28 de março de 2023

Relato: No topo do Pico do Gavião (ou Peito de Moça) – Serra do Mar de Biritiba Mirim/SP

Início de 2016 subi pela primeira vez ao topo da Pedra do Sapo (nesse relato) e lá do cume dava para visualizar alguns picos próximos. 
Um que chamava muita a atenção era o Itapanhaú com sua enorme torre de telecomunicações, localizado a leste e do lado direito dele um outro pico se destacava. Era o Pico do Gavião, também conhecido por um outro nome: Peito de Moça. 
Minha pretensão era chegar no topo de outros picos próximos do Sapo, mas o tempo foi passando e só consegui chegar em 3 deles (Esplanada, Garrafão e o Itapanhaú). Me faltava o Pico do Gavião e naquele final do ano de 2016, tentei por 2x chegar no cume dele. Numa das vezes minha intenção era passar pelo Gavião para chegar na Pedra do Sapo nesse relato e numa outra caminhada foi quando fiz a travessia da Cachoeira Pedra Furada-Pedra do Sapo (nesse relato), mas peguei uma neblina muito espessa quando já estava a cerca de 1 Km do topo, o que me fez desistir.
E sem muitas opções novas na região fui deixando o Gavião de lado, ficando mais de 5 anos sem voltar lá e
só agora, Março de 2023, era hora de tentar novamente. 
Pesquisando no wikiloc, encontrei alguns tracks bem recentes da trilha (3 ao todo) e num Domingo de Sol marquei com minha namorada Vera a caminhada.



Na primeira foto trecho final subindo pela encosta inclinada e na outra foto visual de uma das laterais do Pico


Fotos dessa caminhada: clique aqui
Tracklog até o topo do Pico do Gavião: clique aqui




Embarcamos no trem da CPTM na Estação Tatuapé seguindo direto para Estação Estudantes, em Mogi das Cruzes, mas ao chegarmos no Terminal de ônibus do lado direito, ficamos sabendo que os ônibus da linha Manoel Ferreira foram transferidos para o Terminal Central, ao lado da Estação Mogi das Cruzes (desde Março/2022) (ATUALIZAÇÃO JULHO/2023 - O circular retornou para o Terminal de Estudantes, operando no mesmo local de antigamente).
E lá vamos nós embarcar novamente no trem voltando uma estação. Pelo menos não ficamos esperando muito tempo, pois as 08h30min o circular saiu em direção à Rodovia Mogi-Bertioga.
Próximo ao Km 74,3 desembarcamos num ponto de ônibus e seguimos por estrada de terra em direção ao bairro Manoel Ferreira, onde se localiza o ponto final da linha (eu prefiro descer na Rodovia porque o ônibus segue até a Balança do Km 77 para depois retornar e com isso demora um pouco mais), onde chego em 10 minutos. Nesse trecho inicial a gente achou estranho vários carros estacionados ao longo da estrada e algumas placas sinalizando estacionamentos privados nas casas, cobrando valores de $5 a $10 Reais.
Quando chegamos no centro do bairro pouco depois das 09hrs descobrimos o motivo. O lugar era o início e a chegada de um circuito de corrida em estradas de terra e trilhas (esse aqui). Eram percursos de 7km, 15km e 21km.
Organização do Circuito de corrida junto ao centro do bairro
O lugar estava cheio de corredores e conforme seguíamos pela Estrada da Adutora da SABESP, alguns deles cruzavam em direção ao final e foi assim em todo o trecho pela estrada de terra - eu contei em torno de 50 corredores.

Corredores ao longo da estrada
Com cerca de 30 minutos de caminhada passamos embaixo da Adutora, tendo a Pedra do Sapo surgindo à direita de vez em quando e com 1 hora passamos ao lado do Restaurante da D. Maria, que atualmente está fechado devido ao falecimento da proprietária.

Mais uns 5 minutos de caminhada e chegamos na bifurcação que leva ao Pico do Itapanhaú e à trilha leste da Pedra do Sapo. Aqui uma novidade.
Acesso à estrada secundária que leva a Torre do Itapanhaú
Colocaram uma cerca de arame com cadeados, mas encontramos a cerca aberta porque o circuito da corrida seguia na direção do Itapanhaú.

Daqui em diante abandonamos a estrada principal e seguimos nessa estrada secundária, descendo para um pequeno vale.
Mais alguns minutos e cruzamos com um pequeno riacho, que é o único ponto de água desde o início da caminhada e com mais 50 metros abandonamos essa estrada e seguimos numa bifurcação à direita, na direção da Pedra do Sapo, cruzando uma pequena área de charco. 
Trecho final da trilha que leva até a base da Pedra do Sapo
A partir daqui o trecho é por trilha demarcada em meio à vegetação com outros riachos e trilhas surgindo ao longo dessa principal.

Com mais uns 20 minutos e pouco menos de 1 Km saímos dessa trilha principal para seguir numa bifurcação à esquerda (não tem erro, porque é a segunda bifurcação à esquerda em todo esse trecho).
É aqui que entramos definitivamente na mata fechada, passando por uma grande área de reflorestamento de eucaliptos. A trilha é instintiva, sempre em frente evitando as bifurcações.
Quando estávamos passando ao lado de um riacho, quase que a caminhada termina aqui. Minha namorada, que ia na frente, quase pisa na cabeça de uma coral verdadeira. Ficamos a poucos centímetros dela. O susto foi tão grande que fiquei sem reação, não conseguindo bater uma foto dela. Minha namorada saiu em disparada só parando quando a trilha cruzou um pequeno riacho.
Bivaque numa enorme pedra junto da trilha
Passando por algumas grutas e uma pequena área de bivaque junto a uma enorme rocha, não demorou muito e chegamos numa trifurcação, pouco depois das 11hrs. Na verdade é a trilha que vínhamos caminhando cruzando com uma outra.

Seguindo em frente, ela vai finalizar na Trilha do Lobisomem, que atualmente virou uma estrada para passagem da tubulação de água da SABESP, retirada do Rio Sertãozinho.
Mas nosso objetivo é seguir na trilha da direita, iniciando uma longa subida íngreme.
Trecho íngreme até o marco geodésico
É uma trilha bem mais larga e com vários totens de concreto no meio dela, porém devido ao aclive acentuado, ela é bem cansativa. Em alguns trechos temos de agarrar nos galhos e bambus que de vez em quando fecham a trilha, já perto do trecho final.

Com algumas paradas para descanso, chegamos no topo dessa trilha uns 20 minutos depois, altitude de pouco mais de 1010 metros. O lugar não tem visual nenhum e se assemelha a um falso cume, onde existe um totem e um marco geodésico com o numero 8781. 
Marco geodésico com totem
Uma trilha demarcada desce para direita na direção da Pedra do Sapo, mas nosso caminho não é esse.

Depois de um breve descanso e comer um lanche, era hora de seguirmos em frente. O relógio marca meio dia e o Sol está a pino, mas daqui em diante é mata fechada de novo.
A continuação da trilha é na direção sudeste, inicialmente tendo de varar mato por vegetação alta de bambus e pequenos galhos. É um trecho de poucos metros, mas com uma certa dificuldade para transpor.
Cruzado esse trecho inicial, surge um vestígio de trilha e aí vamos nos orientando pelos tracklogs. Inicialmente a trilha segue por um curto trecho no plano e depois um leve declive por alguns metros.
Vestígio de trilha
Deu para perceber que seguíamos por uma pequena crista, já que as laterais apresentavam uma encosta em declive tomadas pelo mato.

De vez em quando a trilha sumia completamente, engolida pela vegetação que voltou a tomar conta – com certeza a um bom tempo ninguém passa por aqui. E aí não teve jeito. Devido à mata fechada, ou era varar mato ou ir contornando esses trechos até encontrar a trilha um pouco mais à frente. 
Em vários momentos tivemos que nos arrastar por tuneis de bambus fechando a trilha e em alguns me arranhei todo pelo bambuzal e os espinhos.
E num dos buracos ao lado de um tronco caído encontramos a segunda cobra do dia: uma caninana.
Quem viu foi a Vera e pelas características que ela me passou, só pode ter sido ela. Toda preta com pequenas manchas amarelas, que pareciam ser brancas.
Depois de alguns perdidos e muito vara mato chegamos na base do Pico do Gavião com 40 minutos de caminhada desde o marco geodésico.
Trecho final até o topo
Mas agora outro problema. Uma íngreme encosta que mais parecia uma via ferrata e sem cabos ou escadas. Não dava para ir subindo em linha reta, já que o paredão estava coberto de pequenas plantas superficiais que não serviam de apoio.

Os tracks que estávamos seguindo nos direcionam para lateral esquerda, onde várias pequenas árvores podem servir de apoio para ir ganhando altura e foi o que fizemos.
Aqui é preciso ter muito cuidado porque um escorregão pode resultar numa queda encosta abaixo e provocar sérios ferimentos.
E assim fomos alcançando o topo com grande esforço, mas depois de vencido o trecho íngreme era preciso varar mato até chegar no cume, tomado pelas árvores e pelo bambuzal. 
Visual encoberto do topo
A altitude que o GPS do meu celular apontou foi de cerca de 1030 metros e i
maginava que pelo menos fosse igual ao topo do Pico do Garrafão, não muito longe dali e coberto pela vegetação, onde no cume foi construído um grande marco de concreto. Mas no Gavião não tinha nenhum.
As poucas aberturas na vegetação só nos permitiam ver a neblina que já tomava conta da região.
Depois de uma explorada pelo topo, fomos apreciar a vista da lateral do paredão, mas por esse lado também a névoa estava tomando conta. Talvez até daria para ver a Pedra do Sapo e a torre do Itapanhaú bem ao lado.
Quando sentamos para descansar, eis que encontro um canivete em bom estado, permitindo afirmar que foi perdido a pouco tempo.
Visual da lateral do Pico
Ficamos pouco mais de 1 hora no topo comendo alguns lanches e na espera de que a neblina se dispersasse, mas ela insistia em cobrir toda aquele região. E por volta da 13h40min era hora de retornar.
Novamente alguns perdidos pela trilha e mais vara mato, sendo que dessa vez demoramos um pouco mais de tempo nesse trecho, pois estávamos sem pressa, chegando no marco geodésico com quase 1 hora de caminhada. Depois de uma breve parada, a trilha a partir daqui é só descida e quem sofria eram os dedos dos pés.
Ao chegarmos num dos riachos na trilha principal que leva até a estrada, paramos para tomar um banho refrescante e depois seguimos revitalizados e sem pressa.
Passamos pelo antigo Bar da D. Maria por volta das 16h30min e no trecho pela estrada conseguimos uma carona que nos deixou no ponto final da linha Manoel Ferreira, embarcando logo em seguida para Mogi das Cruzes no ônibus circular.



Algumas dicas e informações úteis

# Para quem pretende vir de carro, a melhor opção é deixá-lo junto ao barzinho no ponto final da linha Manoel Ferreira. É o lugar mais seguro.

# Classificaria essa caminhada como muito difícil. Os trechos de vara mato são os maiores problemas e a trilha não é tão demarcada no trecho final entre o marco geodésico e o topo do Gavião.
Minha recomendação é: se não tem experiência em trilhas de mata fechada, não faça, já que as chances de se perder são muito grandes e sinal de telefonia celular não é tão fácil conseguir.

# O intervalo entre as saídas do ônibus circular Manoel Ferreira, que sai do Terminal Estudantes (ao lado da Estação de trem) é muito grande. Seguem os horários da Linha E392: clique aqui. Valor: $5.

# Sinal de telefonia celular só consegui nos lugares mais altos, da Vivo.

# Para essa caminhada é imprescindível levar um tracklog da trilha. Usei 3 nessa caminhada: 

# O total dessa caminhada chegou a pouco menos de 20 Km, entre ida e volta.

Pelas 2 cobras: Coral verdadeira e Caninana, eu recomendo o uso de perneiras para quem pretende repetir essa caminhada. 

# Carrapatos e pernilongos são comuns nessa trilha e voltei de lá com algumas picadas de pernilongos pelo corpo. Pelo menos não trouxe carrapatos. Use repelente.

# Ao longo de toda a Estrada da Adutora não encontrei um único ponto onde houvesse água potável. Somente o Barzinho junto ao ponto final da linha de ônibus do Bairro Manoel Ferreira ou na trilha, uns 15 minutos depois de passar pelo antigo Bar da D. Maria.

# Na região do Pico do Gavião, não encontrei água. O riacho mais próximo é alguns minutos antes de chegar na Trifurcação. 

# São vários os programas de GPS para telefone celular. Alguns até oferecem a oportunidade de ir plotando a trilha.
Para gravação e navegação do tracklog uso e recomendo 3 apps para o GPS do telefone celular.
- A-GPS Tracker ou Wikiloc para gravar os tracklogs.
- E o GPX Viewer para navegar, quando estiver usando o arquivo na trilha.


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