10 de fevereiro de 2025

Relato: Pico Mitra do Bispo - Alagoa/MG

Assim que retornei da longa caminhada no litoral sul da Bahia (neste relato) não queria ver praias por um bom tempo e só queria mesmo fazer alguma trilha leve e curta, que tivesse um belo visual e emendando com algum passeio turístico. E que não fosse muito longe de SP.
Tirando Serra do Mar e partes da Serra da Mantiqueira com Serra Fina, Itatiaia, Monte Verde, Papagaio e arredores não sobrava muita opção. Serra do Cipó tinha feito a poucos meses atrás e repetir caminhadas estava totalmente fora dos planos
Lembro que ao fazer a Travessia da Serra do Papagaio dava para ver em vários trechos dela um pico com um formato pontiagudo bem ao sul, na região da cidade de Alagoa/MG. Nem sabia qual era o nome e depois de pesquisas na época descobri que se chamava Pico Mitra do Bispo e nunca me interessei por conhecer o lugar, já que chegar em Alagoa não era fácil, devido às condições da estrada de acesso e para piorar também não existia transporte público. 
E antes de fazer o trekking do Descobrimento na Bahia, nas férias de 2024, tinha que deixar todas as caminhadas planejadas e assim comecei a pesquisar sobre esse pico e como eram os acessos.
Pelo menos a estrada saindo de Itamonte até Alagoa já estava toda pavimentada com bloquetes de concreto e encontrei arquivos de GPS da trilha que leva ao topo do pico. 
Minha intenção era se hospedar na cidade e fazer a Mitra do Bispo num bate e volta no mesmo dia, já que a trilha era 
demarcada, com pouco menos de 4 Km e nível relativamente moderado.
O problema foi conseguir uma janela do tempo que não estivesse chovendo e tive que adiar por 3 dias o início da viagem até Alagoa e quando o clima melhorou prometendo dias de Sol nos próximos dias na região de Alagoa, peguei o meu carro e tomei a estrada.


Nas fotos acima Mitra do Bispo vista da cidade e o visual do topo


Fotos dessa caminhada: clique aqui

Tracklog para GPS: clique aqui


Tive que acordar por volta das 06:00 hrs numa quinta feira e depois de um belo café da manhã peguei um transito bem tranquilo pela Via Dutra. O caminho que segui foi subindo pela Garganta do Embaú para cruzar a divisa SP/MG, em seguida Passa Quatro e Itanhandu para chegar em Itamonte as 10:00hrs. Depois de abastecer na cidade foi bem fácil encontrar o caminho até Alagoa. A estrada possui trechos de asfalto precisando de manutenção e blocos de concreto como pavimento recém colocados.
Alagoa
E por volta das 11:00 hrs vou adentrando as ruas do centro de Alagoa indo direto para Pousada que já tinha reservado.
A cidade é conhecida como a terra do queijo tipo parmesão produzido de forma artesanal nos vários sítios e fazendas da região, inclusive tendo algumas lojas na cidade que são especializadas na venda desse tipo de queijo e de outros produtos.
Depois de conversar com a proprietária, deixo minhas coisas na pousada e segui direto para a trilha.
Coloquei no GPS do celular a Mitra do Bispo e o Google Maps me indicou uma rota de 20 minutos até o início da trilha, passando por um bairro chamado Corguinho. A estrada é toda de terra com alguns trechos íngremes e muitas pedrinhas soltas, mas qualquer veiculo consegue passar sem dificuldades (se chover pode complicar um pouco). Cruzando rios, fazendas e pousadas fui chegar no início da trilha exatamente as 12h30min nesse ponto: 22°10'36.3"S 44°33'54.7"W, onde o trecho de subida termina.
Início da trilha
Deixei o meu carro ao lado de um portão de fazenda e embaixo de algumas sombras de pinus. Do outro lado da estrada a trilha se inicia junto a uma encosta íngreme. É bem fácil identificar porque o início dela é bem demarcado. A altitude do GPS do celular marca 1641 mts e tenho de chegar a 2200 mts, no topo.
Esse é o lado sul do pico e nos primeiros minutos vou subindo por trechos em meio aos arbustos, tomando rumo para esquerda.
Logo vou adentrando o trecho de mata fechada, mas a trilha é bem aberta. 
Único riacho na trilha
Não dá nem 10 minutos e cruzo um pequeno riacho, onde encho minhas garrafinhas de água, já que esse é o único ponto de toda a trilha. E vou seguindo sem ganhar muito altitude e ao sair novamente numa área de vegetação de arbustos, encontro uma antiga placa de madeira fixada em um galho. Tá bem deteriorada e de agora em diante tomo rumo para esquerda e a trilha vai ficando mais íngreme. Mais alguns metros e outra placa de madeira. Marcações com fitas plásticas também podem ser encontradas em algumas árvores e o paredão sul do pico pode ser visualizado bem em frente. 
Trecho plano da trilha
Vou adentrando um pequeno trecho no plano por uma floresta de encosta até voltar a subir em meio à mata fechada. Por ser uma trilha bem demarcada, dava para perceber que tá sendo muito usada, o que é bom. Só é preciso muita atenção em algumas bifurcações à esquerda que talvez sejam um outro acesso ou levem à algum mirante (não fui ver para comprovar). 
Fitas pretas na trilha
Vi algumas fitas plásticas na cor preta em alguns pontos e o aclive vai aumentando a cada passo, me obrigando a parar em alguns momentos para retomar o folego. Num espesso bambuzal é necessário se agachar para seguir em frente, mas a trilha é tranquila.
E pouco minutos depois das 14:00 hrs chego na crista com altitude de 2080 mts e daqui em diante sigo para direita, na direção leste. É um trecho curto de mata fechada até sair numa área de vegetação arbustiva com vistas amplas para oeste e norte. 
Visual
O topo ainda está um pouco mais acima e passando por rochas expostas e arbustos vou subindo até chegar numa pequena clareira cercada de árvores que impedem a vista para todos os lados.
São 14h20min e o GPS do celular marca 2187 mts. O lugar é protegido, mas não é o que eu imaginava. As árvores e os arbustos tomaram conta e para montar uma barraca tem de fazer uma grande limpeza, retirando a vegetação. E arrisco a dizer que já fazem alguns anos que ninguém acampa aqui.
Topo
Seguindo a trilha na direção leste, saio numa área com ampla visão e em declive. Deve ser outro ponto para subir até aqui.
Retorno para o lado oeste do topo, onde existe algumas rochas expostas e um lindo visual do Pico do Papagaio e o contorno de toda a sua Serra ao norte e oeste. Alagoa tá bem fácil identificar incrustada num fundo de vale à oeste.
Serras e mais serras
Consigo visualizar também recortes da Serra de Itatiaia e bem ao fundo a Serra Fina. Não é aquele lindo visual, mas valeu a pena chegar aqui. Levei cerca de 1h50min até o topo com algumas paradas e por trilha demarcada.
Com tempo aberto, fico aqui um certo tempo só admirando o lugar.
Depois de uns 30 minutos visualizo uma área de chuva à oeste e percebo que ela vai aumentando de tamanho vindo na direção do Pico.
Chuva logo ali
Era hora de descer, mas a chuva é mais rápida e me pega na parte aberta da trilha. A capa de chuva me protege um pouco e ao chegar no carro, ela já tinha se dispersado.
Desci do topo em cerca de 40 minutos e só tive um pouco de dificuldade pela estrada, já que estava bem enlameada e com várias poças de água. 
Fiquei hospedado por 2 noites na cidade e no segundo dia fui explorar cachoeiras próximas e comprar alguns queijos e doces, retornando a SP na manhã do terceiro dia.



Algumas dicas e informações úteis

A estrada entre Itamonte e Alagoa está totalmente pavimentada e é o melhor acesso. Só tome muito cuidado com quedas de barreiras depois de chuvas intensas. Já o trecho entre Alagoa e Aiuruoca é todo em estrada de terra.

# Não recomendo fazer essa caminhada no período de chuvas. O acesso pela estrada saindo da cidade se torna escorregadio com trechos de muita lama. A não ser que faça todo o percurso na caminhada até o início da trilha, lembrando que são quase 10 Km em desnível de quase 600 mts.

# A cidade é muito famosa pelo seu queijo tio parmesão, fabricado artesanalmente. Em algumas lojas e comércios da cidade é fácil encontrar esse tipo de queijo. Se puder faça visitas a alguns sítios e chácaras que produzem e vendem o queijo direto ao consumidor.

# As opções de hospedagem no centro da cidade são poucas e as pousadas são simples. Na zona rural dá para encontrar uma quantidade maior.

# A cidade possui muitas cachoeiras não muito longe do centro e podem ser boas opções. No meu segundo dia fiz a trilha da Cachoeira do Zé Guedes.

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