Há vários anos que venho tentando fazer algumas no sul do país, mas não dou muita sorte. De vez em quando o clima ajuda, como na Travessia da Serra do Quiriri (divisa de PR/SC) que completei anos atrás.
E para esse ano coloquei novamente como plano "A" outra travessia nessa região, mas como não dá para confiar 100% no clima, deixei como plano "B" uma travessia em MG e a Serra de São José, localizada próxima de Tiradentes/MG, era perfeita.
E para essas 2 opções fui atrás de relatos, dicas, tracklogs e troquei várias mensagens com o Otávio Luiz (montanhista paranaense da AMC – Associação Montanhistas de Cristo), Francisco (blog Chico Trekking) e o Rodrigo (blog Exploradores).
Para quem está em Tiradentes, a Serra de São José se assemelha a uma muralha, próxima da cidade que segue na direção sudoeste-nordeste por cerca de 12 Km.
Organizei a mochila e deixei para os últimos 2 dias a decisão de seguir o plano "A" ou o "B", mas a previsão não mudou para o sul do país, prometendo chuvas no dia que eu iria viajar. Agora era partir para o plano "B" e lá o clima estava ajudando com previsão de tempo bom que já perdurava há vários meses.
Serra de São José lá vamos nós e dessa vez estava indo com a Vera, parceira de outras caminhadas pela Serra do Mar.
Fotos acima: crista da Serra de São José, com São João del-Rei ao fundo e as ruas de Tiradentes, com a muralha da serra
Fotos dessa travessia: clique aqui
Tracklog para GPS dessa caminhada: clique aqui
Vídeo completo da travessia: clique aqui
A logística era chegar pela manhã na Rodoviária de São João del-Rei (SJDR) e de lá embarcar no ônibus circular para Prados, onde iniciaria a caminhada próximo da entrada da cidade até chegar no topo da serra, seguindo pela crista na direção sudoeste até o outro extremo, onde está localizada a Cachoeira Bom Despacho, já próximo da divisa com São João del-Rei para finalizar em 2 ou 3 dias.
Na data marcada fiz uma última revisão nas coisas da mochila, coloquei alguns tracklogs do wikiloc na memoria do celular e fui para o Terminal Tietê, onde encontrei a Vera e embarcamos por volta das 22:00hr com previsão de chegada em SJDR por volta das 06:00hr.
A viagem foi tranquila com algumas poltronas vazias e fizemos uma parada no Graal Bela Vista e outra na Rodoviária de Lavras chegando a SJDR pouco depois das 05:00hr, ainda na completa escuridão. Foi uma viagem rápida e até deu para dormir em alguns momentos, mas tivemos que aguardar até as 07h30min quando o ônibus saiu da Rodoviária em direção à Prados.
Serra de São José |
Quando o ônibus entrou na área urbana de Prados, fui checando o GPS do celular o ponto exato onde desembarcaríamos e em frente ao Lar dos Idosos Monsenhor Assis, descemos do ônibus.
Ponto de ônibus em frente ao Lar dos Idosos |
Junto a um portal, uma enorme placa de madeira assinala que estávamos na Estrada Parque Passos dos Fundadores e cada vez mais a base da serra se aproximava.
Serra chegando |
Início da trilha |
Casa de Pedra |
A trilha é bem demarcada e em alguns pontos as setas de madeira orientam que caminho seguir.
Pequenos poços com água das chuvas surgem nesse trecho, mas não recomendaria o consumo dessa água.
Subindo a serra |
Quando chegamos no topo da serra o visual se abre na direção norte. São 09h30min e a altitude aqui é de 1350 metros. Mais alguns minutos e passamos ao lado de um bonito mirante, chamado de Garganta do Diabo, voltado para encosta sul.
Mirante da serra |
Cruzeiro junto à borda da serra |
A vista é voltada para o Distrito de Bichinhos (pertencente a Prados) em primeiro plano e Tiradentes ao fundo.
E bem mais ao fundo ainda me pareceu ser a Chapada das Perdizes e um trecho da Serra de Carrancas (quando voltei a SP olhei nas cartas topográficas e no Google Earth para confirmar e eu estava certo) - quem sabe uma futura travessia. Se pudéssemos ficaríamos ali só admirando a vista, mas era preciso seguir nossa caminhada.
Vista do mirante |
Placas sinalizando água nessa direção podem ser vistas em alguns trechos e depois de passar ao lado de uma cerca de arame do lado direito e caminhar uns 100 metros, era preciso abandonar a trilha principal e seguir para esquerda.
Descendo a encosta norte |
Finalizado o trecho complicado, já estávamos bem abaixo da crista e íamos seguindo por trilha demarcada sem ganhar muita altitude. Do lado direito surge uma mata ciliar próxima e numa emergência é um local onde pode ser encontrada água, mas só recomendo o consumo dela se tratar com Hidrosteril.
Trilha retornando para crista |
Travessia restante pela crista |
A vista é desimpedida para o sul e oeste, podendo ser visualizado todo o restante do trecho pela serra com SJDR ao fundo e o Distrito de Bichinhos ao sul.
Camping junto ao mirante |
Grande área descampada |
Cada vez mais íamos para dentro da serra, se afastando da encosta, contornando grandes formações rochosas e muita vegetação de arbustos.
Trilha beirando o paredão |
Não muito longe da borda do paredão, a trilha segue em declive por um pequeno trecho de desescalaminhada por lindos mirantes, onde é possível visualizar um grande descampado e a bifurcação com a Trilha do Carteiro lá embaixo. Dá até vontade de aumentar o ritmo da caminhada só para finalizar a caminhada do dia, mas por ser um trecho íngreme, eu não recomendaria.
Bifurcação com a Trilha do Carteiro |
A altitude é de 1136 metros e o lugar é plano, permitindo acampamento para inúmeras barracas. Para a esquerda é o caminho que desce a serra na direção de Tiradentes. Para a direita é a continuação da Trilha do Carteiro que leva até a Cachoeira do Gamelão e seus inúmeros poços ao longo das quedas. E seguindo em frente pela crista da serra é o nosso caminho para o dia seguinte.
Ficamos por alguns minutos descansando junto da bifurcação e analisando o melhor lugar para montar a barraca e nisso um grupo de uma agencia de Tiradentes com cerca de 5 pessoas vem subindo pela trilha e segue para a Cachoeira do Gamelão.
Nos 2 tracklogs que estávamos usando, eles assinalavam que descendo pela Trilha do Carteiro rumo norte, em poucos minutos chegaríamos a uma pequena área plana, perfeita para camping e foi o que fizemos.
Camping descendo a Trilha do Carteiro |
Montamos nossa barraca ali e por uma trilha à oeste segui por uns 150 metros até um poço de água parada, escondido pela vegetação. Era até razoavelmente grande com dimensões de uns 5 x 2 metros.
A água era fria demais, mas depois de uma longa caminhada e suor escorrendo no rosto, serviu perfeitamente para um banho bem relaxante.
Poço próximo do camping |
Linguiça defumada, atum enlatado e sopão de galinha foi o nosso cardápio preparado sob as estrelas.
Céu totalmente aberto mostrando a Via Láctea, como se fosse uma faixa de leste a oeste com suas constelações e as únicas que consigo reconhecer são as 3 Marias e o Cruzeiro do Sul, mas milhares podem ser vistas. Deu até para vermos algumas estrelas cadentes. Noite maravilhosa.
Depois do jantar, usei a água restante para colocar dentro das panelas sujas, pois queria evitar que algum animal viesse nos visitar no meio da noite para procurar comida.
Nem lembro que horas fomos dormir, mas a temperatura estava agradável, sem ventos.
Por volta das 09:00hr do dia seguinte já estávamos de pé e desmontando a barraca. Depois de organizar as mochilas resolvemos escondê-las na vegetação e descer pela trilha somente com algumas garrafinhas para encher de água.
Seguindo por leve declive pelo calçamento de pedras, passamos ao lado de um cruzeiro, onde supostamente está o Túmulo do Carteiro.
Túmulo do Carteiro |
Mais alguns metros de descida e chegamos numa bifurcação onde as setas apontam para a parte alta da cachoeira e a parte baixa. Na parte alta da Cachoeira do Gamelão estão as pequenas piscinas naturais que se formam nas quedas do riacho.
Cachoeira do Gamelão |
Próximo dessas quedas existe um pequeno descampado que pode ser uma boa opção de camping.
Voltando à bifurcação, agora fomos conhecer a parte baixa da cachoeira. A trilha segue contornando um pequeno morro pela direita, passando ao lado de pequeno riacho, que é perfeito para reabastecimento de água. Cercado por mata ciliar, o riacho parece que fornece agua o ano todo e de ótima qualidade.
Piscina na parte baixa |
São 10h45min e com as horas passando era preciso retornar e continuar a caminhada.
Fui subindo pela trilha até chegar ao local do nosso acampamento, onde pegamos as mochilas e pouco depois das 11:00hr retomamos nossa caminhada até a bifurcação acima e dali seguimos para a direita, na direção da crista da serra.
Curiosa formação rochosa |
Vão surgindo inúmeros mirantes junto da borda com vista para Tiradentes e algumas faixas de areia ao longo da trilha. Junto de um dos trechos de areia, encontramos uma trilha à direita que vem direto da Cachoeira do Gamelão. É uma espécie de atalho para quem não quiser subir pela Trilha do Carteiro.
Árvore junto de um mirante |
Desse mirante da serra era fácil identificar a principal Igreja da cidade: a Igreja Matriz de Santo Antônio, que se localiza na parte mais alta da cidade histórica.
Crista à leste |
Seguindo pela crista à oeste |
É um trecho pequeno em declive acentuado até interceptar a trilha principal mais abaixo, que de agora em diante segue perdendo altitude, sempre pela encosta da serra.
Surgem trechos de erosão e outro muro de pedras é cruzado. A vegetação de cerrado ainda se mantem e conforme descíamos pela trilha, cada vez mais nos aproximávamos do fundo do vale.
Final da Serra de São José |
Protegido pela mata ciliar, ao longo do rio surgem de vez em quando bifurcações que levam a pequenos poços e numa delas chega a Cachoeira do Mangue. Num desses acessos ao rio, fomos conhecer o Poço do Mangue e lá ficamos aproveitando aquele final de tarde de Sol por mais de 1h30min. Só não tive coragem de entrar na água, que estava muito fria.
Poção do Mangue |
Com quase 10 minutos desde a bifurcação, surge outra e aqui seguimos para direita para finalizar em uma antiga represa alguns metros à frente. É uma grande área gramada e plana. Era perfeita para montar a barraca.
Camping junto de antiga represa |
Para o jantar usamos os nossos últimos suprimentos, deixando a mochila bem mais leve. Difícil foi tomar banho na pequena represa de água gelada, já que ela é formada pelo mesmo rio que vínhamos seguindo.
A noite foi tranquila e por volta das 08:00hr do dia seguinte já estávamos desmontando a barraca. Só uma coisa nos chamou a atenção: o céu totalmente nublado, bem diferente do dia anterior. Parecia que a chuva estava chegando.
Depois de um breve café da manhã, retomamos a caminhada pouco antes das 09:00hr, passando por cima da barragem de pedras e concreto e seguindo agora pelo lado direito do rio.
Uns 5 minutos depois e chegamos a outro pequeno descampado, ao lado de uma piscina natural, tendo a vantagem de ser um local protegido dos ventos para quem quiser montar a barraca aqui.
Cruzando o rio |
Continuando a descida chegamos na Cachoeira do Índio, que é bem alta e com várias quedas formando um pequena piscina na base dela, que é bem rasinha.
Cachoeira do Índio |
Cachoeira Bom Despacho |
Definitivamente não era uma cachoeira maravilhosa (as outras mais acima eram até mais bonitas). Talvez com uma vazão maior de água, melhore um pouco.
Próximo dali tem o totem da Estrada Real, onde finalizei o tracklog.
Na Rodovia, junto da entrada para a cachoeira tem um ponto de ônibus e agora era pegar o circular de volta para São João del-Rei ou para Tiradentes.
Como embarcaríamos somente durante a noite de volta para SP, tínhamos quase o dia todo para conhecer a parte histórica dessas 2 cidades e foi o que fizemos para fechar com chave de ouro essa maravilhosa travessia.
Dicas e informações úteis
# Atente para previsão do tempo, pois sendo uma caminhada na crista da serra, ela pode se tornar muito perigosa em caso de chuvas e raios.
# Recomendável o uso de boné ou chapéu de abas, já que áreas de sombra são raras.
# Protetor solar é item obrigatório.
# A maior parte dessa caminhada é plana. Com alguns pequenos trechos de subida ou descida.
# São pouquíssimas as fontes de água na serra e só encontramos água de boa qualidade em 2 pontos dessa travessia: Descendo ao norte pela trilha do carteiro, em um riacho que fica ao lado da trilha que liga a parte alta à parte baixa da Cachoeira do Gamelão e no trecho final, no Córrego do Mangue. Até existem em outros pontos que citei no relato, mas nesses casos só use a água depois de tratar com Hidrosteril.
# Em vários mirantes, é possível montar acampamento, porém a maioria não possui fonte de água próxima e são desprotegidos.
# Recomendo que inicie a travessia em Prados com uns 2 litros de água e ao chegar na bifurcação com a Trilha do Carteiro, é possível conseguir água próxima dali.
# Existem inúmeras opções de caminhadas na serra:
- Saindo de Tiradentes e subindo pela Trilha do Carteiro até a Cachoeira do Gamelão e de lá seguir pela crista até o extremo oeste da serra, finalizando nas Cachoeiras do Mangue e Bom Despacho. Esse roteiro é o preferido dos guias de agencias de Tiradentes. Fácil demais e muito curto, recomendável para sedentários.
- Para 2 ou 3 dias é a travessia completa, iniciando em Prados.
- É até possível completar essa travessia em apenas 1 dia, mas se aproveita muito pouco das cachoeiras, poções e mirantes.
# Sem dúvida nenhuma o melhor roteiro para fazer a travessia completa é de nordeste-sudoeste, iniciando por Prados, já que a caminhada pela crista nesse sentido é quase sempre em declive suave, permitindo lindos visuais. Além de outros vários motivos.
# Essa travessia também é conhecida como Prados x Tiradentes, porém finalizando na Cachoeira Bom Despacho, a cidade dessa cachoeira é Santa Cruz de Minas.
# Em toda a travessia da serra é possível conseguir sinal de telefonia celular.
# Um pequeno adendo sobre a história da Trilha do Carteiro:
- Foi construída pelos negros escravizados no período da exploração do ouro, no século XVIII e usado para escoar nossa riqueza (alguns trechos dessa trilha recebem o nome de Calçada dos Escravos).
São pedras dispostas uma ao lado da outra e se assemelham a outras tantas Trilhas do Ouro que descem a Serra do Mar em direção a Paraty.
Recebeu esse nome em homenagem a um carteiro que foi assassinado pelos portugueses na época da Inconfidência Mineira, cuja lenda dizia que ele entregava mensagens entre os revoltosos e seu corpo foi deixado junto da trilha.
# Vale muito a pena passear pelo centro histórico das cidades de Tiradentes e São João del-Rei, que possuem arquitetura barroca preservada.
# Se puder, vale a pena fazer o passeio de Trem Maria Fumaça que liga Tiradentes a SJDR ou vice versa. Até tentamos ir, mas no dia que estávamos lá, o passeio não era realizado, sendo feito só em alguns dias da semana.
www.vli-logistica.com.br/sustentabilidade/trem-turistico
# Na Rodoviária de São João del-Rei existe um guarda volumes bem barato para o dia todo. É a melhor opção para deixar a mochila e depois passear pelo centro histórico da cidade.
# Já na Rodoviária de Tiradentes esse serviço de guarda volumes não existe. Tive que deixar na Pousada Tiradentes, que fica ao lado e me cobraram $15 por algumas horas.
# Variedade de restaurantes em Tiradentes e SJDR é grande. Almoçamos no Delicias de Tiradentes, em frente à Rodoviária. Comida excelente e barata.
http://deliciasrestaurante.com.br
#Logistica (Valores de Julho/2019)
- Ônibus São Paulo-São João del Rei – Valor: em torno de $120.
www.util.com.br
- Ônibus São João del Rei-Prados – Valor: em torno de $10 - Viação São Vicente.
www.pradosmg.com.br/horarios-onibus
Segunda a Sexta: 07:30 – 10:45 – 12:30 – 15:15 – 17:45
Sábados: 07:30 – 12:30 – 17:25
Domingos e feriados: 10:00 – 17:25
- Ônibus Tiradentes-São João del Rei. Valor: em torno de $4.
São 2 empresas que operam essa linha: Viação Porto Real (via Cachoeira Bom Despacho) e Viação Presidente (via Rodovia BR 265).
- Taxi de São João del Rei-Prados: em torno de $100.
# Para quem for usar um app de GPS no celular com o tracklog não se esqueça de levar um Power Bank. Em baixas temperaturas a bateria do celular descarrega mais rápido.
# Para navegação e gravação do tracklog uso e recomendo 3 app para o GPS do telefone celular. Todos na Play Store.
- A-GPS Tracker ou o GPX Viewer para navegar nos tracklogs.
- E o Wikiloc para gravar o tracklog do percurso.
José, parabéns por mais uma trilha te acompanho no wikiloc a anos, dia 16 17 18 iremos {Eu, minha mulher, e 2 amigos} realizar a trilha do Mambucaba (trilha do ouro). Tá afim, tem 1 vaga no carro.
ResponderExcluirE aí, blz
ResponderExcluirObrigado pelos parabéns. Lugar belíssimo. Ainda pretendo retornar para essa região. Muitas opções.
A paisagem da Trilha do Ouro é maravilhosa. Suas 3 cachoeiras já valem a visita.
Pena que boa parte dessa travessia é por estradas de terra, mas vale muito a pena.
E se puderem algum dia, façam a travessia pelo Rio Guaripu. É uma travessia que corta o parque de oeste a leste. Coloquei o relato aqui no blog.
Só vou ter férias em Novembro, na primeira quinzena.
Então agora em Outubro não dá para fazer nenhuma caminhada.
Tô pensando em alguma travessia para Novembro. Se estiver querendo se juntar, deixe seu e-mail aqui e depois passo mais detalhes.
E agradeço ao convite. Obrigado mesmo.
Boa sorte na Bocaina e espero que não peguem chuva por lá. É muito comum a partir de Outubro.
Abcs
A very good and informative article indeed . It helps me a lot to enhance my knowledge, I really like the way the writer presented his views. I hope to see more informative and useful articles in future.sport face mask face shield mask running neck gaiter umbrella bougerv
ResponderExcluirThank you man.
ExcluirBut please, no products advertising and sales ok.