Mostrando postagens com marcador Travessias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Travessias. Mostrar todas as postagens

7 de outubro de 2025

Volta completa da Ilha do Mel / Litoral do PR – Relato com dicas

Quando voltei da Chapada dos Veadeiros, onde fiquei por quase 1 semana, ainda tinha uns poucos dias restantes das minhas férias - para ser exato apenas 6 dias.
E até tinha planejado fazer a Trilha de Itupava, na Serra do Mar do Paraná e depois esticar até a Ilha do Mel para curtir uma praia num lugar isolado, mas quando voltei de Goiás o clima não estava ajudando, me obrigando a escolher outro lugar para caminhar.
E os lugares que vinham na minha cabeça e que nunca tinha feito eram sempre distantes de SP e não davam para encaixar nos dias restantes das minhas férias - vai que acontece algo né. 
Mantiqueira não queria porque já tinha feito mais de 20 trilhas diferentes por lá (nesse linke repetir caminhadas estava fora dos planos. 
Quer saber de uma coisa, vou fazer o contorno da Ilha do Mel, já que dá para fazer a caminhada em 2 dias e por ser próxima de SP, a logística era bem fácil. E com a vantagem de não haver uma burocracia para caminhar em volta dela; era chegar e caminhar sem problemas de alguém te proibir. Somente se atentar às marés, já que em alguns trechos da caminhada, ela pode se tornar um grande problema, estreitando ou até bloqueando a faixa de areia. 
O contorno da Ilha estava numa lista de caminhadas que algum dia pretendia fazer, mas minha intenção era fazê-la na época de verão, mas por circunstancias do clima, é o que tem pra hoje.
Já tinha feito outras caminhadas que contornam ilhas, como em Ilha Grande e Ilha Bela e sabia o que poderia me aguardar e os cuidados que deveria tomar.
Então só li alguns relatos, peguei alguns tracks no wikiloc e marquei a viagem sem muito planejamento. Só fiquei na dúvida onde me hospedar: vila de Nova Brasília ou da Praia das Encantadas, que são pontos de desembarque para barcos.
Aí tive que recorrer aos “universitários” e por causa da volta da ilha que eu iria fazer, cheguei a conclusão que a melhor opção era Nova Brasília, fazendo a reserva de uma pousada na ilha para 3 pernoites. 
Minha intenção era sair de SP durante a noite em direção a Curitiba para chegar no início da manhã, embarcando no primeiro ônibus para o Pontal do Sul e de lá seguir em barco até a Ilha, a tempo ainda de explorar a parte sul naquele mesmo dia. 
Por sorte os horários batiam e não tive problemas de logística. Só contava que o clima ajudasse.


Fotos acima, Gruta das Encantadas e a Praia Mar de Fora



Dividi as fotos em 2 álbuns:

Fotos do 1º  dia com contorno da parte sul da Ilha: clique aqui
Fotos do 2º dia com toda a parte norte da Ilha: clique aqui

Tracklog para GPS de toda a volta da ilha: clique aqui



Cerca de 90% da Ilha do Mel é considerada como unidade de conservação e toda a parte norte faz parte de uma Estação Ecológica, cujo objetivo é preservar áreas com ambientes naturais como manguezais, restingas, costões rochosos e mata atlântica. Também foi declarada como Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO em 1999.
A Ilha não permite circulação de carros ou motos e para se deslocar entre as vilas e praias somente de bikes, barcos ou na caminhada mesmo. São três as vilas principais: Nova Brasília, Encantadas e a do Farol, onde se localizam restaurantes, mercados e a maior parte das opções de hospedagem, que se dividem em campings, pousadas simples e as pousadas mais sofisticadas com boa infraestrutura.
Ruas de areia
Considerada como um destino rústico, todas as vilas e praias são ligadas por trilhas ou pequenas ruas de areia e além das 
inúmeras praias, a Ilha possui poucas atrações turísticas e destaco apenas 3, cujos acessos são gratuitos:
- Gruta das Encantadas: na verdade é uma fenda que se formou devido a erosão marinha e avançou por cerca de 10 metros dentro do costão rochoso. Na maré alta e em épocas de ressaca, o mar avança para dentro da gruta, se tornando um local perigoso. Existem até algumas placas de advertência colocadas junto da entrada dela alertando sobre o perigo.
- Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres: construída no século XVIII, a fortaleza tinha o objetivo de proteger a entrada da baía de Paranaguá e a antiga vila, tendo sua infraestrutura preservada até hoje.
- Farol das Conchas: Localizado no alto de um morro, o farol pode ser acessado a partir da vila Nova Brasília, seguindo pela praia. Uma escadaria de pedras leva até o topo de onde se tem uma bela vista panorâmica e um pôr do Sol maravilhoso.
Barcos na Praia das Encantadas
Têm ainda os passeios de barco em volta da Ilha que contemplam a Baia dos Golfinhos e podem ser contratados junto aos trapiches das vilas ou nas próprias pousadas.

Hospedagem

Por ser uma ilha relativamente pequena, ela não tem muitas opções de hospedagem. Nas vilas de Nova Brasília e Encantadas podem ser encontrados campings e pousadas simples, assim como algumas opções de restaurantes e lanchonetes.
Pousada que eu fiquei
Já 
próximo do Farol e na Praia da Fortaleza são encontradas algumas pousadas mais sofisticadas com restaurantes, sendo uma boa opção para quem quiser se afastar do agito e gastar um pouco mais. Outra pequena vila é a da Praia Grande com alguns campings e pousadas chiques.
Já se quiser se hospedar numa vila onde o acesso é fácil às praias e atrações turísticas, então melhor lugar é Nova Brasília ou Encantadas, onde o trapiche pode facilitar o deslocamento através de barcos ou numa caminhada curta.
Se for realizar a volta da Ilha, o melhor lugar para se hospedar é na Vila de Nova Brasilia, já que num dia pode fazer a parte sul da ilha e retornar e no outro dia a parte norte.

Como chegar

São 2 os pontos de embarque para Ilha do Mel:
- Terminal do Pontal do Sul: localizado no município de Pontal do Paraná. São vários horários e trajeto realizado em cerca de 30 minutos.
- Terminal de Paranaguá: que não recomendo, já que o trajeto leva cerca de 1h30min com apenas 1 horário e valor muito alto.
Terminal de Pontal do Sul
Para quem embarca no Pontal do Sul o desembarque é no trapiche de Nova Brasilia ou Praia das Encantadas. Já para quem embarca em Paranaguá só tem desembarque em Encantadas.
A empresa responsável pela travessia é a Abaline (Associação dos Barqueiros do Litoral Norte do Estado do Paraná).
Também são oferecidos taxis náuticos autorizados onde existe um limite mínimo de pessoas para as saídas.
Para chegar nesses 2 terminais, a empresa de ônibus Graciosa possui alguns horários com saídas da Rodoviária de Curitiba.
Trapiche de Nova Brasilia
Ou se quiser, ao lado dos terminais existem alguns estacionamentos particulares que permitem deixar os veículos e levar as chaves.

Relato

Assim que cheguei na Rodoviária de Curitiba já fui direto para o guichê da Viação Graciosa comprar a passagem para o Terminal do Pontal do Sul, com saída as 07:00hrs.
Embarque foi rápido e chegamos no Terminal pouco antes das 09h30min. Logo que desembarquei já comprei a travessia de ida e volta no guichê em frente, com o barco para Ilha do Mel (Nova Brasília) saindo as 10:00hrs.
Bem vindo
O barco estava relativamente vazio naquela manhã de Sexta-feira e sem problemas no trajeto chegamos no trapiche de Nova Brasília exatamente as 10h30min.
Sem perder tempo segui direto para a Pousada, que já tinha reservado e mesmo com o check-in sendo mais tarde, eles me permitiram acessar o quarto, onde troquei de roupa e deixei as minhas coisas.
Só peguei uma pequena mochila, coloquei algumas coisas úteis e fui para a trilha, já que minha intenção era fazer nesse dia somente o contorno da parte sul da ilha, passando pela vila das Encantadas. Num pequeno mercado ao lado comprei uns pães com frios e sucos. Era o lanche da trilha.
Trilha
Voltei para o trapiche e lá iniciei a minha caminhada em volta da ilha, seguindo na direção da Praia do Belo e Praia das Encantadas. É uma trilha muito fácil de encontrar, já que existem várias placas de sinalização.
Ela é bem larga com uma bifurcação bem no início em meio a mata, sendo usada por moradores e alguns bikers.
Passo por algumas pontes de madeira e na bifurcação da Praia do Belo sigo para direita.
Mais alguns minutos e finalizo na praia. Só não dei muita sorte porque a maré está um pouco alta e vou seguindo para esquerda adentrando uma área de manguezal. 
Praia do Belo
Tentei seguir pelo mar, mas não deu certo, porque afundadava o pé na lama e ainda tinha a maré alta. Fui obrigado a seguir pelo costão pulando pedras e muita vegetação até chegar num local onde não consegui avançar mais. Dali em diante a profundidade aumentava numa área de manguezal. 
Cruzar esse trecho envolve muitos cuidados, pois além do mangue, tem o costão rochoso, onde o limo pode causar acidentes por ser escorregadio.
Daqui até a ponta da Praia das Encantadas são pouco menos de 2 Km seguindo próximo do costão e com pouco tempo disponível e sem saber quando chegaria lá, resolvi desistir. 
Isso é o que dá vir fazer essa caminhada sem planejamento, em cima da hora. É fundamental saber o dia e o horário da maré alta.
Área de manguezal
Uma pena, mas em outro momento volto nesse lugar só para completar esse trecho numa maré baixa, talvez.
Voltei pelo costão até a Praia do Belo e bem ao lado da areia encontrei uma trilha que segue os postes de energia elétrica. Quem sabe até dê para chegar em Encantadas por ali em uma outra oportunidade.
Agora seguir na direção da Praia Grande.
Trilhas pelas praias
A caminhada é por trilha bem aberta e ainda passei por uma pequena bica d'água e alguns campings para sair na areia da Praia Grande as 13:00hrs. A praia faz jus ao nome e na hora só uns gatos pingados na areia. Nem aproveitei um banho de mar e daqui fui seguindo para direita até chegar num trecho de costão rochoso, onde tive que pular algumas pedras para não molhar os pés. Aqui é outro problema com a maré alta.
A próxima praia é do Miguel e totalmente deserta com apenas alguns barcos de pesca estacionados junto da vegetação.
Depois de cruzar um pequeno riacho tem uma leve subida para cruzar o Morro do Sabão por uma trilha demarcada e sinalizada. Chegando no topo, saio numa bifurcação à direita por uma trilha mais íngreme ainda que leva até uma rampa de voo livre, que possui um lindo mirante.
Praias do Miguel e Praia Grande
Sem perder tempo, retorno para trilha principal e sigo descendo até a Praia Mar de Fora, passando por outra bica d'água junto da mata. Essa é a Bica do Norinho e continuo em frente pela trilha passando por mais bifurcações até chegar numa passarela de madeira que leva até a Gruta das Encantadas, localizada na pequena Praia da Boia, que alguns chamam de Praia da Gruta.
O lugar é uma fenda que avança por uns 10 metros para dentro do costão rochoso e com o mar chegando até quase o fundo dela. Naquele horário as ondas batiam violentamente na entrada dela e até avançavam um pouco mais.
Gruta 
Fui conhecer por dentro e para não tomar um banho de mar, entrei e saí rapidamente. É um lugar maravilhoso, mas dependendo da maré pode se tornar um perigo para quem vai até o fundo da gruta. Numa ressaca ou maré alta é melhor mesmo seguir os alertas que estão afixados em várias placas junto da entrada.
Só tiro algumas fotos e vou seguindo pela trilha em direção à praia, mas logo que termina a passarela, vejo uma placa sinalizando que o lugar tem ocorrência de jacarés com algumas recomendações de como se comportar se visualizar algum. Jacaré não vive no mar não é, então ele deve estar escondido mais para dentro em algum lago ou rio; eu não fiquei procurando.
Nas trilhas que acessam a praia das Encantadas são muitas residências e várias pousadas, com muito mais opções que em Nova Brasília. O trapiche também tem mais barcos e são vários restaurantes ao longo da praia. 
Praia das Encantadas
Aqui fui seguindo pela areia da praia à direita, às vezes passando por dentro da área dos restaurantes a fim de evitar a maré alta que tinha engolido o trecho de areia. Ao final dela, resolvi seguir agora pelo costão rochoso até onde desse. Só para ver como era o trecho que deixei de fazer, se tivesse vindo direto da Praia do Belo. Avancei por alguns minutos, mas devido ao horário e outras praias ainda para conhecer, resolvi parar aqui. 
Depois de alguns clics no costão, retorno à praia e faço todo o percurso de volta.
Ao chegar na placa do jacaré resolvo pegar uma trilha que leva ao topo do Morro das Encantadas, que possui um lindo mirante.
É uma trilha bem íngreme, mas bem demarcada e não tem como errar. Depois de apreciar o visual e alguns clics desço por uma outra trilha que finaliza no início da Praia Mar de Fora e devido a maré alta, sou obrigado a seguir pela restinga, já que as ondas tomavam conta do trecho de areia.
Praia Mar de Fora
Conforme vou seguindo pela praia consigo visualizar um cruzeiro no topo de um morro bem ao fundo e subo por uma trilha até lá.
No local existe uma capela improvisada de São Francisco de Assis com algumas imagens e orações escritas em papel. O lugar também é conhecido como Ponta da Nhá Pina.
É um lindo mirante com visual até onde a vista alcança, mas era preciso continuar a caminhada. 
Agora sigo na direção de outro morro ao lado para contorná-lo e depois ir descendo pela trilha principal até chegar novamente na Praia do Miguel. Aqui encontro um fotografo profissional tirando algumas fotos da praia, usando tripés. Só cumprimento e sigo em frente.
Depois de passar ao lado das pedras, chego na Praia Grande e em vez de retornar pela mesma trilha, continuo pela praia até chegar no outro extremo dela, junto a um pequeno morro. 
Costão ao lado da Praia Grande
Resolvo subir até o topo passando pela vegetação com muitas pedras, onde dá para visualizar o mar avançando violentamente com suas ondas  para dentro de um costão. É um lugar belíssimo com mirante e ótimo lugar para pesca. Alguns surfistas se arriscam na Praia Grande e depois de alguns clics retomo a caminhada na direção do Farol, pois ainda queria observar o pôr do Sol de lá.
A partir daqui a trilha segue por um pequeno trecho de mata fechada com algumas placas de sinalização passando por várias pousadas, restaurantes e algumas residências até chegar na Praia de Fora.
O Farol está bem visível no morro do lado esquerdo e aqui é outra praia de surfistas.
Depois de alguns clics do costão à direita, agora sigo até o final da praia, onde vou pulando pedras e varando a vegetação até encontrar uma trilha pavimentada à direita que leva ao topo do Farol. 
Farol das Conchas
O trecho final é uma longa escadaria com pedras de granito e no topo são várias pessoas e casais esperando o Sol se pôr.
O lugar é conhecido como Farol das Conchas e possui alguns mirantes para várias direções. Fico aqui por alguns minutos até presenciar os últimos raios do Sol, às 17h40min. 
Depois vou descendo as escadas sem pressa, passando pela Praia do Farol até chegar próximo da Praia do Istmo, que é basicamente uma estreita faixa de terra com praias nos dois lados. 
Ali parei temporariamente de gravar o track e segui para a pousada já de noite.
Com a ajuda da lanterna que tinha na mochila fui adentrando por ruas de terra até chegar numa pequena lanchonete bem próxima da pousada. Saciado, agora um belo banho na pousada e uma revigorante noite de sono, já que tinha caminhado naquele dia por volta de 18 Km. 
O dia seguinte prometia ser mais longo ainda; em torno de 24 Km só de praias, agora no trecho norte da Ilha. Pelo menos era só no plano, sem costões ou morros.
Amanhecendo
Acordei por volta das 07:00hrs com um Sol maravilhoso e depois de um café da manhã reforçado na pousada peguei minha mochila, passei novamente no mercado e segui para a Praia do Istmo. Como hoje é caminhada por praias e nada mais, só fui de papete.
Eram pouco mais de 09:00hrs quando voltei a gravar o tracklog e daqui em diante tinha a extensa Praia da Fortaleza pela frente.
Casas na Praia da Fortaleza
A maré estava baixa e a faixa de areia era bem grande, mas o que chama a atenção são as belas casas nesse trecho, sendo que algumas poucas são pousadas ou restaurantes. Tinha também casas abandonadas, sendo tomadas pela vegetação. Uma pena.
Até encontrei alguns caminhantes nesse trecho, mas nenhum deles seguiu para fazer o contorno dessa parte da Ilha. Todos finalizaram na Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, onde cheguei depois de uns 40 minutos.
Canhões
A entrada é gratuita e o acesso é por escada lateral que leva até o topo das muralhas, onde estão posicionados vários canhões. Outro acesso é pela entrada principal mais à frente. 
Construída no final do século XVIII para proteger a entrada da baia de Paranaguá, a Fortaleza possui várias salas que eram usadas como prisão ou paiol, onde a pólvora era guardada.
Atualmente algumas delas se tornaram bibliotecas com material de leitura que contam a história do lugar.
Até fiquei um certo tempo lendo alguns livros e assistindo um vídeo sobre a Fortaleza.
Conversando com um monitor, ele me diz que é muito perigoso eu contornar toda a ilha, devido a área de manguezal que ainda me aguardava pela frente. Dizendo até para eu desistir. 
Mirante
Só agradeci pelas recomendações e depois segui numa trilha ao topo do Morro da Baleia, que leva ao mirante e a outros canhões. Lá também são encontradas antigas ruinas de uma fortificação, além de ter um belo visual. 
Fiquei visitando o lugar por quase 1 hora e até queria ficar mais, porém tinha uma longa caminhada pela frente.
Eram 10h30min e vou seguindo pela praia passando por outras residências, uma pousada e ruinas de um trapiche até chegar num cemitério sinalizado somente por uma enorme cruz de madeira e alguns túmulos marcados por pequenas cruzes. 
Antigo cemitério
Só tiro algumas fotos e sigo em frente. 
Mais alguns minutos e uma gigantesca torre abandonada, que me pareceu ser de um Farol ou uma torre de vigia.
Naquele horário a faixa de areia era bem extensa devido a maré baixa.
Outra construção mais à frente, chamada de Rádio Farol, sendo essa pertencente a Marinha do Brasil. Várias antenas de rádio e uma grande placa sinalizando que a entrada é proibida.
Rádio Farol
Mais alguns minutos e outra torre abandonada e daqui em diante acabou a presença humana. Só de vez em quando algum barco de pesca ou com turistas passava próximo da praia.
Era uma sequencia de praias à perder de vista. Cruzo alguns pequenos riachos, mas a água não me parece ser potável. 
E assim vou caminhando sem pressa e com Sol a pino. Aqui protetor solar e um boné com abas são obrigatórios.
Vou encontrando marcas de pneus de bikes, alguns peixes e tartarugas mortas junto da areia, sendo que em alguns momentos vejo os urubus fazendo um banquete com esses animais mortos.
Trecho de manguezal
Em vários trechos da caminhada, percebo que a maré alta encobre toda a parte de areia devido a vestígios de que as ondas chegam até a vegetação, encobrindo algumas delas, mas naquele momento que vou passando ela está na maré baixa e por sorte vou caminhando sempre pelo trecho de areia. Na foz de alguns pequenos riachos dá para notar que ali é área de manguezal e pode ser complicado passar na maré alta, como disse o monitor lá da Fortaleza.
Encontro também alguns biguás descansando em galhos de árvores e em alguns trechos só tem mesmo uma fina camada de água que não chega a atrapalhar.
Conforme vou contornando a Ilha, um navio graneleiro surge bem ao fundo, provavelmente aguardando atracar no Porto de Paranaguá.
Ponta Oeste
E pouco depois das 12:00hrs surge uma pequena comunidade escondida entre a mata e com alguns barcos de pesca junto da areia. Essa é a comunidade da Ponta Oeste e mais alguns metros surgem muitas outras residências e restaurantes que vendem ostras. Têm algumas placas sinalizando isso. 
O lugar é ponto de parada dos barcos que deixam turistas nos restaurantes para provarem essa iguaria. Eu passei direto.
Só fico imaginando que ali não deve ter energia elétrica, somente com geradores. E a água será que eles coletam de algum riacho ou através de poços artesianos?
Comunidade
Nesse trecho já encontro muitas pessoas tomando banho de mar ou só aproveitando o Sol na areia e que provavelmente chegaram ali de barcos.
Era hora também de dar uma descansada e comer alguma coisa e só foi achar alguma área de sombra que resolvi parar. 
Aproveitei também para um banho de mar, mas a água é bem fria e não é tão transparente. 
Fiquei ali por quase 1 hora só curtindo a praia e aquele Sol.
Mas era preciso continuar a caminhada para finalizar ainda na maré baixa e assim vou caminhando por trechos de areia cruzando vários riachos e muitas árvores caídas.
Árvores pelo caminho
E principalmente muito lixo trazido pelas ondas, como redes, cordas, galões e garrafas pet. Em alguns dos riachos o lixo cobriu toda a lamina de água. Cena lamentável.
Ainda parei para descansar embaixo de alguns pinheiros e vou encontrando placas sinalizando que o lugar é uma Estação Ecológica.
Bem ao longe já consigo visualizar a vila de Nova Brasilia e conforme vou me aproximando, muitas árvores caídas se tornam obstáculos para passar. São os efeitos da maré alta que já começam a tomar conta do trecho de areia.
Assim que cruzo um pequeno trapiche, surgem barreiras de madeira para que as ondas não atinjam alguns restaurantes e residências.
Ondas chegando
Esse é o trecho final da caminhada e as ondas da maré alta já cobrem toda a faixa de areia e para não me molhar, tenho que ficar aguardando as ondas regredirem de vez em quando.
E pouco antes das 17:00 hrs finalizo a caminhada ao lado do trapiche da vila. 
Foram pouco mais de 24 Km contornando toda a parte norte da Ilha do Mel, incluindo uma trilha dentro da Fortaleza num total de quase 8 horas de caminhada, com algumas paradas para descanso.
Foram 18 Km na parte sul da Ilha e mais 24 Km na parte norte, totalizando 42 Km de caminhada em volta da Ilha.
Sem dúvida nenhuma uma das mais lindas caminhadas de litoral.
Depois de Ilhabela e Ilha Grande, agora também já posso riscar da minha lista Ilha do Mel. Valeu muito a pena.
Pôr do Sol
Aqui fico aguardando o pôr do Sol por quase 1 hora e depois sigo para um restaurante próximo para comemorar a finalização de mais outro contorno de Ilha.
Ainda fico mais 1 dia na Ilha aproveitando as praias e depois sigo para Pontal do Sul pela manhã, embarcando para Curitiba as 11:00 hrs e de lá retornando para SP.



Dicas e informações úteis

# Na Ilha não há caixas eletrônicos. Muitas lanchonetes, restaurantes e mercados aceitam pagamento com cartões ou no PIX.

# Nas vilas de Nova Brasília e em Encantadas existem alguns supermercados. São bem úteis.

# Se for fazer o contorno da Ilha, é obrigatório se atentar às condições da maré, principalmente na Praia do Belo ou na parte norte da Ilha.

# A Gruta das Encantadas é passeio obrigatório, mas é fundamental visitá-la na maré baixa.
 
# A Ilha é repleta de ruas de areia e trilhas, por isso vá preparado para caminhadas. Ou pode se deslocar por bikes que podem ser alugadas na Ilha.

# O principal calçado para se utilizar na ilha são chinelos, papetes ou sandálias rasteiras. E até descalço dependendo onde quer ir.

# A Ilha possui uma relativa cobertura de telefonia celular da Vivo. Outras não sei.

# Existem 2 postos de saúde na Ilha: um próximo do trapiche de Nova Brasília e outro na Praia de Encantadas, porém não encontrei farmácias.

# No trapiche de Nova Brasília existem carregadores de malas que podem levar sua bagagem até a pousada escolhida - valor depende da distância.

# Existe um limite máximo de visitantes por dia: 5.000 pessoas. Atente a isso se for visitar a ilha na alta temporada.

# É totalmente proibido o camping selvagem, tanto nas praias quanto nas trilhas.

# Os bilhetes da travessia por barcos podem ser adquiridos no site da Associação dos Barqueiros.
Tarifa ida/volta entre Pontal do Sul e Nova Brasília: $49 Reais

# Itens obrigatórios
- Protetor solar
- Repelente
- Óculos de Sol
- Boné com abas/Chapéu
- Capa de chuva
- Lanterna

25 de setembro de 2025

Travessia das Sete Quedas – Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros/Goiás - Relato e algumas dicas

Nos últimos anos, sempre nas minhas férias do trabalho, tento incluir uma travessia em algum parque nacional. Já fiz a da Serra do Cipó, Lençóis Maranhenses, Chapada Diamantina, Caparaó e algumas outras em parques estaduais.
Mas foram tantos anos sem fazer caminhadas longas em parques que só agora tô tirando todo o atraso.
E ao longo de 2024 e 2025 fui pesquisando caminhadas em vários parques nacionais e pela logística, infraestrutura e atrações escolhi a travessia das Sete Quedas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV) para Julho de 2025 com direito a acampamento por 2 dias. 
Lendo alguns relatos e esse track da travessia fiquei sabendo que além da área para barracas, o parque também oferece a opção de uso das redes, com ganchos disponíveis numa área coberta, fato confirmado pelo Parque Nacional. 
Então cheguei a conclusão que valia a pena levar a rede para diminuir o peso da mochila.
Até tentei marcar essa caminhada para o final de 2024, mas o parque proíbe a travessia na época de verão, devido aos riscos de trombas d'água no Rio Preto. 
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros está localizado no estado de Goiás e toda a região faz parte do cerrado, que se caracteriza pela vegetação de árvores baixas com troncos retorcidos e predominância de campos de savana e gramíneas, além do clima seco. 
Ele foi criado na década de 60 e a travessia foi aberta oficialmente ao público em 2013, oferecendo a possibilidade de pernoitar na área do camping Sete Quedas, ao lado do Rio Preto.
Mas como é um parque distante da cidade de São Paulo, me obrigando a seguir de avião até Brasília, seria desperdício de tempo viajar até lá só para fazer essa travessia de pouco mais de 23 Km, que pode ser feita em 1, 2 ou até 3 dias, se for usar área do camping. 
Então incluí também outras trilhas dentro do parque que daria para fazer em 2 dias e com isso a trip já ficava em quase 1 semana, tempo mais que o suficiente para fazer todas as trilhas de 1 dia, para depois fazer a travessia das Sete Quedas, sem pressa.


Fotos acima da Cachoeira Sete Quedas e o pôr do Sol

Fotos dessa travessia: clique aqui

Tracklog da caminhada: clique aqui


Para as caminhadas de 1 dia no Parque fiz da seguinte forma: Trilha dos Saltos num único dia incluindo mirante dos Saltos, Carrossel e as Corredeiras. Já no segundo dia fiz a Trilha dos Cânions, incluindo a Cachoeira das Cariocas e os Cânions I e II nesse relato (clique aqui).
Chegando no Parque
Já para a travessia minha intenção era fazê-la em 3 dias, ficando 2 noites no camping das Sete Quedas e dividindo a caminhada em 2 trechos, sendo um de 17 Km da portaria do Parque até o camping e depois mais 6 Km até a Rodovia, passando por áreas de vegetação de cerrado intocadas e diferentes formações rochosas, tendo também como atração o Rio Preto com seus inúmeros poções e corredeiras e a Cachoeira das Sete Quedas, ao lado do camping.
Início de todas as trilhas
De acordo com o site do parque, essa travessia só é aberta ao público entre Junho a Novembro, por ser um período de clima seco e sem chuvas, além da obrigatoriedade de agendamento prévio, fazendo a reserva e pagamento das taxas com antecedência para que se tenha um controle da quantidade de pessoas que irão pernoitar no camping, já que existe um limite. 
O percurso de 23 Km pode ser considerado de nível moderado devido a exposição ao Sol em todo o trajeto, tornando a trilha muito cansativa, mas que não apresenta grandes dificuldades devido a caminhada ser quase toda ela no plano. 
Setas de sinalização
É uma trilha auto guiada (isto é, não é necessário acompanhamento de um guia) e muito bem sinalizada com setas laranjas pintadas em rochas ou totens de madeira que são encontrados ao longo do trajeto. 
Um item importante a se destacar é a logística no final da travessia, junto a Rodovia GO-239, já que o ônibus circular só passa em um único horário, no início da manhã ou durante a noite no sentido inverso. Uma das opções é tentar carona ou algum resgate que leve de volta para Vila de São Jorge ou Alto Paraíso. Ou até seguir na caminhada pelo acostamento da Rodovia por 12 Km até São Jorge, se ainda tiver folego.
Portal da cidade de Alto Paraíso
A principal cidade para se chegar no Parque é Alto Paraiso de Goiás e a melhor logística é chegar em Brasília de avião (muitas opções de horários e todas as cias aéreas) e da Rodoviária Interestadual seguir em ônibus até Alto Paraiso. 
Nessa cidade tem a opção de conseguir uma carona ou transfer até a Vila de São Jorge (distante 36 Km), que é repleta de pousadas, hostels e campings, assim como muitos restaurantes, alguns mercados e cuja portaria do parque se localiza a cerca de 20 minutos de caminhada da Vila.
No dia da viagem fiz o trajeto que descrevi acima e depois de 2 dias de trilhas pelo Parque, só faltava a Travessia das Sete Quedas, que descrevo no relato abaixo.


Relato

Dia 1: Portaria – Camping Sete Quedas
Na manhã do terceiro dia cheguei na Portaria do Parque por volta das 08h30min com minha mochila cargueira para 3 dias de caminhada.
Portaria do Parque
Já com as taxas e reservas pagas, só preenchi o Termo de Responsabilidade e depois fui assistir a um pequeno vídeo sobre regras e cuidados na trilha no auditório do parque.
Pego um pouco de água do bebedouro e em seguida fui para a trilha, seguindo as setas vermelhas (Trilha dos Cânions) e laranjas (Sete Quedas), que seguem o mesmo trajeto até um certo trecho. Depois de uns 15 minutos, viro na bifurcação à direita, sentido Cânions e Sete Quedas. 
Ponte Pênsil
Mais alguns minutos e cruzo uma ponte pênsil sobre um leito seco e logo à frente abasteço o restante dos meus cantis com água que pego de um pequeno riacho de água potável que cruza a trilha.
Nesse trecho ouço um canto muito alto e forte, vindo de algumas árvores ao lado da trilha, me parecendo até serem de alguma grande ave e eram de um casal de araras, que ao me verem levantam voo e desaparecem na vegetação de cerrado. Cena maravilhosa – já ganhei o dia. 
Cerrado
Mesmo que o cerrado tenha uma rica fauna, como antas, capivaras, cervos, tatu canastra, lobo guará e muitas outras espécies de animais, nesse dia só encontrei mesmo essas araras.
Nos primeiros quase 4 Kms o trajeto da travessia das Sete Quedas se sobrepõe à Trilha dos Cânions, até chegar na bifurcação que leva à Cachoeira das Cariocas, exatamente com 3,7 Km. 
Cachoeira das Cariocas
Nem cheguei a seguir em direção a essa cachoeira e ao Cânion II porque no dia anterior já tinha visitado o lugar e aqui sigo para a direita na direção do Cânion I. 
E mais 1 Km chego na última bifurcação. Para a esquerda é a direção do Cânion I, cujo acesso é um pouco mais complicado que as outras atrações.
Cânion I
O Cânion I é na verdade um desfiladeiro com o Rio Preto entrando pela lateral dele e com suas águas seguindo entre 2 paredões, formando pequenas quedas ao longo de sua passagem. É um lugar belíssimo que merece ser conhecido, mas como já tinha visitado no dia anterior, só cheguei até um dos braços do Rio Preto e depois retornei para a trilha em direção à Sete Quedas.
Bifurcação para direita
Depois da bifurcação, a trilha segue próxima ao Rio Preto por entre a vegetação de cerrado e trechos com piso de pedras, voltando a margeá-lo alguns minutos depois até chegar num remanso do rio com enorme poção. É um convite para um banho e não resisti. 
Hora também de comer algumas frutas secas e descansar embaixo de uma grande área de sombra.
Enorme poção
São 11:00 hrs e fico ali por cerca de 1 hora, as vezes mergulhando no poção ou só aproveitando a sombra. 
Mochila nas costas e mais alguns minutos chego na bifurcação que leva até a área do Camping Boa Sorte. O lugar não tem estrutura alguma e somente um banheiro seco. 
Camping Boa Sorte
Achei até um certo exagero uma área de camping naquele local, já que a caminhada é bem curta, saindo da portaria - foram cerca de 2 horas de caminhada até ali.
Só mais alguns metros e hora de cruzar o Rio Preto. Não tem como errar porque nos dois lados do rio existem pequenos postes de metal pintados na cor laranja e preto, assinalando o local exato para entrada do rio e saída dele. 
Cruzando o Rio Preto
A água batia pelas canelas e só tive que tirar as botas e fui cruzando o rio sem grandes dificuldades, só tomando o cuidado para não escorregar nas pedras. Dá para entender porque na época das chuvas o parque mantem a proibição dessa travessia e fico imaginando o rio cheio – bem perigoso.
São 12h40min e a partir daqui é um leve aclive com ponto de água só ao chegar na Cachoeira, a quase 9 Km de caminhada ainda, por isso encha os cantis e se prepare para um trecho longo totalmente sem sombra e bem cansativo.
Outras vegetações de cerrado surgem ao longo da trilha; campos limpos, campos rupestres, arbustos e muitas espécies de sempre-vivas, conhecida também pelo nome de chuveirinho. 
Campos de sempre-vivas
São flores muito pequenas que lembram pétalas e mantem a cor e a estrutura mesmo após a colheita, sendo muito usada para decoração, enfeites de ambientes e arranjos de buquês.
Nesse trecho ainda tem sinal de telefonia celular e converso com a família em SP. Surgem também plaquinhas com as indicações da distancia até o Camping. São placas de 6 km, 3 Km e 2 Km e também alguns pequenos postes na cor laranja e preta.
Descansando
É um trecho desgastante porque é Sol na cabeça o tempo todo com raros os pontos de sombra e nos que eu encontrei não pensei 2x. Parei para descansar e tomar água.
Voltando a caminhar, chego na bifurcação para Capela as 15:00hrs. No local tem algumas placas indicando 10 Km até Capela, 15 Km até São Jorge e apenas 2 Km até Sete Quedas.
Bifurcação para Capela e Cachoeira
Seguindo à direita por mais alguns metros e um aclive bem íngreme onde descanso embaixo de uma bela sombra por alguns minutos. Desse ponto já não consigo sinal no telefone celular e daqui em diante passo por afloramentos rochosos, onde a trilha vai circundando grandes rochas. 
Passo ao lado da bifurcação da trilha que leva até o Vão das Fiandeiras, à esquerda e chego na área do Camping Sete Quedas as 16:00hrs. 
Área do camping
Primeiramente chego numa estrutura coberta com telhas e 3 grandes mesas com assentos e vários ganchos para rede. Um casal preparava o almoço e estavam numa barraca junto da vegetação. 
Área das barracas
A principal área das barracas fica ao lado do Rio Preto e é bem espaçosa em terreno de areia e plano. Contei umas 2 barracas, mas ao longo daquele final de tarde chegaram alguns grupos, totalizando umas 7 a 8 barracas naquela noite. Tinha também uma pessoa usando uma rede, mas tinha montado na área das barracas, que talvez seja um bom lugar também.
Depois de montada minha rede junto da estrutura coberta, fui conhecer o banheiro seco que está localizado a alguns metros do camping. 
Banheiro seco
Seu funcionamento não exige agua e o vaso sanitário está localizado num nível mais alto para que os dejetos caiam num grande barril. Depois de fazer o numero 2 e jogar os papéis dentro do tambor, deve-se adicionar serragem de madeira para que se inicie o processo de decomposição dos dejetos. É uma maneira ecologicamente correta e que exige pouca manutenção, pelo que eu pude constatar.
Assento
Sinceramente nunca vi um banheiro tão limpo e organizado como esse. Me pareceu ser até um bom lugar para pernoitar em casos de emergência. Só elogios ao Parque.
Já de volta ao acampamento fiz amizades com um casal de Brasília e outro casal de Salvador e ficamos um bom tempo batendo papo. Peguei o zap de um deles, mas acho que errei num dos números, porque ao voltar a SP, não consegui contato com eles.
Sete Quedas
Antes do fim da tarde fui curtir as várias quedas que dão nome ao camping e alguns poções no rio que ficou marcado pelo lindo pôr do Sol em tons de laranja e vermelho. Pelo calor que estava foi um banho agradável com água transparente e não tão fria.
Pôr do Sol
De volta ao acampamento, agora preparar o jantar cuja opção era macarrão ou sopão com alguns pedaços de salame e sardinha. E claro com um pouco de suco em pó industrial. Um dos casais também estava fazendo o jantar e conversamos sobre futuras caminhadas
E por volta das 21:00 hrs me enfiei no saco de dormir fui para a rede. Durante a noite teve uma queda da temperatura, mas nada que pudesse atrapalhar o sono. Só de vez em quando aconteciam algumas rajadas de vento e tive que me levantar para me arrumar dentro do saco de dormir e na rede, devido a ela ter ficado frouxa, talvez por não ter apertado bem os nós.
Só lembro de acordar por volta das 2:00 hrs da madrugada com clarão enorme atrás de mim. Pensei que já estava amanhecendo, mas não era nada disso. Era a Lua cheia. 
Voltei a dormir e por volta das 05:00 hrs era hora de levantar.

Dia 2: Camping Sete Quedas
Depois de um breve café da manhã, fui arrumar a minha rede que tinha ficado frouxa ao longo da noite.
Só estiquei ela e apertei os nós com mais força e problema resolvido.
Fauna
Ao lado do camping vejo um gavião carcará em cima de uma rocha, junto de um galho, talvez esperando eu alimentá-lo. Me aproximo dele para algumas fotos e não parece se assustar porque continuou lá. Deve ter se acostumado com a presença de pessoas.
Esse foi um dia para aproveitar as atrações do lugar, já que era outro dia de muito Sol e preferi ficar nas cachoeiras e nos poções.
Praias no rio
Subindo o rio, além do trecho onde se cruza para finalizar a travessia, existe até uma pequena praia com areia branquíssima e um enorme poção que fui lá conhecer. Só tive dificuldades para ir pulando pedras e o ideal é seguir pela lateral direita.
Outra opção era o Vão das Fiandeiras e sinceramente não estava a fim de caminhar mais 10 Km entre ida e volta, naquele Sol escaldante. 
Poção de borda infinita
Os mergulhos nos poções e nas cachoeiras estavam sendo muito mais relaxantes. E fiquei ali quase o dia todo nas pedras até o pôr do Sol.
Depois de um banho no rio, voltei para ao acampamento e fiquei batendo papo com um monitor que faz serviço de guia no parque. O nome dele não lembro agora.
Ele estava fazendo a travessia sozinho com o mínimo de peso na mochila e fiquei muito surpreso quando disse que não estava com barraca e nem rede, citando até que poderia dormir no banheiro seco ou outro lugar.
Mergulhando
Último jantar da trip e consumi toda a comida restante, apesar que não era muita, mas pelo menos diminuiu o peso da mochila.
Nessa noite a rede não me causou problemas e só os ventos que de vez em quando varriam o lugar, mas estava bem agasalhado e com uma lona de plástico cobrindo toda a rede. 
No final valeu a pena ter trazido ela em vez da barraca por causa da praticidade e da mochila com menos peso, que ajuda em muito quando fazemos essas travessias longas. Talvez no retorno compre uma outra que tenha mosquiteiro e cobertura acopladas.

Dia 3: Camping Sete Quedas – Final da travessia
Acordei por volta das 06:00 hrs com o Sol já iluminando o lugar e sem pressa vou desmontando acampamento e arrumando as coisas na mochila para seguir em direção ao final da travessia. 
Poção ao lado das barracas
Outro breve café da manhã e próximo das 08:00 hrs me despeço do lugar e vou seguindo na direção do rio. Ao passar pela área das barracas pensei ter visto uma pessoa dormindo ao relento e fui me aproximar para ver melhor e qual não foi a surpresa; era o guia que bati um papo no dia anterior – até tirei essas 2 fotos dele (aqui e aqui). 
Correnteza
Seguindo a trilha por alguns metros chego novamente na margem do Rio Preto e vou me orientando pelas marcações de setas laranjas.
O local para travessia dele possui uma sinalização com postes de ferro fixados no outro lado do rio e até dá para ir pulando algumas pedras para não molhar os pés, mas achei perigoso. 
Cruzando o Rio
Vai que escorrego numa delas e preferi tirar as botas e atravessar o rio com água pelas canelas, que é bem mais seguro.
Serão 6 Km até a Rodovia, mas por ter um trecho em aclive, vou caminhando sem pressa.
E antes de me despedir do Rio Preto, encho meu cantil porque não haverá outro ponto de água ao longo desse trecho final.
Trilha por aqui
Volto a caminhar em meio ao cerrado, mas agora por entre árvores retorcidas bem maiores das que já vinha presenciando e vou ganhando altura por entre pequenos morros, passando por afloramentos rochosos com estreitas fendas. Cruzo com 2 funcionários do parque e converso um pouco com eles e no bate papo dizem que o parque está abrindo uma trilha que finalizará em Alto Paraíso. Comentei que fiquei por 2 dias no camping e só tenho elogios a estrutura disponibilizada. Em seguida 
perguntam o meu nome, talvez para checar se estou ilegal ou não no parque e em seguida me despeço deles.
Trilha por estreitas fendas
O trecho de subida vai se tornando mais íngreme e agora tenho de usar braços para ajudar a ganhar altura. Num mirante à esquerda da trilha o visual é fantástico de todo o vale do Rio Preto e até onde a vista alcança. Bem ao longe é possível visualizar um ponto amarelado que é o telhado da estrutura coberta, onde montei a minha rede.
Mirante
Mais alguns minutos e o trecho de subida termina depois de quase 200 metros de aclive de acordo com o GPS do celular. 
Não demora muito e chego no Posto da Mata Funda, que é um antigo ponto de apoio para o pessoal do Parque, consistindo numa enorme torre de rádio e uma casa velha abandonada. 
Posto da Mata Funda
Pelo local encontro uma picape do parque que provavelmente trouxe os 2 funcionários que encontrei na trilha.
São quase 10:00 hrs e daqui em diante a caminhada é por uma estrada de terra em meio a um enorme descampado.
De longe uma cobra coral aparece no meio da estrada e paro por alguns segundos, mas percebo que ela não se mexe. Aproximo um pouco mais e vejo o motivo.
Cobra coral
Está morta e percebo que o pneu da picape passou por cima do corpo dela. Uma pena. Outra espécie da fauna do cerrado que encontro, infelizmente morta por alguém do parque, que talvez nem teve culpa.
Vou seguindo pela estrada só contemplando aquele imenso chapadão e com o imponente Morro da Baleia emergindo à esquerda, que também faz parte da área do parque nacional.
Lindo visual
Já próximo da Rodovia surge uma caixinha de metal do lado direito, parecida como essas de Correios, na qual deve ser usada para devolver o cartão de identificação que tinham me entregue lá na entrada do Parque Nacional. É um controle do parque e não esqueça de devolver o seu.
Coleta dos cartões
Mais alguns metros e chego no portão que marca o limite do parque, separado da Rodovia GO-239. 
São 10h40min e o final da travessia das Sete Quedas.
Aqui tenho algumas opções: tentar carona para São Jorge ou Alto Paraíso de Goiás ou acionar um resgate para qualquer um dos lados - no final do relato coloco alguns contatos de resgate.
Fim da travessia
Eu vou tentando carona para Alto Paraiso, mas tá difícil, por isso resolvo ir seguindo na caminhada na direção de São Jorge e quem sabe até consiga encontrar alguma cachoeira de fácil acesso ao longo desse trecho de 12 Km até a Vila.
Quando vou pegar água de uma nascente ao lado da Rodovia, um veículo encosta e oferece carona sem eu pedir. É o casal de Salvador que encontrei lá no Camping Sete Quedas. Me deixam em Alto Paraíso e no dia seguinte sigo para Brasília de ônibus pela madrugada para depois avião até São Paulo.
Foram 5 dias de caminhadas pelo Parque Chapada dos Veadeiros maravilhosos. Nunca tinha caminhado por tantos dias num ambiente de cerrado ainda intocado como esse. Foi inesquecível e sem dúvida alguma um dos melhores parques para caminhadas no país.
As paisagens do cerrado como as cachoeiras e poções ao longo do Rio Preto são belíssimas, assim como a vegetação. E claro a infraestrutura oferecida pelo parque nacional, tanto nas trilhas que fiz de 1 dia, quanto na travessia das Sete Quedas. Com certeza está na minha lista para retornar algum dia e incluir outras atrações fora do Parque.


Dicas e informações úteis

# Ônibus Brasília – Alto Paraiso de Goiás
2 empresas que fazem o trajeto com horários noturnos:
- Opção mais barata: Blablacar que é um tipo de carona paga: www.blablacar.com.br

# Ônibus Alto Paraiso de Goiás – Vila de São Jorge
- Viação Reobote Leão de Judá – apenas 1 horário: 17h20min e retorno: 06h20min - clique aqui.
- Ponto de carona solidária – Local de embarque junto ao Portal da cidade.
- Comunidades de caronas no Facebook: Conexão Chapada e o Carona Solidária Chapada dos Veadeiros.

# Resgate/transfer Alto Paraíso até São Jorge ou no final da travessia das Sete Quedas
- Taxi Rosy: (62) 99845-7317
- Táxi Carrara: (62) 99980-9517
- Taxi Smith: (62) 99961-1425
- Taxi Antônio: (61) 99855-1921.
Preços entre $100 a $150 Reais dependendo do trajeto.
- Ou até o Blablacar: www.blablacar.com.br

# Taxas do Parque (Setembro/25):
- Ingresso: $47 Reais (inteira).
- Pernoite no Camping 7 Quedas: $25 Reais/dia
- Estacionamento: $35 Reais

# Travessia das Sete Quedas só está aberta ao público no período das secas, entre Junho e Novembro com reserva feita diretamente pelo site e com agendamento.

# Limite de pessoas no Camping Sete Quedas: 40 pessoas.

# Infraestrutura no Camping Sete Quedas: 2 banheiros secos, um galpão coberto com mesas, bancos e ganchos para redes.

# Em qualquer emergência, o parque não possui serviço de resgate. É necessário acionar os Bombeiros.

# Obrigatório uso de protetor solar, repelente e também boné com abas para não sofrer com o Sol escaldante.

# Há sinal de telefonia celular em boa parte dessa travessia. Com exceção da região das Sete Quedas.

# Os pontos de água são ao longo do Rio Preto e potáveis. Alguns usam clorin, mas eu não usei em nenhum momento.