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30 de agosto de 2017

Relato: Travessia da Serra do Quiriri – Monte Crista x Monte Araçatuba – Divisa SC/PR

Sempre que se aproximava o mês de Julho, uma travessia no sul do país entrava na minha lista, mas nunca dei sorte porque nas datas que eu tinha disponível o clima não ajudava. 
Em 3 caminhadas que fiz nessa região peguei chuvas torrenciais; LagamarSerra Geral e Pico do Paraná foram alguns desses exemplos. 
E por causa disso fui deixando de lado uma travessia muito elogiada e conhecida por lá que eu queria fazer há muitos anos. É a da Serra do Quiriri, na divisa entre PR e SC. 
Porém teve um ano em que a meteorologia previa uma estiagem prolongada, sem chuvas e perfeita para uma caminhada.
Pensei comigo, tem de ser agora. Marquei para a última semana de Julho e com a promessa da Natureza ajudar, fui procurar relatos, tracklogs e cartas topográficas para ver qual o melhor local para iniciar e finalizar essa caminhada. 
Devido a logística selecionei 3 que iniciam no mesmo lugar - Balneário do Rio Três Barras em Guaruva/SC:
- A mais curta com 21 Km, segue até o alto da Serra do Quiriri e retorna para a mesma cidade por outro acesso, passando pelo topo do Monte Crista e Monte Guaruva.
- A segunda opção com 36 Km, finaliza na divisa SC/PR, próximo da cidade e passa pelo topo do Monte Crista, Morro da Antena e Pedra da Tartaruga, fazendo uma trajetória no formato de "U" invertido.
- E a última opção com pouco menos de 70 Km, finaliza no Bairro de Matulão, em Tijucas do Sul/PR junto à Rodovia BR-101, passando pela crista da Serra do Quiriri e no topo do Monte Araçatuba, cruzando totalmente a Serra na direção Sul-Norte. Fui pesquisar melhor para ver se valia a pena caminhar tudo isso por quase 5 dias. E depois de muita leitura e de estudar alguns tracklogs, decidi por essa.


Fotos acima do topo da Serra do Quiriri com seus campos de altitude

Fotos dessa caminhada: clique aqui

Vídeo completo dessa travessia: clique aqui
Tracklog para GPS: clique aqui


A Serra do Quiriri se caracteriza por ser uma serra longitudinal com extensão de pouco menos de 15 Km na direção norte-sul. Possui um relevo ondulado, com inúmeros picos e grandes áreas de baixadas e por estar próximo do litoral, o lugar é nascente de vários rios que descem à oeste e leste.
A maior parte da caminhada é pelos campos de altitude, às vezes seguindo pela crista ou subindo e descendo morro. Nas suas bordas existem também áreas de mata atlântica, mata ciliar e quem faz essa travessia iniciando em Guaruva e seguindo até o Morro do Araçatuba é obrigado a passar por uma extensa área de reflorestamento de pinus pertencente a empresa Comfloresta, já quase no final dela. 
No alto da serra os campos de altitude permitem um visual panorâmico da crista e a vegetação é de pequenos arbustos e capim baixo. As trilhas são de fácil identificação, podendo ser vistas até nas imagens de satélites e para quem já fez a Serra Geral no sul do país, vai notar uma semelhança na vegetação.
Porém é necessário obter uma autorização antecipada para passar pela propriedade da Fazenda Alto Quiriri, no alto da Serra.
Com essas informações e com mais de 1 semana para fazer essa travessia, comprei a passagem SP-Joinville para o último horário de um Domingo (23h15min) pela Viação Catarinense. Coloquei alguns tracklogs na memoria do celular, deixei minha mochila pronta e depois de receber a autorização por e-mail, imprimi e fiquei aguardando o Domingo chegar.
BR 101
Ao embarcar na Rodoviária do Tietê, o motorista do ônibus pediu para levar a mochila comigo para o assento, pois iria descer no meio da Rodovia BR 101.
Não conseguindo dormir, só fui tendo alguns pequenos cochilos ao longo do percurso e quando o ônibus parou nos arredores de Curitiba para trocar de motorista, fiquei mais atento, porque logo iniciaria o trecho de descida da Serra do Mar e cruzaria a divisa do PR com SC. 
Não demorou muito e após passar a cidade de Guaruva/SC, só fico esperando chegar na Balança, cerca de 8 Km à frente. 
Início da estrada
A Rodovia é a BR 101 e desço do ônibus em frente a uma estradinha que leva ao Parque Aquático Monte Crista e com a Balança do outro lado da Rodovia. O que chama a atenção aqui é um enorme totem de concreto com o nome de Monte Crista. 
São pouco mais de 07:00 hrs e a região está totalmente encoberta com um típico friozinho de inverno, mas nem me preocupo com isso porque a previsão do tempo era de Sol pelos próximos dias.
Iniciando a gravação do tracklog no GPS do celular, deixo-o em modo avião e vou seguindo pela estrada, passando por plantações de bananas e o Rio Três Barras surgindo do lado direito em alguns momentos. 
Rio Tres Barras
Cumprimento alguns trabalhadores que estão colhendo mandioca numa plantação e as 08:00 hrs chego em um grande estacionamento do lado direito.
Foram pouco mais de 2 Km desde a Rodovia em um ritmo bem lento, somente para dar uma aquecida nos músculos. Aqui existe uma casinha de apoio ao montanhista e fichas de cadastro para quem vai subir a serra. Com o lugar deserto e sendo o primeiro a chegar, preencho a ficha e sigo para a ponte pênsil sobre o Rio Três Barras que fica ao lado. 
Cruzado o rio, a trilha segue para esquerda por trecho demarcado em meio a mata atlântica e com 10 minutos já chego na margem de um outro rio, o do Cristo e aqui procuro o melhor ponto para cruzá-lo sem molhar a bota. 
Grupos subindo
Devido ao clima seco não tive tanta dificuldade e de agora em diante vou ganhando altitude por aclive suave, passando por trechos erodidos pela enxurrada.
Com uma ou outra bifurcação, a trilha principal é fácil de identificar, podendo ser feita até durante a noite. Algumas nascentes cruzam a trilha e numa delas paro para um pequeno descanso. Um casal com cachorro (Rodrigo e sua namorada) passa por mim e só trocamos bom dia e eles continuam subindo.
Mais alguns minutos e mais 2 grupos passam subindo a trilha. É o Oswaldo com seu filho e mais 2 amigos, que são de Jaraguá do Sul/SC (cidade próxima) e o Sidnei com o Jairo. 
Fôlego retomado, volto a caminhar, acompanhando e conversando com eles. 
Caminho dos Ambrósios
Ao longo dessa subida uma coisa me chama a atenção: trechos de calçamento de pedras. São vestígios do Caminho dos Ambrósios e numa busca do Google encontro outras denominações também: Caminho do Peabiru ou Trilha dos Jesuítas. São antigos caminhos que foram construídos sobre uma trilha indígena, com mais de uma centena de anos e ligava o litoral ao planalto de SC e PR. Lembra muito outro caminho histórico que também já fiz: a Trilha do Ouro, no Parque Nacional da Serra da Bocaina. 
Às 10h15min chegamos a um grande descampado, na altitude de 250 metros e fico conversando com os grupos. Do lado direito existe uma queda de água; é a Cachoeira Véu de Noiva e vou até lá para alguns clics. 
Cachoeira Véu de Noiva
Ela fica escondida pela densa vegetação e possui pouco volume que escorre pela pedra de uma altura de uns 10 metros. O acesso à base e ao topo é por 2 trilhas diferentes. 
Volto para a trilha principal e continuo a subida que de agora em diante se torna cada vez mais íngreme, surgindo outros trechos do calçamento de pedras e enormes voçorocas, onde o cansaço vai tomando conta, me obrigando a parar em alguns momentos.
Subida árdua
Os grupos vão se alternando na dianteira e eu com minha cargueira carregada vou ficando para trás. Em alguns trechos a trilha segue por grandes canaletas e vou ganhando altitude rapidamente, mas com grande esforço.
Mirante
E as 11h50min chego em uma grande pedra do lado esquerdo e com a ajuda de uma pequena corda e alguns grampos alcanço o topo dela, onde o Oswaldo e seu grupo apreciam a vista. A altitude aqui é de 690 metros e o lugar é um mirante natural, com vista panorâmica para os lados oeste e sul. São serras e mais serras a perder de vista na direção de Joinville. A felicidade era grande, mas nem tanto pelo visual, mas devido ao Sol que brilhava intensamente sem uma nuvem sequer no céu. Maravilhoso.
Serra ao redor
Alguns clics e volto para a trilha com a indicação de que o último ponto de água antes do topo estava próximo e estava mesmo. Só foi caminhar mais 5 minutos e encontro uma pequena nascente embaixo de algumas pedras, no lado direito da trilha, na altitude de 720 metros. Resolvo encher minhas 3 garrafas PET, totalizando 2,5 litros de água; o suficiente para fazer o jantar e o café da manhã.
Monte Crista lá em cima
A mochila que já estava pesada, com a água fica mais ainda e por isso vou subindo em um ritmo mais lento. Passo por um descampado na altitude de 825 metros, já com vista para o Guardião de Pedra (conhecido também como Sentinela ou Vigia) próximo do topo. A Pedra é uma grande formação rochosa que lembra uma pessoa sentada, vigiando.
Guardião de Pedra
O trecho final até a base do Monte Crista é bem íngreme e uns 2 minutos antes de chegar lá encontro uma bifurcação à direita que leva a uma pequena bica de água. A quantidade é pouca, mas pode ser útil em uma emergência e talvez como ponto de reabastecimento (eu preferi trazer lá de baixo, por ter um volume maior). 
Passando pela bifurcação da bica é só mais alguns metros e chego a um grande descampado, na altitude de 895 metros. O local é muito bom porque é protegido pelas árvores e totalmente plano, mas me deixa triste ver uma grande quantidade de lixo com muito papel higiênico jogado ao relento, por isso muito cuidado onde pisa se for explorar ao redor. São 13h40min e sem perder tempo deixo minha mochila aqui e sigo para o topo do Monte Crista. 
Chegando ao topo
O trecho final é íngreme e escorregadio, mas sem o peso da cargueira nem sinto o esforço.Vou primeiro no Guardião de Pedra e em seguida ao um conjunto de pedras junto à encosta, onde encontro o grupo do Oswaldo aproveitando o Sol. Mais alguns metros, chego na crista e dali vou seguindo até o ponto mais alto, na encosta leste, passando por 2 descampados bons para camping, mas desprotegidos.
Vista do topo
E pouco depois das 14:00 hrs chego ao topo do Monte Crista exatamente na altitude de 967 metros, apontado no GPS do celular, que é a mesma altitude da carta topográfica do IBGE. A vista é desimpedida na direção do litoral, sendo possível ver a foz do Rio Três Barras e o encontro com o mar. Joinville parece estar bem próximo, assim como algumas cidades litorâneas.
Com algumas rajadas de vento e Sol de rachar, o topo não possui área de sombra e fico aqui em cima de algumas rochas só apreciando a paisagem, observando ao norte as escarpas da Serra do Quiriri e seus campos de altitude que me aguardam no dia seguinte.
Desço do topo até o descampado para montar minha barraca e lá me despeço do Oswaldo e seu grupo, que retornam pela trilha (depois troquei mensagens com ele e disse que finalizaram a trilha a noite, mas sem dificuldades).
Topo ao entardecer
Barraca montada e depois de um breve descanso volto ao topo para acompanhar o Por do Sol e as 17h23min os últimos raios se escondiam nas cristas da serra. Conversei um pouco com o Sidnei e o Jairo que iriam montar suas barracas aqui no topo e antes que a noite chegasse, voltei na barraca para preparar meu jantar.
A noite caiu rapidamente, mas a temperatura estava razoavelmente agradável – cerca de 15ºC. O banho foi “nas coxas” usando um pouco de água da bica da trilha abaixo somente para me livrar do suor e da pele oleosa, acumulados durante a subida.
O jantar foi com talharim, linguiça e sardinha em lata, além de um pouco de suco.
Com estomago forrado, já me enfiei no saco de dormir e só me lembro de ter pego no sono por volta das 20:00 hrs, deixando o celular para despertar as 06h30min, para ver o Nascer do Sol.
Amanhecendo
No meio da madrugada, por volta das 03:00 hrs, acordei e saí da barraca.
O termômetro marcava 8ºC, sem ventos, com um céu maravilhoso e limpo; A nossa Via Láctea poderia ser vista de uma ponta a outra. Eram constelações e mais constelações, com as 3 Marias e o Cruzeiro do Sul que podiam ser identificadas facilmente. 
Voltei para dentro da barraca e dormi novamente só acordando com o despertador do celular e por ter deixado ele ligado, a bateria apontava 23%, me obrigando a utilizar o Power Bank pela primeira vez.
A barraca estava totalmente seca e não precisei deixá-la ao Sol para secar. Presenciei os primeiros raios de um platô ao lado, junto de um descampado. A vista também era privilegiada com os raios surgindo no oceano ao fundo as 06h50min. 
Colchão de nuvens
A região da planície litorânea estava encoberta por um colchão de nuvens, enquanto que as cristas da Serra do Quiriri totalmente abertas. Depois do espetáculo fui preparar meu café da manhã que foi cappuccino com bolacha recheada e algumas Ana Maria.
Ainda fiz uma última visita ao topo do Monte Crista para alguns clics e de volta ao descampado, agora era hora de desmontar a barraca, organizar a mochila, recolher o meu lixo e pé na trilha. Dos 3 grupos que subiram junto comigo era o único a continuar a travessia. Era eu e os imensos campos de altitude que me aguardavam e só pedi a Deus proteção para que tudo corresse bem. Voltei a caminhar as 08h20min, agora no sentido contrario ao topo.
Cachoeira com piscina
Sem uma nuvem sequer e um céu totalmente azul, sigo por trilha demarcada, passando ao lado de alguns descampados e cruzando pequenos riachos. Atrás de mim o topo do Monte Crista se distancia cada vez mais e é possível ver exatamente o perfil com sua encosta vertical. Depois de passar por um trecho de mata ciliar no fundo do vale e cruzar um riacho com algumas piscinas naturais, a trilha volta a subir, dessa vez em campo aberto.
Surgem mais trechos do calçamento de pedras e as 09h15min passo ao lado de uma bifurcação à esquerda que leva a uma cachoeira no Rio Três Barras. Deixo a mochila na trilha e vou descendo por trechos íngremes e uns 5 minutos depois chego na margem do rio repleto de grandes pedras e com uma piscina natural convidativa. A cachoeira possui varias quedas, mas com água muito fria desisto de chegar até ela ou até de entrar na piscina. 
Só tiro alguns clics e retorno para a trilha principal para continuar minha caminhada. 
Subindo a Serra
Já com a mochila nas costas, vou passando por inúmeros descampados que são usados como acampamentos e num deles até encontrei uma lona estendida. Pequenos trechos de taquarinhas (bambuzinhos) surgem na trilha, mas a navegação é tranquila, onde a mata atlântica vai dando lugar a alguns trechos dos campos de altitude. Belos vales, tomados por mata ciliar e picos desnudos são belas visões desse trecho da trilha. A beleza do lugar junto com o aclive e o peso da mochila são alguns dos motivos para eu parar e descansar em alguns momentos, apreciando o visual. Surgem bifurcações à direita e à esquerda que provavelmente servem como desvios ou levam a algumas pequenas cachoeiras.
Vou passando ao lado de algumas formações rochosas e dependendo do ponto de vista lembram alguns objetos ou animais.
Face do Lagarto
As 11h20min, na altitude de 1265 metros, cruzo com um pequeno riacho, onde paro para reabastecer de água. Daqui sai uma bifurcação à direita que parece seguir na direção do Monte Guaruva e de lá desce para cidade homônima. Essa é uma das opções de travessia na Serra do Quiriri, mas a parte mais legal dessa caminhada ainda está por vir, por isso não acho que vale a pena seguir essa opção de travessia, a não ser que planeja fazer essa caminhada somente em 2 dias.
Um breve descanso e com garrafas cheias de água, retomo a caminhada cruzando o riacho e seguindo por trecho íngreme até passar ao lado da Pedra do Lagarto, que surge escondida atrás de um pequeno morro. A Pedra lembra mesmo a face de um lagarto e próximo dali também encontrei outra pedra que se parece com um tatu. Um Gavião Carcará pousa perto de mim e fica me observando; tento chegar o mais próximo dele para um clic, mas só consigo essa foto aqui.
Pela crista
Belas paisagens dos campos de altitude já podem ser vistas até o horizonte e com um céu estupidamente azul são mais lindas ainda. Lembra um pouco aquelas telas de descanso do Windows.
Os trechos mais íngremes acabaram e agora só vou contornando pequenos morros, sem ganhar muita altitude. Para a direita vejo o Monte Guaruva e o Jurema, que se destacam na crista e na minha frente o Morro do Bradador (ou Morro da Antena), que é o meu próximo objetivo.
As 12h50min, na altitude de 1350 metros cruzo uma cerca de arame, que parece ser o limite da Fazenda Alto Quiriri e aqui fico procurando alguma bifurcação que leva ao Morro da Antena, já que a trilha principal segue na direção da sede da Fazenda. Sem encontrar trilha ou alguma bifurcação, vou seguindo um dos tracklogs que me leva a um pequeno lago no fundo de um vale, na altitude de 1270 metros, onde cruzo um pequeno riacho e vou subindo a encosta íngreme do outro lado, por trilha demarcada na direção das antenas, quase que em linha reta. 
Chegando nas antenas
A subida é cansativa e vou parando em vários momentos para retomar o folego. Para evitar trechos muitos íngremes, vou contornando para a direita até já conseguir visualizar o Morro do Bradador lá no alto. Daqui em diante a navegação é só no visual, pois a vegetação é baixa e facilita a caminhada. 
E exatamente com 1 hora de subida (às 14h30min), caio em uma antiga estrada e daqui são poucos minutos até o topo. Pelo caminho encontro 3 pessoas descendo de lá e um deles eu reconheço: é o Rodrigo, que tinha subido o Monte Crista com a namorada dele no dia anterior. Num breve bate papo, ele disse que veio de carro e deixou-o perto da sede da Fazenda e de lá subiram na caminhada para conhecer o lugar. 
Me despeço deles e as 14h45min chego no topo do Morro do Bradador bastante cansado. A altitude aqui é quase 1530 metros, sendo um dos pontos mais altos dessa travessia (o maior é o Monte Araçatuba com cerca de 1670 metros). A vista é panorâmica e existem 2 casinhas.
Morro do Bradador
Numa delas encontro um adesivo de Wifi Zone e com sinal aberto. Pensei comigo: acesso à internet aqui em cima? Tá de brincadeira....... mas logo veio a decepção. Não consigo me conectar de jeito nenhum. Tudo bem; deixa para lá. A casinha pertence ao CRAJE (Clube de Radio Amador de Joinville) e os equipamentos dentro dela devem ser bem caros, pois vi 4 câmeras de vídeo vigiando o lugar. 
Agora a dúvida cruel: qual caminho seguir? Se fosse na direção do Monte Padre Raulino e da Pedra da Tartaruga era só descer o vale ao norte e nessa direção passaria por um lugar conhecido como Vale Encantado, mas teria o problema de montar acampamento em uma área desprotegida, sujeito a ventos fortes durante a noite e encontrar água de qualidade duvidosa, segundo informações nesse relato aqui (IMPORTANTE: Leia o adendo com informações atualizadas no final do relato)
Entrada da Fazenda
E como o cansaço já batia, eu não queria ir muito longe, então escolhi voltar pela estrada e seguir na direção do vale onde fica a sede da Fazenda Alto Quiriri, a oeste, onde já sabia que existia o Rio Quiriri, junto da porteira de acesso à Fazenda.
São 15h20min e depois de alguns clics das antenas e um descanso no local, tento encontrar sinal de celular da Vivo, mas não dou sorte e desisto.
O trecho inicial retornando pela estrada é no plano, mas logo estou descendo para o fundo do vale e já no fim da descida cruzo com um pequeno riacho e as 16h10min chego na porteira da Fazenda, junto ao Rio Quiriri. Do lado de fora da propriedade vestígios de acampamentos com restos de uma fogueira e lixo (latinhas de cerveja, embalagens de alimentos, papel higiênico, etc..)
Parece que o local é um “ponto oficial” para acampamento. Protegido dos ventos fortes e com rio ao lado, decido que aqui é o fim da caminhada do dia.
Barraca na mata ciliar
Monto minha barraca próxima da ponte sobre o Rio, no meio da mata ciliar. A água do rio eu não achei 100% confiável para beber e dei sorte de ainda ter uma pequena reserva que usei para o jantar. Para um banho revigorante creio que tudo bem. 
O jantar à base de massa com carne defumada fechou o dia. Só tive que usar um pouco mais de comida porque ao esbarrar de leve na panela, deixei cair boa parte dela em cima do isolante. Foi um Deus nos acuda, para não molhar o saco de dormir e o piso da barraca, me obrigando a retirar algumas coisas da barraca para secar o piso e o isolante. Passado o susto voltei a fazer o jantar com mais cuidado.
E com pouco mais de 30% de bateria, deixei o celular carregando novamente no Power Bank.
Antes de me enfiar no saco de dormir, fui olhar a temperatura que marcava próxima de 5ºC e dessa vez não me encorajei a levantar no meio da madrugada.
Caminho a seguir
E por volta das 06:00 hrs já estava levantando e dessa vez com a cobertura da barraca cheia de crostas de gelo, como nessas fotos aqui e aqui.
E conforme fui desmontando ela, tive que estender a cobertura em cima de alguns arbustos para secar e com isso demorei um pouco mais para retomar a caminhada, pois o Sol só foi aparecer naquele fundo de vale por volta das 07h30min.
Novamente um céu azul e sem nuvens. 
Café da manhã tomado e mochila organizada, voltei a caminhar as 08h10min. 
Seguindo pela estrada na direção contrária à sede da Fazenda, vou caminhando com mochila cada vez mais leve, já que restam pouca comida e pouca água. Meu destino é o Marco da Divisa SC/PR e com a previsão de chegar ao final do dia no meio do reflorestamento de pinus. 
Exploração de caulim
Seguindo pela estrada, passo ao lado de uma propriedade que explora o caulim (tipo de areia muito branca usada na indústria de cerâmica) e com 30 minutos de caminhada abandono a estrada.
Agora vou subindo rente a uma cerca de arame até o topo de um morro e antes de chegar nele, intercepto uma estrada que vem de um pequeno rancho abaixo, à esquerda.
Mais 5 minutos pela estrada e agora o tracklog me direciona para um riacho no fundo do vale, na direção nordeste, pelo meio de um antigo pasto.
Descendo por antigos caminhos de vaca pelos campos de altitude, a trilha passa ao lado de um cocho para animais até chegar a uma grande área de charco, onde dois pequenos riachos se encontram. A água aqui é bem mais confiável, por isso fiz um pouco de suco e enchi as 2 garrafas pequenas.
Belo vale
Depois da breve parada, retomo a caminhada na direção de uma das nascentes do riacho, sentido norte, evitando os trechos mais complicados daquela imensa área de charco. Seguindo para a direita, vou contornando as partes mais baixas e junto a um pequeno trecho de mata nativa subo a encosta até interceptar a trilha principal que vem do Vale Encantado, à direita. 
São quase 10:00 hrs e agora sigo pela trilha principal na direção norte até cruzar uma cerca de arame 10 minutos à frente. Mais alguns metros e a trilha se bifurca. Quem quiser passar pelo Marco da Divisa é só seguir na bifurcação da direita e me orientando por um tracklog é o que eu faço, avançando para o alto de um morro. 
No topo do Morro do Munhoz
Sua crista é bem alongada e ao final dela uma descida íngreme em zig zag até cruzar com um pequeno riacho às 10h30min. 
Esses trechos de descida pela encosta íngreme são até mais complicados que os de subida, por isso dou uma parada no riacho para retomar o gás, mas logo volto a subir a encosta por trilha demarcada até chegar no topo do Morro do Munhoz, cerca de 30 minutos depois do riacho.
São 1432 metros de altitude e a vista daqui é panorâmica. Na direção leste se destaca a Pedra Branca do Araraquara e o litoral de Guaratuba ao fundo. Ao sul é possível ver toda a crista da Serra do Quiriri com seu mar de morros cobertos por campos de altitude. Um pouco mais ao norte se visualiza o início da imensa floresta de pinus com o Pico do Imbira em primeiro plano e bem ao fundo o ponto mais alto dessa caminhada; o Monte Araçatuba, que provavelmente chegarei no dia seguinte.
Marco da Divisa
Depois de gravar um pequeno vídeo no topo, desço a encosta norte para chegar no Marco da Divisa. É um monumento de concreto de uns 5 metros de altura, construído em homenagem a um acordo de 1916 entre SC e PR, que delimitou a fronteira dos 2 Estados. 
Seguindo rumo oeste vou perdendo altitude suavemente até cruzar com um riacho, que segue na direção norte. Mais alguns minutos de trilha e intercepto a trilha principal novamente, agora seguindo paralelamente ao riacho. Cruzo pequenas áreas de charco e as 12h15min finalizo a caminhada pelos campos ao chegar na estrada. 
De agora em diante deixava para trás os vastos campos de altitude catarinenses do Quiriri para adentrar no imenso reflorestamento da empresa Comfloresta, já no PR.
Reflorestamento de pinus
É uma área que não tem encanto algum, já que são pinus e mais pinus a perder de vista. Seguindo um dos tracklogs, vou caminhando por estradas de terra em meio ao reflorestamento. Quando pude perceber exatamente o imenso vale que teria de transpor pensei comigo: tô fud........ Terei que descer toda essa encosta para depois subir mais ainda do outro lado? Que roubada que fui me meter.
Paciência né. Então vamos em frente.
Esse trecho inicial pelo reflorestamento alterna entre pequenas subidas e planos até a longa descida até o fundo do vale, passando por varias bifurcações.
Sem um tracklog aqui é perigoso demais, já que as bifurcações formam um verdadeiro labirinto e não se tem referencia para navegação, pois os pinus não permitem visualizar a região ao redor, a não ser que você leve várias imagens de satélites impressas com a trilha.
Rio Pirai-Guaçú
Do inicio da floresta foi quase 1 hora de descida até o fundo do vale, onde cruzo o Rio Pirai-Guaçú, que é um convite a um banho e com uma piscina natural junto da ponte eu não resisto, apesar da água estar bem fria. Revigorado e com mochila nas costas volto a caminhar, agora por pequenos trechos de subida.
Seguindo à risca o tracklog, vou ganhando altitude aos poucos, sempre caminhando por estradas em meio ao reflorestamento e rezando para que o celular não apresentasse algum problema.
É quase um zig zag para evitar os trechos mais íngremes. Em vários momentos fui parando para um descanso e com isso minha água já estava quase no fim. Resolvi pegar somente 1 litro no rio anterior e por isso não via a hora de chegar ao topo.
Subindo a encosta
Nos trechos com aclive suave o ritmo era mais rápido, porém eram curtos, tendo a predominância de trechos íngremes. Conforme ganhava altitude a paisagem se abria a oeste e numa eventual emergência é o caminho a percorrer, pois as estradas naquela direção conduzem a algumas fazendas e a cidade de Tijucas do Sul/PR.
Aqui no meio desse reflorestamento não existe nenhuma residência e depois de quase 2 horas e 30 minutos de subida por estradas de terra, chego ao ponto mais alto, na altitude de 1435 metros. Nesse trecho tive um pequeno problema de navegação para encontrar a continuação da trilha, pois a vegetação estava bem alta nessa parte da trilha, mas nada muito difícil. São 16h30min e depois de encontrar a trilha novamente vejo que tenho outro grande vale para atravessar. Isso quer dizer mais descida e mais subida, porém nesse trecho de descida a caminhada não é por estrada consolidada e sim por trilha. 
Descendo por trilha
Talvez até exista um trecho alternativo por estradas, mas deve ser bem mais longo.
Descendo pela encosta suave, a caminhada segue por uma antiga estrada cheia de buracos até chegar em um marco de pedras. Nesse ponto o tracklog me direciona para uma encosta muito íngreme, onde a trilha quase não existe, mas pelo menos a vegetação é de arbustos, algumas pequenas árvores e capim que não atrapalham a visão.
Só é preciso tomar cuidado para não rolar encosta abaixo e em vários momentos quase torço meu tornozelo, pois o peso é todo direcionado aos pés.
A minha bota Quechua que já vinha pedindo arrego, é nesse trecho que ela vai para o saco de vez, descolando o solado em alguns pontos. Pelo menos o trecho de descida é curto e com 20 minutos estou de volta a uma antiga estrada.
Por do Sol
E em mais 5 minutos chego ao fundo do vale, as 17h10min, na altitude de 1110 metros, junto a um pequeno riacho e é aqui que a caminhada do dia termina.
Sem sombra de dúvidas esse foi o dia mais cansativo da travessia, pois o trecho pelo reflorestamento é de matar qualquer um.
Daqui a poucos minutos o Sol vai se esconder atrás das cristas da serra e a noite vai cair sobre a região, então monto rapidamente a barraca e ainda consigo clicar os últimos raios do Sol as 17h30min. Depois de um relaxante banho, vou para dentro da barraca preparar meu jantar.
O peixe já tinha acabado e a linguiça defumada estava no fim, mas ainda restavam 1 pacote de macarrão e algumas frutas secas e caramelizadas. 
Camping no fundo do vale
Depois de checar o tracklog vejo que é perfeitamente possível chegar em Curitiba no final do dia seguinte. Estomago forrado, agora era hora de pegar no sono, porém ao deixar o celular carregando no Power Bank, notei que ele chegou somente até 55%. O Power Bank tinha acabado a carga (consegui usar 2,5 cargas). Não era um bom sinal e para não arriscar a ficar sem navegação e gravação do tracklog pelo GPS do celular no trecho final, resolvi desligá-lo. Era melhor assim ou arriscar a perder o final da gravação.
A temperatura estava agradável, em torno de 12ºC quando fui dormir por volta das 20:00 hrs e novamente no meio da madrugada fui checar o termômetro que marcava pouco menos de 10ºC.
Por volta das 06:00 hrs já estava acordando e preparando o café da manhã com cappuccino, alguns bolinhos e biscoitos recheados que não tinham acabado. 
Trilha pelo capim
Mochilas nas costas, voltei a caminhar pela estrada as 07h45min seguindo o tracklog, agora para subir toda encosta do vale, mas conforme vou ganhando altitude a vegetação vai mudando. O reflorestamento vai dando lugar a vegetação de arbustos e algumas árvores pequenas até a estrada ir se fechando aos poucos para dar lugar a uma trilha em meio a vegetação. Daqui em diante o caminho é por trilha em meio ao capim e alguns arbustos, tendo uma pequena marcação com fita colorida bem no inicio da trilha. A altitude aqui é de 1355 metros e foram cerca de 40 minutos de caminhada desde o acampamento. Seguindo pela trilha, ela se assemelha um pouco com os campos do Quiriri, mas com o capim um pouco mais alto e com vistas somente para algumas direções.
Pedras pelo caminho
Sem bifurcações, de vez em quando checo o tracklog para ver se estava no caminho certo e assim vou seguindo em meio ao capim e aos arbustos. Atrás de mim e bem ao fundo a crista da Serra do Quiriri com vários picos se sobressaindo.
À minha frente vejo que o aclive é bem suave até chegar ao topo do Monte Araçatuba, que pode ser visto daqui bem ao fundo ainda. Contornando um morro pela esquerda, a trilha segue sem ganhar ou perder muita altitude até passar pelo Morro da Baleia as 09h20min, junto a um pequeno vale.
A partir desse ponto começa a surgir uma vegetação que atrapalha muito a caminhada: as taquarinhas. 
Esse trecho é chamado de Inferno Verde e dá para entender perfeitamente porque colocaram esse nome.
Taquarinhas na trilha
As taquarinhas são um tipo de bambuzinho bem fino que fecha totalmente a trilha e vai prendendo na mochila a todo o momento.
Mesmo usando a força bruta não tem jeito e em vários momentos tive que parar para retirá-las do topo da mochila. Nessa hora que surgem alguns rasgos nela, como nesses aqui.
O boné eu tive que guardar na mochila, senão já tinha ficado para trás. E o pior disso são os espinhos que vão cortando a pele, principalmente na mão.
Vencido um pequeno trecho delas, chego numa pequena crista com vistas para leste, onde dava para ver uma enorme antena de TV e telefonia celular no topo de um pico, conhecido como Morro dos Perdidos. 
Parei aqui para tentar pegar algum sinal de celular da Vivo, mas em vão. E sem sinal não consigo enviar mensagens para minha família. Paciência.
Trilha íngreme e fechada
Descendo a encosta à nordeste, chego a um pequeno vale as 09h45min, onde encontro um marco de concreto muito antigo de cerca de 1 metro de altura, ao lado de uma placa de marco geodésico. Só tiro uma foto e prossigo a caminhada. 
Descendo em meio as taquarinhas e pelo meio da mata, a trilha está coberta pela vegetação e é preciso ter muito cuidado aqui, já que a trilha some em alguns momentos. Na subida da encosta percebo que o trecho também não seria dos mais fáceis, já que ela é muito íngreme e a mata bem fechada.
Ao iniciar a subida pela encosta, mais taquarinhas e muita vegetação fechando a trilha. O esforço era grande para vencer aquele trecho e algumas raízes e galhos foram sendo de grande ajuda para ganhar altitude.
Monte Araçatuba ao fundo
Foram quase 30 minutos em uma encosta de 150 metros de desnível que parecia não ter fim, tendo que parar em vários momentos para ganhar um pouco mais de folego e me livrar das taquarinhas. 
Finalizando o trecho pela mata fechada, agora saio em campo aberto e vou seguindo por trilha em meio aos campos de altitude, onde já vejo o topo do Monte Araçatuba bem próximo ao norte.
Evitando trechos de charco, vou ganhando altitude suavemente sem muitas dificuldades, já que a trilha é quase em linha reta e bem demarcada.
E exatamente as 10h55min chego no topo do Monte Araçatuba. 
Livro de assinaturas no topo
O GPS do telefone celular marca a altitude de 1670 metros e aqui é o ponto mais alto de toda essa travessia. Que felicidade. Cheguei aqui com muito esforço e não imaginava que essa caminhada fosse tão árdua, mas valeu cada gota de suor e sangue – culpa das taquarinhas que me arranharam em alguns momentos.
Depois de escrever uma mensagem no livro de assinaturas, tentei gravar um vídeo em cima das pedras, mas o vento não deixava de jeito nenhum. O áudio não dava para ouvir e quase caio lá de cima, pois as rajadas eram fortíssimas.
A vista daqui permite uma visão panorâmica de 360º, com Serra do Quiriri se destacando ao sul e vários sítios e chácaras com inúmeras plantações ao norte. 
Descendo do topo
Durante a noite com certeza dá para visualizar 1 dezena de cidades iluminadas. Escondido do vento atrás das pedras, acabo com as minhas últimas bolachas e com a água, pois sabia que na descida da trilha cruzaria com um riacho, só me restando algumas frutas secas.
Fiquei aqui no topo por cerca de 30 minutos e as 11h30min inicio a descida na direção norte por trilha demarcada e bastante íngreme. Conforme vou perdendo altitude, a vegetação vai se alterando e com pouco mais de 30 minutos cruzo com um pequeno riacho, onde mato a minha sede e encho minhas 2 garrafinhas. E próximo do final da trilha entro em um trecho de mata ciliar para finalizar nos fundos de uma casa as 12h30min – exatamente 1 hora de descida em um trecho de pouco mais de 750 metros de desnível.
Fim da trilha
Na entrada da trilha existe uma placa com algumas informações da trilha e um pequeno banheiro. Vejo se encontro alguém para pedir licença ao passar pelo quintal da casa, mas nem foi preciso. Um cachorro me denunciou e agora estou na estrada de terra e tenho um longo trecho até a Rodovia. Tendo quase 30% de bateria no celular, desligo o modo avião e começo a receber inúmeras mensagens pelo whatss, já que estava a mais de 4 dias sem contato com alguém da família. Aviso que está tudo bem e que logo chegarei em Curitiba e de lá de volta para SP. 
Carona que é bom, nada. Só passou por mim um ônibus escolar e uma van com frutas. 
Passando por plantações de legumes e uma cultura que me pareceu ser o fumo, a caminhada pela estrada é tranquila com uma ou outra subida leve de morro.
Bairro de Matulão
Conforme vou me aproximando da Rodovia BR 376, os sítios e chácaras vão dando lugar a algumas casas e pequenos comércios. O bairro se chama Matulão e pertence ao município de Tijucas do Sul/PR.
Em um dos mercados compro alguns salgados e sucos e vou comendo pelo caminho até chegar na Rodovia as 13h45min.
Aqui existe somente a pista de descida para direita, sentido Guaruva, mas não é para lá que quero ir e sim na direção contraria, para Curitiba, à esquerda.
Ao lado da Rodovia converso com o proprietário de uma loja perguntando sobre o ônibus para Curitiba e ele me diz que seguindo na Rodovia pela contramão por uns 20 minutos, as 2 pistas voltariam a se encontrar e nesse local existe um ponto de ônibus, onde era só aguardar o Expresso Maringá que faz a linha Guaratuba – Curitiba. 
Sem demora e com um pouquinho de pressa, sigo para a esquerda pela contramão da Rodovia com algumas leves subidas.
Encontro das 2 pistas da BR 376
E as 14h20min chego ao local onde as 2 pistas se encontram e cruzando a Rodovia, fico aguardando o meu ônibus. Aqui finalizei a gravação do tracklog, chegando a um total de pouco menos de 70 Km em 4 dias de caminhada.
Depois de colocar roupas limpas, fico olhando para a Rodovia esperando o ônibus, mas quase que eu perco ele.
Eram quase 15:00 hrs e vi um ônibus da Expresso Maringá vindo pela Rodovia, mas na pista da esquerda. Pensei comigo, perdi. Pqp. 
Mas não. Ela parou na pista da esquerda mesmo. Peguei minha mochila e tive que cruzar a Rodovia correndo para entrar nele, mas era o que dava para fazer.
O ônibus estava relativamente vazio e seguiu pela Rodovia, chegando na Rodoviária de Curitiba poucos minutos depois das 16:00 hrs.
Desci do ônibus e já fui correndo para os guichês comprar passagem para SP no primeiro ônibus que saísse e só fui encontrar o da Kaissara (antiga Itapemirim) saindo as 17:00 hrs. 
Com apenas 5 passageiros pude escolher qualquer lugar do ônibus, mas próximo de Juquitiba/SP (uns 65 Km antes de chegar no Terminal Rodoviário do Tietê) começamos a ouvir um pequeno alarme de dentro da cabine do motorista.
Parecia aqueles alarmes de celular, mas era algum aviso de que algo não estava bem. O motorista parou o ônibus junto a um posto de gasolina e veio com a triste noticia: a correia do radiador tinha quebrado e o motor estava esquentando muito. Dali em diante não dava para prosseguir mais. 
Ficamos aguardando algum ônibus passar na Rodovia em direção a SP e veio o da Cometa, depois de quase 1 hora de espera.
E devido a isso só fomos chegar em SP quase 00h30min e inicio da madrugada em casa.
Mesmo com esse pequeno probleminha, estava radiante de alegria. 
Não poderia ter sido melhor. 
Linda demais essa travessia. 
Entrou na lista das mais belas que já fiz.


Dicas e informações úteis (Atualizado Julho/2020)

Adendo sobre acampamento na região do Vale Encantado: Segundo informações dos montanhistas Fabiano e Getulio Vogetta, essa região onde se localiza o Monte Padre Raulino e a Pedra da Tartaruga possui SIM bons locais de acampamento e água de boa qualidade. A informação que estava no blog TMTrekking estava errada e o relato foi deletado da página (pelo menos isso, para não confundir outras pessoas). Se quiser ler, o relato é esse.

# Logística: 

- Ônibus SP-Joinville: Viação Catarinense 
- Ônibus Guaratuba-Curitiba: Expresso Maringá
- Ônibus Curitiba-SP: Viação Kaissara

# Para navegação e gravação do tracklog, eu uso e recomendo 3 app para o GPS do telefone celular. Todos na Play Store ou na Apple Store.
 - A-GPS Tracker ou o GPX Viewer para navegar nos tracklogs.
- E o Wikiloc para gravar o tracklog do percurso.

# Deixei o telefone celular o tempo todo em modo avião para não consumir muita bateria e mesmo assim ela descarregava ao longo do dia, tendo que fazer uso do Power Bank (carregador portátil) por 3x. 


# Não recomendaria fazer essa travessia sem um tracklog de confiança, apesar de que o trecho final, antes de chegar no topo do Monte Crista a trilha é bem demarcada, assim como a subida até ao alto da Serra do Quiriri.


# Já o trecho pela área de reflorestamento é complicado demais, devido a inúmeras bifurcações. O trecho do Inferno Verde é muito difícil ser completado sem um tracklog, já que a vegetação é bem fechada e as taquarinhas tomam conta da trilha.


# Também não recomendaria essa caminhada com tempo fechado. Dei muita sorte porque peguei vários dias de muito Sol e com uma vista lindíssima.


# Sempre que faço caminhadas longas consulto o site do Inmet onde é possível visualizar inúmeras estações meteorológicas com dados atualizados hora a hora de temperatura, umidade, precipitação, radiação solar e etc. Nesse site aqui.


# Não consegui sinal de telefonia celular da Vivo em nenhum trecho dessa caminhada. Somente no final, quando estava descendo o Monte Araçatuba.


# Para passar pela propriedade da Fazenda Alto Quiriri é obrigatório solicitar Autorização junto aos proprietários da mesma, através de e-mail para: Tainara Maria Leal – do Depto de Marketing da Imobiliária Hacasa: <
tainara.leal@hacasa.com.br>
Ou pelo telefone (47) 3632-8185.
É só fornecer os dados da pessoa e endereço, que eles enviam a autorização por e-mail que deve ser entregue a um funcionário da Fazenda. Veja nessa foto a autorização.

# Recentemente fui alertado por alguns montanhistas que a Fazenda estava cobrando para passar pela propriedade. Na verdade a cobrança é somente para quem vai pernoitar na Fazenda, usando a estrutura dela.
Para quem só irá passar pela propriedade, essa cobrança não existe.

# Não recomendo fazer essa travessia sem a solicitação dessa Autorização. Mesmo para quem está fazendo no sentido inverso, iniciando pelo Araçatuba.

# Já li relatos de pessoas que foram barradas próximos do Morro da Antena por funcionários da Fazenda. É uma encheção de saco, mas lembre-se que você está passando por dentro de uma propriedade particular e o mínimo que se pode fazer é pedir autorização.

# Devido a inúmeros abusos como algazarra, som alto, lixo, fogueiras e comboios de carros, os proprietários da Fazenda definiram novas regras para passagem pela Fazenda Alto Quiriri.
Veja nesses links: aqui e aqui.

# Para quem tem a intenção de fazer essa travessia evitando o trecho da Fazenda, o ideal é subir a serra pela Trilha do Queijo, cujo início é ao lado da divisa SC/PR (junto ao Km 0 da BR-101), passando pela Pedra da Tartaruga e pelo Monte Padre Raulino, Vale Encantado até chegar no Marco da Divisa. Veja esses arquivos de GPS.

# São vários riachos que existem na subida da trilha até o alto do Monte Crista e todos com água de boa qualidade, inclusive no trecho Monte Crista - alto da Serra do Quiriri.

# No trecho da crista da serra, onde existem os campos de altitude, só achei a água do Rio Quiriri, junto a porteira de acesso a Fazenda Alto Quiriri um pouco suspeita. Nos outros inúmeros pontos, inclusive na área de reflorestamento, a água era de boa qualidade.


# Existem opções para evitar as estradas de terra pela área de reflorestamento, mas exigirá esforço dobrado, pois alguns trechos são de vara mato. No Google Maps é possível traçar um roteiro seguindo mais a leste, próximo da Serra do Mar, evitando algumas áreas de reflorestamento.


# 1 par de luvas ajuda bastante no trecho das taquarinhas. 


# Acampar junto ao topo de alguns picos e morros pode não ser uma boa opção. Pude comprovar que as rajadas de vento são fortíssimas em alguns lugares.


# Não deixe de ler também os comentários que estão na página do tracklog, no wikiloc. Tem muita informação e dicas recentes que são muito úteis: clique aqui e veja.

11 comentários:

  1. Muito legal seu relato, parabéns.
    Todo ano faço essa travessia no sentido inverso e é realmente espetacular, não só pelo lugar mas também porque esse local é meu berço no trekking.
    Pena ter decidido não conhecer a pedra da tartaruga e vale encantado, para mim o mais belo local da travessia, e ali tem sim abrigo contra vento, já peguei temporal lá e foi tranquilo.
    Se for retornar, dá um alô, quem sabe montamos uma trip, e se quiser mais alguma informação sobre a região é só falar.

    Abraço, e bons ventos.

    Fabiano.

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    1. Oi Fabiano, blz
      valeu pelo elogio.
      Essa região é muito linda mesmo.
      Me lembrou um pouco do cerrado da Serra do Cipó, em MG.
      Visual totalmente aberto e vegetação baixa.
      É maravilhoso caminhar por esses locais.

      Como era minha primeira vez preferi não arriscar a ir para um local desconhecido.
      E porque tinha tempo contado para voltar a SP.
      Bom saber que o Vale Encantado possui locais protegidos.
      Se retornar lá será para outro percurso e vai demorar um pouco ainda.
      E tb não gosto de repetir caminhadas.
      Talvez passar por lugares que ainda não conheci nessa travessia.
      Agradeço a ajuda.

      Valeu.

      Abcs

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  2. Boa noite Augusto,

    Belo relato, ja fiz uma vez essa travessia, e estou planejando fazer denovo, dessa vez para pegar uns 4 dias e com bom tempo hehe.
    Vc saberia me dizer se o onibus q faz a linha Curitiba-Garuva passa em Matulao em Tijucas, no mesmo local onde vc pegou o onibus
    de volta para Curitiba?


    Abraços!

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    1. Oi Felipe, tudo bem?

      Essa linha da Expresso Maringa, sai de Curitiba e segue para Guaratuba.
      É só procurar na Rodoviária de Curitiba.
      E sim, ela passa na entrada do Bairro de Matulão.
      No local exato onde eu peguei esse onibus, as duas pistas da Rodovia se distanciam uma da outra.
      Elas só vão se encontrar novamente alguns Kms depois, descendo a serra.

      Então se vc estiver vindo de Curitiba é só pedir para descer na entrada do Bairro de Matulão, cerca de 5 Km depois de passar pela Represa de Vossoroca.

      Valeu pelo elogio

      Abcs

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    2. Olhando no Google Maps vc vai entender melhor.

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  3. Boa tarde Augusto!

    Belo relato nos vamos fazer essa travessia no carnaval previsão comecco dia 28/02/19 e vamos observar suas dicas .

    Obrigado!

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    1. Obrigado cara.

      Até o alto da serra dá para ir tranquilamente somente com o relato, mas se quiser ir até o Monte Araçatuba, aí recomendo levar o tracklog.
      Aquela area de reflorestamento é um verdadeiro labirinto. Muito cuidado por lá.
      Tomara que peguem tempo bom, porque epoca de Carnaval sempre chove.
      Boa sorte.

      Abcs

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  4. Olá!
    Muito bom o seu relato.

    Em relação ao trecho inicial, até o Monte Crista, existe trecho de escalada?

    Estou planejando um bikepacking de vários dias em que eu chego nos campos do Quiriri e pretendo descer esta trilha do Caminho dos Ambrósios até Garuva.

    Seria uma grande dificuldade empurrar trilha a baixo uma bicicleta com bagagens penduradas nela?

    Gostaria da sua opinião.

    Obrigado!

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    1. Obrigado André.
      Valeu.

      Em toda a travessia não existe trechos de escalaminhadas.
      O que vc vai encontrar são trechos muito ingremes e não muito recomendável para bikers, mas nesse caso para quem está subindo.
      Como sua intenção é descer pelo Caminho dos Ambrósios (é o mesmo percurso que eu fiz subindo), a dificuldade não será tanta.
      Vai passar por algumas valas resultantes das enxurradas e creio ser perfeitamente possível descer pelo Caminho de bike.
      Dê uma olhada nas fotos, que estão no flickr.
      Coloquei centenas delas lá e para ver o que te aguarda.

      Boa sorte.

      Abcs

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  5. Muito legal sua aventura, parabéns!

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