29 de novembro de 2023

Relato: Travessia dos Lençóis Maranhenses em 6 dias sem guia e sozinho

Finalmente as minhas férias de Outubro estavam chegando e exatamente 1 ano depois de concluir a travessia da Chapada Diamantina, lá estava eu me preparando para outra clássica travessia da minha lista. Com alguns meses de antecedência fui pesquisar a logística para uma que é obrigatória para qualquer pessoa que curte caminhada/trekking: Lençóis Maranhenses.
Essa fazia parte da minha lista há muitos anos, mas da maneira que eu planejava fazer, teria que dispor de uns 10 a 15 dias, já que minha intenção era fazer sem acompanhamento de guias de agencias e também emendar com outros passeios.
O planejamento era essencial e lá fui eu ler relatos e estudar alguns tracks dessa caminhada. Por conseguir férias somente em Outubro, eu iria pegar quase o final da temporada das lagoas, já que algumas estariam com pouca água ou literalmente secas e com certeza pouca gente ou quase ninguém fazendo a travessia.
Pensei comigo, seriam dunas e mais dunas sem uma vivalma e algumas lagoas privativas só para mim e me hospedando em lugares sem ninguém para compartilhar a experiência. E posso dizer que isso aconteceu mesmo (encontrei somente 1 garota com seu guia num dos oásis e depois nos separamos e nada mais).
Minha intenção era cruzar inteiramente os Lençóis Maranhenses a pé do extremo leste (Vila de Atins) pelas dunas, pernoitando nos oásis até chegar a Santo Amaro do Maranhão numa caminhada, pelas minhas contas, de aproximadamente 70 Km e só encontrando vegetação nesses oásis.
Nos vários relatos que li, todos comentam que o ideal é sempre iniciar a caminhada antes do nascer do Sol com o intuito de evitar o Sol forte depois das 11:00hrs, já que não existem áreas de sombra nos trechos. No sobe e desce das dunas foram diversas paradas em lagoas, algumas com pouca água, outras com água na altura do peito.
Considerado o maior campo de dunas da América do Sul, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é o único deserto do mundo com milhares de lagoas (em torno de 30.000 na época das chuvas). São de vários tamanhos, formas e cores com algumas se mantendo durante o ano todo e outras secas em determinadas épocas do ano. 
De acordo com o ICMBio, são 1500 Km² de área, com as dunas se deslocando diariamente, sendo que na entrada e saída dos oásis é possível constatar esse fenômeno, já que várias árvores, principalmente cajueiros, estão sendo engolidos pelas dunas.
O Parque está localizado a cerca de 250 Km de São Luís e a porta de entrada para a maioria dos passeios e também para a travessia é a cidade de Barreirinhas, que foi a cidade onde iniciei o meu roteiro para chegar em Atins, que é o início do Parque. 
Em Barreirinhas adquiri um passeio de voadeira pelo Rio Preguiças, passando por alguns pontos turísticos até chegar na Vila de Atins, que é o lugar onde comecei de fato a minha caminhada.
Normalmente a travessia costuma ser feita entre 3 a 6 dias, dependendo se fizer com agencias ou em solo sem guia e obrigatoriamente terá de passar por 2 oásis: Baixa Grande e Queimada dos Britos, variando de 40 Km até uns 70 Km de caminhada ou mais se quiser incluir outras lagoas fora do trajeto.
E finalizando essa introdução, é extremamente importante que use algum aplicativo de GPS no celular para quem pretende fazer essa travessia sem apoio de algum guia. Sem esses arquivos o risco de se perder é altíssimo, pois ao longo da caminhada não se tem referencia alguma. São dunas e mais dunas a perder de vista para todas as direções que se olha. No site wikiloc é possível encontrar inúmeros arquivos de GPS para orientar a caminhada, podendo visualizar a trilha a ser seguida em apps de celular. 
Nessa postagem vou relatar como foi toda essa minha travessia de pouco mais de 80 Km em 6 dias, desde Barreirinhas até Santo Amaro, acrescentando também 5 tópicos interessantes, assim como dicas do que encontrar ao longo da caminhada, gastos que tive, dificuldades e todas as informações para ajudar no planejamento dessa caminhada.


Nas fotos acima: algumas dunas e lagoas na travessia dos Lençóis

Fotos: 
Passeio pelo Rio Preguiças: clique aqui
Travessia dos Lençois Maranhenses: clique aqui
Santo Amaro do Maranhão: clique aqui             
São Luis: clique aqui

Vídeo de toda essa caminhada: clique aqui

Tracklog para GPS: clique aqui



1- Melhor época para a Travessia dos Lençóis Maranhenses?
Apesar do calor estar presente o ano todo, tradicionalmente resulta em apenas 2 estações: chuvosa (Fevereiro a Maio) e seca (Junho a Janeiro). Com isso a melhor época é o final das chuvas, de Maio a Setembro, quando as lagoas que se formam entre as dunas estão cheias. Alguns dizem que são os 2 meses do meio do ano (Junho e Julho), mas surge um pequeno problema: a lotação dos redários nos oásis, tendo até dificuldades para encontrar vagas em muitos deles – é o que me foi passado por alguns proprietários. Pode acontecer também de ter um pequeno aumento do tempo e da distancia na alta temporada, pois com todas as lagoas cheias, não é possível cruzá-las com a mochila, então só contornando.
Já um problema fora da alta temporada são as lagoas secas ou com pouca água em alguns trechos, principalmente entre Canto dos Atins e Baixa Grande.
Lagoa do Cajueiro cheia
A vantagem dessas lagoas cheias é o cenário das aguas em tons azuis e verdes, o que torna os Lençóis um espetáculo único de beleza.
Eu fui nos primeiros dias de Outubro e encontrei muitas lagoas secas ou com pouca água, principalmente no trecho Canto dos Atins-Baixa Grande e com os redários vazios. 
Quanto ao uso das águas das lagoas para beber, não tive opção, já que a agua das minhas garrafas Pet tinham acabado. O que eu fiz foi colocar uma pastilha de Clorin dentro de uma garrafa de 1,5litros. Esperei por alguns minutos, matei minha sede e saí de lá inteiro.
2 – Travessia solo, em grupo, privativa com ou sem guia?
A escolha de um guia de agencia ou não para fazer a travessia completa dos Lençóis é muito pessoal. Depende de uma serie de fatores: preços, época do ano, experiência, se está sozinho ou não. 
Fazer a travessia com guias de agencias em grupo ou privativo tem suas vantagens e desvantagens, assim como fazer sem o acompanhamento dos guias.
Na minha pesquisa de agencias e guias encontrei preços de R$1500 até R$2500 ou mais, que incluem transporte e pernoite, mas sem as refeições. Claro que vai depender da agencia (se privativo ou em grupo), do guia, o que tá incluso e onde se inicia a caminhada, por São Luís ou Barreirinhas.
São valores altos e a diferença para quem está fazendo sem o acompanhamento de guia ficou grande, então para mim valeu muito mais a pena ir sem guia.
Só ressaltando que a contratação de um guia não é obrigatória. O Parque Nacional só oferece uma lista de guias no site, mas não exige a obrigatoriedade da contratação.
Árvores engolidas pelas dunas
Contratar um guia é bem mais conveniente, já que você entra em contato com a agencia ou guia e toda logística, refeições e hospedagem é responsabilidade do guia, só levando uma pequena mochila de ataque. Mas lembre-se que muitos guias já têm um roteiro pré-definido, sendo complicado para alterar.
Claro que uma caminhada como essa sem acompanhamento de guias exige certa experiência e um bom preparo, tanto físico quanto psicológico e caminhar num desertão com trechos de quase 30 Km, onde são apenas dunas e lagoas não é para qualquer um. E ainda mais sozinho, que foi o meu caso.
Na época de alta temporada, se alguém planeja fazer sem acompanhamento de guias, é recomendado que se reserve a hospedagem antecipadamente, já que existe o risco de não se encontrar vaga no redário escolhido ou até pior, não ter mais refeição. Foi o que eu li em um dos relatos; só não lembro qual. 
No topo das dunas
Para quem faz sozinho ou em grupo sem o guia, é fundamental levar um arquivo de GPS para ser aberto em apps de celular ou o proprio aparelho GPS. São muitos e o mais conhecido é o wikiloc. No celular é só fazer o download do tracklog no site e abrir no aplicativo de GPS do celular, não necessitando que o aparelho esteja online. Pode até abrir o arquivo no celular em modo avião para ir economizando bateria, mas como a navegação é no celular, é imprescindível que ele tenha uma bateria que dure o dia todo e para não correr riscos, é bom também levar também um power bank, para eventuais recargas antes de chegar nos redários.

3- Redários – locais de hospedagem
Para quem não conhece o que é um redário, é um espaço onde são disponibilizadas as redes para dormir ou apenas para descansar depois de uma caminhada entre um trecho e outro. Nos dois principais oásis (Baixa Grande e Queimada dos Britos) residem cerca de 30 famílias e todas fornecem hospedagem em redários, então dificilmente terá problemas em encontrar vagas, claro que fora da alta temporada, como já mencionei no item acima. Ao longo dessa travessia fiquei hospedado somente 1 noite numa Pousada na Vila de Atins. Depois foram:
- Redário do Seu Antônio em Canto dos Atins
- Redário Dona Odete e Seu Moacir em Baixa Grande
- Redário da Maria de Jesus de Biziquinho em Queimada dos Britos
- Redário Dona Lindalva (Restaurante Novo Horizonte) em Betânia
Redário do Seu Antônio
Só o valor da hospedagem era em torno de R$70 e a estrutura desses locais não dá para reclamar. Todos eles dispõem de banheiros com duchas de água fria e um redário coletivo, que nada mais é que um barracão coberto de palhas. Alguns possuem paredes laterais com piso de concreto e outros são totalmente abertos e com piso de areia, sendo fornecido um lençol para se cobrir durante a noite.
A alimentação fornecida nesses redários é simples, sem muitas opções. Geralmente os cafés da manhã incluem tapiocas, bolos, ovo mexido, café, leite em pó, biscoitos e algumas frutas. Almoço ou jantares incluem arroz, feijão, macarrão, salada e algum tipo de carne (frango, galinha caipira, peixe, ovo ou até omelete).
Redário em Baixa Grande
Apenas Canto dos Atins e Betânia, que são lugares mais turísticos, possuem mais de um restaurante oferecendo uma maior variedade de pratos, então não deixe de experimentar o famoso camarão grelhado na brasa do Canto dos Atins ou a caldeirada em Betânia.
Canto dos Atins e em todos os outros oásis são vendidos também algumas bebidas como agua, sucos, refrigerantes e cervejas. Em Baixa Grande eu paguei R$10 na garrafa PET de 1,5litro, enquanto que no Redário de Betânia o valor era R$5. Cerveja em torno de R$15.
Redário em Queimada dos Britos
Em todos os redários eu chegava em torno das 13:00 a 14:00hrs, então não almocei em nenhum dia nesses lugares.
Durante a noite, mesmo dentro dos redários, não senti frio em momento algum. Faz muito calor, mas o vento é constante, então não vi a necessidade de blusas ou jaquetas.
Quanto a energia elétrica, não precisa se preocupar de como recarregar o celular, pois todos eles possuem geradores/placas solares que ficam ligados em vários horários do dia.
Redário em Betânia
Já para o acesso à internet não é tão fácil conseguir, já que alguns só fornecem o wi-fi para pagamento no PIX. E mesmo assim não é bom contar com pagamento dessa forma. É comum a internet estar fora do ar nos redários. Para o pagamento é preferível levar dinheiro e se possível, trocado.

4- Por onde iniciar a caminhada?
Leste-oeste com toda certeza. A caminhada nessa direção é devido aos ventos constantes que sopram no mesmo sentido, já que é bem mais tranquilo tendo a areia e os ventos batendo nas suas costas e não no rosto. E sem contar o fato que as dunas possuem uma inclinação bem mais suave seguindo nessa direção e extremamente cansativo ir subindo por elas se alguém quisesse fazer a travessia no sentido inverso, de oeste-leste.
Descendo a duna
Nas descidas mais inclinadas para chegar às margens das lagoas, existe até um método para não descer rolando. É descer como se estivesse deslizando e por ter uma inclinação grande e às vezes com cerca de 50 metros de altura, a areia é muito fofa e se afunda os pés até os joelhos. Só um pequeno problema que surge: a areia muito quente.
Pequenos Lençois no passeio pelo Rio Preguiças
Os Lençóis se iniciam em Atins e a melhor logística é embarcar em voadeiras de Barreirinhas no período da manhã. Os passeios pelo Rio Preguiças saem por volta das 8h30min da manhã e finalizam na Praia de Caburé, próximo da foz do rio. Chegando lá é só combinar com o barqueiro para te deixar no Porto de Atins e dali têm 3 opções: ficar em alguma pousada da Vila ou seguir direto para Canto dos Atins ou até mais, se tiver disposição e com pouco tempo disponível: seguir direto para Baixa Grande - o que eu não recomendo de jeito nenhum.
Por não ter dormido no voo da madrugada São Paulo-São Luís, estava bem cansado, por isso fiquei hospedado numa Pousada na Vila de Atins para somente no dia seguinte iniciar a caminhada pelos Lençóis com o roteiro e distancia abaixo:
- Vila de Atins – Canto dos Atins: 6 Km
- Canto dos Atins - Baixa Grande: 28 Km
- Baixa Grande - Queimada dos Britos: 10 Km
- Queimada dos Britos - Betânia: 18 Km
- Betânia - Santo Amaro do Maranhão: 9 Km
O percurso que eu fiz totalizou cerca de 80 Km, sendo que em Canto dos Atins fiz um roteiro por algumas lagoas próximas antes de iniciar a travessia do Parque. 

5- Valores Gastos:
Passagem aérea São Paulo-São Luís ida/volta em voos de madrugada - R$1100.

Dia 1: São Luís x Barreirinhas x Vila de Atins: 
- Transfer Aeroporto São Luís-Barreirinhas: Empresa Aventour (98) 98871-0708, com transporte em van realizado pela empresa Expresso Guilherme (98) 98496-2975 - R$95.
- Voadeira Barreirinhas x Atins (com passeio no Rio Preguiças): Macaquinho Turismo (98) 98824-3320 - R$80.
- Pousada Estresse Zero em Atins: hospedagem + jantar + café da manhã - R$233.

Dia 2: Vila de Atins x Canto dos Atins: 
Redário/Restaurante do Seu Antônio (98) 99150-1016: pernoite + jantar + café da manhã - R$120.

Dia 3: Canto dos Atins x Baixa Grande: 
Redário da Dona Odete e Seu Moacir (98) 99144-7770/99985-2308: 
pernoite + jantar + café da manhã + garrafa pet agua - R$150 

Dia 4: Baixa Grande x Queimada dos Britos: 
Redário Maria Jesus de Biziquinho (98) 99609-2199: pernoite + jantar + café da manhã - R$140.

Dia 5: Queimada dos Britos x Betânia: 
Redário/Restaurante Novo Horizonte (98) 98739-3731: pernoite + jantar + café da manhã + garrafa pet água - R$125

Dia 6: Betânia x Santo Amaro: 
Pousada Reflexo das Águas com café da manhã - R$150.
Restaurante + outros gastos - R$100.

Dia 7: Santo Amaro x São Luís
Transfer Santo Amaro - São Luís: Mirotur (98) 98717-5357 - R$90.
Pousada Portas da Amazônia (centro histórico) com café da manhã - R$180.
Restaurante no centro histórico + outros gastos - R$160.

Dia 8: Ônibus circular até Aeroporto de São Luís - R$4,20.

Gasto total da viagem: em torno de R$2700
                                             

  Relato


Dias 1 e 2: São Luís - Barreirinhas - Atins - Canto dos Atins
Depois de trocar várias mensagens pelo Whatsapp com empresas de transfer, passeios e algumas pousadas e deixar acertado logística e a hospedagem na Vila de Atins, era hora de arrumar a mochila. Dessa vez não iria levar a cargueira, já que a barraca e o saco de dormir iriam ficar de fora. Então escolhi outra mochila que eu tinha de 40 litros e deu para caber tudo que pretendia levar.
Saindo de Guarulhos em voo direto pela Gol, fui chegar em São Luís por volta das 03:00hrs da madrugada e na saída do aeroporto encontrei algumas vans estacionadas que fazem o trecho até Barreirinhas e lá fui eu procurar a minha, mas nenhuma delas era da Aventour . 
O transfer, que eu já tinha pago 50%, iria me pegar as 04:00hrs, então eu é que estava um pouco adiantado. 
Fico aguardando do lado de fora do aeroporto e pouco depois das 04:00hrs a van chegou. Não era a da Aventour e tinha o logotipo da Expresso Guilherme, mas era essa mesmo. Com um total de 7 passageiros, seguimos para Barreirinhas e ao longo do caminho cochilei algumas vezes, parando para tomar um café da manhã numa pequena lanchonete na Rodovia.
Pier de Barreirinhas
Depois disso só lembro de ter acordado já no píer de Barreirinhas, quando a van parou para somente eu desembarcar pouco antes das 07:00hrs.  
De frente para os barcos que saem para os passeios pelo Rio Preguiças, fiquei aguardando em frente a uma sorveteria. O transfer na voadeira que eu tinha comprado seguiria direto para Vila de Atins, mas o horário era muito ingrato: meio dia. Como tinha pago 50% do valor (R$40) pensei bem e achei que valia a pena perder esses 40 Reais e adquirir o passeio pelo Rio Preguiças que iria sair as 08h30min com a empresa Macaquinho Turismo. 
Descendo o Rio Preguiças de voadeira
Com preço de R$80 o passeio é em voadeira e inclui 3 paradas: uma em Vassouras (que possue área de mangues, 
dunas dos Pequenos Lençóis, grande presença de macacos prego e um restaurante rustico), Mandacaru (pequena vila de pescadores com lojas de artesanatos e um grande Farol) e por último a Praia de Caburé (onde estão localizados vários restaurantes com o rio ao lado e a praia ao fundo). Só fiquem muito atentos nos tempos das paradas, já que numa delas quase eu fico para trás - erro meu por não ter retornado ao barco no tempo estipulado.
Além de mim tinha um outro casal com um guia no barco que também iriam fazer a travessia dos Lençóis, indo direto para Canto dos Atins naquele dia. Já a minha intenção era ficar na Vila de Atins.  
No topo do Farol com praia ao fundo
Finalizado o passeio por esses 3 lugares por volta das 14:00hrs, a voadeira nos deixou no Porto da Vila, que se resume a um banco de areia com uma pequena tenda onde alguns transfers de 4x4 ficam aguardando turistas. Depois de me despedir do casal, liguei o aplicativo de GPS para gravar a travessia e fui seguindo pelas ruas de areia fofa e quente da Vila até chegar na Pousada Estresse Zero. O lugar lembra um pouco aqueles pequenos vilarejos rústicos no litoral baiano. A proprietária já me aguardava e depois de instalado numa suíte com ar condicionado, fui dormir um pouco para recuperar o sono.
Vila de Atins
Durante a noite dei uma volta por algumas ruas da Vila, que sinceramente não curti muito, já que achei bem sem graça o lugar. Em seguida jantei na própria Pousada indo dormir cedo, pois minha intenção era acordar por volta das 06:00hrs. 
Depois de um breve café da manhã e mochila arrumada, saí da pousada por volta das 06h30min em direção ao Canto dos Atins, a cerca de 6 Km. 
Todas as ruas são de areia e para piorar, é uma areia fofa e que se torna quente ao longo da tarde, então para caminhar por elas é complicado - ideal é sempre descalço e foi assim que iniciei a caminhada.
No percurso pelas ruas da Vila vejo algumas vans pegando crianças que provavelmente estavam indo para escola. 
Naquele horário o Sol já começava a dar as caras e a temperatura ainda era amena, mas é um trecho cansativo caminhar pelas ruas da Vila, já que a areia é muito fofa. A direção é sempre rumo oeste, mas como são várias bifurcações, é bom ter um arquivo de GPS para ir seguindo. Cruzei com algumas pequenas lagoas no meio da estrada, mas nada muito difícil. Assim que as últimas casas da Vila iam ficando para trás, as primeiras dunas dos Lençóis vão surgindo logo à frente. Aqui a estrada segue contornando elas pela direita, mas eu não resisto e fui correndo subir as primeiras dunas. É um misto de alegria e emoções que não conseguia explicar. Só quem fez pela primeira vez pode descrever isso. 
Início das dunas do Parque
O vento aqui é constante e as dunas são bem altas. E assim fui subindo e descendo por elas até próximo aos restaurantes/redários do Canto dos Atins.
Com quase 2 horas de caminhada chego no Restaurante do Seu Antônio. 
O lugar ocupa uma área bem grande com restaurante ocupando a maior parte, banheiros e quartos privativos. O redário é um galpão aberto coberto de palha e piso de concreto, ao lado do restaurante, que é muito famoso pelo camarão grelhado na brasa. Tem wi-fi e marquei de jantar para o início da noite e claro com o conhecido camarão.
Restaurante/redário do Seu Antonio
Depois de descansar um pouquinho na rede, deixei a mochila no restaurante e fui atrás das Lagoas das 7 Mulheres e da Capivara, localizadas próximas dali. O clima ajudava porque não estava aquele Sol tão quente como no dia anterior.
Seguindo na direção das dunas, o trecho é bem tranquilo com cabras e cabritos soltos naquela vegetação rala sem serem incomodados, mas lagoa que é bom, não encontrei nenhuma das 2. Na verdade só achei umas 3 com água até altura das canelas e muitas outras totalmente secas. 
Voltei para o redário e agora fui na direção da praia, como se estivesse seguindo a trilha para Baixa Grande. Explorei também um pequeno trecho de braço do Rio Preguiças, onde encontrei algumas cabanas de pescadores. 
Retornei para o redário no final da tarde e acertei com Seu Antonio o valor do jantar e o pernoite, que ficou em cerca de R$120 (pagamento no cartão, pix ou dinheiro). Só o café da manhã que era bem básico mesmo e por sair do redário por volta das 04:00hrs da madrugada em direção a Baixa Grande, iam deixar ele já preparado. 
Famoso camarão grelhado
Depois de um merecido jantar, entendi porque o camarão grelhado é muito famoso nos restaurantes da região (todos os restaurantes próximos oferecem esse prato). É maravilhoso mesmo. Só o atendimento dos funcionários que não achei legal. Precisam aprender um pouco mais de como atender bem o turista.
Banho tomado, agora era dormir na rede e por ser minha primeira experiência, achei que teria problemas para pegar no sono. Estava bastante calor, mas o vento era constante. Com as luzes apagadas, era só eu no redário e nem lembro a hora que peguei no sono. Tinha colocado o alarme do celular para as 03h30min, mas antes disso acordei naturalmente renovado e sem dores no corpo para o trecho mais longo dessa travessia: 28 Km. 

Dia 3: Canto dos Atins à Baixa Grande
O café da manhã básico já me aguardava em cima de uma das mesas deixada por Seu Antônio e acrescentei também algumas frutas secas que tinha trazido. Mochila arrumada, agora é pé na trilha. Ou melhor, pé nas dunas já que seriam horas e horas caminhando na areia. O motivo de acordar tão cedo é devido ao Sol forte depois das 11:00hrs, já que o cansaço e o desgaste físico são maiores depois desse horário. Têm pessoas que até preferem caminhar mais cedo ainda, mas perdem a beleza das dunas. 
Amanhecendo
Nesse dia sem dúvida nenhuma, seria o trecho mais incrível de toda a caminhada e por vários motivos. 
É aqui que vou mergulhar de verdade naquela imensidão de dunas à perder de vista, afinal são quase 30 Km de caminhada nesse trecho e sozinho. 
Para qualquer direção que se olhava era só deserto. É uma sensação de alegria e deslumbramento misturado com apreensão e um pouco de medo, já que estaria seguindo o tracklog pelo GPS do celular. E se desse alguma coisa errada no celular? Que caminho seguir? É tanta lagoa a ser desviada que você perde até a direção que tá seguindo. Um pouco sinistro né, mas eu vim para cá com essa intenção, então vamos caminhar. 
Na verdade nos Lençóis não existe um caminho ou trilha que deve ser seguido, já que as dunas se movimentam constantemente. 
Outra opção nesse primeiro trecho é uma caminhada quase que inteiramente pela praia, devendo seguir por ela até encontrar o Rio Negro desaguando na praia com pequena cachoeira chamada de Bonzinho. No local existem algumas cabanas de pescadores e dali é só ir subindo o rio, adentrando os Lençóis para chegar em Baixa Grande. Mas qual a graça disso? Cortar uma parte dos Lençóis só para seguir pela praia? Caminhar assim eu prefiro o litoral da Bahia, pelo menos lá tem os grandes coqueiros com sombra e água de coco. 
Com um pouco de demora fui sair do redário do Seu Antônio pouco antes das 04:00hrs ainda na completa escuridão e aqui tive que ligar a lanterna. O track que eu seguia ia me levando na direção da praia. É um trecho tranquilo, plano, sem dunas e com muitos rastros de veículos, mas o que chamava a atenção era o Farol de Mandacaru com sua enorme luminosidade atrás. Conhecido também como Farol Preguiças, sua luz poderia ser vista a kms de distancia.
Cabana de pescadores junto da praia
Com cerca de 1 hora de caminhada chego na praia e daqui vou seguindo paralelamente a ela por pouco menos de 1 Km até encontrar um antiga cabana de pescadores (não é a do Bonzinho – ela tá bem mais à frente seguindo pela praia). A cabana estava abandonada, mas de pé e numa emergência até dá para usar. É aqui que abandono a praia e sigo na direção sudoeste, sentido Lagoa Verde. 
São 05h20min e agora sim eu estava entrando definitivamente naquele imenso deserto e sem referencia alguma.
E seguir somente com ajuda do arquivo de GPS do celular, que peguei no wikiloc, era ao mesmo tempo assustador e emocionante.
Primeiros raios de Sol
Alguns metros à frente vejo veículos 4x4 ao longe seguindo na direção da praia, mas como ainda estava um pouco escuro só consegui visualizar os faróis e não percebi se estava cheio de turistas ou não. 
Logo os primeiros raios do Sol começam a surgir à leste. São 05h40min e a caminhada vai seguindo por algumas lagoas secas alternadas com outras com pouca água e muitas dunas para subir e descer. Devido a maioria das lagoas estarem secas ou com pouca água não precisei contorná-las; era só descer a duna e cruzar as lagoas de uma ponta a outra. 
Lagoa Verde
Minha esperança era encontrar a famosa Lagoa Verde nesses primeiros minutos, mas nada dela surgir e só fui achá-la por volta das 08:00hrs. 
Formada pela água das chuvas, ela é gigantesca e tinha uma fina camada de água, até um pouco abaixo dos joelhos. Era a primeira que eu encontrava e até deu para se refrescar. Depois de passar por dentro dela, vou tendendo para oeste com o Sol e o vento batendo nas minhas costas. 
A cada duna vencida, parecia que elas estavam aumentando de tamanho e estavam mesmo. As dunas possuiam uma inclinação suave e eu demorava cada vez mais para atingir o topo e assim era a minha caminhada: sobe duna, desce duna, cruza lagoa seca e volto a subir novamente. 
Topo das dunas
Em vários momentos parei para gravar alguns vídeos e fotos, pois era algo surreal e totalmente novo para mim ver aquele mar de dunas em todas as direções e para quem já caminhou num lugar como esse, sabe que a sensação é diferente de tudo. 
Você olhava para o horizonte e só via isso; dunas e mais dunas para todos os lados, nenhuma vivalma ou vegetação. Só encontrei mesmo algumas cabras, bodes, porcos selvagens e um ou outro cavalo pastando nas lagoas secas, mas quando eu me aproximava, os animais saiam correndo. Só ficava pensando porque demorei tanto para vir fazer essa travessia.
Mais lagoas
Pelo menos conforme avançava para o interior do Parque, as lagoas já se apresentavam com um volume maior de água em vários formatos e cores e eu não resistia. Entrava de roupa e tudo, até para aliviar um pouco do calor. O calçado que eu usava era uma papete com meia e quando passava pelo interior das lagoas, só tirava ela voltando a colocar depois. Algumas vezes também caminhava descalço, principalmente na parte da manhã.
As dunas se dividiam da seguinte forma: nas partes mais altas o vento é muito forte e a areia é mais dura, facilitando a caminhada. Já ao descer, você afunda o pé na areia e nas margens das lagoas com pouca água, parece que existe uma areia movediça. Em alguns momentos passei perrengue, pois comecei a afundar assim que fui passando pela margem. Tive que ajoelhar e quase que deitar para sair de quatro da lateral da lagoa. Perigoso.  
Parei em alguns momentos para um banho e um breve descanso e quando minha água acabou só me restava pegar das lagoas mesmo. Enchi a garrafa pet e coloquei uma pastilha de Clorin, deixando por alguns minutos até dissolver por completo.
Com as horas avançando, o Sol ia se tornando cada vez mais quente e o protetor solar era obrigatório. Já passava das 11:00hrs e nada da Baixa Grande surgir no horizonte. Estava ficando preocupado, pois o Sol estava a pino e o cansaço era evidente. Pelo menos o vento forte dava uma amenizada.
Baixa Grande chegando
E por volta das 11h30min começo a enxergar as primeiras vegetações no meio daquele imenso deserto. São árvores solitárias localizadas na ponta do oásis e que estão sendo encobertas pelas dunas. São as minhas primeiras sombras em mais de 7 horas de caminhada. Que alegria. 
Só fico pensando como aquelas árvores se mantem num solo de areia e numa delas parei para um descanso merecido na sombra, já sabendo que Baixa Grande estava bem próximo e não demorou muito mesmo. Mais uns 2 Km e eu entrava definitivamente no oásis, cruzando um pequeno rio até chegar na casa da Dona Odete e Seu Moacir. 
Redário Dona Odete
Até poderia ir adentrando aquele oásis na direção sul para ficar em outro redário, mas só queria mesmo descansar. 
Foram quase 10 horas de caminhada, com o relógio marcando 13h40min. 
No local estavam Dona Odete, Seu Moacir e um funcionário (ou filho, não tenho certeza) que moram a muitos anos no local e resolveram construir um redário para os caminhantes que estão fazendo a travessia do Parque. 
A hospedagem fica dentro de um quintal fechado com cerca e com presença de alguns animais: cabras, bodes, patos, galinhas, frangos, porcos e muita vegetação ao redor da propriedade. A energia elétrica é fornecida por um gerador que fica do lado de fora da propriedade e conta também com wi-fi por internet via satélite.
O redário é num galpão coberto de palha com paredes e não vi quartos privativos (talvez tenha), somente as redes no galpão. A residência é simples e feita de taipa. Uma autentica casa nativa.
Residencia
Tem também um grande espaço coberto com mesas para o pessoal comer e um pequeno banheiro comunitário. Tudo muito limpo e organizado. Só não gostei do cheiro da água nos chuveiros. Me pareceu ser de algum rio poluído. Estranho.
Depois de um breve descanso na rede, fui explorar a região ao redor. Me esbaldei nos cajueiros. Tinha de uma variedade bem docinha de casca totalmente amarela e outro vermelho, um pouco mais marrento.
Combinei com Dona Odete o jantar com carne de frango que incluía arroz, feijão, salada, macarrão e suco para o início da noite. Comida farta e saborosa.
Depois do jantar era hora de dormir e lá fui eu sozinho para o redário. São várias redes e todas já estão com um lençol. Só foi colocar o meu travesseiro inflável e noite de sono tranquila. Só o vento que soprou forte a noite toda, o que ajudou até diminuir um pouco do calor.
Tinha sido um dia difícil e exaustivo, mas os próximos seriam mais tranquilos, já que as distancias nos trechos eram menores, então coloquei o despertador do celular para as 06h30min da manhã.  

Dia 4: Baixa Grande – Queimada dos Britos
Quando acordei o Sol já tomava conta do lugar, prometendo ser mais um dia ensolarado. Com a mochila arrumada fui tomar o café da manhã que incluía café, leite em pó, tapioca, bolo, ovos mexidos e algumas frutas. É básico, mas dava para se manter com ele até o próximo oásis, que é a Queimada dos Britos, mas especificamente no Redário da Maria de Jesus de Biziquinho. 
Por ser um dos trajetos mais curtos, cerca de 10 Km, não estava com pressa para iniciar a caminhada. Aproveitei para pegar alguns cajus ao redor da propriedade e ia comendo ao longo da travessia. 
Dunas ao lado do redário
Comprei uma garrafa pet de 1,5litro de água por R$10 e fui partir por volta das 07h15min. Assim que se atravessa a cerca, as dunas estão a poucos metros e dá para ver que muitos cajueiros estão sendo encobertos pela areia. Não duvido muito que daqui a alguns anos as dunas estarão nas portas do redário.
Saindo da área de vegetação do oásis, é preciso cruzar o Rio Negro e novamente aquele problema da areia movediça – ao passar pela margem dele, passe bem rápido para não começar a afundar.
Primeiras lagoas
Só foi subir a primeira duna e uma grande lagoa já surge e foi assim até Queimada dos Britos; grandes lagoas entre as dunas, sendo que muitas delas com água até a cintura. O cenário já é de lagoas nas cores verdes ou azuis e dunas mais baixas. Mesmo com sol, o vento era constante e o calor não era tão forte como no dia anterior. Talvez devido ao maior número de lagoas.
E para não ficar tirando as meias a todo o momento nesse trecho, preferi ir somente de papete, assim quando estava cruzando alguma lagoa e queria mergulhar era só deixar a mochila na margem e aproveitar. Mas não foi uma boa ideia tirar as meias, porque surgiram algumas bolhas nos pés.
Lagoa cheia
A caminhada segue na direção oeste quase que em linha reta e às vezes saí do trajeto somente para passar por algumas grandes lagoas. E sempre olhando o track no GPS do celular. 
Por ser um trecho curto, então dava para explorar outras lagoas que estavam fora do trajeto que eu seguia. O que também encontrei em uma quantidade maior foram animais, como cabras e porcos selvagens.
Com cerca de 2 horas de caminhada já visualizava algumas árvores, numa ponta da vegetação da Queimada dos Britos e o track me indicava para contornar para direita. 
Queimada dos Britos chegando
Feito isso, agora era só se manter próximo da vegetação, à esquerda, que logo entraria definitivamente no oásis. De longe já dava para perceber que esse é diferente, com muito mais lagoas internas e áreas de restinga. Os moradores locais comentam que a muitos e muitos anos atrás os 2 oásis formavam um só. 
Queimada dos Britos
E exatamente com 4 horas de caminhada entro definitivamente no oásis da Queimada dos Britos. A trilha segue pelo interior da vegetação e o primeiro redário que surge é exatamente o que leva o nome do oásis. Só vou contornando ele e seguindo em frente por uma estrada/trilha que mais parece o leito de um rio seco, já que encontro algumas pontes de madeira em alguns trechos. Acho que na época das chuvas, as lagoas tomam conta do oásis.
Outra característica que chama a atenção é a grande quantidade de cajueiros. E nem era preciso muito esforço para apanhá-los. 
Época seca
Conforme avanço para dentro do oásis, mais e mais redários vão surgindo. Contei mais de uma dezena deles. Um cemitério, uma escola pública e até um pequeno bar também estão localizados ao lado da trilha. Uma estrutura infinitamente maior que a da Baixa Grande. Segundo apurei, são cerca de 14 famílias que possuem redários de várias gerações e na alta temporada todos eles ficam completamente cheios de turistas, tanto de quem vem de Santo Amaro, quanto de quem está fazendo a travessia. 
Redário da Dona Maria de Jesus de Biziquinho
E pouco antes do meio dia chego no redário da D. Maria de Jesus, que é um dos últimos redários naquele oásis. Quem me atende é um guia que está acompanhando uma garota na travessia. Dona Maria levou o filho numa consulta na cidade e quem está cuidando do redário é seu irmão, que não estava no momento. Depois combinei com ele o pernoite + jantar + café da manhã.
O redário tem uma boa infraestrutura e achei até melhor do que a Dona Odete.
Quem cuidava do lugar era Seu Biziquinho (marido da Dona Maria de Jesus), considerado por muitos com um dos melhores guias do parque, mas infelizmente veio a falecer anos atrás. 
Depois de um breve descanso na rede, fui conhecer a região. Encontrei muitas lagoas com pouquíssima água e outras só com lama. Quem fazia a festa eram os porcos. 
Por do Sol nas dunas
Já quase final da tarde, fomos para uma duna ali perto acompanhar o por do Sol, que se localiza bem na saída do povoado para Betânia. É um visual fantástico. Se puder, não deixe de ver. E lá também peguei sinal de celular da Vivo. 
Voltamos para o redário já anoitecendo e outro visual maravilhoso era o céu aberto e repleto de estrelas. O Cruzeiro do Sul, as 3 Marias estavam fáceis de observar, mas o que mais chamava a atenção era a Via Láctea, facilmente vista a olho nu. 
O jantar foi o básico e a carne era omelete. Pelo menos era bem farta.
Outra noite tranquila e marquei no alarme de acordar novamente as 06h30min.

Dia 5: Queimada dos Britos - Betânia 
Quando levantei e fui tomar o café da manhã, a garota e o guia já tinham saído algumas horas antes, mas como não tinha pressa de chegar em Betânia, preferi seguir já com o Sol. O trecho é quase o dobro do dia anterior (18 Km).
Parque Nacional
O café da manhã é o básico também. Nada muito diferente do que tinha tomado na Baixa Grande.
Fui sair do redário pouco depois das 07:00hrs e nesse dia a quantidade de lagoas que iria cruzar seria bem maior, com as primeiras surgindo depois de uns 30 minutos.
Conforme avançava, elas iam ficando cada vez maiores, algumas gigantescas mesmo. E nessas eu parava sempre para um mergulho. Não dava para resistir. Cada lagoa de formas e cores diferentes. Sem dúvida esse foi o trecho mais bonito de toda a travessia.
Lagoas
Eram tantas lagoas com água para aproveitar que vale até o esforço de finalizar em Betânia no final da tarde. Claro que se protegendo do Sol ao máximo.
Por volta das 11:00hrs consigo ver alguns veículos 4x4 no topo de uma duna bem ao longe, mas Betânia ainda não surgia no horizonte. E quanto mais eu me aproximava dos veículos, percebi o motivo. 
Era a imensa Lagoa do Cajueiro, que estava com alguns visitantes e no seu entorno muitos guarda-sóis e cadeiras. Era complicado contorná-la para chegar do outro lado e por isso preferi ir descendo a duna para chegar na margem dela. 
Lagoa do Cajueiro
Tive até uma certa dificuldade para cruzá-la, devido a profundidade ser uma das maiores que eu tinha passado.
Já do outro lado, deixei a mochila na margem e fui mergulhar com a câmera para gravar um vídeo embaixo d’água. Naquele local a profundidade chegava na altura do peito (acho que pouco mais de 1,50mt), mas vi outros lugares onde a profundidade parecia ser maior ainda.
Mergulhando
Fique ali só nadando e mergulhando por cerca de 1 hora. Que delicia. Posso estar sendo repetitivo, mas essa travessia é maravilhosa. Se estou fazendo essa caminhada na baixa temporada e a lagoa está assim, fico imaginando ela no meio do ano, na alta temporada. Lotada e com muito mais água, com certeza.
Outras 2 grandes lagoas próximas dessa são a do Junco e do Murici, mas nem cheguei a ir lá. Talvez numa outra oportunidade. 
E por volta do meio dia voltei a caminhar sentido Betânia e com alguns minutos já dava para ver a imensa Lagoa de mesmo nome.
Lagoa Betânia
Essa não dava para cruzar de jeito nenhum porque a Lagoa da Betânia é perene o ano todo e sua profundidade é bem maior que as outras, então fui contornando ela pela direita até chegar na sua margem do outro lado. Numa cabana ao lado de uma placa de Boas Vindas a Betânia, fiquei descansando um pouco na sombra. 
Dali fui adentrando pela vegetação até chegar na margem do Rio Negro e cruzá-lo sem maiores dificuldades. Passei ao lado do Restaurante Cantinho da Felicidade (atualmente o lugar não tem mais redário) e segui até o Restaurante/Redário Novo Horizonte, pertencente a Dona Lindalva, onde o irmão da Dona Maria de Jesus tinha me indicado para pernoitar. 
Redário Novo Horizonte
Eram 13h30min (pouco mais de 6 hrs de caminhada) e o restaurante tinha boas opções de pratos com ótimos preços, mas o redário não curti muito. Piso de areia fofa e sem muita infraestrutura, mas como preferi não procurar outro, tive que contentar com esse.  
Mesmo sendo uma dia de semana (quinta–feira) o restaurante estava bem cheio com muitas Toyotas estacionadas na frente, que provavelmente eram turistas visitando as lagoas próximas. É o tipo de passeio bate-volta, saindo de Santo Amaro, que estava relativamente próximo.
Hora do descanso
Fiquei só descansando numas redes ao lado de um rio até o anoitecer.
Para o jantar eu escolhi um prato com camarão, que estava bem farto e delicioso.
Dia seguinte seria último dia nos Lençóis e já estava ficando com saudades das lagoas e dunas.  

Dia 6: Betânia - Santo Amaro
Café da manhã básico novamente com tapioca, frutas e clima de despedida.
Saí do redário por volta das 07h30min na direção das dunas por outro caminho, para encurtar a caminhada.
Voltando para as dunas
Depois de cruzar novamente o Rio Negro e subir a encosta de uma duna, volto a caminhar no topo delas, se distanciando um pouco da vegetação entre Betânia e Santo Amaro. 
É um trecho curto de pouco mais de 9 Km, mas com 2 caracteristicas que não gostei: eram poucas as lagoas e a grande quantidade de veículos de agencias. A cada duna que eu subia, dava para ver um ou outro veiculo 4x4 seguindo na direção de alguma lagoa.
Mais lagoas
As mais visitadas desse trecho: Andorinhas e Gaivota estavam um pouco longe do meu trajeto, então nem passei por elas.
O percurso é quase que no visual, já que em vários momentos era só seguir as marcas de pneus dos veículos 4x4. Dava para ver também alguns paus com bandeiras ao longe, que serviam de referencia para os veículos, então era só seguir na direção delas. 
Final dos Lençois
E pouco depois das 10:00hrs ia chegando ao final dos Lençóis. O lugar marca o fim das dunas e onde existe um pequeno toldo do pessoal da fiscalização municipal para cobrança de uma taxa para quem está entrando no Parque por ali. 
No meu caso, passei direto.
Sem dúvida nenhuma uma das mais lindas caminhadas que já fiz. Desafiadora e maravilhosa são as 2 palavras que melhor retrata essa travessia. Na verdade todos os adjetivos que poderia descrever dessa caminhada ainda é pouco. A experiência de se caminhar nesse mar de dunas e muitas lagoas não têm palavras. São paisagens e cenários que só existem aqui e que vão muito além disso. Para quem curte caminhada, essa é obrigatória para ter no currículo.
Fiscalização
E assim me despeço dos Lençóis Maranhenses e vou adentrando as ruas de Santo Amaro do Maranhão na direção do centro da cidade. Minha intenção era ficar em alguma pousada nesse dia e só no dia seguinte retornar para São Luís.
Vou seguindo pelas ruas da cidade e ao encontrar uma sombra em alguma praça, faço uma pesquisa no Booking de alguma pousada próximo do centro e que contasse com ar condicionado porque o calor estava insuportável e a Pousada Reflexo das Águas foi a escolhida. 
Rio Negro
Localizada próximo do Rio Negro e a poucos quarteirões da praça principal foi uma boa escolha. Só o café da manhã que poderia ser melhor. 
E antes de chegar na Pousada passei na empresa de turismo Mirotur, que fica bem próxima e fechei com eles o transfer para São Luís para o dia seguinte as 13:00hrs. Melhor se garantir.
Depois de deixar as coisas na pousada e dar uma organizada na mochila, segui para a praça principal, a 2 quarteirões da pousada. Queria conhecer a cidade e procurar algum restaurante para jantar a noite. 
Não deixe de conhecer
O que eu curti mesmo foram os sabores de sorvete na Casa do Picolé. Não deixe de provar o de coco verde, tapioca, castanha de caju, bacuri e o taperebá. São deliciosos e sabores que nunca tinha provado. Sem muitas opções de restaurantes pelo centro, o jantar foi comida japonesa. Outra opção era pizza - aí não dá.
Voltei para a Pousada já de noite e para o dia seguinte tinha que reservar uma pousada em São Luís. Era outra cidade para visitar.

Dia 7: Santo Amaro x São Luís
Depois de fazer o chekout na pousada, aguardei um tempinho e logo a van chegou. O trecho até São Luís foi tranquilo com uma parada no meio do caminho e pouco depois das 16:00hrs já chegava na cidade.
Vista da pousada
Fiquei na Pousada Portas da Amazônia, no centro histórico e em seguida fui conhecer as ruas próximas.
O centro histórico da cidade é considerado pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade, sendo a maioria imóveis coloniais tombados dos séculos XVIII e XIX. É um passeio pela história. Vale a pena ficar 1 dia aqui.
Centro histórico
Como era quase final de tarde, não deu para visitar muita coisa e deixei para o dia seguinte. O jantar foi um prato com camarão. Só não gostei do arroz cuxá, que acompanhava o prato.

Dia 8: Retorno para São Paulo
A pousada fica bem no meio do centro histórico e depois do café da manhã fui visitar outros lugares turísticos da região. Por ser um Domingo, numa das ruas próximas estava sendo realizado um show de música pop/dance com vários DJs. E fechei com chave de ouro a minha trip.
Prédios públicos a noite
Início da noite segui para Aeroporto, embarcando durante a madrugada, mas devido a tempestades que estavam ocorrendo em São Paulo, o avião atrasou algumas horas. Paciência. Pelo menos as ótimas recordações dos Lençóis Maranhenses, essa não vou esquecer nunca.



Algumas dicas e informações úteis

# Outra opção de transporte saindo de São Luís até Barreirinhas é a linha de ônibus da empresa Guanabara, que possui 2 horários (1 pela manhã e outro durante a noite) saindo da Rodoviária de São Luís, que se localiza a cerca 3 Km do Aeroporto.

# Em alguns trechos dessa travessia, no topo das dunas, consegui sinal de telefonia celular da operadora Vivo.

# Baixa Grande, Queimada dos Britos e Betânia possuem alguns locais de hospedagem que também oferecem quartos privativos.
  
# Canto dos Atins e em todos os outros oásis são vendidos também algumas bebidas como sucos, refrigerante ou cervejas.

Muita atenção ao fechar algum passeio no pier de Barreirinhas. Paguei R$80, mas alguns outros ofereciam por volta de R$120, mas na verdade são atravessadores que só cobram o valor e repassam para outros barqueiros.

# Não é possível chegar nos oásis de veículos motorizados como quadriciclos ou veículos 4x4, já que o Parque Nacional só permite o uso deles pelos moradores desses lugares. 

# Empresas de transfers e passeios que usei:
- São Luís x Barreirinhas: 

- Passeio pelo Rio Preguiças e transfer até Porto de Atins:

- Transfer Santo Amaro x São Luís

# Usei mais de um tracklog para me ajudar nessa caminhada:

# O que levar na travessia – vou relacionar somente o que levei na minha mochila de 40 litros (levei uma desse tamanho porque tinha intenção de ficar em São Luís mais de 1 dia) 
- Mochila semi-cargueira de 30 litros a 40 litros, no máximo
- Roupas leves: calça de caminhada e se puder, camiseta de manga comprida
- Roupa de banho: bermuda, sunga, etc.
- 1 roupa para dormir
- Boné ou chapéu com abas, tipo legionário
- Óculos de sol
- Protetor solar
- Repelente
- Lanterna de cabeça (headlamp)
- Papete ou sapatilha de neoprene (use com meias) – de jeito nenhum bota ou tenis
- Outra opção para caminhar é usar meia grossa de trekking ou com dedinhos individuais (para evitar bolha) 
- Toalha
- Capa de chuva
- Travesseiro de camping (daqueles infláveis)
- Carregador de celular/Power bank
- Necessaire com produtos de higiene pessoal (sabonete, escova/pasta dentes, papel higiênico, lenço umedecido, etc.) 
- 2 garrafas pet de 1,5l de água + pastilhas de Clorin (para água das lagoas)
- Kit de primeiros socorros (dorflex, analgésico, antiácido, hipoglós, vaselina, gaze, esparadrapo, nebacetin para futuras bolhas, agulha + linha – em caso de bolhas fure a mesma e deixe a linha dentro para ir secando)
- Lanches de trilha: frutas secas/ barras de cereais/biscoitos/salgadinhos
- Dinheiro: se puder, leve trocado. Atenção que caixas eletrônicos só em Barreirinhas. Santo Amaro só possui agência do Bradesco e Banco do Brasil.

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