7 de outubro de 2001

Relato: Pedra do Rodamonte por 2x sem sucesso - Ilhabela/SP

Esse relato é bem velhinho e nem quis publicá-lo no meu antigo blog porque nas 2x que tentei chegar no topo da Pedra não consegui. 
Mas revisando alguns arquivos que mantinha comigo, resolvi postar aqui no blog para mostrar as dificuldades que tive para tentar chegar no topo da Pedra do Rodamonte, em Ilhabela.
A Ilha sempre foi um dos meus lugares preferidos para fazer caminhadas e aproveitar as suas praias, principalmente na parte sul onde as que são voltadas para o continente são as melhores por serem tranquilas, sem ondas, limpas e propícias para mergulhos. 
Frequentava sempre as Praias Grande, Curral e Veloso e por terem campings próximos, a hospedagem não era tão cara.
Da Praia do Veloso, que é uma das últimas praias do sul da Ilha, sempre ficava curioso de uma enorme pedra que emergia no meio da mata atlântica em um dos pontos mais altos da ilha: a crista onde se localiza os Picos São Sebastião e o Papagaio. 
De acordo com a carta topográfica, o nome era Pedra do Rodamonte. Parecendo tão próxima, atiçou a minha curiosidade e por isso nas minhas férias de Janeiro coloquei como objetivo chegar ao topo dela. 


Foto acima a poucos metros da Pedra do Rodamonte


Fotos

1ª vez: clique aqui
2ª vez: clique aqui

Pico do Baepi
Tinha também a intenção de subir o Pico do Baepi e uma parte da trilha eu já conhecia bem.
E no primeiro final de semana de Janeiro saí de Sampa em direção a Ilhabela e fiquei no Camping Palmar. Depois de deixar as minhas coisas na barraca, segui para o Pico do Baepi somente com uma pequena mochila de ataque. A caminhada é por trilha bem íngreme, mas foi bem tranquila e sem problemas de navegação
Na descida segui para o sul da Ilha e próximo da Praia do Curral perguntei a alguns moradores sobre como chegar na Pedra do Rodamonte. 
Me diziam que o acesso até lá é próximo da trilha que leva até a Cachoeira do Veloso. Uma parte da trilha, na verdade, era só seguir alguns canos de captação de água que descem do alto da serra, mas fui alertado que ela estava em desuso a muitos anos, por isso achei melhor só pesquisar sobre a trilha e depois voltar mais preparado.
Com algumas informações valiosas obtidas com os moradores, marquei de voltar alguns meses depois para tentar chegar no topo dela.
Cachoeira do Veloso
Numa Sexta-feira do mês de Abril consegui uma folga no trabalho e saí de SP logo pela manhã em um dos primeiros ônibus do Terminal Tietê, chegando na Ilha pouco depois das 12:00 hrs, onde peguei o circular Borrifos junto da saída da balsa, em direção ao extremo sul da Ilha.
Logo depois da Praia do Veloso, desço em um ponto de ônibus em frente ao costão de pedras. Aqui só foi caminhar alguns minutos para frente até encontrar uma rua em direção ao alto da serra. Nesse primeiro momento a rua vai se estreitando até chegar ao final dela e daqui em diante vou seguindo por trilha rente a uma cerca de arame e cruzo um pequeno riacho até chegar no final de um enorme descampado, onde a Pedra do Rodamonte aparece bem no alto à direita. 
A altitude aqui é de pouco mais de 200 metros e do meu lado esquerdo visualizo a pequena e alta Cachoeira do Veloso, cujo acesso é por uma outra trilha, mas que pode ser acessada também pela mesma rua que eu vim. 
Até aqui as informações que consegui com alguns moradores estavam batendo e seguindo para o lado direito do descampado encontro uma outra trilha onde passam os canos de água que descem do alto da serra. 
Pequena queda próximo da trilha
No mesmo terreno do descampado, um pouco mais abaixo, existe uma enorme antena de telefonia celular, sendo uma ótima referencia para quem planeja fazer essa trilha.
Seguindo os canos de água, nesse momento a trilha entra na mata fechada e vai na direção contrária da Pedra, para a esquerda. Passo ao lado de um paredão de pedras, onde provavelmente seria uma cachoeira e vou em frente. A trilha é bem demarcada e depois de quase 1 hora desde o descampado chego a um pequeno lago onde é feita a captação da água, na altitude de uns 430 metros. 
Dou uma explorada no entorno e encontro uma pequena cachoeira, mas o meu objetivo naquele dia é outro e saio à procura da continuação da trilha. 
Acampado próximo da captação de água
Junto do lago até encontro sinais de uma trilha, mas são apenas vestígios e com o final da tarde chegando resolvo montar a minha barraca próximo do pequeno lago, no meio da mata.
Depois de um jantar feito dentro da barraca - prefiro não arriscar do lado de fora naquela escuridão; me enfio no saco de dormir e pego no sono rapidamente. 
Assim que amanhece, faço um rápido café da manhã, já pensando em descer a serra, frustado por não ter encontrado a trilha e por isso resolvo praticar rapel na pequena cachoeira com uma corda que eu trouxe. Não é uma cachoeira muito alta e cercada de mata nem consigo visualizar o litoral. 
Volto para desmontar a barraca e tentei novamente achar a trilha, mas em vão. 
Era um final de semana perdido.
Já com as coisas dentro da mochila vou descendo pela trilha e depois de alguns minutos encontro uma bifurcação que deixei passar e que talvez seja a trilha que eu estou procurando. 
Agora qual decisão tomar? Continuar a descida ou seguir na trilha serra acima?

Pequena gruta na subida da trilha
Como ainda era por volta do meio dia de um Sábado, tinha ainda 1 dia e meio para tentar chegar na Pedra do Rodamonte e não penso 2x: vou subir pela trilha. 
Nesse ponto ela segue quase que em linha reta e com algumas antigas fitas amarradas em árvores não tenho problemas de navegação. 
Com quase 1 hora e 30 minutos de trilha desde o lago, encontro uma pequena toca que é perfeita para um bivaque. Paro por alguns minutos para descansar e volto a subir pela trilha, que se torna cada vez mais íngreme. 
Com menos de 1 hora de caminhada chego em um pequeno descampado, localizado exatamente na crista, no ponto mais alto da trilha. 
Crista dos principais picos da ilha
A altitude é de pouco mais de 950 metros e daqui consigo visualizar o Pico do Papagaio, na crista à esquerda, mas com trilha tomada pelo bambuzal. A Pedra do Rodamonte não consigo ver, mas com certeza fica à direita, seguindo pela crista, mas o mesmo problema: está tomada pelo bambuzal. A única maneira de continuar a caminhada é descer a crista pelo outro lado e seguir paralelo à ela até retornar a crista e encontrar uma maneira de visualizar a Pedra.
Daqui em diante não existe trilha e sigo as indicações da bússola e da carta topográfica varando mato, mas o tempo não está a meu favor. 
Camping na descida da trilha
São pouco mais de 16:00 hrs e logo não terei mais o Sol e por isso tomo uma decisão sensata. Desistir da trilha e voltar uma outra vez. 
Foi dolorido, mas sei que a trilha que leva até a base da Pedra do Rodamonte é por ali mesmo. 
Volto até o descampado no topo da crista e lá monto minha barraca, junto de uma enorme pedra. Com a água que trouxe do acampamento anterior faço meu jantar e assim que anoitece, entro na barraca e fico estudando a carta topográfica para saber o local exato de onde eu poderia estar.
Vejo que estou a uns 800 metros da Pedra se eu fosse seguir pela crista e com esse pensamento caio no sono. 
Descendo pela trilha
Assim que amanhece no Domingo, desmonto a barraca e pouco depois das 08:00hrs inicio a descida chegando no lago onde acampei, pouco antes das 10:00 hrs, onde paro para tomar um banho junto da cachoeira e continuar a descida.
Descendo pela trilha, só foi seguir os canos de água e por volta das 12:00 hrs estava passando pelo enorme descampado e ao lado da torre de telefonia celular e de uma casa, onde nem notaram minha presença. 
Mais alguns minutos e estou de volta a avenida principal e daqui só foi pegar o circular em direção a balsa e de lá comprar a passagem de volta para SP naquele final de tarde de Domingo.
Pedra do Rodamonte aparecendo só o topo
Não consegui meu objetivo, mas pelo menos sei onde está a trilha que eu deveria seguir pela crista até a base da Pedra e como sou teimoso, volto para São Paulo planejando voltar algum outro dia, mas levo quase 1 ano e meio para isso acontecer, só retornando em Setembro de 2001.
Como da primeira vez, a logística com o ônibus me tomou muito tempo e agora resolvo seguir para Ilhabela de moto e procurar alguma pousada ou camping que me permitisse deixar ela estacionada enquanto estava fazendo a trilha. 
Minha intenção era fazer essa trilha em um fim de semana e assim foi.
Antena de telefonia celular próximo da Praia do Veloso
Sai de SP em um Sábado logo pela manhã, chegando na Ilha pouco depois das 10:00 hrs e segui direto para o sul, parando em frente a entrada que leva até a enorme antena de telefonia celular. 
É aqui que fica o terreno descampado, onde eu tinha finalizado a minha caminhada a cerca de 1 ano e meio atrás.
Conversando com o morador do local, ele me disse que toda a propriedade pertence a uma mulher que é dona de uma pousada, que se localiza na avenida principal e lá fui eu conversar com ela para pedir autorização para deixar a moto estacionada no lugar e iniciar a caminhada por ali mesmo.
Pedra do Rodamonte ao fundo
Expliquei que queria chegar no topo da Pedra do Rodamonte e ela me encheu de perguntas, já que nunca viu pessoas tentando chegar lá.
Depois de um bate papo, me autorizou a deixar a moto estacionada dentro de um galpão, que é usado para guardar material de limpeza e manutenção.
Mochilas na costas, agora vou subindo até a parte mais alta do enorme terreno, passando ao lado da torre de antena celular e dali já saio na trilha por onde os canos de água passam, do lado direito.
Com pouco mais de 1 hora já chego no lago onde é feita a captação de água e só encho os cantis para não perder tempo.
Pico do Papagaio ao fundo
Volto alguns minutos até a bifurcação que segue para o alto da serra e daqui para frente a trilha é um pouco mais fechada, mas com algumas antigas fitas marcando o lugar, a navegação é um pouco tranquila. 
Passo rapidamente pela toca e pouco antes das 14:00 hrs já estou no topo da crista. 
Depois de descer alguns metros para o outro lado, vou seguindo paralelamente a crista por uns 30 minutos varando mato até voltar novamente até ela para ver se estava próximo da Pedra. 
Continuo a caminhada pela crista no meio do bambuzal, sentido oeste por mais alguns minutos, já que a mata fechada não me permite que veja nada ao redor. 
Na crista de acesso a Pedra do Rodamonte
Resolvo então subir em uma enorme pedra para visualizar a Pedra do Rodamonte, mas qual não foi a minha surpresa ao ver que passei dela, como nessa foto acima. Que azar. Perdi um tempo precioso. Com o final de tarde já se aproximando, resolvo montar a minha barraca ali mesmo para no dia seguinte seguir para a base da Pedra que não está muito longe dali.
No dia seguinte, volto alguns minutos pela crista, no sentido leste para tentar chegar o mais próximo dela, mas as dificuldades são grandes. 
Além da mata estar muito fechada, os bambus atrapalham muito. Encontro também um pequeno vale junto da Pedra que dificulta ainda mais a chegada até a base dela. 
Ao lado da Pedra do Rodamonte
Pela carta topográfica, devo ter chegado a uns 200 metros da Pedra e percebo que terei muitos problemas se seguisse em frente. Um bambuzal desgraçado e enormes pedras que dificultam demais o avanço. 
De novo, terei que desistir. PQP.
Depois de tirar várias fotos, volto para a crista e de lá sigo para o ponto onde acampei no ano anterior.
Dali só foi descer a trilha até o lago de captação da água e depois seguindo os canos, rapidamente chego no enorme terreno descampado, onde se localiza a torre de telefonia celular.
Agradeço ao morador e depois de pegar minha moto sigo para a balsa e de lá retorno para SP.
Vou embora um pouco triste, mas frustado talvez não. Abusei muito da Mãe Natureza por fazer essa trilha por 2x só com bússola e sem acompanhamento de mais ninguém e graças a Deus saí de lá sem nenhum problema com animais peçonhentos ou algo mais grave, principalmente nos trechos de vara mato. 
Acho que gastei todas as minhas 7 vidas nessa trilha e nessa hora é preciso parar.
A Pedra sempre vai estar lá e quem sabe algum dia ainda volto para chegar no topo dela.



Algumas dicas e informações úteis (Atualizado Julho/2020)

A trilha dessa Pedra é complicada demais. Creio que até o lago da captação de água não se encontra problemas de navegação. Já a partir dali é preciso ter faro de trilha e quando chegar na crista, a trilha está tomada pelo mato e pelo bambuzal. É só vara mato mesmo.

# O único ponto de água que encontrei na trilha foi junto do pequeno lago, onde é feita a captação de água por vários canos. 

Na pequena toca, que serve perfeitamente para um bivaque é possível passar a noite, mas eu não recomendaria.  A Ilha é repleta de Jararacas e no meio da noite elas podem te fazer uma visita.

Junto do pequeno lago, até existe um local plano para montar uma barraca pequena, mas com certeza os melhores lugares são próximo da Toca e na crista, onde a trilha chega ao ponto mais alto.

Até dá para visitar a Cachoeira do Veloso, mas nem cheguei a ir nas 2 ocasiões por pura falta de tempo. Dei preferencia em seguir na trilha.

# Creio ser perfeitamente possível chegar na crista ou até próximo da Pedra do Rodamonte no mesmo dia. O problema é a mata fechada que está tomando conta da trilha, a partir do pequeno lago.

# Encontrei algumas antigas fitas amarradas nessa trilha, talvez colocadas por algum guia.

O uso de luvas é obrigatório, pois nos trechos de mata fechada só consegui caminhar varando mato.

O uso de polainas ou perneiras também é obrigatório, já que Ilhabela é um lugar que possui uma quantidade maior de animais peçonhentos em comparação com a Serra do Mar. 

Repelentes é um item essencial para os borrachudos, que é uma praga na Ilha, apesar de que no sul, ela está controlada.

4 comentários:

  1. Muito obrigado pelas postagens sobre Ilhabela! Estou me animando a voltar a fazer trilhas e como tenho uma casa na ilha, é por lá que vou voltar.

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    1. Ola.
      Ilhabela sempre foi o lugar preferido das minhas trilhas e caminhadas.
      Vc que mora na Ilha é um privilegiado. São muitas praias e trilhas quase desertas ou pouco exploradas que são ótimas opções de passeios.
      Só tenho elogios a esse lugar.
      Só lamento pelos borrachudos, que são habitantes indesejaveis p/ qqer turista.

      Abcs

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  2. Bom dia Augusto.....
    Somos da equipe lago dos Patos e estamos tentando fazer a travessia da ilha bela sentido norte sul....chegamos a descer o morro do eixo , quase chegando ao rio da pedra riscada....no mês do carnaval , iremos voltar para fazer no sentido sul - norte...e passaremos por onde vc relatou....queremos interligar da Serraria ao nosso último ponto....se vc puder nos orientar como faremos para chegar em Serraria, seria de grande valor. Já temos algumas ideias em mente... Se quiser , entra no wiquiloc e procure por : Cláudio Amaro , que é um dos integrantes do nosso grupo....eu sou Marcelo e é um prazer estar me comunicando com vc ....obs...já estamos tentando atravessar a cinco anos....

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    1. E aí Marcelo, blz?
      Vc deve estar se referindo a essa travessia não é?
      https://trilhasetrips.blogspot.com/2013/04/relato-contornando-ilhabelasp-na.html
      Ou vc tá mesmo querendo saber sobre a Pedra do Rodamonte, que tá próximo da Praia da Feiticeira?

      Vc leu o relato da travessia de Ilhabela?
      Se sua duvida é sobre essa travessia, vamos a ela.

      Minha opinião é que vcs começaram pelo trecho errado. Não deveriam ter ido pelo norte.
      E por vários motivos: logistica, dificuldade, resgate e etc..
      Mas como vc tá dizendo que agora pretendem entrar pelo sul, é a melhor opção mesmo.
      Lembro muito bem que ao chegar na Serraria vários moradores me disseram que ali eu teria de voltar, pois não conseguiria chegar na Praia do Poço de jeito nenhum por trilha.
      Muitos anos atras ela até existiu, mas se fechou completamente.
      E o problema é chegar na Serraria também, já que peguei trechos de vara mato, saindo da Praia dos Gatos.
      O que eu sei é que anos atras um grupo até tentou chegar na Serraria, mas tiveram que desistir pouco antes de chegar na Praia do Eustáquio. Creio que o principal problema é o trecho Praia dos Gatos - Praia das Ganxumas. Lembro que era um trecho complicado e a trilha saia dos fundos de uma casa que fica em frente a Praia dos Gatos. Passei por algumas formações rochosas, pequenas grutas e cruzei com um pequeno riacho, quase ao lado da foz dele. Dali para frente a trilha seguia quase beirando o costão até chegar na Ganxumas.
      Dessa Praia em diante, a trilha era razoavelmente visível e não tive grandes dificuldades para chegar na Praia da Caveira e de lá até a Serraria. Era um trecho curto. O problema maior mesmo vc terá no trecho entre Praia dos Gatos e Ganxumas.
      Ou apelar de vez. Sair de Castelhanos até Eustáquio de barco. Existe uma trilha que liga Eustáquio até Ganxumas.
      E dali vc segue até Serraria.

      Chegando na Serraria as únicas opções dali em diante são:
      - seguir de barco até a Praia do Poço (foi o que eu fiz) ou
      - pelo costão (deve levar uns 2 dias, no minimo).
      Sr. Virgílio (único morador da Praia do Poço, na época - se não me engano ele faleceu recentemente) me disse que um grupo conseguiu chegar pelo costão, então não deve ser impossível.
      Descendo de barco no Poço, vai ter outro problema dali para frente: o trecho até Jabaquara.
      Existiu também uma estrada ali (imagens antigas do Google Maps vc encontra trechos da SP-131), mas tomado pelo mato e muito bambuzal. Saí todo arranhado de lá e arrisquei muito a vida, já que tive que me agachar várias vezes. Acho que não fui picado por alguma Jararaca por que Deus não queria.
      E leve facões. Vai usar muito.

      Tendo mais duvidas, é só postar lá no relato da travessia de Ilhabela.

      Abcs

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