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30 de julho de 2010

Relato: Travessia Rui Braga – da parte alta do Parque Nacional do Itatiaia até a parte baixa

Este é o relato da continuação da travessia da Serra Negra.
Tínhamos terminado junto à antiga Pousada  Alsene e correu tudo como planejado (relato aqui).
Estávamos com a Autorização para a travessia da Rui Braga para fazê-la em 2 dias, pernoitando em algum dos Abrigos Massenas ou Macieiras, apesar de que a Rui Braga dá para ser feita em apenas 1 dia de caminhada.
Pegamos dias nublados, mas para sorte nossa, só estava chovendo durante a noite.

Foto acima, vale do Rio Campo Belo visto depois de alguns minutos do Abrigo Massenas


Fotos: clique aqui

Tracklog para GPS dessa travessia: clique aqui


Chegando na Portaria do Parque Nacional
A Quarta-feira amanheceu com tempo nublado, mas pelo menos sem chuvas e nesse dia iríamos fazer a travessia Rui Braga em 2 dias, já que a Márcia estava nos aguardando no dia seguinte na parte baixa do PNI.
Na travessia da Serra Negra ficamos sem sinal de celular por 2 dias e só contávamos que na Rui Braga conseguíssemos, para dar sinal de vida aos nossos familiares. 
Mochilas prontas, pouco depois das 09:00 hrs seguimos para a portaria do PNI (posto Marcão) e lá entregamos a Autorização da travessia, pagando pelo pernoite no Abrigo e a taxa de ingresso no Parque.
O lugar estava deserto e parece que éramos os únicos a fazer alguma travessia no Parque.
Pela estrada do Parque
O funcionário só demorou um pouco para nos liberar porque na solicitação que eu enviei, não tinha colocado que iriamos pernoitar no Parque e depois de acionar o pessoal da Administração do PNI pelo rádio, recebemos a autorização para fazer a travessia. 
Estávamos na altitude de pouco mais 2400 metros e nosso plano era caminhar até o Abrigo Macieiras, na altitude de 1850 metros. 
O total da caminhada, se fossemos direto até o final da trilha, junto ao Piscinão de Maromba seria de uns 30 Km, mas era muito para apenas 1 dia (até dá para fazer, já que boa parte da trilha é sempre descendo, mas tem de entrar bem cedo no Parque).
Abrigo Rebouças
Mochilas nas costas de novo, saímos da Portaria as 09h50min e seguimos em direção ao Rebouças pela estrada, onde chegamos as 10h20min e daqui só víamos uma neblina espessa sobre o Agulhas Negras.
Passamos direto e continuando pela estrada que na verdade é a Rodovia BR 485 (coisas do Pres. Getúlio Vargas) que em alguns pontos ainda apresentam trechos de asfalto em bom estado de conservação, mas perde um pouco da magia, já que é uma aberração construir uma estrada em um lugar como esse. 
Tendo o Rio Campo Belo do lado esquerdo, logo passamos pela Cachoeira das Flores e as 10h50min chegamos ao final da estrada e na bifurcação para o Pico das Prateleiras. 


Vale sendo tomado pela neblina
Aqui existe uma placa enorme da travessia Rui Braga e daqui para frente a caminhada tem de ser feita pela trilha que apresenta inúmeras voçorocas e algumas até perigosas, por isso muita atenção nesse trecho.
Seguindo pela trilha, vamos passando por algumas áreas de charco, mas em alguns pontos o pessoal colocou totens que sinalizam a evitar esses lugares.
Por volta das 11h50min a trilha se abre para o enorme vale do Rio Campo Belo à esquerda e já é possível ver ao Sul uma construção, que são as antigas ruínas de um posto meteorológico.
Neblina à vista
Por volta de 12h10min e logo que terminamos esse trecho de descida, chegamos em uma área de capim elefante.
Um pouco mais a frente uma bifurcação que pode confundir, já que as trilhas são bem demarcadas. 
Dando uma olhada na antiga Revista Aventura Já do Sérgio Beck percebo que a bifurcação da direita é na verdade a Trilha do Pinhal, que ele fez a muito tempo atrás e parece que está sendo usada, pois a trilha está bem visível.
A trilha que devemos seguir é a da esquerda, tendo como referencia as antigas ruínas que são vistas a cerca de 15 minutos no alto do morro (existem totens apontando a trilha correta – é só procurar no alto de algumas pedras). 
Ruínas de antigo Posto Meteorológico
Chegamos às ruínas pouco antes das 12h30min, saindo à direita da trilha principal. 
Aqui somente as paredes estão de pé e o telhado nem existe mais. 
Daqui é possível ter uma vista bem privilegiada da Serra das Prateleiras não muito longe daqui.
Pode se visualizar também uma parte do telhado do Abrigo Massenas, escondido por entre as árvores. Voltamos à caminhada e chegamos ao Abrigo depois de uns 7 minutos, antes cruzando um pequeno trecho de mata fechada. 
Água é possível encontrar na trilha principal uns 200 metros antes de chegar no Abrigo, mas como a bica de água é em pequena quantidade, tome cuidado que pode estar seca em algumas épocas do ano.
Abrigo Massenas
A altitude no Abrigo é de 2200 metros e o lugar é enorme, mas apenas onde fica a lareira está parcialmente encoberto. 
Eu não recomendo bivacar aqui dentro porque o Abrigo é todo aberto e durante a noite alguns visitantes incômodos podem aparecer. E para piorar, o piso é de madeira e está um pouco apodrecido; eu montaria a barraca do lado de fora, na área coberta, junto à varanda.
Chegamos aqui pouco antes das 13:00 hrs e na sala da lareira encontramos um pequeno armário com alguns alimentos (tinha até 2 cup nodles) e uma Bíblia Sagrada. 
Deixamos nossas mochilas aqui e subimos até um mirante onde existem antigas ruínas de uma Torre de TV. 
Charco pela trilha
O lugar possui uma laje de concreto, mas também não vale a pena acampar e aqui conseguimos falar no celular. 
Daqui é possível visualizar boa parte do Vale do Paraíba e Serra Fina. 
Depois de descansar por alguns minutos e comer um lanche no Abrigo Massenas, saímos em direção ao Abrigo Macieiras as 14:00 hrs, por uma trilha bem demarcada à leste.
Uns 10 minutos de trilha e chegamos a um trecho bem extenso de charco e aqui não tem jeito; vai ter de molhar as botas. 
Existem algumas telhas do abrigo, mas não ajudam muito (eu cheguei a afundar os pés até as canelas, mas pelo menos saímos inteiros de lá).
Pedras rolando
Passando essa área, se tem a impressão que a trilha está voltando, mas é só por pouco tempo, já que logo ela bifurca para a direita e segue descendo na direção Sul com um enorme vale do lado esquerdo. 
O visual é de encher os olhos.
Passamos por algumas nascentes de água e as 15h45min chegamos no Abrigo Macieiras, do lado esquerdo. 
O lugar também está em ruínas, mas é coberto, porém o único lugar adequado para montar barraca é na sala. 
Bivacar aqui também é um problema porque os ratinhos são moradores permanentes do lugar e as paredes e o piso são de madeira, o que facilita a circulação deles. 
Como eu já tive problemas em acampar em lugares como esse, resolvo montar a barraca do lado de fora. 
Abrigo Macieiras
Água pode ser encontrada atrás do Abrigo, seguindo por uma trilha de uns 50 metros, mas que pode estar seca se for época de estiagem longa, por isso traga água dos riachos que são cruzados na trilha.
Como já era nosso último dia, resolvi fazer toda a comida que eu tinha, até para não levar de volta (ainda deixei em um pequeno armário 2 miojos para eventual emergência de alguém).
Durante a noite choveu novamente, mas somente por algumas horas.
A Quinta-feira amanheceu com o Sol aparecendo atrás do Abrigo e por volta das 10:00 hrs saímos em direção ao final da trilha.
Antiga estrada
Bem demarcada, ela segue descendo por vestígios de uma antiga estrada, que tá quase toda tomada pelo mato. Em alguns trechos surgem proteções de concreto ao longo da trilha e muito bambuzal.
Sem problemas de navegação, boa parte da trilha segue com alguns zig zags e pouco depois das 12:00 hrs chegamos a um portão de metal, colocado no meio da trilha. 
Daqui para frente já é uma estrada de terra muito usada por veículos do Parque que leva até o final da trilha, junto ao Piscinão de Maromba, onde chegamos as 12h20min. 
Aqui um vigia anotou nossos nomes para dar baixa da nossa travessia na Administração. O problema era contatar a Márcia, já que não tínhamos sinal de celular e por isso resolvemos conhecer o Piscinão e a Cachoeira Véu da Noiva.
Administração do Parque Nacional do Itatiaia
Pouco depois das 13:00 hrs iniciamos a descida, torcendo para que o carro com a Márcia passasse por nós, mas em vão e pouco depois do prédio da Administração do Parque resolvemos aguardar, mas como já eram pouco mais de 16:00 hrs, tentei novamente ligar para ela, mas só consegui receber uma mensagem dizendo que estava no Piscinão de Maromba nos aguardando. Que p. desencontro. 
O que aconteceu foi de que ela levou a Sophia para almoçar em um restaurante de uma pousada próxima ao Piscinão e justo naquele momento estávamos descendo pela estrada e não vimos o carro dela estacionado na pousada.
Com isso só fui encontrá-la no Centro de Visitantes, que não era muito longe de onde paramos. 
Depois de colocar todas as mochilas no carro, seguimos pela Via Dutra para chegar em São Paulo no meio da noite. 


Dicas e informações úteis (Atualizado Julho/2020)


# Tempos de caminhada 

- Da portaria do Parque (Posto Marcão) até o Abrigo Massenas: 02h30min.
- Abrigo Massenas até Abrigo Macieiras: 01h40min.
- Abrigo Macieiras até o final da trilha, junto ao Piscinão de Maromba: 02h15min.

# Nessa travessia só consegui sinal de celular no mirante das ruínas da Torre de TV, junto ao Abrigo Massenas. Dizem que próximo do antigo Alsene é possível encontrar sinal de telefonia celular.


# Desde o final da travessia Rui Braga, junto a Piscinão de Maromba até a Via Dutra são mais de 10 km.

# Na Rui Braga, junto aos Abrigos Massena e Macieiras é possível encontrar pontos de água próximos, mas que podem estar secos em época de estiagem longa. Tome muito cuidado com isso.


# Logística é sempre um problema nessa travessia, já que o acesso a parte alta do PNI é somente com veiculo. 

Abaixo seguem alguns contatos de Itamonte que podem levar você até a portaria do Parque ou resgatá-lo, dependendo em que sentido está fazendo a travessia:
- Taxista Marquinhos (35) 99113-1214 - um dos mais baratos que já conheci.
- Sr. Samuel (35) 99113-1700 
- Zezinho    (35) 99113-0745 
- Carlinhos  (35) 99109-1185
- Maú          (35) 99216-4793
- Neivaldo: (35) 3363-3078 - (35) 99140-3751 - (35) 98465-3451 - (35) 99889-1171.
- Zé Roberto: (35) 3363-1356 - (35) 99854-0567 - (35) 99113-4325 - (35) 99155-0442
- João: (35) 99162-2988.
- Lazaro: (35) 99137-6434 - (35) 99913-6305 - (35) 98424-7068.
- Mauro: (35) 99176-3152 e (35) 99931-0128.
- Amarildo: (35) 99934-7249 e (35) 99129-7522.

# Outra opção barata também são taxistas ou moto-taxistas de Itamonte/MG: clique aqui.

# Para fazer essa travessia é obrigatório solicitar Autorização do PNI - www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/reservas.html

# Existe um ônibus circular que faz a linha Parque Itatiaia – Rodoviária de Itatiaia com poucos horários: clique aqui


# Algumas informações sobre as travessias no Parque do Itatiaia:

9 comentários:

  1. Boa tarde,

    parabens pelo site!! Conheço essa trilha até as prateleiras e conforme fui lendo o seu texto fui me sentindo no lugar.....

    Parabens!!!

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    1. E aí , blz?

      Minha intenção em todos os relatos é sempre descrever essas caminhadas com o maior número de detalhes.
      É a minha maneira de escrever, até para ajudar também quem queira repetir essas caminhadas.
      Se vc curte leitura de relatos, aqui no blog deve ter uns 60 e só do PN do Itatiaia deve ter uns 4 relatos.

      Boa leitura e valeu pelo elogio.


      Abcs

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  2. Olá Augusto, pretendo fazer a travessia. Baixei o tracklog e no google earth parece que o final da trilha termina na mata. Esta trilha termina na portaria da parte baixa do parque? Qual melhor logistica, ir de carro até a parte alta e providenciar transporte na parte baixa e voltar para pegar o carro? tem outra sugestão? Abraço e parabens pelo post.

    Atenciosamente, Claudio Carvalho

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    1. Oi Claudio, tudo bom?
      Essa trilha termina no interior do Parque, junto ao Poção de Maromba, que é o local até onde é possível chegar de carro, para quem está entrando no Parque pela parte baixa. Até esse local a estrada é toda asfaltada.
      Por isso que terminei a trilha nesse lugar.
      Para quem não tem um transporte aguardando, ainda tem de continuar a caminhada pelo asfalto até próximo a Administração o PNI, onde é possível pegar um circular até a Rodoviária de Itatiaia.
      Do Poção de Maromba ainda é um longo trecho até a portaria da parte baixa do Parque. Se não conseguir pegar o circular, creio que uma carona não seja dificil.

      Eu não recomendaria ir de carro até a parte alta p/ depois voltar p/ pegá-lo.
      Vou deixar 2 sugestões, mas vai depender de onde vc estive vindo.
      A primeira opção é deixar o carro na cidade de Itatiaia e lá pegar um táxi ou algum transporte que te leve até a parte alta do Parque.
      A segunda opção é seguir de ônibus até Itanhandú/MG e de lá em um circular até Itamonte, onde vc pode pegar um dos inúmeros taxistas que eu sugeri no relato acima, para te levar até a parte alta do Parque. E depois no final dessa travessia, próximo ao Poção de Maromba, pegar o circular até a Rodoviária de Itatiaia.

      Valeu.


      Abcs

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    2. Muito obrigado pela dica, um grande abraço e continue fazendo ótimas trilhas para nos inspirar. Eu fiz uma recentemente em Conceição do Rio Verde, MG, na antiga estrada, muito interessante.

      Abraços,

      Claudio

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  3. Olá Augusto, tudo bem?! :) Por favor, gostaria de saber se posso usar suas imagens para eu divulgar a travessia Ruy Braga, a fim de levar um grupo para realiza-la!

    Obrigada,
    Bruna

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  4. Oi Bruna, tudo bom?
    Não vejo problemas, citando a fonte.
    Mas se puder, me mande um e-mail, por favor.
    agsts2@gmail.com

    Abcs

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  5. Caro Augusto, boa Noite.
    Não sei se você já mudou este "blog" algumas vezes ou se tens outro(s) site(s), mas já acompanhei vários de seus registros, fotográficos e descritivos, e são todos excelentes. Muito úteis. Meus parabéns, caro. Um abração.

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    1. E aí Carmoro?
      Alterei algumas vezes o formato e a hospedagem era em outro site também.
      Mas os relatos são os mesmos. kkkkkkk.
      Não na mesma regularidade e quantidade como era antes.
      A gente vai eliminando muitas caminhadas que estava na lista e para não repetir opções ou caminhar por lugares sem muitas atrações, preferi diminuir o ritmo.
      Mas de vez em quando surgem algumas inéditas.
      Valeu pela lembrança.
      E obrigado pelo elogio.

      Abcs

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