12 de janeiro de 2023

Relato: Travessia da Chapada Diamantina em 9 dias – Lençóis x Mucugê - com 4 dias no Vale do Pati

Férias. 1 mês para aproveitar os 30 dias com alguma caminhada. 
Uma parte foi na Argentina, nesse relato e agora era procurar alguma opção não muito longe de SP. Tenho uma lista de caminhadas que ainda pretendo fazer e que a cada ano ela fica menor, então lá fui eu olhar essa lista novamente com cerca de 2 meses de antecedência.
E dessa vez tinha de ser uma das mais clássicas e belas do país (alguns dizem do mundo): a Chapada Diamantina. 
A intenção era algumas trilhas pela Chapada e em seguida emendar com alguns dias no Vale do Pati, porém são muitas as opções de travessias, variando de 3 dias até as mais longas com mais de 1 semana. 
Por ter acesso fácil por ônibus e não perder muito tempo na logística, uma delas me interessou: Lençóis-Capão, que passa pelo leito do Rio Capivara e a parte baixa e alta da Cachoeira da Fumaça. 
Na internet dá para encontrar diversos relatos e no site wikiloc muitos arquivos de GPS, então era só escolher. 
Já sobre o Vale do Pati, percebi que a maioria fica uns 3 ou 4 dias por lá e acabei decidindo por 4 dias, para conhecer algumas cachoeiras, poções, trilhas e picos. 
E com isso montei meu roteiro da seguinte forma: início da caminhada na cidade de Lençóis, seguindo até o Vale do Capão e de lá continuar a caminhada pelos Gerais do Vieira até o Vale do Pati e quando estivesse indo embora, passaria pelo Cachoeirão, seguindo na direção sul da Chapada por trilha até Mucugê, finalizando nessa cidade.
A travessia da Chapada Diamantina que inclui o Vale do Pati não é tão fácil, já que demanda um esforço físico grande, pois o lugar é repleto de morros gigantescos com diferentes formações rochosas, campos cobertos de capim, vegetação de cerrado, muitos rios, cachoeiras de todos os tipos e muitas subidas/descidas.
O Vale do Pati pode ser acessado por diferentes trilhas saindo do: vale do Capão (distrito de Palmeiras), Guiné (distrito de Mucugê), Andaraí e pela cidade de Mucugê,  sendo possível entrar e sair por qualquer um deles, variando de algumas horas até 1 dia de caminhada. Vai depender da disposição.
Em meados do século XIX (por volta de1840) a extração de diamantes era o principal motor da economia na região da Chapada Diamantina, tendo um período áureo da economia e no interior do Vale do Pati existiam até uma prefeitura, escola e uma Igreja, mas com o declínio do metal precioso, só restaram poucas famílias, que atualmente vivem do turismo, oferecendo hospedagem e alimentação.


Nas fotos acima: poção no Ribeirão do Meio, Mirante do Vale do Pati e o Cachoeirão


Fotos: Travessia Lençóis-Vale do Capão: clique aqui
          Vale do Pati: clique aqui
          Cachoeirão-Mucugê: clique aqui             
          Salvador: clique aqui
Vídeo de toda essa caminhada: clique aqui
Tracklog para GPS: clique aqui


Para não perder muito tempo na logística, escolhi viajar de avião de SP até Salvador e de lá ônibus até Lençóis, mas como essa trip foi quase em cima da hora, só consegui bons preços e horários saindo de Viracopos (Campinas), mas me arrependi amargamente.
Embarquei num Domingo por volta das 14:00hrs em Campinas, chegando em Salvador pouco mais de 2 horas depois e pela proibição de transporte do cartucho de gás para fogareiro na aeronave, tinha que adquirir um em Salvador assim que desembarcasse, já que a previsão de chegada do ônibus em Lençóis era por volta das 05:00hrs da manhã e nesse horário não encontraria nenhuma loja aberta.
Eram por volta de 17:00hrs e do aeroporto segui direto para Rodoviária, onde comprei a passagem de ônibus para Lençóis embarcando aquela noite e depois fui na Decathlon, que fica num shopping próximo dali, mas me dei mal, pois eles não vendem esse tipo de cartucho na loja de Salvador. Procurei em outras lojas do shopping, mas nenhuma delas vendia o gás. E agora José?
Pesquisando na internet, achei uma loja de camping dentro da Rodoviária, mas como era um Domingo, a loja nem abriu. Tá vendo, fui escolher esse dia da semana para vir e me lasquei.
Sem conseguir achar o cartucho, só me restava comprá-lo em Lençóis, mas perderia algumas boas horas que seriam preciosas, já que teria esperar o comércio abrir – paciência né. Não tinha outra opção. 
Por volta das 23:00 hrs o ônibus saiu de Salvador sem muito atraso, mas numa das paradas, o motorista veio nos avisar que teria de fazer um desvio de pouco mais de 1 hora, devido a um acidente na Rodovia que a bloqueava totalmente. Porém, não foi somente 1 hora, demorou bem mais que isso e só fomos chegar em Lençóis por volta das 07:00hrs, com mais de 2 horas de atraso.
Centro de Lençóis
Meio sonolento devido a viagem horrível, fiquei dando um tempo na Rodoviária esperando o comércio abrir e lá encontrei um leitor do blog e ficamos batendo papo. E depois de quase 4 horas perdidas (2 horas do atraso do ônibus + 2 horas esperando o comércio abrir), consegui comprar o cartucho numa loja de roupas esportivas chamada 2 Irmãos, localizada bem no centro.

Primeiro dia
Resolvido o problema, comprei também garrafas de agua num barzinho (2 litros ao todo) e agora era pé na trilha. 
Subindo a rua
São quase 09h30min e vou subindo a Rua das Pedras sentido Ribeirão do Meio com Sol forte. Cerca de 15 minutos de caminhada abandono as ruas da cidade e vou seguindo por estradas de terra sem grandes dificuldades até o início da trilha do Ribeirão do Meio, onde chego às 09h50min (30 minutos desde o centro).
Início da trilha
Junto ao início dela é a entrada da Pousada Luar do Sertão e uma placa do PN da Chapada dá as boas vindas, com algumas regras. Ali uma vendedora ambulante vende algumas bebidas e salgadinhos industrializados. Pergunto como tá a trilha até o Capão e diz que só devo tomar cuidado com as trombas d’água ao seguir pelo Rio Capivara, já que tá chegando a época das chuvas.
Me despeço dela e vou seguindo pela trilha, que é bem demarcada e larga. Pelo menos a vegetação encobre a trilha e o Sol não castiga tanto. Cruzo com alguns grupos de trilheiros e com 15 minutos de trilha passo ao lado da Barraca do Usquinha, onde são vendidas algumas frutas, bebidas e salgadinhos.
Barraca do Usquinha
Só alguns clics e continuo a caminhada. Um grande descampado surge em meio à vegetação com vestígios de acampamento e com mais 10 minutos passo pela bifurcação da trilha da Cachoeira do Sossego, à direita.
Decorrido 40 minutos desde o início da trilha chego na margem do Ribeirão do Meio e sigo para um poção um pouco mais abaixo, onde algumas pessoas escorregam num tobogã natural do rio. Alguns clics e retorno para a trilha, subindo até uma parte alta, onde encontro um ponto fácil para cruzar o rio.
Ribeirão do Meio
A partir daqui a continuação da trilha é um pouco confusa e achei que o caminho fosse na direção de um enorme depósito de pedras, resultante de antigo garimpo, mas tive que voltar, já que não achei trilha nenhuma.
Consulto o arquivo GPS do celular e o caminho que devo seguir tá um pouco mais abaixo. São 11:00 hrs e agora de volta à trilha demarcada, vou subindo pelas enormes pedras e ganhando altitude. É um trecho inicial bem íngreme, que me fez suar muito nessa subida e daqui em diante a maior parte da caminhada era sobre piso de rochas. 
Trecho de pedras
Essa é a Serra do Veneno, sempre subindo e em vários momentos tive que parar, devido ao cansaço por causa do Sol. Em alguns trechos a caminhada é em cima de muitas pedras irregulares (provavelmente de antigos garimpos) que atrapalham muito o passo. 
Quando vejo o final de uma subida, eis que surge outra mais à frente e assim vou caminhando por trilha demarcada numa vegetação que me parece ser o cerrado. As horas iam passando e os meus 2 litros de água já tinham acabado, o que me deixava um pouco aflito, porque a subida nunca terminava.
Riacho na trilha
E por volta das 15:00 hrs a trilha cruza um riacho (o único desde o Ribeirão do Meio), mas a água tinha um forte sabor de ferro. Subindo pelo riacho para ver se encontrava uma água melhor, mas o mesmo problema; o gosto de ferrugem. 
Só tomei mesmo para molhar a goela e preferi esperar outro riacho mais à frente, apesar de que o consumo desse tipo de agua não causa grandes problemas de saúde. Claro que em pequenas quantidades.
Seguindo em frente, a trilha se perde em meio a uma área de brejo, onde tive que tirar a bota para não encharcá-la. Mais outro trecho de subida em meio à vegetação alta até chegar no topo da Serra do Veneno; finalmente agora é só um trechinho no plano e descida íngreme até o Riacho Muriçoca, onde encontrei uma pequena área de camping. 
Vale do Riacho Muriçoca
O relógio marcava exatamente 17:00 hrs e com um lugar plano ao lado do riacho e muito cansado, não pensei 2x. É aqui o acampamento de hoje. O único problema eram os pernilongos que não me deixavam montar a barraca. Tive que fazer a comida dentro dela; macarrão com carne. Até tinha outras opções, mas pelo cansaço não estava a fim de fazer uma comida melhor. Depois do jantar coloquei o celular para tocar o alarme às 05h30min e depois caí no sono muito rápido. 
Camping ao lado do Riacho
No meio da madrugada acordo ouvindo uns pingos caindo na barraca; era chuva e na mesma hora lembrei do que a ambulante me falou no início da trilha: “para eu tomar cuidado com as trombas d’água.” Pensei comigo, se vier aquela chuva forte, aí fu..... Passou pela minha cabeça inúmeros pensamentos. Vai que o Rio Capivara enche e com isso ia ser difícil seguir pelo leito dele, mas os pingos da chuva não duraram muito e voltei a dormir. 
As 05h30min o celular despertou e nenhum vestígio de chuva, graças a Deus, mas a vegetação estava bem molhada. Poderia ter sido pior.

Segundo dia
Com barraca desmontada, mochila arrumada e café da manhã tomado, retomo a caminhada pouco depois das 06:00hrs e como era de se esperar, vegetação molhada e o céu nublado. Pelo menos nada de chuva e riacho sem aumento no volume.
Riacho Muriçoca
Seguindo por trilha demarcada, cruzo o pequeno riacho e vou na direção do Rio Capivara, descendo. Grandes paredões já começam a surgir próximo da trilha e com 40 minutos de caminhada chego na Toca da Onça, que na verdade é um lindo mirante com visual para o Rio Capivara descendo à esquerda e o Rio Capivari em frente. 
Toca da Onça
Para quem dispõe de tempo, o Rio Capivari possui 3 cachoeiras (Mixila, do Poção e a Capivari) que podem ser acessadas subindo o rio.
Como já tô atrasado por causa do ônibus e do cartucho de gás, vou seguindo pela trilha em meio à vegetação alta até chegar em outro rio, as 07h30min.
Rio Palmital
Esse é o Palmital, de pequeno volume também e outra cachoeira próxima, subindo o rio por uns 10 a 15 minutos. Porém ao ver o rio quase seco, nem me animei a conhecê-la e só parei mesmo para tomar um pouco d’água e tirar algumas fotos. Uma ave com as cores do Corinthians (preto e branco) pousa bem ao meu lado e fica me encarando, talvez pedindo comida ou só por curiosidade em me ver por ali. 
Com uma grande área de camping ao lado do rio, em meio às arvores, o local é perfeito para acampamentos. 
Camping ao lado do rio
Vou descendo por trilha ao lado do rio até chegar nas margens do Capivara e aqui um enorme poção surge junto de uma cachoeira: a da Capivara, mas passo direto.
São 08h30min e daqui em diante a caminhada é pulando pedras ou seguir pela margem direita dele. Nessa hora o céu já vai se abrindo e os primeiros raios do Sol surgiam escondidos pelos paredões verticais. 
Caminhada pelo leito
A caminhada é tranquila e o ritmo é até maior em comparação com a trilha que segue pela margem. Só é preciso tomar cuidado para não escorregar ao pular de uma pedra para outra. Até encontrei algumas pintadas com setas, indicando o melhor caminho, que são desnecessárias.
Vários poços naturais surgem e num deles resolvo dar um mergulho. Agua um pouco fria, mas pelo menos serviu para refrescar do calor.
A caminhada é bem suave e como a ambulante me disse: em caso de chuvas tome muito cuidado, porque o rio com certeza se enche rapidamente, já que tudo converge para ele.
Sem dificuldades e com Sol de rachar, as 10h45min chego na bifurcação do Capivara que leva até a base da Cachoeira da Fumaça, à direita. O riacho é outro afluente do Capivara e com pouco volume de água também.
Grande área de camping
Próximo dele existe um grande descampado para mais de uma dezena de barracas, além de uma pequena cavidade chamada de Toca do Macaco junto do rio, onde é possível bivacar só com isolante e saco dormir. Esse é o Riacho da Fumaça e achei que aqui encontraria pessoas indo ou voltando da base da Cachoeira, mas ledo engano. Nenhuma vivalma, desde o Ribeirão do Meio.
Toca do Macaco
Só tirei algumas fotos e peguei um pouco d’água, porque sei que mais adiante existem outros pontos, onde posso me reabastecer.
Retomo a caminhada as 11h10min e daqui em diante foi um dos piores trechos dessa travessia; a subida da Serra do Macaco, que parecia não terminar nunca. 
Iniciando ao lado da Toca, a trilha segue inicialmente paralela ao Capivara em meio à vegetação alta e aos poucos vai se afastando dele, mas ganhando altitude com grande esforço, tendo os paredões do lado direito. Nessa primeira hora de caminhada é um trecho de escalaminhada, tendo que passar por diversas pedras.
Montante do Rio Capivara
Em alguns trechos a inclinação era quase vertical e em vários momentos fui parando para retomar o folego. 
Por volta das 13:00hrs passo ao lado de uma pequena bica dágua, que escorre pelo paredão. Veio no momento certo, já que não tinha mais água. O lugar tem uma grande área sombreada com muitas pedras e é perfeita para um descanso.
Mais alguns minutos de trecho íngreme e não demora muito a trilha se torna mais suave, diminuindo a inclinação. 
Por volta das 15h30min quando se inicia um trecho descendo para um pequeno vale à esquerda, surge uma bifurcação à direita, passando quase despercebida. A trilha é bem demarcada também e fiquei pensando para onde seguiria - ao chegar no vale do Capão, conversando com o pessoal da Associação de guias, me dizem que essa é a trilha da Fenda, seguindo para base da Cachoeira da Fumaça e evitando contornar a trilha que passa pela Toca do Macaco. Dizem que é um trecho um pouco perigoso e com cordas, mas parece que muita gente tá fazendo.
Poção do Santuário
Mais uns 20 minutos de caminhada e chego no Poção do Santuário, que é uma piscina natural, formada na base de uma pequena cachoeira. São 16:00hrs da tarde e estou exausto. Até aqui foram 10 hrs de caminhada e nesse trecho final já que não aguentava mais. Até conseguiria chegar na parte alta da Fumaça naquele dia, mas o corpo já pedia para desistir, então achei melhor ficar no Santuário.
Poucos metros antes de chegar no rio, existe um grande descampado para várias barracas, mas não achei ideal para montar a minha. Ao cruzar o rio procurei do outro lado e encontrei um local plano e descampado no meio da vegetação, perfeito para apenas 1 barraca, que montei sem pressa nenhuma e novamente intrusos queriam entrar nela; os pernilongos.
Área de camping
Depois de um banho no poção, fiz o jantar nas pedras do rio e dessa vez foi bem farto.
E lá pelas 20:00hrs me recolhi para dentro da barraca, colocando o celular para despertar as 05h30min novamente. Dessa vez tive que usar o power bank para recarregar o celular, já que a bateria estava no fim. Já dentro do saco de dormir, peguei no sono rapidamente e acordei com tempo nublado. 

Terceiro dia
Pela manhã o lugar tá tomado por uma neblina e depois de um rápido café da manhã, vou seguindo pelo último trecho de uma leve subida, mas sou obrigado a colocar a capa de chuva porque começa a cair uma garoa. 
Abismo da Fumaça
Não chega a ser uma chuva, mas fico com a calça toda ensopada devido a vegetação molhada. Com cerca de 30 minutos chego na bifurcação da Fumaça e aqui escondo minha mochila na vegetação, para não levar peso extra à toa.

Chego no topo da Cachoeira às 07h20min com o lugar coberto de uma espessa neblina e para variar nenhuma vivalma. Algumas pequenas piscinas naturais de água muito fria e nem arrisco a entrar.
Mirante da Fumaça
Vou para o mirante de onde é possível ver o poço na base e de vez em quando a neblina dispersava pelo vento forte que bate no paredão, dando para visualizar todo o penhasco da cachoeira, nos seus 340 metros de altura. É um visual impressionante, mas com volume mínimo de água, que escorria pelas pedras. Ainda não é época de chuvas, então já esperava isso. 
Paredão da Fumaça
Fiquei ali pouco mais de 1 hora esperando o Sol aparecer, mas desisti ao ver que a neblina não se dispersaria facilmente e depois de vários clics, retorno para pegar a mochila e seguir para o Capão as 08h30min.
O trecho agora é todo no plano e conforme avançava pela trilha, a neblina já se dispersava e o Sol começava a dar as caras. Cruzei com algumas pessoas e grupos de agencias que seguiam na direção da Fumaça. 
Caetê-Açu lá embaixo
Com pouco menos de 1 hora já conseguia visualizar o Vale do Capão com o distrito de Caetê-Açu lá embaixo. Do lado direito o Monte Tabor, ou Morrão para alguns, se destaca na paisagem. Num dos mirantes pela trilha resolvo só ficar curtindo o visual, sem nuvens. As últimas Ana Marias são devoradas, assim como a água.
Por volta das 10h30min finalizo a trilha e mais alguns metros chego na sede da Associação dos Condutores. Converso com um dos guias do lugar e sem sinal de telefonia celular da Vivo, uso o wi-fi da Associação para mandar notícias e ver hospedagem no lugar.
Sede da Associação de Guias
Assino o livro e deixo uma contribuição para a Associação, seguindo agora na direção do centro de Caetê-Açú. Pouco depois das 11:00hrs passo ao lado da rua principal, seguindo numa estrada cheia de pousadas e campings e numa delas (Pousada/Camping Sempre Viva) encontro o proprietário (Sr. Jovane) sentado na varanda. Com a opção de pousada ou camping, resolvo ficar aqui, numa das suítes. 
O wi-fi tinha um bom sinal e nos fundos dela, o hospede tem a disposição um tanque para lavar roupas e com o Sol deu para secar toda roupa que lavei naquele dia.
A suíte era grande, dispondo de ventilador e chuveiro quente com box e só não fiquei mais dias naquele lugar, porque já tinha planejado todo o roteiro da minha travessia.
Centro de Caetê-Açú
Depois de lavar as roupas, segui para o centro de Caetê-Açu a fim de contratar um moto-taxi que me levasse até o Bairro do Bomba no dia seguinte, onde iniciaria a trilha até o Vale do Pati. Eles ficam próximos da praça principal e conversando com um deles marquei de me pegar na Pousada por volta das 08h30min da manhã. Resolvido o transporte, fui dar um rolê pelo centro de Caetê que é um lugar bem simples, com poucas ruas e uma praça principal com um coreto. 
Praça principal
Poucos restaurantes e lojinhas se concentram ali e algumas pousadas também, mas a maioria delas está localizada na estrada que liga o centro ao Bairro do Bomba – é ali que fica a pousada que me hospedei. Num dos mercados em frente à praça compro um pouco de comida, água e algumas guloseimas para os próximos cafés da manhã.
Bem no extremo da rua principal encontro um food truck que vende vários tipos de pães e salgados chamado Artesanale Foodtruck. 
Foodtruck de pães e salgados
No momento que passava, o lugar exalava um cheiro delicioso de pão sendo assado e fiquei lá esperando. Não resisti e comprei vários, todos saídos do forno naquele momento. 
Já durante a noite voltei ao centro para comer frango caipira, já que ao passar por ali no final da manhã, vi no cardápio de um restaurante essa opção, mas ao anoitecer ele estava fechado. Uma pena. Talvez por ser uma quarta feira, alguns restaurantes só funcionem para o almoço. Tive que jantar em outro. 
Dia seguinte prometia ser uma caminhada longa. 

Quarto dia
Acordei com um Sol daqueles e fui tomar um café da manhã na Padaria Diamantina, bem na entrada do centro da Vila; não tinha muita variedade e não recomendo, mas era a única próxima. 
Voltei na Pousada para arrumar a mochila e depois fiquei aguardando a moto-taxi. Chegou com alguns minutos de antecedência e depois de me despedir do Jovane, sigo na garupa da moto com a cargueira, sentido Bomba.
Achei o percurso um pouco longo (quase 6 Km) se for na caminhada e a estrada é bem ruinzinha, então vale a pena contratar um transporte, que não é tão caro.
Início da trilha
Com pouco mais de 20 minutos chegamos ao final da estrada, no Bairro do Bomba. Nesse momento chegavam 2 trilheiros que estavam fazendo a Transsincorá - uma caminhada de sul a norte pela Chapada Diamantina com mais de 100 Km que se inicia em Ibicoara. Conversei com um deles (Marcelo) sobre o roteiro e quem sabe uma futura travessia. Depois de me despedir, inicio a caminhada às 08h45min pela trilha, que é bem demarcada. 
Poção ao longo da trilha
Cruzo com um pequeno riacho e com cerca de 10 minutos sigo numa bifurcação à direita, na direção da Cachoeira da Angélica 
com um pequeno poço ao lado, que não é tão grande assim. Agora seguindo por um trecho íngreme e demarcado com algumas bifurcações que levam ao rio. Subida tranquila e com pouco mais de 30 minutos retorno para a trilha principal, que surge à esquerda. 
Daqui em diante é um trecho suave de uns 40 minutos, cruzando porteiras e com lindo visual do Vale do Capão atrás, até atingir a crista.
Vale do Capão
Pouco depois das 10:00 hrs cruzo um pequeno riacho, onde reabasteço os cantis e descanso por alguns minutos. O céu está nublado, mas o calor não dá trégua.
Com mais uns 10 minutos surge uma bifurcação. Para a esquerda é a trilha chamada de Mata do Calixto, que passa ao lado da cachoeira de mesmo nome.
Para a direita são os Gerais do Vieira, com trecho todo no plano, visuais de campos coberto de gramíneas à perder de vista e formações rochosas maravilhosas nas laterais. 
Gerais do Vieira
Esse é o caminho que v
ou seguindo e cruzando várias nascentes (acho que foram umas 3 ou 4) e algumas cercas de arame. Já por volta do 12:00 hrs ao cruzar o último riacho, a trilha subitamente vira para direita, na direção da serra. Por essa trilha passo pela ladeira do Quebra Bunda e pelo Mirante do Pati. É um trecho mais exposto ao Sol, porém o visual é maravilhoso e compensa o esforço. Só tome cuidado que não tem água pelas próximas 3 a 4 hrs. Se continuasse em frente na bifurcação ao lado do riacho seguiria por um trecho em meio à mata e com isso perderia um dos principais atrativos: os lindos visuais dos Gerais do Rio Preto. 
Mirante
Ao chegar no Mirante do Quebra Bunda, dou uma descansada comendo algumas frutas secas e fico só apreciando o visual. 
Folego retomado, continuo a caminhada por um trecho longo de vegetação baixa, muitos arbustos e um visual lindo do Pati à esquerda que vai se abrindo cada vez mais. Esse trecho é chamado de Gerais do Rio Preto, cujo rio pode ser visualizado à direita e ao longo da caminhada encontro algumas bifurcações que seguem na direção dele. 
Vale do Pati
Por volta das 14h30min cruzo um antigo muro de pedras e mais uns 10 minutos chego no mirante do Pati, de onde é possível visualizar boa parte do Vale com suas trilhas, destacando o Morro do Castelo (conhecido também como Morro da Lapinha), a Igrejinha e os imensos paredões nas laterais. Junto do mirante um grupo grande com alguns guias está com algumas barracas montadas. Próximo dali uma outra trilha surge à direita, sendo uma das mais curtas que chegam ao Pati, vindo da Vila de Guiné e numa eventual emergência, é uma boa opção de saída do vale ou para quem pretende fazer uma travessia mais tranquila. 
Vale do Pati
Depois de alguns clics, inicio a descida em zig zags pelo paredão, que é rápida.
Ao chegar numa trifurcação, sigo para esquerda na direção da Igrejinha. O trecho é bem curto e exatamente as 15h50min chego no lugar. 
Conhecido também como Ruinha, quem me recepciona é o Seu João Calixto, proprietário da pousada. Acerto com ele somente a hospedagem, sem alimentação e sem café da manhã.
Igrejinha
O lugar é enorme com vários quartos; alguns coletivos e outros para casais. Uma pequena capela em homenagem ao Senhor do Bonfim é o motivo do lugar se chamar Igrejinha. A energia elétrica é gerada por painéis solares, dispondo de internet somente para os guias ou para quem quiser pagar a hospedagem no PIX ou cartão. Pelas minhas contas acho que ali tinham umas 30 a 40 pessoas.
Conversando com alguns hospedes, fico sabendo que a grande maioria é guiado por agencias da região. Independentes como eu, somente um casal do interior de SP.  
Quartos coletivos
Depois de instalado num dos quartos coletivos, fui tomar banho e preparar o jantar. Quando alguns já vão para seus quartos, é hora de ir para o meu também. 

Quinto dia
Acordo por volta das 07:00 hrs e enquanto vou preparando o meu café da manhã, alguns guias já estavam saindo com vários grupos na direção do Cachoeirão.
E por volta das 08h30min é a minha vez de seguir numa trilha: a da Cachoeira dos Funis e das Bananeiras. Trilha muito tranquila e demarcada. Passando ao lado do cemitério e com quase 30 minutos chego no rio. Daqui em diante a caminhada é um pouco mais complicada, pois segue pelas laterais dele pulando pedras, descendo paredões e segurando em raízes e árvores. 
São vários poções e pequenas quedas que vão surgindo a cada curva do rio, sendo necessário um pouco de cautela para não escorregar nos trechos mais perigosos.
Descendo o rio
A primeira Cachoeira é a do Lajeado e mais alguns minutos chego na dos Funis, que é bem alta. Algumas recomendações colocadas numa placa do Parque Nacional.  
São quase 09h30min e o lugar está deserto. Mesmo sem o Sol, resolvo tomar um banho no poção da cachoeira e depois fico relaxando em cima das pedras, mas não por muito tempo. Era hora de bater em retirada, pois tenho outra cachoeira para conhecer mais abaixo.
Cachoeira dos Funis
De volta à trilha, sigo descendo pelas laterais até chegar à cachoeira das Bananeiras, conhecida também como Altina. Essa é um pouco menor, porém um pouco mais larga. O poço é pequeno e nem me arrisco a entrar na água. Só alguns clics do lugar e continuo a descida. Uns 50 metros depois, vejo uma grande clareira do lado esquerdo. É uma área de camping selvagem ao lado do rio.
Ao lado do rio
Continuando a caminhada, logo saio das margens do rio e retorno para a pousada para arrumar a mochila e seguir para outra hospedagem no Vale do Pati.
Ao chegar na Igrejinha não encontro ninguém, só algumas funcionárias do lugar. Me despeço delas e sigo a minha caminhada vale abaixo, mas antes uma leve subidinha até o Mirante do Cruzeiro, que possui um lindo visual do interior daquele vale.
Mirante do Cruzeiro
Continuando a descida, passo primeiro na casa do Sr Wilson (um dos mais conhecidos do Vale do Pati) e quem me atende é um dos seus filhos, mas o valor da hospedagem me assustou: $230 Reais com pensão completa, sem outras opções. Meia volta, volver.
Mais abaixo passo ao lado de uma antiga escola demolida e mais alguns metros chego na Pousada do Seu Agnaldo.
Casa do Agnaldo
São 13:00 hrs e resolvo ficar aqui. O lugar também possui energia elétrica obtida de painéis solares e internet via satélite, mas somente para o pagamento via PIX. Veja nesse vídeo como são as instalações da Pousada: clique aqui
Acerto a hospedagem num dos quartos coletivos por 2 dias, já que tinha a intenção de subir o Morro do Castelo no dia seguinte.
Naquele restante da tarde só vou a alguns poções próximos para curtir o Sol e já quase no fim da tarde retorno à pousada. 
Poções no rio dos Funis
Fico conhecendo algumas pessoas do lugar e percebo que muitos ali vieram sem guia de agencia, diferente da pousada da Igrejinha.
 
Depois do jantar ficamos batendo papo e combino com alguns a subida ao Morro do Castelo na manhã seguinte, cuja trilha se inicia bem próxima da pousada. 

Sexto dia
A noite foi bem tranquila e depois do café da manhã arrumo a minha pequena mochila de ataque com algumas guloseimas, frutas secas e um item quase obrigatório: uma lanterna para cruzar o pequeno trecho no interior da Gruta do Castelo (lanterna de celular também dá).
Mochilas prontas, iniciamos a subida ao Castelo pouco antes das 10:00 hrs por trilha demarcada em meio à mata, porém bastante íngreme e com trechos de escalaminhada.
Trecho de escalaminhada
O trecho é o tempo todo em área de mata fechada com alguns mirantes e um único ponto de água (uma nascente à direita, alguns metros depois do início da subida).
O dia estava nublado, assim como nos dias anteriores e íamos ganhando altitude com bastante esforço. 
Com cerca de 1 hora de subida alcançamos a crista que divide os 2 lados do Morro e seguindo para direita por mais alguns minutos chegamos na entrada da Gruta. 
A abertura dela é bem alta e com lanterna ligada vou adentrando naquela escuridão total seguindo uma trilha de pedras. 
Entrada da Gruta
Um fato me chamou bastante atenção quando já estava próximo da saída pelo outro lado; de repente um grupo sai de uma cavidade lateral que estava obstruída por uma placa de acesso proibido, dando a entender que existe uma outra saída da Gruta, mas que não é a oficial. 
Pela localização, essa sairá na direção do vale do Rio Calixto. Será?  
Em menos de 10 minutos é o tempo que levei para sair do outro lado por uma abertura um pouco mais estreita e complicada e dali fui pulando enormes rochas até chegar num lindo mirante pelo lado leste, pouco antes do meio dia. 
Mirante do Castelo
O visual desse lado é maravilhoso com as nascentes e o vale do Rio Calixto em primeiro plano e ao fundo o topo da chapada com uma sucessão de morros. 
Depois de alguns minutos só curtindo o visual e comendo algumas frutas secas, fomos na direção de outro mirante, voltado para a jusante do Rio Calixto, sendo necessário passar embaixo de uma formação geológica que lembra muito uma ponte de pedra. Nesse ficamos pouco tempo e com Sol a pino, já que passava das 13:00 hrs, era hora de ir embora.
Outro mirante
O retorno foi tranquilo e sem grandes dificuldades pelo interior da Gruta. Já no trecho de descida pela mata, o cuidado tem de ser bem maior, já que qualquer tombo pode provocar uma grave lesão. Ainda aproveitei um banho num dos poções do rio dos Funis com um grupo que estava na mesma pousada e durante a noite ficamos batendo papo. 
Dia seguinte partiu Cachoeirão e Mucugê.

Sétimo dia
Para variar, o dia amanheceu nublado e depois de vários clics do pessoal que estava na pousada e das despedidas, parti rumo ao Cachoeirão às 09h30min com 2 garotas (Ione e Cris) e o guia que as acompanhava. O trecho inicial é um pouco íngreme até chegar próximo ao Mirante do Cruzeiro e dali em diante a trilha nivela, seguindo numa suave inclinação. 
Trecho Cachoeirão
Ao longo desse trecho cruzamos com 3 pequenos riachos que são perfeitos para reabastecer os cantis.
Finalizado o trecho de subida, entramos agora na área dos Gerais do Rio Preto e do lado esquerdo surge uma pequena área de mata com um grande descampado no seu interior, muito usado para camping selvagem.
Mais uns 15 minutos e saímos da trilha principal seguindo numa bifurcação à esquerda que leva ao Cachoeirão. Não demora muito e passamos ao lado da Toca do Gavião, que é uma espécie de gruta formada num enorme paredão de rocha. 
Toca do Gavião
O lugar é perfeito para algumas barracas e próximo dela existe um riacho. É aqui que vou acampar ao retornar do Cachoeirão e para não levar peso desnecessário, deixo minha cargueira no local. 
Seguindo na direção do Cachoeirão, chegamos lá em cerca de 20 minutos com vários grupos tirando fotos do mirante principal. Sua altura é de 260 metros, sendo a segunda cachoeira mais alta da Chapada Diamantina, só perdendo para a Fumaça que tem 340 metros, mas o visual impressiona, principalmente porque naquele horário o Sol brilhava em um céu azul. Veja nesse vídeo que fiz do lugar com algumas fotos: clique aqui. 
Mirante
São 2 mirantes e várias quedas que estavam com pouca água, mas parecia uma pintura feita pela Natureza. Ficamos por mais de 1 hora só curtindo o visual e depois dos respectivos clics era hora de retornar para a Toca do Gavião, onde me despeço dos 3 e ali monto minha barraca, mas em vez de ser na Toca, escolho ficar num pequeno descampado ao lado do riacho.
Outro mirante
O relógio marca 14h30min e depois de montar minha barraca não esperava que no final daquela tarde fosse chover. E não foi uma chuvinha de verão, foi constante e piorando cada vez mais, a ponto de começar a entrar água pelas costuras da cobertura da barraca – isso que dá ficar usando a barraca por muito tempo só no calor, sem pegar chuva. Aquela fita seladora presente nas costuras foi para o saco e o problema foi aparecer logo aqui. Eram apenas alguns pingos que passavam pela costura, mas incomodava. A solução era ficar acampado na Toca, mas como removê-la naquela chuva constante? Não teve jeito, me molhei um pouco, mas não tinha outra opção. 
Amanhecendo
Pelo menos consegui dormir mais tranquilo na Toca e nem vi quando a chuva parou, só acordando por volta das 07:00 hrs manhã com uma neblina que encobria tudo ao redor.  

Oitavo dia
Conversando com Seu Agnaldo no dia anterior, falei da minha pretensão de fazer esse trecho dos Gerais do Rio Preto, saindo do Cachoeirão até Mucugê e me disse que a trilha tá razoável, com muita água ao longo do caminho e que talvez não conseguiria chegar em Mucugê no mesmo dia, me recomendando acampar na Lapa do Caboclo ou um pouco antes, dependendo do meu ritmo. 
Relatos detalhados desse trecho não encontrei, só levando um track com algumas informações para ir me orientando onde eu tivesse dúvidas. 
Café da manhã tomado e com mochila arrumada, fiquei alguns minutos ainda na Toca aguardando o clima melhorar, mas aquela neblina teimava em não se dispersar. 
Tudo encoberto
O jeito era seguir assim mesmo e as 08h15min saio da Toca para seguir num dos trechos mais longos dessa minha caminhada até Mucugê.
No retorno até a trilha principal o percurso é tranquilo e antes de chegar lá peguei um atalho, saindo um pouco mais à frente. Parecia que a chuva não iria cair mais, porém a vegetação estava totalmente molhada e só foi caminhar alguns metros que já fiquei com a bota totalmente encharcada, além de uma parte da calça. 
Trilha
A navegação é tranquila por trilha razoavelmente demarcada e sem bifurcações, seguindo paralelo ao Rio Preto, à direita. Quando cruzava alguns rios, as vezes não encontrava a trilha tão facilmente e nessas horas consultava o track.
Algumas cercas de arame também surgem ao longo do caminho e por causa da chuva, o solo estava bastante úmido e com muitas áreas de brejo. Em alguns momentos enfiei literalmente o pé na lama, encobrindo toda a bota ao passar por esses trechos. 
Riacho
E como disse Seu Agnaldo, são muitos riachos (devo ter contado uns 13 ou 14 até o final desse trecho) que cruzam a trilha, além de alguns terem áreas descampadas próximas em meio à vegetação, propícias para camping selvagem.
A vegetação é de campos gerais, que é uma mistura de cerrado com campos rupestres, além de muitos arbustos e mata ciliar ao longo dos riachos que cruzam a trilha.
E conforme avançava, a neblina ia se dispersando, se concentrando somente nas partes altas da chapada. Vou perdendo altitude suavemente e pouco depois das 14:00 hrs o Sol dá as caras. 
Sol na trilha
Com a vegetação seca, estava na hora de descansar e comer alguma coisa ao lado de algum riacho e aproveito também para trocar de roupa. 
Não fico muito tempo, retomando a caminhada sem demora e aqui a vegetação já vai mudando, aparecendo muitos cactos ao lado da trilha. Com 30 minutos desde a última parada, cruzo um muro de pedras e as 15h50min encontro uma bifurcação à direita que segue até a Lapa do Caboclo. Conhecido também como Toca do Caboclo, o lugar é uma gigantesca rocha com uma cavidade natural e pinturas rupestres antigas.
Lapa do Caboclo
Até poderia continuar a caminhada e chegar em Mucugê antes do anoitecer, mas já estava bem cansado e a comida que eu ainda tinha, não queria jogar fora.  
O lugar onde muitos montam as barracas é protegido por uma saliência, bem parecido com a Toca do Gavião, porém multiplicado por 10 em tamanho. O Rio Preto está a poucos metros dali, que mais parece uma lagoa, devido a grande largura do rio e sem correnteza.
Pinturas rupestres
Depois de montar a barraca e tomar um banho no rio, fui explorar o lugar e tirar algumas fotos das pinturas rupestres, que estavam relativamente bem conservadas. A maioria dos desenhos é em forma de círculos e ao voltar a SP pesquisei sobre o tema para saber a data aproximada dessas pinturas, mas não encontrei nenhuma citação.
Como era meu último camping, usei toda a comida que eu tinha para fazer um jantar farto, já que no dia seguinte chegaria em Mucugê. Coloquei todas as roupas molhadas para secar, inclusive a mochila e fui dormir por volta das 21:00 hrs.
Noite tranquila sem chuva e pouco depois das 08:00 hrs já estava levantando.

Nono dia
Tempo nublado novamente e sem pressa fui organizando as coisas na mochila e só fui sair dali poucos minutos antes das 10:00 hrs. O Sol de vez em quando surgia em meio as nuvens, mas só por alguns instantes. Esse trecho final é bem mais aberto e totalmente no plano.
Trilha fácil
Uns 20 minutos depois da Lapa tomei um susto muito grande e creio que dei muita sorte, pois consegui visualizar uma cobra bem ao lado da trilha. Foi a única em todos esses dias caminhando pela Chapada. Era toda marrom e muito arisca, pois só fui notá-la quando estava a poucos metros dela, que rapidamente saiu da trilha e entrou no meio da vegetação – acho que ela estava tomando um solzinho 
e não sei se era peçonhenta. Vejam nessa foto (clique aqui) e quem puder identificá-la, é só postar nos comentários. 
Com 40 minutos de caminhada chego ao Rio Paraguaçu e aqui é só cruzá-lo por cima das pedras, junto ao encontro com o Rio Preto.
Cruzando Rio Paraguaçu
Numa grande área de camping, vejo um pessoal praticando canoagem, subindo o Rio Preto e depois de uns clics sigo na direção da Rodovia, agora por uma estrada de terra. Mais 15 minutos e encontro uma picape, que provavelmente é do pessoal que estava nas canoas.
Passo por um portal de uma RPPN e as 11h20min chego na Rodovia. Daqui em diante sigo para esquerda ao lado dela até entrar na avenida principal da cidade e as 11h50min chego no centro de Mucugê. 
Bem vindo a Mucugê
Numa das pousadas que encontro próxima da praça principal, resolvo ficar nela - $65 Reais sem café da manhã e sem TV. Na verdade tinha TV, mas não tinham renovado a assinatura do plano, por isso só tinha 1 canal disponível, que só anunciava propaganda do que estava passando nos outros canais. Tudo bem; era 1 noite só, então tá valendo.
Depois de um banho e trocar de roupa, fui conhecer a cidade histórica, com suas famosas casas coloridas, ruas de pedras e jardins floridos.
Mucugê
Durante a tarde fui na agencia da empresa de ônibus Cidade Sol para trocar a passagem até Salvador, pois tinha comprado antecipadamente para 2 dias depois. Já estava bem cansado da caminhada e não queria ficar mais 2 dias ali. Pelo menos Salvador tinha muita coisa para ver e com isso fiz uma reserva pelo Booking de uma Pousada próxima do Pelourinho para ficar 2 noites lá.
Casinhas coloridas
Escolhendo o ônibus das 04h30min da madrugada, teria de acordar muito cedo no dia seguinte, mas já me acostumei a cochilar em ônibus.  
Durante a noite foi até difícil encontrar um bom restaurante na cidade e tive que me contentar com um escondidinho. 
Sem muita coisa para ver a noite, voltei para Pousada e fui dormir cedo.
Acordei por volta das 03:00hrs madrugada e embarquei no ônibus no horário programado. O problema que o ônibus era um pinga-pinga e toda cidade ou vila ele parava, com passageiros embarcando ou desembarcando e só fomos chegar em Salvador por volta das 13:00 hrs.
Pelo menos deu para aproveitar as praias e um passeio pelo centro histórico.
E só fui embarcar no avião da Azul 2 dias depois, direto para Viracopos, mas antes de chegar em Campinas caiu um toró que atrasou a aterrisagem do avião. Vejam nessa foto (clique aqui) o que ele fez por causa do mal tempo e com isso perdi o ônibus gratuito da empresa para Sampa, chegando na cidade quase a 1 da madrugada. Azul, nunca mais.




Algumas dicas e informações úteis 

# Protetor solar obrigatório

# Repelente obrigatório

# Boné ou chapéu de abas

Tracklogs que usei nessa travessia:
- Trecho Lençóis-Capão: esse aqui.
- Trecho Vale do Capão-Vale do Pati: esse aqui e aqui.
- Trecho Vale do Pati-Mucugê: esse aqui.

# Logística:
- Ônibus Salvador-Lençóis: Empresa Real Expresso
- Onibus Mucugê-Salvador: Empresa Cidade Sol
- Vale do Capão (centro de Caetê-Açu) até Bairro do Bomba (onde se inicia a trilha para Vale do Pati): moto-taxi de $30 a $40 Reais/pessoa (dependendo da moto e do condutor)

# Food truck excelente de pães e doces no centro de Caetê-Açu:

# Valores de hospedagem no Vale do Pati:
- Igrejinha (Casa João Calixto) sem café da manha e o jantar: $80 Reais/pessoa
- Casa do Agnaldo sem café da manhã e o jantar: $80 Reais/pessoa.
- Casa Sr Wilson - pensão completa: $230 Reais/pessoa.

# Não são todas as hospedagens no Vale do Pati que oferecem camping e alguns devido a falta de espaço:
- Na Igrejinha não me foi oferecido área para camping. 
- No Sr Wilson também não é oferecido, por falta de espaço. 
- Na D. Lea também não oferece espaço para montar barracas. 
- Só vi mesmo barracas na casa do Seu Agnaldo, mas li num relato que área de camping não é oferecido no local.

Todas as hospedagens no Vale do Pati possuem uma estrutura simples, tendo em sua maioria quartos compartilhados com beliches e alguns quartos de casal.

Nos lugares que me hospedei, a energia elétrica é gerada através de painéis solares e as lâmpadas são de led e todas com tomadas que podem ser usadas para carregar os celulares.

Para quem pretende só fazer caminhadas pelo interior do Vale do Pati e não quer levar uma cargueira, dá para ir somente com uma mochila de ataque com o mínimo de roupas, já que todas as pousadas oferecem hospedagem e alimentação completa. Claro que nesses casos, o gasto será um pouco maior. Tire como exemplo o valor da hospedagem com tudo incluso na Pousada do Sr. Wilson.

Se não quiser gastar com hospedagem nas casas dos nativos, é possível também camping selvagem em vários pontos no interior do Vale do Pati. Além dos que citei no relato, outros também podem ser encontrados ao longos das trilhas. Só recomendável não acampar próximo das pousadas, por motivos óbvios.

# Pousada/Camping Sempre Viva, onde me hospedei em Caetê-Açu: $50 Reais/pessoa.

# Hospedagem Pousada Santo Antônio em Mucugê: 

# Pontos de água confiáveis:
- Trecho Lençóis-Vale do Capão: Após o Ribeirão do Meio, outro ponto de água só no Riacho Muriçoca, a cerca de 6 hrs de caminhada. Na metade do caminho tem um riacho, mas água tem gosto de ferrugem.
- Trecho Vale do Capão-Vale do Pati: No trecho inicial na subida da serra, a trilha cruza alguns riachos. E nos Gerais do Vieira são muitos, enquanto nos Gerais do Rio Preto não tem nenhum ponto de água.
- Trecho Cachoeirão-Mucugê: inúmeros riachos cruzam a trilha (contei mais de 10)

# Para quem dispõe de pouco tempo no Vale do Pati, na minha opinião as atrações obrigatórias são: Mirante do Pati, Morro do Castelo, Cachoeirão de cima, Cachoeira dos Funis e Cachoeira do Calixto.

# Boa parte das trilhas no Vale do Pati podem ser consideradas de moderada a difícil, já que são muitas subidas/descidas e algumas muito íngremes.

# Devido às suas cores em tom escuro, evite pular nos poços da Chapada Diamantina, já que não é possível visualizar pedras, galhos e troncos nos fundos. Essa tonalidade escura é resultado da decomposição de folhas e galhos.

# Não há a cobrança de ingresso para acessar as inúmeras trilhas na Chapada Diamantina. Mesmo sendo um Parque Nacional, não existe controle de acesso. De forma voluntária existe apenas um controle de acesso à Cachoeira da Fumaça realizado pela Associação de guias do Vale do Capão. 

# Informações sobre as trilhas do Parque:

# Em vários momentos que encontrei guias de agencias acompanhando visitantes pelas trilhas não tive boa recepção. Te olham como se você fosse um criminoso e quando você pergunta algo te respondem com muita má vontade ou nem te respondem. Eu presenciei isso nas trilhas e na Igrejinha.
- Deu a impressão que eles não aceitam que visitantes realizem as caminhadas sozinhos ou sem o acompanhamento de guias. Claro que não são todos que pensam assim.
- Conversando com um hospede na Pousada do Vale do Capão, relatou que ao contatar um dos guias para as trilhas, foi dito que existe uma obrigatoriedade de guias para fazer qualquer caminhada na Chapada, o que não é verdade.
- Qualquer caminhada ou travessia na Chapada Diamantina NÃO exige a presença ou a contratação de guias de agencias, porém eu recomendaria para pessoas sem experiência em trilhas ou que não sabem navegar com o uso de GPS, mesmo os de telefone celular.
- No meu caso, levei alguns arquivos de GPS e relatos de outras pessoas que fizeram o mesmo caminho.

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