Páginas

9 de abril de 2006

Relato: 1ª vez na Cachoeira do Elefante - Serra do Mar de Bertioga/SP

Este relato da minha primeira trip nessa região em 2006 e que pode ser útil para quem curte belas cachoeiras próximas da cidade de São Paulo. 
Com acesso fácil por ônibus e carro é perfeito para um bate-volta em um fim de semana qualquer. 
Era minha primeira vez nessa cachoeira que é uma das maiores, próximas da cidade de SP. 
Foi também uma forma de lembrar do Eduardo Luis, mais conhecido como Mimduim (com "m" no meio mesmo), que foi o organizador dessa trip e que morreu em 2011. Seu corpo foi encontrado em uma prainha, na Trilha do Rio Mogi, em Paranapiacaba, na Serra do Mar.
Para quem não o conheceu, no final eu coloquei um texto sobre ele e o que pode ter acontecido em relação a sua morte.

Foto acima, na base da Cachoeira do Elefante


Fotos dessa caminhada: clique aqui

Tracklog para GPS, saindo do Km 81 da Rodovia Mogi-Bertioga: clique aqui 
Tracklog mais recente, saindo do Km 77: clique aqui


Antes quero deixar registrado aqui que a região pertence ao Parque Estadual Restinga de Bertioga e devido a algumas mortes que ocorreram recentemente não é difícil encontrar o pessoal da Policia Ambiental e do Parque fiscalizando o local. E com isso, apreensão de barracas e autuação de algumas pessoas são comuns, resultando em multas. Eles dizem que o objetivo da operação é garantir a segurança das pessoas e orientar a utilização correta das trilhas autorizadas da Unidade de Conservação. Em outras palavras, é uma forma de obrigar o pessoal a contratar guias cadastrados pelo Parque.
http://fflorestal.sp.gov.br/parque-estadual-restinga-de-bertioga/

Início da trilha, junto da Rodovia
A Cachoeira do Elefante também é conhecida por um outro nome: Cachoeira do Itapanhaú e se localiza na Serra do Mar, próximo da Rodovia Mogi-Bertioga.
Lembro que na época o Mimduim enviou uma mensagem para a lista de trekking onde eu participava, convidando para fazer a trilha dessa cachoeira e muitos aderiram. 
O grupo se tornou até um pouco grande, com 10 pessoas: eu, Mimduim, Clayton, Cabral, Yoshico, Marcelo Gibson, Gláucia, Alex e mais dois amigos dele que eu não lembro o nome.
A data escolhida foi um Domingo e marcamos de todos se encontrar no Metrô Carrão onde uma van, já contratada pelo Mimduim, nos aguardaria. 
A saída, como de praxe, atrasou um pouquinho, mas as 08:00 hrs já estávamos seguindo pela Rodovia Ayrton Senna em direção a Mogi das Cruzes, onde iríamos pegar a Gláucia.
Entrando na mata
Já com toda a trupe, seguíamos pela sinuosa Mogi-Bertioga para chegar no Km 81 pouco antes das 10:00 hrs, em um belo Domingo de Sol.
São dois lugares por onde se inicia a trilha que leva até a base dessa cachoeira e como o grupo preferiu seguir pela trilha mais longa, a van nos deixou na Rodovia exatamente onde se inicia o trecho de descida da serra, ao lado de uma enorme placa indicativa de "ATENÇÃO - DESCIDA DA SERRA, DESÇA ENGRENADO". 
Nesse local, do Km 81, existe um grande descampado, do lado direito da Rodovia, onde muitos iniciam a caminhada que leva até a base da cachoeira.
Cruzando o Rio Pedras
Mochilas nas costas, seguíamos por trilha bem demarcada, que em alguns trechos lembra a uma antiga estrada. Depois de uns 15 minutos de caminhada chegamos no Rio Pedras, onde a água estava um pouco acima dos joelhos, em parte devido às chuvas dos dias anteriores. Em dias normais esse rio é bem rasinho, onde só se molha as botas ao atravessá-lo. 
Aqui é um bom local de acampamento selvagem com áreas planas em alguns descampados ao lado do Rio. Daqui em diante a trilha segue próximo da margem, com o Rio à esquerda e mais alguns metros à frente pegamos uma bifurcação à esquerda que leva a algumas pequenas cachoeiras, corredeiras e poções. 
É um bom local para banho, mas a água é gelada. 
Corredeiras do Rio Pedras
Voltamos para a trilha principal, cruzando alguns pequenos riachos e logo chegou o trecho mais íngreme. Algumas árvores caídas surgem no meio da trilha e por volta de uns 15 minutos desde o Rio Pedras, surge uma bifurcação à esquerda, onde a trilha principal é a da direita. 
Quem quiser seguir na trilha da esquerda é possível chegar em uma outra cachoeira, mas com acesso um pouco mais difícil.
Como o grupo era grande, descíamos sem pressa por trilha íngreme com inúmeras raízes expostas e algumas arvores caídas. A mata é bem fechada e com pouco mais de 2 horas de caminhada, chegamos em uma bifurcação, junto da margem do Rio Itapanhaú. 
Cruzando rio para chegar na cachoeira
Seguindo para a direita, a trilha leva até um local conhecido como Casarão e de lá retorno para a Rodovia, mas nossa direção é seguir para esquerda. 
Nesse trecho, a trilha segue ao lado do Rio Itapanhaú e alguns descampados surgem ao lado da trilha e logo chegamos em outro rio. 
O volume de água era grande e por isso estava perigoso atravessá-lo. 
O Mimduim esticou uma corda e um a um fomos cruzando o trecho sem maiores dificuldades.
Mais outros descampados surgem pela trilha e com cerca de 3 horas de caminhada chegamos na base da Cachoeira do Elefante. 
Na base da cachoeira
Ela é bem larga e com uns 50 metros de queda. Olhando da Rodovia ela tem um formato dos pés de um elefante e talvez seja por isso que ela recebe esse nome.
A nossa diversão era tentar ficar embaixo da queda, mas era impossível. A força da água era muito grande e só nos contentamos em ficar nas laterais.
Depois de um tempo tomando banho de cachoeira e um lanche, voltamos para a trilha e dessa vez seguimos em direção ao Casarão e assim que passamos a bifurcação da trilha que veio do alto da serra, fomos nadar junto da margem em um remanso do rio, à esquerda. Nessa hora só os mais corajosos resolveram arriscar um mergulho.
Rio Itapanhaú
Voltamos à trilha e íamos seguindo o rio, próximo de sua margem cruzando inúmeros riachos. 
Com cerca de 1h30min de caminhada, chegamos no Casarão, bem ao lado de um campo de futebol. 
Aqui é um outro bom local de camping, mas que fica um pouco distante da cachoeira. 
No Casarão ainda morava uma família, mas a casa está em péssimas condições.
O Mimduim foi atrás de um senhor para nos levar de barco para o outro lado da margem, já que cruzar o rio era bem perigoso, pois a correnteza estava bem forte e a profundidade era um pouco grande. 
Cruzando o Rio Itapanhaú
Com 2 viagens em um pequeno barco chegamos do outro lado do rio e aqui só foi caminhar por uma trilha até sair em uma estrada, que nos deixou na Rodovia, próximo ao Km 92,5 antes dela iniciar o trecho de subida da serra.
Esperamos por alguns minutos a van chegar e agora era voltar para SP felizes por uma bela caminhada com revigorante banho de cachoeira. 


Algumas dicas e informações úteis (Atualizado Julho/2020)


Considero essa trilha de nível médio e o percurso total dela é de aproximadamente 3 km.


# Um outro acesso a essa cachoeira é por trilha que sai do Mirante na Rodovia Mogi-Bertioga, próximo ao Km 86, porém é um acesso somente para quem sabe nadar. O local é perigoso devido a forte correnteza do Rio Itapanhaú, já que a trilha cruza esse rio para chegar na cachoeira. 
Por isso nunca faça essa trilha sozinho. O risco de afogamento é grande.

# Existem 3 opções de transporte para quem pretende chegar nessa cachoeira:

1) Da Estação Ferroviária de Estudantes, em Mogi das Cruzes, saem vans que seguem para Bertioga. Os motoristas ficam aguardando do lado de fora e só saem quando lotam a van. O valor é de + - $30 (Julho/2020).

2) Outra opção mais segura é pegar o ônibus da Breda (atual Piracicabana) , que sai da Rodoviária, localizada no lado esquerdo da Estação de Estudantes. Valor $30 (Julho/2020). 

www.piracicabana.com.br

3) E a opção mais barata e que recomendo é embarcar no circular Manoel Ferreira, que sai do Terminal Central, localizado no lado direito da Estação Estudantes de Mogi das Cruzes. 

Deve-se desembarcar no Km 77 da Rodovia Mogi-Bertioga, onde se localiza a antiga Balança. Dali em diante é só continuar a caminhada pela Rodovia até o Km 81. Valor: $5 (ano 2020).
Confira no link abaixo os horários de saída desse circular - Linha C-392:
www2.transportes.pmmc.com.br/site

# Para quem for de carro, a melhor opção é deixá-lo no Mirante do Km 86. No local existe um grande estacionamento. Dali se inicia uma trilha de poucos minutos e que segue quase que em linha reta e que leva até a base da cachoeira. O problema é para cruzar o Rio Itapanhaú, pois a profundidade chega quase até a cintura em alguns pontos dele a correnteza é forte. Só recomendo para quem sabe nadar e nunca esteja sozinho.

Ou fazer o mesmo que no item 3, acima. Deixando o carro na Balança.

# Em dias muito chuvosos, o acesso a essa cachoeira é perigoso, já que a correnteza dos rios pode complicar muito a travessia. 


# Voltei a essa cachoeira por mais 2x seguindo por trajetos diferentes. Numa delas peguei tempo fechado e com uma pequena garoa, mas me diverti e na outra estava com um grupo. 

Relatos:
http://trilhasetrips.blogspot.com.br/2014/03/dicas-cachoeira-do-elefante-serra-do.html
https://trilhasetrips.blogspot.com/2018/03/cachoeira-do-elefante-o-2-retorno-serra.html

# Uma outra cachoeira que também vale a pena conhecer é a da Pedra Furada. O início da trilha que leva até ela fica a uns 500 metros antes de chegar no início da trilha para a Cachoeira do Elefante. Tenho um relato com algumas dicas:

http://trilhasetrips.blogspot.com.br/2014/03/dicas-cachoeira-da-pedra-furada-mogi.html 

_____________________________________________________________________



Ele com sua cargueira
Para quem não conheceu o Mimduim, ele era um professor da rede pública municipal e estadual, que fazia muitas caminhadas e sempre em grupo. 
Tinha 44 anos quando veio a falecer e normalmente era ele que organizava as trips.
Sempre generoso, era uma pessoa que ajudava os outros, sendo muito fácil de fazer amizades. Normalmente era o cozinheiro da turma e um dos pratos mais famosos que sempre fazia em alguma trilha era o peixe na folha de bananeira.
No dia 06 de Novembro de 2011 (um Domingo) ele seguiu de trem da Estação Brás com destino a Estação de Rio Grande da Serra para encontrar um grupo e fazerem a trilha da Cachoeira da Fumaça, dizendo para a esposa que voltaria no final do dia, mas se desencontrou do grupo e desde então não tiveram mais noticias dele. 
Consta que fez um telefonema de um orelhão próximo da Estação de RG da Serra, mas não disse para onde iria. 
Alguns amigos e colegas de trilha ainda tentaram ajudar a procurá-lo, mas em vão. 

Minduim e a Glaucia cruzando o Rio Pedras na trilha da Cachoeira do Elefante
E somente no dia 12 de Novembro (Sábado) seu corpo foi encontrado por 2 trilheiros junto de uma prainha na Trilha do Rio Mogi, já próximo de Cubatão, que avisaram os Bombeiros.
Devido a dificuldade do lugar, seu corpo só foi resgatado no dia 16 de Novembro pelo Corpo de Bombeiros com todos os seus pertences intactos, inclusive sua maquina fotográfica Nikon.
A família dele se mantem reclusa desde então, não divulgando nem a causa da morte, mas como a Trilha do Rio Mogi é repleta de inúmeros trepa pedras, pode ser que ele tenha fraturado a perna, não conseguido se locomover ou então sofrido um mal súbito ou até picado por algum animal peçonhento, mas tudo isso são apenas hipóteses. 
Mimduim descansando nessa trilha da cachoeira
O que se sabe de concreto é que ele foi encontrado com um grande inchaço em uma das pernas.  
Pelo menos ele perdeu a vida naquilo que ele mais gostava de fazer: caminhadas. Uma grande perda sem duvida nenhuma. 
Com certeza hoje em dia está trilhando por outros lugares.

Mimduim na Cachoeira do Elefante

9 comentários:

  1. :-( achei triste a historia do minduim....mas...quem sabe ele está trilhando por outros lugares!?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Ana.
      Só lamento que ele teve uma morte tão solitária. Estava sozinho na trilha e só foi encontrado alguns dias depois.
      E era um cara que sempre fazia caminhadas em grupos e se dava bem com todo mundo.
      São pessoas como ele que fazem falta no mundo.

      Nessa hora é que percebemos que nossa vida é muito curta e devemos aproveitar cada momento dela.
      Mas com certeza ele está em outro lugar melhor que o nosso.


      Abcs

      Excluir
  2. Coisas dessa nossa vida...
    Fazer aquilo que descobrimos amar, é sem dúvida um dos maiores presentes que Deus pode nos conceder... Certamente este "mateiro", está trilhando novos caminhos e guiando a todos aqueles que seguem suas trilhas.
    Parabéns pelo relato e pela singela homenagem.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A morte é algo muito difícil de encarar, mas é a única certeza que temos na vida.
      Mas fiquei muito mais triste porque o Minduim era uma pessoa boa e muito querido por muitos.
      Pena que ele já tinha cumprido seu papel aqui na terra. Ele tinha ainda uma vida longa pela frente.

      Valeu Eduardo.
      Gde abc

      Excluir
  3. Olá Augusto, gostaria de saber se você ainda faz trilhas, pois comecei agora a curtir estas caminhadas na natureza e estou viciando. Gostaria de conhecer a cachoeira do elefante mas pelos vídeos que vejo e relatos parece que é um pouco complicado para um iniciante e fico preocupado com a possibilidade de me perde no meio do caminho. Se por acaso você estiver com um trilha marcada para lá me avise para que eu possa fazer parte do grupo. Um abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola Fernando.
      Sempre que posso e o clima ajuda faço alguma caminhada.
      Para iniciante não recomendo seguir pela trilha que inicia no Km 81.
      Tem a possibilidade de iniciar no mirante, mas tem de saber nadar para cruzar o Rio Itapanhaú. Pessoas já morreram ali, por isso é muito perigoso.
      Não costumo repetir trilhas e se vc quiser conhecer o lugar, então recomendo contratar algum guia de agencia.
      É mais seguro e ele pode te ajudar nos momentos mais perigosos.

      Abcs

      Excluir
    2. Valeu Augusto, obrigado pela dica.

      Abraço.

      Excluir