermelhada. Na verdade um festival de cores tanto das falésias quanto da areia.

Com pouco mais de 1 hora passo ao lado do que me pareceu ser um farol ou algum observatório, mas o que chama a atenção são as falésias. Algumas alaranjadas ou brancas e outras em vermelho. São maravilhosas e muito altas. Em alguns trechos elas são verdadeiros paredões verticais.
Farol com as falésias
Uma estrada de terra surge paralelamente do lado esquerdo com algumas saídas para a praia e quem tem alguma dificuldade de caminhar pela areia da praia, essa é uma boa opção. Sem áreas de sombra, a caminhada por enquanto é tranquila cruzando pequenos riachos que desaguam na praia.

Pouco antes das 08:00hrs e com 2 horas de caminhada, alcanço a Praia da Paixão, onde tem uma pequena comunidade com algumas casas e um quiosque. Resolvo conhecer uma pequena capela, próxima da praia e depois de alguns clics retomo a caminhada. 
Vão surgindo desmoronamentos de falésias devido a maré alta e em alguns momentos sou obrigado a entrar na água devido ao curto espaço entre a falésia e o mar. E olha que naquele horário a maré estava baixa. 

A areia da praia junto do paredão é bem fofa e cansa bem mais ao caminhar, por isso sigo próximo da água, onde a areia é mais dura.
Alguns coqueiros vão surgindo junto ao paredão, mas são muito altos e desisto de pegar alguns cocos verdes. Pequenas piscinas naturais se formam em recifes junto da praia, mas é muito cedo para aproveitar.
Surgem também pequenas nascentes que desaguam na areia e podem ser uma boa opção de banho, mas para consumo não acho ideal.
Rio ao lado da falésia
Numa das praias algo me chamou a atenção em 2 pontos: A areia estava revirada, como se alguém tivesse remexido e enterrado alguma coisa, criando uma espécie de morrinho de areia. Na hora fiquei em duvida do que poderia ser e só quando cheguei no Camping de Cumuruxatiba é que fiquei sabendo que esses pequenos morrinhos são na verdade desova de tartarugas. Com certeza a desova tinha acontecido durante a noite.

Como era meu primeiro dia, abusei do consumo de água e não imaginava que seriam poucos pontos de água potável e os poucos bares que encontrei em certos trechos das praia estavam fechados. E aí quando minha água acabou tive que pegar de fontes não tão confiáveis. O que me salvou foi uma pequena bica de água que caia de uma falésia. Não era muito, mas deu para matar a sede e continuar a caminhada.
E fui seguindo pelas Praias do Tororão, das Ostras, do Segredo, Japará Mirim, Areia Preta e muitas outras que nem lembro o nome.
Descansando
Quando o Sol já se escondia atrás das falésias era hora de encontrar um local com sombra e descansar, já que ele não dava trégua, sendo muito difícil encontrar áreas com sombras.

Mas tinha de continuar mesmo cansado e fui notar que estava chegando em Cumuruxatiba devido a quantidade de pessoas que já aproveitavam a praia, mas as algas trazidas pela maré não eram um convite para o mergulho. 
E quase deixo passar uma linda bica de água potável que escorria por um cano de pvc. Só tomo para matar a sede, já que mais alguns minutos estava saindo da praia e adentrando o vilarejo.
Foram quase 11 horas de caminhada e fui seguindo pela avenida principal até a praça principal, chegando no Camping Oxatiba pouco antes das 17:00 hrs, muito cansado, mas extremamente feliz por ter completado o primeiro trecho sem grandes dificuldades, com apenas algumas bolhas. 

Praia do centro de Cumuruxatiba
O camping é gerido por Dona Sandra e seu marido, possuindo uma boa estrutura em uma área grande. Ela só me orientou a não armar a barraca embaixo de uma enorme mangueira – estavam caindo muitas mangas e até peguei algumas quando acordei no dia seguinte. O camping é pé na areia da praia, mas o que eu queria mesmo era um belo banho e um bom lugar para jantar. Durante a noite saí pela avenida principal para procurar um restaurante, mas numa quarta feira não foi fácil conseguir. O que encontrei foram inúmeras hamburguerias, mas não estava a fim de comer lanche.

O dia foi de muitas praias desertas, Sol o tempo todo, alguns rios, cansaço e muitas falésias no trecho, então estava precisando de um belo prato de comida.
De volta ao camping, agora ao descanso e uma boa noite de sono. Era só o primeiro dia e ainda restavam muitos outros pela frente.


Dia 2 - Cumuruxatiba x Corumbau
Fui acordar pouco depois das 05:00 hrs e barraca desmontada, café tomado e mochila nas costas, segui para a praia, iniciando a caminhada as 06h15min. Hoje teria cruzar um trecho perigoso: a foz do Rio Cahy e o pico da maré baixa era as 07h40min e com isso não conseguiria de jeito nenhum chegar lá nesse horário, por isso fui caminhando sem pressa 
(só cheguei lá por volta das 11:00hrs).

Praia na maré baixa com muita amendoeira
A Praia que vou seguindo é a do Pier e pelo menos essa é repleta de sombras das amendoeiras embaixo de seus inúmeros galhos.

Residências suntuosas e belas pousadas vão surgindo ao longo da praia e por estar próximo do pico da maré baixa, várias piscinas naturais se formam junto da praia.
Depois das últimas residências e um pequeno trecho com muitas árvores, surge uma gigantesca falésia em forma de ferradura e ao final dela é impossível seguir pela praia, devido as ondas baterem no paredão. 
Instintivamente uma trilha segue para o alto da falésia passando por alguns mirantes e uma enorme placa de RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO CORUMBAU. Continuando pela trilha, vou descendo em meio à vegetação até chegar na Praia do Moreira.
Piscinas naturais entre os recifes
A praia é maravilhosa. Deserta com áreas de sombras, uma pequena nascente de água potável, muitos recifes de corais e algumas piscinas junto à praia. É um lugar perfeito também para camping selvagem, tanto junto da praia em alguns descampados ou subindo por alguma trilha na direção do morro.

Até fiquei um certo tempo ali só apreciando a beleza do lugar, mas era preciso continuar a caminhada até chegar na complicada Ponta do Imbassuaba. Com um grande costão rochoso junto da praia e um paredão com as ondas batendo, tive que seguir com água até um pouco abaixo da cintura. É um trecho perigoso devido às pedras e as ondas que podem fazer alguém sofrer uma queda e se ferir. Deu para passar, mas é um local que só é recomendável passar na maré baixa. 

Passando pelo costão rochoso
E olha que o pico da maré baixa tinha sido a cerca de 1hora atrás, então mesmo na maré baixa, terá de se molhar e pular muitas pedras. Tem a opção de contornar esse costão rochoso e seguir pelo topo das falésias, mas teria que retornar e subir por uma trilha. Como não estava a fim, continuei em frente até sair na Praia do Imbassuaba com um pouco de dificuldade.

Praia tranquila e bem no início dela encontro um pescador limpando alguns peixes e jogando as tripas na areia. E uma quantidade grande de urubus faziam a festa. Era um banquete.
Cruzo alguns pequenos riachos perfeitos para um banho de água doce e as falésias voltam a aparecer nesse trecho.
Conforme vou avançando, ruinas do que me pareceu ser uma residência chamam a atenção porque estão quase que no meio da praia. São paredes de concreto e fico pensando como alguém construiu uma casa desse jeito, desobedecendo as leis da Natureza. Será que a pessoa conhecia o significado das marés? É bizarro.
Sem perder tempo continuo a caminhada com o Sol a pino e ao passar por um quiosque com muitas mesas e espreguiçadeiras junto da areia noto alguns preços de cervejas. Brahma: $15 – Heineken: $20 Reais. Não é um preço absurdo e é um bom local para um descanso. Esse é o Restaurante Glória que também oferece acomodação em camping e pode ser uma boa opção. 

1ª praia brasileira
Mais alguns metros e vejo uma cruz e uma placa junto da falésia sinalizando que aqui é considerada a primeira praia do Brasil. Interessante o título de um pequeno texto que está na placa: “Brasil renasce onde nasce – 22 Abril de 1500”. A cruz é uma 
réplica da original e o pequeno texto é da carta de Pero Vaz de Caminha.

E ao lado um pequeno barzinho com algumas mesas e bancos chamado Kijeme do Índio (www.instagram.com/kijemedoindio/), mas o lugar está fechado.
Alguns metros à frente é a foz do Rio Cahy e pelo horário (quase 11:00hrs) o pico da maré baixa já tinha acontecido algumas horas atrás (exatamente as 07h40min). 
Então resolvi ficar descansando nos assentos do barzinho. Até tirei um cochilo e acordei com um barulho dentro do bar. 

Era o proprietário arrumando algumas coisas. Seu nome é Reinaldo, indígena da etnia pataxó. Peço um refrigerante que é extremamente barato: $8 Reais e conversamos um pouco. Diz que em mais alguns minutos vai cruzar o Rio Cahy de barco e não pensei 2x. Era a minha salvação para chegar do outro lado da foz do Rio, já naquele momento seria perigoso cruzá-lo.

Foz do Rio Cahy
Depois de me deixar na outra margem, retomo a caminhada. 
São 12h15min e as falésias já não são tão altas, mas estão presentes. 
Em trechos de sombras encontro alguns pés de coco verde e por não serem tão altos, consegui apanhá-los. A dificuldade maior foi para abrir, já que só tinha um pequeno canivete. Pelo menos deu para matar a sede, já que a minha água tinha acabado. 
Retomo a caminhada passando por um grande desmoronamento de falésias, que chegam até bloquear a passagem, por isso que é perigoso descansar ao lado delas. Nunca se sabe se acontecerá uma queda ou não.

E pouco antes das 15:00hrs alcanço um outro ponto muito difícil nesse dia. É um trecho de uma falésia que está desmoronando e o proprietário da residência que mora no local encheu a praia de pedras e estacas para barrar a queda e diminuir a ação das marés.
Trecho muito difícil
O problema é que não tem mais praia e as ondas batem com violência nas estacas e nas pedras. E agora, como passar? Até poderia retornar alguns minutos e seguir por uma trilha que contorna esse trecho por dentro de uma fazenda e passando por uma pequena vilinha, mas teria contornar uma pequena pista de pouso e acrescentar uns 4 a 5 Km.
Resolvi seguir em frente mesmo e ao chegar nas pedras fiquei um certo tempo analisando qual melhor opção para cruzar esse trecho. Ao lado das estacas não dava, porque as ondas batiam com violência e além de me molhar dos pés à cabeça tinha o risco de se afogar.
Naquele local por cima das falésias não havia acesso e a única opção era seguindo em frente. E lá fui eu com muito cuidado, me molhando das ondas que batiam nas estacas e com um pouco de dificuldade cheguei do outro lado.
Um breve descanso e ao ver funcionários da residência limpando as janelas, gritei pedindo água.
O funcionário veio, pegou minha garrafa PET e depois voltou com ela cheia de água geladinha. 

Praia repleta de pedras
Agradeci e segui em frente. 
Ainda cruzei alguns pequenos riachos e ao contornar uma praia repleta de pedras caída das falésias, já vejo algumas residências no topo de uma falésia. É ali que se inicia a Vila de Corumbau. Ao longo desse dia já tinha contatado o proprietário do Camping Vila Segóvia, que estava me aguardando.
Saio da praia e vou seguindo por uma trilha até cair numa rua de terra e de lá até chegar no Camping Vila Segóvia por volta das 17h40min.

O camping é enorme com muitas áreas de sombra, mas me pareceu ser um lugar abandonado ou precisando de manutenção. Como não achei restaurantes nas ruas que passei e não estava a fim de ficar procurando, fiz meu jantar no camping. 
Vila de Corumbau
Durante a noite caiu uma leve garoa, mas só para refrescar.


Dia 3 - Corumbau x Caraíva 
Noite tranquila e por volta das 06h30min começo a arrumar as minhas coisas. Um breve café da manhã e pouco depois das 07h30min sigo na direção da praia.
Proteção para as marés
Esse seria um dia sem grandes dificuldades já que a maior parte da caminhada seria por 2 ou 3 praias e somente cruzando o Rio Corumbau em barcos. Outra opção seria ir por dentro passando pela aldeia Barra Velha dos índios pataxós, sem acessar a praia, mas não era a minha intenção.

Seguindo pela areia, o trecho inicial é pela Praia de Corumbau na direção do final dela sentido norte, mas só de olhar já batia um desanimo. Era muito extensa e foram quase 6 Km com algumas paradas. 
Uma estrada de terra segue ao lado da praia e é uma opção. O Sol não dá trégua e trechos com sombras são raros. 
Cheguei na Ponta do Corumbau pouco antes das 10:00hrs, onde existe uma pequena vila.

Ponta do Corumbau
O pico da maré baixa já tinha acontecido a quase 2 horas atrás e com isso a faixa de areia que adentra ao mar não se via mais. O lugar é maravilhoso devido a areia branquinha, aguas transparentes e mornas e um recife de corais bem ao lado para um mergulho. Vale a pena ficar um certo tempo aqui só curtindo o lugar. 

A vila possui vários quiosques em frente à praia, pousadas e alguns mercados, onde comprei água e alguns sucos. Em seguida vou na direção da foz do Rio Corumbau e embarco numa pequena canoa para outro lado. O Rio é um pouco largo e pela cor da água não é possível ver o fundo dele. 
Rio Corumbau
O pagamento é feito numa pequena guarita assim que desembarquei do outro lado e dizem que no pico da maré baixa é possível cruzar o rio caminhando junto da praia. 

São 10h30min e logo que desembarquei fui abordado por alguns bugueiros oferecendo transporte até Caraíva: $280 Reais, mas se eu conseguisse mais 3 pessoas, poderiam dividir. Valor muito alto para apenas uns 6 a 8 Km, dependendo de onde fosse ficar em Caraíva. Como já tinha combinado ficar numa Pousada próximo do centro da vila não tinha pressa para chegar lá.
Seguir pela praia não era fácil já que a areia era fofa e inclinada. Às vezes seguia pela área da restinga, numa parte plana, ao lado de uma estrada por onde passavam os buggys.
Quando a estrada começou a se distanciar da praia surge um posto de controle com um banco e protegido do Sol. Não pensei 2x e parei para um breve descanso, mas não dá nem 5 minutos e um buggy para ao meu lado oferecendo carona. É o Ramon, indígena da etnia pataxó que realiza passeios pela região (www.instagram.com/ramon_passeios_de_buggy/).
Uma pessoa muito bacana e fomos conversando pelo caminho. Disse que a região é toda dos índios pataxós e que comerciantes e donos de pousadas pagam uma taxa para a Reserva Indígena. Foi uma luta para conseguir a demarcação da Reserva e mesmo assim ocorriam vendas ilegais de lotes de terra.
Não deu para conversar muito porque ele me deixou próximo do trevo que segue para aldeia indígena. Foram uns 4 Km, mas um alivio muito grande porque o Sol estava a pino e castigava. Agradeci e dali em diante fui caminhando pela avenida principal da Vila. São quase 12:00hrs e algumas residências surgem aqui e ali com muitos terrenos vazios e alguns pequenos comércios funcionando. A areia é bem fofa e sem sombra, mas não estava a fim de seguir pela praia. E na Padaria Oliveira parei para descansar e comer alguma coisa. É bem pequena, mas tinha uns pães muito gostosos. Fiquei ali por quase 1 hora e assim que voltei a caminhar uma senhora em um Fiat Uno encosta ao meu lado oferecendo carona. Claro que não recusei e alguns minutos depois estava chegando perto do centro da Vila, onde desembarquei. Esse pessoal da Vila é muito gente boa né.
Pousada
Cheguei na Pousada Hibisco Xandó e fui tomar um belo banho. O lugar é uma residência e as suítes foram construídas no quintal. No dia só eu de hospede e depois de lavar as roupas e deixar secando, era hora de aproveitar o restante do dia na praia.


Com ondas fortes, ela estava relativamente vazia e só um pessoal praticando kitesurf, que é um 
esporte aquático que utiliza uma pipa, se assemelhando a um paraquedas com uma prancha presa nos pés. Fim do dia chegando, voltei na pousada e fui para a praça principal da Vila, com várias lojas, mercados e restaurantes, jantando num self service. O dia seguinte seria um dos mais tranquilos de toda a caminhada, com pouco mais de 10 Km.


Dia 4 - Caraíva x Praia do Espelho 
Acordei relativamente cedo e pouco depois das 06:00hrs já estava retomando a caminhada pela areia. Segui até o final da praia e ao chegar na foz do Rio Caraíva era necessário cruzar em um barco por uma pequena taxa. 

Rio Caraíva
Assim que desembarquei vou seguindo pela Praia de Barra Bonita com muita vegetação e algumas áreas de sombra e uma ou outra falésia. Chama a atenção várias placas na encosta sinalizando que ali é propriedade particular da Fazenda Caraíva.

Surgem alguns desmoronamentos com muitas pedras e ao contornar um pontal caio na famosa Praia do Satu.

Tendo uma encosta com muita vegetação e áreas de sombra, a praia possui algumas falésias, águas transparentes, três lagoas de água doce e piscinas naturais junto a um recife de corais. Conta também com algumas cabanas na encosta e vários quiosques junto da areia. 

Praia de Satu com recifes e falésias
Na verdade as cabanas são chamadas de beach clubs e dizem que a argila das falésias nas cores branca e vermelha são ótimas para tratamento de pele. 

A praia é maravilhosa e quem quer sossego, esse é o lugar certo.
Na hora que passei (07h30min) a praia estava deserta e numas das lagoas parei para um breve descanso e comer alguma coisa.
Ao chegar próximo ao final da praia, onde desagua um pequeno riacho, saí da praia e fui subindo por uma trilha até o topo da falésia. Se continuasse em frente chegaria no costão rochoso onde não haveria mais faixa de areia e teria retornar.
Mirante no topo das falésias

O lugar é conhecido como Ponta da Juacema e no topo das falésias surgem belos mirantes e numa das trilhas vou seguindo na direção contrária da praia, ao lado de uma cerca de arame até encontrar uma abertura nela e uma placa sinalizando Praia do Espelho. 

Numa das casas próximas da trilha encontro um morador e depois de um breve bate papo, consigo uma garrafa de água geladinha com ele.
Continuo seguindo pela trilha até cair na Praia do Amor, que antecede a do Espelho.
Cruzo um rio de volume médio de água e de longe já vejo os recifes de corais que dão origem às tão famosas piscinas naturais da Praia do Espelho. O lugar também recebe um outro nome pouco conhecido: Praia de Curuípe.
Praia do Espelho de águas mornas e verdes com seus recifes
São quase 10:00hrs e pelo meio dos quiosques, sigo por uma trilha subindo uma escada de concreto até chegar no Estacionamento do Lota.

Dispondo também de um camping, o lugar conta com uma ótima infraestrutura para campistas com banheiros, chuveiros, uma cozinha completa com talheres, forno micro-ondas, refrigerador e todos os equipamentos necessários para se fazer uma refeição. E o que é melhor, num local coberto, iluminado e ainda com wifi de graça, apesar que o sinal da Vivo é muito bom. Um dos melhores campings que passei, sem dúvida. 
Além do camping, existem outras opções de hospedagem com pousadas à beira mar ou próximas do Estacionamento do Lota, mas todas são caríssimas.

Estacionamento/Camping do Lota
Sem perder tempo monto minha barraca e volto para a praia.

Ainda tinha o dia todo para aproveitar o lugar. Agua morna e transparente, piscinas naturais em um belo dia de Sol. O nome da praia reflete muito bem o que ela é – são varias piscinas naturais de água cristalina nas cores azul e verde. Consegui até ver algumas tartarugas perto da areia. 

O destaque negativo é o valor da consumação mínima nos quiosques: $200 Reais/pessoa. Um verdadeiro abuso.
Praia de águas mornas e transparentes
Só deu mesmo para curtir a praia e tem de visitá-la na maré baixa, devido às piscinas naturais e os recifes de corais. 

Fiquei na praia mergulhando e aproveitando os últimos raios do Sol daquele dia e quando começou a anoitecer era hora de voltar ao camping e preparar o jantar. A cozinha é excelente e antes das 22:00hrs já estava dentro da barraca. 
Noite tranquila e apesar de ser um estacionamento, o lugar é bem sossegado.


Dia 5 - Praia do Espelho x Trancoso
Acordei por volta das 05h30min já com o Sol iluminando o lugar. Fiz um breve café da manhã e sem demora desci as escadas na direção da praia.
Se despedindo da Praia do Espelho
Eram quase 06:00 hrs e vou encontrando algumas pessoas caminhando pela areia. Surgem várias pousadas e residências à beira mar e cruzo um pequeno trecho com muitas pedras. Talvez num pico da maré alta o lugar apresente alguma dificuldade para passar, mas naquele momento foi só pular algumas pedras e desviar de outras. Alguns recifes de corais surgem junto da areia e são perfeitos para mergulhos.


Praias desertas com falésias e vegetação
Passo pela Praia do Setiquara onde existem alguns desmoronamentos de falésias e quem pretende acampar em selvagem essa praia é perfeita. Muita vegetação e acesso somente pelas suas laterais.

A próxima praia é a do Outeiro tendo uma pequena bica d'água e se for abastecer, muito cuidado para não escorregar nas pedras. Tem uma placa alertando sobre isso.
Praia deserta e muito coco verde
Daqui em diante as praias são quase desertas e sem ondas, com muita plantação de coco verde. Surgem áreas de sombras, recifes de corais e algumas piscinas naturais. Perfeito para quem quer sossego.

Por volta das 07h20min já percebo que estou chegando na foz do Rio dos Frades pela mudança da cor da água que está mais escura. Uma imensa placa de REFUGIO DE VIDA SILVESTRE DO RIO DOS FRADES confirma isso.
Junto à foz procuro um lugar melhor para cruzar o rio, mas tá difícil. É bem largo e pela cor escura da água não é possível saber onde é o ponto mais raso. Tem uma pequena casa no meio de uma plantação de cocos e com um barco ao lado. Na hora pensei que ia ser a minha salvação, mas não tinha ninguém na casa. O jeito era esperar. 

Encontro um pescador perto da praia que me diz que o morador da casa saiu para pescar e retorna logo.
Rio dos Frades
Não me restou alternativa senão ficar aguardando e em cerca de 30 minutos ele apareceu na casa, me dizendo que estava pescando bem na foz do rio e que me ajudaria a atravessá-lo num ponto onde não era muito fundo. O pico da maré baixa ia chegar daqui a umas 2 horas, mas eu não estava a fim de esperar tanto tempo. E lá fui eu, cruzando com muito cuidado e seguindo orientação do pescador. 

A água era escura e não dava para ver a profundidade com ela batendo um pouco abaixo da cintura, mas o meu grande receio era a força da correnteza que poderia me derrubar. Com um pouco de dificuldade e mochila um pouco molhada cheguei do outro lado do Rio dos Frades. Devo ter cruzado no trecho de uns 30 metros de largura e sinceramente não conseguiria achar esse ponto sem o apoio do pescador.
Do outro lado do rio encontro algumas motos de outros pescadores que estavam na foz do rio e agora tenho a enorme e deserta Praia de Itaquena pela frente. Alguns trechos de restinga e nenhuma falésia. Somente uma pequena área de manguezal do Rio dos Frades bem no início dela.
Seguindo sem pressa e sem áreas de sombra, levo quase 1h30min até chegar num pontal, onde daqui em diante a praia é outra: Ipatimirim. Nesse trecho encontrei alguns quadriciclos estacionados próximos da areia, mas o que chama atenção é uma grande área de recifes de corais com piscinas naturais de águas mornas e transparentes próximo da praia. Era o pico da maré baixa e lugar obrigatório para uma parada.
Piscinas naturais entre os recifes
Mais alguns minutos pela Praia de Ipatimirim e outra grande área de recifes de corais onde alguns pescadores procuram polvos entre as pedras. Devido a maré baixa, resolvo deixar a mochila na areia da praia e vou explorar esses recifes. 

Algumas piscinas naturais são perfeitas para ficar mergulhando, mas como o pico da maré baixa já tinha acontecido, a água do mar já estava cobrindo alguns recifes. Uma pena, porque o lugar é muito bonito tanto para mergulho quanto para pesca.

Chegando em Trancoso
A próxima praia é a de Itapororoca com muito mais gente curtindo o Sol na areia, surgindo belas pousadas e hotéis à beira mar. E conforme vou chegando mais próximo do acesso à Trancoso, a praia vai ficando mais cheia, então preferi sair dela e seguir por uma estrada paralela à praia.

O caminho que segui até o camping foi por um atalho pelo interior de uma grande área particular, mas tive dificuldades para sair, pois encontrei o portão fechado e ninguém para abrir – tive que pular uma cerca de arame bem alta, então é melhor ir pelas ruas como está no arquivo de GPS. 

Seguindo pelas ruas é possível passar pelo famoso Quadrado, porém achei melhor seguir direto para o Camping Mandacaru, que já tinha reservado. Tinha pesquisado algumas pousadas, mas todas estavam com preços proibitivos. Por ser um Domingo já esperava isso.
Trancoso é um distrito pertencente a Porto Seguro com uma boa infraestrutura de hospedagem e um comércio bem variado.
Camping Mandacaru
Desde a praia levei cerca de 40 minutos para chegar no camping sem pressa e ainda parando em um pequeno mercado para comprar água, me 
orientando pelo GPS do celular.
O lugar tem uma boa infraestrutura com áreas de sombra e uma cozinha completa. Com o Sol brilhando aproveitei também para lavar todas as roupas e deixando secar até a manhã seguinte. Em seguida fui para o centro do Distrito passear pelo Quadrado e pelas ruas já fui olhando algumas opções de restaurantes e o que comer no jantar.
O Quadrado é na verdade uma imensa praça retangular e arborizada somente para pedestres e com restaurantes caríssimos nos 2 lados, tendo uma pequena capela histórica junto à beirada da falésia. 

Famoso Quadrado
É o coração de Trancoso, tendo uma bela vista na direção da praia. O jantar foi num restaurante próximo do Quadrado e o prato foi moqueca de peixe com uma jarra de suco, totalizando $85 Reais. Na volta ao camping, passei por uma praça cheia de gente e aproveitei para tomar um coquetel. E fui dormir por volta das 22:00hrs.


Dia 6 - Trancoso x Arraial D'Ajuda
Esse foi o dia que acordei mais tarde, por volta das 07:00hrs da manhã, saindo do camping pouco depois das 08:00hrs.
Num pequeno mercado comprei umas garrafas de água e fui seguindo na direção da praia, evitando passar pelo Quadrado. Na verdade queria evitar passar pela praia e cruzar o Rio Trancoso na sua foz, pois tinha o mesmo problema dos outros rios: a profundidade e a correnteza.
Praia dos Nativos
Seguindo pela mesma rua do camping, cruzei uma ponte sobre o Rio Trancoso numa área de manguezal e na primeira rua à direita segui por ela saindo na Praia dos Nativos as 08h45min. 

Seguindo por praias com pouca gente, surgem hotéis e muita plantação de coco verde e as 09h30min cruzo o Rio da Barra com água na altura dos joelhos.
Ao fundo vejo novamente as falésias nas cores avermelhadas e brancas e trechos com desmoronamentos de pedras que não chegam a complicar a travessia. É só ir pulando sem grandes dificuldades.
Desmoronamentos de falésias
Vou encontrando também muitos quiosques localizados em saídas das praias com pequenas lagoas de água doce ao lado e muitas espreguiçadeiras e guarda sóis.

A movimentação de pessoas é bem maior e encontro muitos bikers indo e voltando, mas se percebe que são turistas. Essa é a Praia de Parracho e Arraial D´Ajuda deve estar próximo.
Ao chegar na divisa com a Praia de Pitinga, alguns quiosques e recifes de corais formando piscinas naturais próximas da areia.
Piscinas naturais
Mais alguns minutos e já chego na movimentada Praia de Mucugê, saindo da praia ao chegar na Rua de mesmo nome.

São 13:00hrs e vou subindo em direção ao centro de Arraial D´Ajuda. No dia anterior já tinha reservado a Pousada Lá na Magia, localizada a 1 quarteirão da rua principal. A diária estava em $80 Reais e a suíte contava com ar condicionado e frigobar sem café da manhã, apesar que tinha encontrado outras pousadas com valores similares e próximos do centro. Naquela tarde fui passear pelas ruas e comprar lembrancinhas.
Lojas e mais lojas
Durante a noite o Arraial ferve de turistas com um centro repleto de lojas, restaurantes e tudo o que se imagina. As opções de comida são bem variadas e os preços não são altos. 

Noite de muito calor novamente e só com ar condicionado para dormir tranquilamente. O dia seguinte não tinha pressa para acordar, pois restariam apenas 8 Km até o ponto onde iria finalizar essa travessia.


Dia 7 - Arraial D'Ajuda x Porto Seguro
Mochila arrumada, saí da pousada por volta das 08:00hrs em busca de alguma padaria para tomar um café da manhã. No centro até tem, mas ver as prateleiras de pães e doces vazias e um serviço ruim não é um bom sinal. Me arrependi do lugar. 
Mirante junto das escadas
E pouco antes das 09:00hrs vou seguindo para as escadarias ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora D'Ajuda. Últimos clics do mirante e vou descendo em direção à praia.

Na fonte de água mineral no final da escada abasteço pela última vez e sigo em direção à Praia dos Pescadores. 

Tranquila, com áreas de sombra e restinga em alguns trechos, mas com pouca infraestrutura de quiosques e deu para entender a razão: praia de pouquíssimo movimento. 

Piscinas naturais
Mesmo sendo uma praia quase que em linha reta, ela recebe outros nomes ao longo do percurso até a foz do Rio Buranhém: Delegado, Araçaipe e Apaga Fogo. A parte mais legal é o final dela onde uma barreira de recifes chega até próximo da areia, formando algumas piscinas naturais. E alguns metros antes de chegar nesse ponto da praia tem um beco saindo da areia e que leva até a balsa. É estreito e somente para pedestres. Fica ao lado de uma quadra de tênis e não é fácil encontrar.

Assim que passei pelo estreito corredor saí em frente à balsa e o embarque foi bem rápido. 

Seguindo pela orla de Porto Seguro
Já do outro lado fui seguindo pela orla. O lugar já foi conhecido como Passarela do Álcool, depois foi alterada para Passarela do Descobrimento e atualmente recebe o nome de Passarela da Cultura. São vários restaurantes e lojas de lembrancinhas ao lado da orla. É o típico lugar para turista passear a noite.

"Terra à vista!"
E continuei seguindo na direção do centro histórico, passando pela Estátua de Cabral, localizada bem no trevo da cidade até subir os últimos degraus dessa caminhada. Passei pelo mirante da Capela de São Benedito até chegar no meu objetivo: o marco comemorativo do descobrimento do Brasil. O monumento é uma pedra trazida pelos portugueses e protegido por uma redoma de vidro. Fiquei ali vários minutos só curtindo e refletindo por todos os momentos que passei para chegar ali. 

Objetivo final
Que emoção foi caminhar por lugares onde nossos descobridores passaram. Conhecer vilas históricas, falésias, dunas, restingas e muito mais. Coisas que só conhecia em aulas de Geografia e História. 

Foi uma caminhada sensacional. 
Meus pés estavam bem doloridos com algumas bolhas 
(veja nessa foto como ficou), além das dores nos joelho esquerdo, mas estava muito feliz. 

Cheguei
Dali a alguns dias tinha planejado outra caminhada na Serra da Mantiqueira e queria estar 100%, por isso só queria 
mesmo retornar para casa. Já conhecia Porto Seguro de anos anteriores e assim que finalizei a caminhada segui para a Rodoviária da cidade embarcando naquele mesmo dia para Belo Horizonte, já que para São Paulo já não tinha mais ônibus.





Algumas dicas e informações úteis


# É preciso muito cuidado com as falésias. Evite caminhar próximo à elas, devido aos desmoronamentos. 
E se for acampar em selvagem na areia da praia o cuidado é maior ainda, tanto das falésias quanto da maré alta. Se puder acampe no topo ou longe da areia.


# No trecho entre Prado x Cumuruxatiba o espaço entre as falésias e a praia é muito curto em relação aos outros trechos. Atente a isso.


# Abaixo estão os rios cuja travessias da foz é bem complicada e em alguns é realizada com barco e cobrada uma taxa de $10 Reais (Dez/2025)

Rio Cahy - trecho Cumuruxatiba x Corumbau.

Dei muita sorte em conseguir um barco com proprietário do barzinho ao lado. Sem ele, talvez só conseguiria na maré baixa e perderia várias horas do dia.

Rio Corumbau – trecho Corumbau x Caraíva.
Rio Caraíva – trecho Caraíva x Praia do Espelho.
Rio dos Frades - trecho Praia do Espelho x Trancoso.

Nesse local só consegui cruzar com ajuda de um pescador que mora ao lado da foz do rio. 

Rio Trancoso - trecho Trancoso x Arraial D´Ajuda. 

Ao sair de Trancoso, evitei passar pela foz e cruzei ele numa ponte rio acima. 


# Se quiser chegar na foz desses rios no momento da maré baixa se programe através desse site abaixo que fornece a tábua de marés com os horários. É só escolher PORTO DE ILHÉUS – MALHADO.

# São poucos os pontos de água potável, principalmente no primeiro dia. Eu levei uma garrafa PET de 1,5L, mas que acabou muito rápido. Preferível no mínimo 2L.

 
# A água dos rios que desaguam no mar, ao longo de toda essa caminhada, não são propícias para consumo. São pouquíssimas as nascentes de água potável que desaguam nas praias.


# O que se encontra ao longo dessa caminhada é muita plantação de coco verde. Alguns até são baixos, mas não é fácil abri-los. 


# Não vi em nenhum momento a necessidade do uso de saco estanque para colocar a mochila na travessia dos rios.


# Cuidado ao caminhar com tênis ou botas já que em muitos trechos a areia é fofa e ela facilmente vai se acumulando dentro do calçado, podendo surgir bolhas. Chinelo de tiras é a pior coisa. E usei meias com papete.


# Bancos e caixas eletrônicos somente em Prado: Banco do Brasil, Caixa e Bradesco. Nas outras Vilas e Praias não tem. A vantagem é que aceitam PIX em todos os lugares. Com exceção para pagamento dos barqueiros. Ideal pagar em dinheiro.


22 de julho de 2024

Relato: Travessia Altamira x Alto Palácio - Parque Nacional da Serra do Cipó/MG

Durante muito tempo mantive uma lista das clássicas travessias que pretendia finalizar e nos últimos anos quase zerei essa lista. As duas últimas foram: Chapada Diamantina e Lençóis Maranhenses.
Mas na Serra do Espinhaço não tem somente a Lapinha-Tabuleiro como uma clássica travessia. Tem também a Alto Palácio x Serra dos Alves e essa eu não tinha feito. Talvez por falta de oportunidade mesmo e pela proibição do Parque durante alguns anos. 
E com minhas férias marcadas para alta temporada de caminhada pelas montanhas (junho) fui pesquisar essa travessia e planejar a melhor forma de fazê-la.
E encontrei algumas opções para emendar essa caminhada com outras, se tornando uma verdadeira Transespinhaço no sentido sul-norte, com mais de 150 Km de extensão, com inicio na Serra dos Alves, passando pela portaria Alto Palácio no primeiro trecho e de lá seguindo até Lapinha da Serra no segundo trecho para finalizar no Morro do Camelinho, na Rodovia MG-259, que seria o último e mais longo trecho dessa travessia.
Então estava planejada a minha caminhada do ano: Transespinhaço de sul a norte de Altamira até Morro do Camelinho. Porém as coisas nunca acontecem do jeito que nós planejamos e com isso tive que mudar meus planos quase na metade do caminho. Uma pena.
Nesse relato incluí também tópicos abordando o planejamento e a logística de toda essa caminhada que seria uma mega travessia.

Nas fotos acima o visual do Parque no topo da serra e o Vale do Travessão

Fotos da travessia: clique aqui

Tracklog para GPS: clique aqui 



Planejamento
Se iniciasse a caminhada pelo norte, obrigatoriamente eu iria finalizar os últimos 3 dias dentro da área do Parque Nacional da Serra do Cipó e por ser um lugar inédito para mim, vi que não era uma boa opção, pois estaria bem cansado. 
Por já ter caminhado pela Lapinha-Tabuleiro, que fica ao norte, achei melhor iniciar a caminhada pelo sul, já que estaria descansado quando estivesse fazendo o primeiro trecho dessa caminhada.
No site do wikiloc encontrei dezenas e dezenas de arquivos de GPS para usar em toda essa travessia e levei cerca de 5 tracks, com um emendando no outro, já que os arquivos completos que encontrei seguiam por trechos que pretendia evitar.
E pesquisando o início da caminhada pela Serra dos Alves, a logística estava bem complicada e por vários motivos: teria de seguir de Belo Horizonte até Itabira e de lá tomar outro ônibus circular até Serra dos Alves, porém ele só operava apenas 1 dia na semana, na sexta-feira no horário das 15h30min, me obrigando a ficar hospedado uma noite no povoado. Não queria isso, então transporte público estava fora de questão.
A outra opção era transporte particular, tipo uber ou mototáxi. Porém o percurso seria longo demais com parada em Senhora do Carmo para depois seguir para Serra dos Alves e como estava sozinho nessa empreitada, era arriscado demais chegar em Itabira e ainda procurar um transporte, perdendo 1 dia nisso. E ir com meu carro, sem chances, já que teria um trabalhão depois para ir pegá-lo de volta. E o último problema era que eu pretendia conhecer a Cachoeira Braúnas e pela trilha da Serra dos Alves seria um trajeto bem mais longo.
Olhando os tracks que estavam no wikiloc, uma outra opção era iniciar a caminhada pelo Distrito de Altamira (pertencente ao município de Nova União). Pelo menos lá eu teria o transporte público diariamente e com a possibilidade de passar ao lado da Cachoeira Braúnas ao longo da caminhada.
E assim fechei o roteiro da minha travessia: início da caminhada no Distrito de Altamira, subindo a Serra do Espinhaço e passando pelos 2 abrigos oficiais do Parque Nacional: Casa dos Currais e o de Tábuas para finalizar na portaria Alto Palácio. 

19 de dezembro de 2023

Relato: Caminho do Frei Galvão - São Bento do Sapucaí/SP até Guaratinguetá/SP na caminhada

Quando finalizei o Caminho da Fé em 2007, ficou na minha cabeça retornar para essas caminhadas de peregrinação pelo país algum dia. E são muitas rotas: Caminho da Luz, Caminho das Missões, Caminho de Aparecida, Caminho do Sol, Passos de Anchieta, Caminho do Frei Galvão e muitas outras que foram criadas. E dentre essas, uma delas me chamou a atenção porque o trajeto se inicia e segue na totalidade pela Serra da Mantiqueira em trechos que eu não conhecia. É o Caminho do Frei Galvão e imediatamente já coloquei na minha lista de futuras caminhadas.
O Caminho de Frei Galvão é uma rota frequentada por peregrinos e caminhantes cujo trajeto segue em sua maioria por estradas de terra e trilhas, na região da Serra da Mantiqueira, abrangendo municípios de SP e MG.
Alguns trechos são antigas trilhas tradicionais que eram utilizadas por tropeiros em séculos passados, cruzando com lindos cenários naturais como: riachos de água cristalina, cachoeiras, fazendas, pequenas vilas e muito sobe/desce de serras. Em geral é para quem busca um contato mais próximo com a Natureza.
O percurso tem cerca de 135 km no total e pode ser realizado a pé ou de bike, atravessando a Serra da Mantiqueira em vários lugares e sua orientação é seguir as setas azuis, que estão sendo desgastadas pelo tempo, infelizmente. 
Iniciando em São Bento do Sapucaí/SP, o Caminho passa por Brazópolis, no Distrito de Luminosa, Piranguçu, Wenceslau Braz e a Fazenda Boa Esperança em Delfim Moreira, todas essas cidades mineiras até chegar em Guaratinguetá, no Vale do Paraíba.
Desse total percorrido, apenas 3 trechos são por estradas asfaltadas: pequeno trecho de 1,8 Km próximo de Luminosa, outro de 16 Km antes de chegar na pousada em Wenceslau Braz e ao sair dela e o último que é o trecho final de 15 Km antes de chegar no centro de Guaratinguetá. 
Quem criou o Caminho e demarcou com setas azuis foi Luiz Zingra, porém de alguns anos para cá ele se afastou da responsabilidade e atualmente quem é o encarregado pela manutenção, fornecimento da credencial e de um pequeno croqui do percurso é Ademilson Claro Santos, também conhecido como Brinco. Tanto Luiz quanto Ademilson são moradores de São Bento do Sapucaí/SP, onde se inicia essa caminhada.
Ao longo do percurso é necessário que se carimbe a credencial em cada pousada que pernoitar para que no final da caminhada, na antiga casa de Frei Galvão, o caminhante/peregrino receba o último carimbo e um certificado.
Para quem pretende fazer essa caminhada, o roteiro mais recomendado é esse abaixo, apesar que algumas pessoas passam direto pela Fazenda Boa Esperança e seguem até Pilões, finalizando em 5 dias:
1ª dia- São Bento do Sapucaí – Distrito de Luminosa (Brazópolis/MG).
2ª dia - Luminosa - Piranguçu/MG
3ª dia - Piranguçu - Wenceslau Braz/MG
4ª dia - Wenceslau Braz - Fazenda Boa Esperança (Delfim Moreira/MG)
5ª dia - Fazenda Boa Esperança - Bairro dos Pilões (Guaratinguetá/SP)
6ª dia - Bairro dos Pilões – Centro de Guaratinguetá

Um pouco de história
Para quem não conhece, Frei Antônio de Sant'Anna Galvão nasceu na cidade de Guaratinguetá/SP em 1739 e sua família de formação cristã, lhe passou valores e fidelidade a Cristo. 
Depois de passar por congregações religiosas, foi ordenado sacerdote e em 1774 fundou o que é conhecido atualmente como "Mosteiro da Luz", na cidade de São Paulo, prédio esse considerado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
O edifício abriga um Convento, a Igreja e o Museu de Arte Sacra de São Paulo, sendo visitado por muitos peregrinos e fieis em agradecimento às graças alcançadas, como também para obter das freiras as famosas e milagrosas “Pílulas do Frei Galvão”.
Sua morte ocorreu em 1822 no Mosteiro, quando já tinha 83 anos. Com vários milagres atribuídos a ele, em 2007 foi canonizado pelo Papa Bento XVI vindo a se tornar santo e nesse mesmo ano foi criado o Caminho em sua homenagem com início em São Bento do Sapucaí e tendo ponto final a Casa onde nasceu, na cidade de Guaratinguetá. 

Nas fotos acima trechos do Caminho 

Fotos da caminhada dividido em 2 partes
Primeiras 500 fotos: clique aqui
Últimas 500 fotos:    clique aqui

Vídeo da caminhada: clique aqui

Tracklog para GPS: clique aqui



Relato
Naquele mês de Outubro, quando voltei da travessia dos Lençois Maranhenses, ainda tinha uns 15 dias de férias e só contava que o clima melhorasse para fazer essa caminhada. Na região sudeste estavam ocorrendo chuvas e com isso tive que adiar por alguns dias o início da caminhada.
Enquanto isso fui ligando em todas as pousadas ao longo do Caminho para posterior reservas e saber os valores. Apenas em uma pousada tive que fazer um pagamento de 50%. As outras só reservaram e pagamento foi na hora por PIX.
Contatei também o Ademilson e conversei com ele sobre alguns detalhes, tirando todas as minhas dúvidas.

29 de novembro de 2023

Relato: Travessia dos Lençóis Maranhenses em 6 dias sem guia e sozinho

Finalmente as minhas férias de Outubro estavam chegando e exatamente 1 ano depois de concluir a travessia da Chapada Diamantina, lá estava eu me preparando para outra clássica travessia da minha lista. Com alguns meses de antecedência fui pesquisar a logística para uma que é obrigatória para qualquer pessoa que curte caminhada/trekking: Lençóis Maranhenses.
Essa fazia parte da minha lista há muitos anos, mas da maneira que eu planejava fazer, teria que dispor de uns 10 a 15 dias, já que minha intenção era fazer sem acompanhamento de guias de agencias e também emendar com outros passeios.
O planejamento era essencial e lá fui eu ler relatos e estudar alguns tracks dessa caminhada. Por conseguir férias somente em Outubro, eu iria pegar quase o final da temporada das lagoas, já que algumas estariam com pouca água ou literalmente secas e com certeza pouca gente ou quase ninguém fazendo a travessia.
Pensei comigo, seriam dunas e mais dunas sem uma vivalma e algumas lagoas privativas só para mim e me hospedando em lugares sem ninguém para compartilhar a experiência. E posso dizer que isso aconteceu mesmo (encontrei somente 1 garota com seu guia num dos oásis e depois nos separamos e nada mais).
Minha intenção era cruzar inteiramente os Lençóis Maranhenses a pé do extremo leste (Vila de Atins) pelas dunas, pernoitando nos oásis até chegar a Santo Amaro do Maranhão numa caminhada, pelas minhas contas, de aproximadamente 70 Km e só encontrando vegetação nesses oásis.
Nos vários relatos que li, todos comentam que o ideal é sempre iniciar a caminhada antes do nascer do Sol com o intuito de evitar o Sol forte depois das 11:00hrs, já que não existem áreas de sombra nos trechos. No sobe e desce das dunas foram diversas paradas em lagoas, algumas com pouca água, outras com água na altura do peito.
Considerado o maior campo de dunas da América do Sul, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é o único deserto do mundo com milhares de lagoas (em torno de 30.000 na época das chuvas). São de vários tamanhos, formas e cores com algumas se mantendo durante o ano todo e outras secas em determinadas épocas do ano. 
De acordo com o ICMBio, são 1500 Km² de área, com as dunas se deslocando diariamente, sendo que na entrada e saída dos oásis é possível constatar esse fenômeno, já que várias árvores, principalmente cajueiros, estão sendo engolidos pelas dunas.
O Parque está localizado a cerca de 250 Km de São Luís e a porta de entrada para a maioria dos passeios e também para a travessia é a cidade de Barreirinhas, que foi a cidade onde iniciei o meu roteiro para chegar em Atins, que é o início do Parque. 
Em Barreirinhas adquiri um passeio de voadeira pelo Rio Preguiças, passando por alguns pontos turísticos até chegar na Vila de Atins, que é o lugar onde comecei de fato a minha caminhada.
Normalmente a travessia costuma ser feita entre 3 a 6 dias, dependendo se fizer com agencias ou em solo sem guia e obrigatoriamente terá de passar por 2 oásis: Baixa Grande e Queimada dos Britos, variando de 40 Km até uns 70 Km de caminhada ou mais se quiser incluir outras lagoas fora do trajeto.
E finalizando essa introdução, é extremamente importante que use algum aplicativo de GPS no celular para quem pretende fazer essa travessia sem apoio de algum guia. Sem esses arquivos o risco de se perder é altíssimo, pois ao longo da caminhada não se tem referencia alguma. São dunas e mais dunas a perder de vista para todas as direções que se olha. No site wikiloc é possível encontrar inúmeros arquivos de GPS para orientar a caminhada, podendo visualizar a trilha a ser seguida em apps de celular. 
Nessa postagem vou relatar como foi toda essa minha travessia de pouco mais de 80 Km em 6 dias, desde Barreirinhas até Santo Amaro, acrescentando também 5 tópicos interessantes, assim como dicas do que encontrar ao longo da caminhada, gastos que tive, dificuldades e todas as informações para ajudar no planejamento dessa caminhada.


Nas fotos acima: algumas dunas e lagoas na travessia dos Lençóis

Fotos: 
Passeio pelo Rio Preguiças: clique aqui
Travessia dos Lençois Maranhenses: clique aqui
Santo Amaro do Maranhão: clique aqui             
São Luis: clique aqui

Vídeo de toda essa caminhada: clique aqui

Tracklog para GPS: clique aqui



1- Melhor época para a Travessia dos Lençóis Maranhenses?
Apesar do calor estar presente o ano todo, tradicionalmente resulta em apenas 2 estações: chuvosa (Fevereiro a Maio) e seca (Junho a Janeiro). Com isso a melhor época é o final das chuvas, de Maio a Setembro, quando as lagoas que se formam entre as dunas estão cheias. Alguns dizem que são os 2 meses do meio do ano (Junho e Julho), mas surge um pequeno problema: a lotação dos redários nos oásis, tendo até dificuldades para encontrar vagas em muitos deles – é o que me foi passado por alguns proprietários. Pode acontecer também de ter um pequeno aumento do tempo e da distancia na alta temporada, pois com todas as lagoas cheias, não é possível cruzá-las com a mochila, então só contornando.
Já um problema fora da alta temporada são as lagoas secas ou com pouca água em alguns trechos, principalmente entre Canto dos Atins e Baixa Grande.
Lagoa do Cajueiro cheia
A vantagem dessas lagoas cheias é o cenário das aguas em tons azuis e verdes, o que torna os Lençóis um espetáculo único de beleza.
Eu fui nos primeiros dias de Outubro e encontrei muitas lagoas secas ou com pouca água, principalmente no trecho Canto dos Atins-Baixa Grande e com os redários vazios. 
Quanto ao uso das águas das lagoas para beber, não tive opção, já que a agua das minhas garrafas Pet tinham acabado. O que eu fiz foi colocar uma pastilha de Clorin dentro de uma garrafa de 1,5litros. Esperei por alguns minutos, matei minha sede e saí de lá inteiro.

28 de março de 2023

Relato: No topo do Pico do Gavião (ou Peito de Moça) – Serra do Mar de Biritiba Mirim/SP

Início de 2016 subi pela primeira vez ao topo da Pedra do Sapo (nesse relato) e lá do cume dava para visualizar alguns picos próximos. 
Um que chamava muita a atenção era o Itapanhaú com sua enorme torre de telecomunicações, localizado a leste e do lado direito dele um outro pico se destacava. Era o Pico do Gavião, também conhecido por um outro nome: Peito de Moça. 
Minha pretensão era chegar no topo de outros picos próximos do Sapo, mas o tempo foi passando e só consegui chegar em 3 deles (Esplanada, Garrafão e o Itapanhaú). Me faltava o Pico do Gavião e naquele final do ano de 2016, tentei por 2x chegar no cume dele. Numa das vezes minha intenção era passar pelo Gavião para chegar na Pedra do Sapo nesse relato e numa outra caminhada foi quando fiz a travessia da Cachoeira Pedra Furada-Pedra do Sapo (nesse relato), mas peguei uma neblina muito espessa quando já estava a cerca de 1 Km do topo, o que me fez desistir.
E sem muitas opções novas na região fui deixando o Gavião de lado, ficando mais de 5 anos sem voltar lá e
só agora, Março de 2023, era hora de tentar novamente. 
Pesquisando no wikiloc, encontrei alguns tracks bem recentes da trilha (3 ao todo) e num Domingo de Sol marquei com minha namorada Vera a caminhada.



Na primeira foto trecho final subindo pela encosta inclinada e na outra foto visual de uma das laterais do Pico


Fotos dessa caminhada: clique aqui
Tracklog até o topo do Pico do Gavião: clique aqui




Embarcamos no trem da CPTM na Estação Tatuapé seguindo direto para Estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, mas ao chegarmos no Terminal de ônibus do lado direito, ficamos sabendo que os ônibus da linha Manoel Ferreira foram transferidos para o Terminal Central, ao lado da Estação Mogi das Cruzes (desde Março/2022) (ATUALIZAÇÃO JULHO/2023 - O circular retornou para o Terminal de Estudantes, operando no mesmo local de antigamente).
E lá vamos nós embarcar novamente no trem voltando uma estação. Pelo menos não ficamos esperando muito tempo, pois as 08h30min o circular saiu em direção à Rodovia Mogi-Bertioga.
Próximo ao Km 74,3 desembarcamos num ponto de ônibus e seguimos por estrada de terra em direção ao bairro Manoel Ferreira, onde se localiza o ponto final da linha (eu prefiro descer na Rodovia porque o ônibus segue até a Balança do Km 77 para depois retornar e com isso demora um pouco mais), onde chego em 10 minutos. Nesse trecho inicial a gente achou estranho vários carros estacionados ao longo da estrada e algumas placas sinalizando estacionamentos privados nas casas, cobrando valores de $5 a $10 Reais.
Quando chegamos no centro do bairro pouco depois das 09hrs descobrimos o motivo. O lugar era o início e a chegada de um circuito de corrida em estradas de terra e trilhas (esse aqui). Eram percursos de 7km, 15km e 21km.