20 de outubro de 1998

Relato: Perdidos na Trilha do Corisco – Ubatuba x Paraty pela Serra do Mar

Aqui é um relato da minha primeira vez na Trilha do Corisco, onde não tinha a mínima noção de como ela era.  
E talvez por isso tivemos problemas próximos do final da caminhada.
Era o ano de 1998 estava com minha antiga namorada Beth e conhecemos essa trilha numa visita à Praia da Fazenda e a sede do Núcleo Picinguaba alguns meses antes.
Quem também nos deu algumas dicas dessa trilha foi uma guia de uma agencia de ecoturismo de Ubatuba que tinha nos levado até a Casa da Farinha e ao Poço da Rasa.


Foto acima no Poço da Rasa

Fotos dessa caminhada: clique aqui

Depois das dicas da guia de turismo, achávamos que a trilha do Corisco seria bem fácil, já que não haveria bifurcações ao longo do trajeto. A caminhada se inicia na Casa da Farinha e termina no bairro do Corisquinho, em Paraty num percurso de aproximadamente 6 horas.
Entrada da Praia da Fazenda
É uma trilha histórica, pois era usada a muitos anos atrás como única ligação entre essas 2 cidades.
Depois da construção da Rio-Santos na década de 70, ela virou somente uma atração de agencias de ecoturismo e um ou outro morador da região.
Marcamos essa caminhada para o feriado prolongado de Nossa Sra. Aparecida em Outubro, que caiu em uma Segunda-feira.
Ficamos hospedados próximo do Horto Florestal de Ubatuba e assim que chegamos na Pousada no Sábado pela manhã, fomos para algumas praias da cidade, onde ficamos o restante do dia.
Casa da Farinha
O clima estava ajudando e no Domingo pela manhã marcamos de fazer a trilha do Corisco.
Saímos da Pousada por volta das 10:00 hrs de ônibus, já que eu não achava seguro deixar o carro na Casa da Farinha. 
O acesso até lá fica próximo da entrada da Praia da Fazenda e pouco antes de chegar no bairro de Picinguaba, um dos últimos de Ubatuba.
O ônibus fez o trajeto em quase 1 hora e no ponto de ônibus da Praia da Fazenda pedimos para descer.
Voltamos alguns metros pela Rodovia até chegar a uma estrada de terra que leva até a Casa da Farinha, sentido serra.
Chegamos aqui por volta das 11h30min e ainda tínhamos um trecho de + -  3 Km até o início da trilha.
Seguindo pela estrada de terra, passamos por algumas casas e o final dela termina em frente à Casa da Farinha, onde chegamos pouco depois das 12:00 hrs. 
O lugar tinha sido construído com o objetivo de produzir açúcar e álcool, mas que foi abandonado e depois aproveitado para se fazer farinha. 
Na década de 80 o Parque Estadual recuperou o lugar, mantendo a roda de água, sendo atualmente utilizada para produção de farinha de mandioca e quem cuida do local é o Sr. Zé Pedro, um líder quilombola.
Cruzando a Casa da Farinha, a trilha segue paralela ao Rio da Fazenda e ao lado de um pequeno canal que conduz água até a roda do moinho.
Mais alguns metros e chegamos a um pequeno dique, onde é desviada a água para a Casa da Farinha.
A trilha vai se distanciando do rio e segue com pequenos aclives, mas sem ganhar muita altitude, cruzando inúmeros riachos e nascentes.
A mata é bem fechada e sem visual nenhum, mas são muitos riachos e nascentes.
Surgem bifurcações ao longo da trilha, mas a trilha principal é bem demarcada, por isso sem problemas de navegação.
Poço da Fazenda
Cerca de 40 minutos desde a Casa da Farinha surge uma trilha à direita que leva ao Poço da Fazenda, onde encontramos várias pessoas nadando.
O lugar possui uma cachoeira com um poço que não é muito fundo, mas cheio de pedras e muito bom para um banho. 
O problema é que a água é muito fria.
Nem perdemos muito tempo aqui porque tínhamos uma longa caminhada pela frente. Voltamos para a trilha e continuamos em frente por trilha tranquila e pouco depois das 14:00 hrs e na altitude de 150 mts chegamos no Poço da Rasa.
Chegando no Poço da Rasa
Seu acesso é um pouco escondido da trilha por algumas enormes pedras, mas é um poço bem extenso, com águas calmas, mas merece o nome que tem, pois é um poço bem rasinho com profundidade de + - 1 metro.
Existe uma pequena cachoeira junto do poço e ficamos por um certo tempo.
Pouco depois das 14h30min voltamos à caminhada.
Retornando uns 10 metros, depois de pular as pedras, encontramos uma bifurcação à direita, escondida atrás de uma árvore.
Aqui é a continuação da trilha que segue em direção ao bairro do Corisquinho, em Paraty.
No Poço da Rasa
Seguindo na direção norte e às vezes para nordeste, a trilha não apresenta bifurcações e segue ganhando altitude e se afastando cada vez mais do Rio da Fazenda, à direita.
Vamos cruzando outros inúmeros riachos e nascentes com trilha de fácil visualização.
Um problema nesse trecho são algumas árvores que encontramos no meio da trilha, nos obrigando a procurar a continuação dela do outro lado e perdendo um tempo precioso que depois faria falta.
O final da tarde logo chegaria e já contava em chegar no bairro para pegar o circular até a Rodoviária de Paraty, mas ainda estávamos no interior daquela densa e úmida mata.
Começava a ficar preocupado, já que a subida nunca terminava e pouco depois das 17:00 hrs chegamos em um trecho plano da trilha, onde a gente se perdeu.
Se continuássemos em frente, a trilha se fechava alguns minutos depois.
Terminando a trilha
A Beth estava bastante nervosa com a situação, pois nem estávamos preparados para dormir na trilha e eu tentando manter a calma.
Tentei de todo jeito seguir em frente, mas a trilha se perdia no meio de alguns troncos velhos e caídos. 
Com certeza a trilha não era por aqui. 
E agora José?
Fiz um circulo no final dessa suposta trilha e tentei achar a continuação dela em algum ponto por uns 20 minutos, mas não encontrei nada e o relógio correndo.
Estávamos perdidos e por isso decidimos voltar pela trilha que tínhamos vindo e tentar achar alguma bifurcação, que talvez deixamos passar.
Trilha se abrindo no final
Se não encontrássemos, voltaríamos para a Casa da Farinha o mais rápido possível, antes do anoitecer.
Voltamos cerca de uns 10 minutos e encontramos uma bifurcação à direita que seguia na direção norte. 
Não era tão nítida, mas resolvemos arriscar. Por sorte ela logo iniciava um trecho de descida e com trilha um pouco mais demarcada e muita plantação de banana.
Pensei comigo: só pode ser essa. Escapamos. Ufa.
Conforme íamos descendo, a trilha se abria cada vez mais e uns 15 minutos depois chegamos em um pequeno sitio, mas nem paramos.
A trilha já tinha virado uma estrada, mas logo o Sol ia embora.
Descendo pela estrada até o Bairro do Corisquinho
A descida em alguns trechos era muito íngreme e nada do bairro chegar; Só contávamos em chegar no ponto de ônibus.
Por volta das 18h30min já apareciam as primeiras casas do bairro do Corisquinho.
Agora era só procurar o ponto de ônibus, mas ao perguntar a um morador de uma pequena casa, ele nos disse que o último ônibus para a Rodoviária de Paraty tinha saído as 18:00 hrs. Problema atrás de problema.
Depois de tudo que tínhamos passado, ainda restava uma longa caminhada até a Rodovia. O morador disse que em + - 1 hora chegaríamos lá, mas isso no ritmo dele, é claro.
Demorarmos quase 2 horas e poucos metros antes de chegar na Rodovia uma Belina (um antigo carro da Ford) parou e o motorista perguntou se a gente não queria uma carona até a cidade e é claro que não recusamos.
Fomos chegar na Rodoviária pouco antes das 21:00 hrs bem cansados e com fome.
A fome a gente matou com alguns lanches de uma lanchonete próxima dali.
O problema agora era outro. Como sair dessa cidade e voltar para Ubatuba?
O último circular até a Divisa Paraty-Ubatuba tinha saído as 18h30min.
Outra opção era a empresa São José, mas o último ônibus também tinha saído por volta das 18:00 hrs.
Só nos restava o da empresa Reunidas Paulista, que seguia para São Paulo no horário das 23h30min e infelizmente tivemos que esperar por mais de 2 horas.
Se fosse um Domingo normal, com certeza nem conseguiríamos mais passagens e teríamos que procurar uma pousada na cidade. Talvez seria a melhor opção.
Como o Domingo não era o último dia do feriado prolongado, o ônibus saiu relativamente vazio e no horário.
Descemos do ônibus próximo ao acesso à Rodovia Osvaldo Cruz, em Ubatuba por volta das 00h30min e de lá seguimos pela Rodovia por cerca de 1 hora.
Ao chegarmos na pousada, estávamos hiper cansados e já caímos na cama direto.
O feriado de Segunda-feira nem chegamos a aproveitar e voltamos para São Paulo no inicio da tarde.
A Beth me amaldiçoou depois dessa caminhada e o grande culpado era eu mesmo. 
Nem tinha como me justificar. 
Por mim seria um perrengue normal, mas não para ela.

Dicas e algumas informações úteis (Atualizado Julho/2020)

Depois de 2 tentativas sem sucesso, consegui novamente refazer essa trilha em Julho de 2011, mas entrando por Paraty e terminando na Casa da Farinha:
http://trilhasetrips.blogspot.com.br/2013/05/relato-2-vez-na-trilha-do-corisco.html

As  outras 2 tentativas para achar essa trilha do lado de Paraty e que não deram certo são essas:

http://trilhasetrips.blogspot.com.br/2013/04/relato-caminhada-aos-picos-macela-e.html
http://trilhasetrips.blogspot.com.br/2013/05/relato-na-busca-da-trilha-do-corisco.html

# Final de 2019 voltei a essa região para tentar finalizar a Trilha do Telégrafo, que é na verdade uma trilha paralela a do Corisco. E para variar, tive problemas.

https://trilhasetrips.blogspot.com/2019/12/relato-perrengue-na-trilha-do-telegrafo.html

# Da última vez que passei pela trilha do Corisco, ela estava fechada em vários trechos. São inúmeras árvores caídas no meio da trilha e vegetação alta tomando conta.
Só recomendo que vá com alguém que já tenha feito essa trilha. Tenho informação que até guias já tiveram problemas nessa trilha recentemente.

Mesmo com a carta topográfica e as imagens do Google Earth, essa trilha é extremamente difícil. Tanto a carta quanto as imagens servem somente como referencia por onde a trilha segue e quando estiver lá no meio da mata fechada, elas não tem muito utilidade.


# Depois de ter feito essa trilha pela segunda vez em 2011, pude perceber que o local onde a gente se perdeu nessa primeira vez foi na continuação da trilha, em direção ao topo do Pico do Cuscuzeiro.

# Sem dúvida nenhuma a melhor opção para se fazer essa trilha é iniciando no Bairro do Corisco e finalizando na Casa da Farinha, já que um longo trecho de subida inicial é feita por uma estrada de terra. Com isso é mais tranquilo nesse sentido.


# Por vários anos essa trilha estava presente no Projeto Trilhas de São Paulo. Era um programa da Secretaria de Meio Ambiente de SP que incentivava as pessoas a fazerem várias trilhas pelo Estado usando um passaporte que era carimbado a cada trilha finalizada, mas que não durou muito tempo.


# Saindo bem de manhãzinha de Paraty e chegando no topo da trilha até no máximo 11:00 hrs é perfeitamente possível fazer essa trilha em 1 único dia, mas somente para pessoas com experiência em trilhas de mata fechada.

Os horários do circular que faz a linha Paraty-Bairro do Corisco estão no site abaixo:
https://vaiparaty.com.br/horacolitur/

# Atualmente a trilha até o Poço da Rasa, entrando por Ubatuba, está bem demarcada e sem problemas de navegação. Só tome cuidado com os animais peçonhentos.


# Pelo lado de Paraty, o início dessa trilha está bem fechado e com um pequeno trecho de vara mato por alguns minutos. Depois a trilha segue demarcada até o topo, onde existe um marco de concreto da divisa RJ/SP.


# A sede do Núcleo Picinguaba se localiza junto ao estacionamento da Praia da Fazenda. Lá é possível encontrar contatos de guias ou procurar informações de quem possa fazer essa trilha.


# A Praia da Fazenda, cujo acesso fica próximo a estrada para a Casa da Farinha é uma das praias mais extensas de Ubatuba e uma ótima opção para um banho.


2 comentários:

  1. Recomendo visitarem Ubatuba, onde cada onda conta uma história e cada praia é um convite para desacelerar. Vejam mais sobre - Ubatuba

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