27 de agosto de 2013

Relato: Travessia Lapinha x Tabuleiro pelo Pico do Breu - Serra do Espinhaço/MG

Mês de Julho chegando. Época de subir as montanhas e a dúvida sempre cruel: que caminhada fazer? 
O plano A era um circuito na região sul, que há muitos anos venho tentando fazê-lo, mas que não deu certo. Já tinha também um plano B, que era a Lapinha-Tabuleiro/MG. 
Depois de meu primeiro contato com o cerrado e os campos rupestres no Parque do Ibitipoca (relato aqui), queria voltar novamente a esse ambiente para uma travessia e a Lapinha-Tabuleiro estava nos meus planos para fazê-la algum dia. 
Essa é uma daquelas clássicas travessias que muito trilheiro já fez ou pretende fazer. 
Ela se inicia no Distrito da Lapinha (que pertence ao município de Santana do Riacho/MG), cruza os campos rupestres da Serra do Cipó (que é integrante da Serra do Espinhaço) no sentido nordeste para finalizar na Cachoeira do Tabuleiro, no distrito de mesmo nome, que pertence a Conceição do Mato Dentro. 

Na foto acima a Cachoeira do Tabuleiro vista do mirante


Fotos dessa travessia: clique aqui

Tracklog para GPS: clique aqui

Como pretendia fazer essa travessia em 3 dias iniciando em uma Segunda-feira, muita gente recusou o convite, dizendo que não poderiam faltar ao trabalho e só o Rodrigo e a Rosana que resolveram embarcar nessa caminhada. Nosso planejamento era acampar na casa da D. Ana Benta e na casa da D. Maria, incluindo a visita ao topo e a base da Cachoeira do Tabuleiro, mas não terminou exatamente dessa maneira. 

Nessa travessia existem várias opções diferentes de onde iniciar a caminhada, mas duas são bem conhecidas e se iniciam na Lapinha: a primeira é a que segue por uma trilha que contorna pelo sul a Serra do Breu (nome mais conhecido, mas na carta topográfica do IBGE consta como Abreu) e a outra opção é seguir na trilha que cruza o interior da Serra, passando pela base do Pico da Lapinha e no topo do Pico do Breu. 
Com belos visuais panorâmicos e passar pelo topo Pico do Breu, que é o ponto culminante da Serra do Cipó, essa foi a opção que escolhemos para a travessia. O único problema é o tempo gasto a mais, todavia compensa o esforço.
Tanto para chegar na Lapinha quanto para sair do Tabuleiro, a logística é complicada, pois os horários do ônibus são bem ingratos, obrigando a contratar um transporte ou depender de caronas.
Dentro do ônibus com Serra do Cipó ao fundo
O Sérgio Beck tinha publicado o relato dessa travessia na sua Revista Aventura Já alguns anos antes, mas o trajeto dele foi iniciar pelo Tabuleiro. Algumas informações poderiam ser úteis, mas iríamos manter o nosso roteiro, iniciando na Lapinha.
No dia marcado - Domingo - encontrei o Rodrigo e a Rosana na Rodoviária do Tietê e embarcamos de Cometa no horário das 21h45min em direção a Belo Horizonte. A viagem foi tranquila e chegamos lá pouco depois das 05:00 hrs. Depois de comprar a passagem para Santana do Riacho no guichê da Saritur para o horário das 07h30min, fomos tomar um café da manhã em uma lanchonete da Rodoviária. O ônibus saiu no horário e relativamente vazio, mas foi parando em vários pontos, depois que ele passou a cidade de Água Santa e com isso só fomos chegar em Santana do Riacho pouco antes das 11h30min. O que compensa é o visual do cerrado e dos paredões da Serra do Cipó depois que passamos por Cardeal Mota.
Igreja Matriz de Santana do Riacho
Desembarcamos em Santana do Riacho com outro grupo que também estava indo para Lapinha. O Sol estava de rachar com temperaturas acima de 30ºC e para piorar, eu tinha esquecido meu boné. Enquanto eu fui comprar um, o Rodrigo e a Rosana foram procurar algum transporte e conseguiram facilmente um que nos levaria até a Lapinha, mas antes de fecharmos com ele, nos informaram em um barzinho que o ônibus escolar iria sair por volta das 12:00 hrs de uma Escola pública, ao lado da Igreja Matriz e corremos para lá. O motorista aceitou dar carona para gente e lá fomos nós juntos com estudantes adolescentes. A estrada é bem precária e poeirenta e às 12h45min chegamos ao Distrito. 
Parte da Lagoa da Lapinha
Depois de arrumarmos as mochilas, nem perdemos tempo e seguimos na direção da Serra por uma pequena rua de terra que vai descendo até a lagoa, onde cruzamos o Riacho da Lapinha e nesse ponto já dava para ver a trilha que seguiríamos Serra acima. 
É aqui que as duas trilhas se dividem: para a direita é a trilha que contorna a Serra do Breu ao sul, sendo que ela é bem demarcada e muito mais usada. Seguindo em frente e depois para esquerda, beirando o paredão é a trilha que segue por dentro da Serra passando pelo topo do Pico do Breu.
E lá fomos nós, seguindo em frente, na direção nordeste por trilha bem demarcada. Ao longo do caminho cruzamos com vários banhistas que voltavam de poços e pequenas cachoeiras. 
Canos de água descendo do alto da serra
Inicialmente vamos nos guiando por alguns canos de água que descem da serra em direção ao Distrito e com isso vamos ganhando altitude. Alguns poços que passamos estavam cheios e depois de chegar a um pequeno platô que antecede o paredão da serra, a trilha segue rumo norte, cruzando com pequenos riachos e tendo ao fundo a bela vista do Distrito e da sua lagoa. 
Desse local avista-se a Cachoeira da Lapinha (também conhecida como Cachoeira Paraíso) junto ao paredão, mas devido a estiagem, a mesma estava totalmente seca.
Algumas pequenas placas indicando Pico da Lapinha à frente estão fixadas junto da trilha e com trecho bem tranquilo íamos ganhando altitude sem muito esforço. 
Lagoa da Lapinha
O que estamos fazendo é seguir na base do paredão contornando o Pico da Lapinha pela sua esquerda e ao longo dessa subida vamos encontrando os famosos “serrotes”, que são formações rochosas que emergem do solo em forma de rochas pontiagudas apontando para uma única direção. 
Eles são a prova material de que aquela região era um oceano há muitos e muitos anos atrás.
As 14h30min vamos adentrando um pequeno vale e depois de cruzar com uma cerca de arame, avistamos o que parece ser um Abrigo de Montanha entre dois picos (recentemente foi instalado um posto de controle com cobrança de taxa para passar pelo local). 
Abrigo de montanha
O lugar estava deserto e descansamos por alguns minutos na varanda. Em uma pequena pia do lado de fora reabastecemos nossos cantis e uns 15 minutos depois retomamos a caminhada, no sentido nordeste por trilha bem demarcada, mas que de repente segue na direção sul. 
Essa é a trilha que leva ao topo do Pico da Lapinha (conhecido também como Pico do Cruzeiro), mas nosso tempo era curto demais para subirmos até lá, por isso retornamos alguns metros e seguimos novamente rumo nordeste na direção de um morro que aparece bem ao fundo. Nesse ponto perdemos a trilha e nossa navegação teve que ser quase que toda só no visual, evitando um pequeno vale do lado direito. 
Interior da Serra do Cipó
Seguindo por campos rupestres e se distanciando desse vale pela esquerda, interceptamos uma trilha que vem do Abrigo e fomos seguindo por ela com o objetivo de chegar na base do morro, isolado na direção leste. E com pouco mais de 1 hora desde o Abrigo chegamos nele, mas tinha um problema. 
Novamente a trilha se perdia e procura dali, procura daqui e nada.
Nessa hora, o Rodrigo consulta seu GPS, que já tinha um tracklog plotado e fomos seguindo beirando o paredão do morro para a direita, para depois 
contorná-lo ao sul.
A melhor opção é contornar esse morro pela esquerda, já que a trilha é mais curta e o desnível é menor. 
Criação de gado no alto da serra
Mas fomos descobrir isso depois de ter contornado ele e aí já era tarde demais – talvez perdemos cerca de uns 30 minutos. Já do outro lado do morro agora seguíamos para o norte até cruzar uma cerca de arame no meio de um pasto com vários animais, por isso muito cuidado com os carrapatos nesse trecho. A trilha aqui não existe. Tivemos que seguir no visual mesmo.
Agora de frente para outro paredão, esse do Pico do Breu, notamos que seria complicado chegar ao topo dele. Tínhamos de procurar um trecho onde a subida fosse por um local seguro e lá fomos nós no extremo norte da pedra, onde o trecho íngreme não fosse tão perigoso e encontramos um lugar. 
Em direção ao topo do Pico do Breu
Por uma estreita trilha que quase não se via mais, íamos subindo o paredão sem maiores dificuldades. O problema era o horário, pois já eram mais de 17:00 hrs e logo o Sol ia se por no horizonte. Por uns 50 metros seguimos beirando o paredão na parte alta para depois virar à esquerda e chegar a um local quase plano que fica um pouco abaixo do topo. A parte mais difícil já ficava para trás e agora foram mais uns 5 minutos até chegar ao marco de pedras, que é o topo do Pico do Breu, com altitude de 1687 metros, pouco depois das 17h30min. 
Aqui é o ponto mais alto da Serra do Cipó e ainda conseguimos pegar os últimos raios do Sol, que se escondiam no horizonte.
Topo do Pico do Breu
Acampar aqui estava fora de questão, porque nossa água não era suficiente e nosso plano era chegar a todo custo no topo da Cachoeira do Tabuleiro no dia seguinte, por isso tínhamos que montar acampamento bem mais à frente, ou na casa da D. Ana Benta ou mais próximo dela. Depois de caminhar desde a Lapinha com temperaturas sempre acima de 30ºC, ao chegarmos no topo, a temperatura até que não diminuiu tanto assim, chegando a 18ºC. 
Depois de vários clics, pegamos nossas lanternas e com o GPS iniciamos a descida por volta das 18:00 hrs sempre no rumo leste. 
Aqui não existe trilha e como a vegetação é de campos rupestres até poderíamos descer tranquilamente se orientando somente pelo visual, mas se fosse durante o dia.
Descendo do topo do Pico do Breu
Nessa descida evitamos alguns trechos mais íngremes e bem ao fundo conseguíamos ver algumas luzes que eram de lanterna ou lampiões e que o Rodrigo insistia que eram o reflexo da Lua (no dia seguinte ao chegarmos na casa da D. Ana Benta descobrimos que as luzes eram da casa dela).
Descendo quase que em zig zag chegamos no leito do Rio Parauninha pouco depois das 19h30min. 
Aqui procuramos um local plano para montar as barracas, mas não encontramos e por isso cruzamos o rio e seguimos para direita, seguindo próximo à sua margem até chegar na Prainha uns 20 minutos depois. 
O lugar é uma autentica praia de água doce, junto a uma curva do rio e suas areias são branquíssimas e muita fina. 
Na Prainha
Por ser área de propriedade particular, acampar aqui não é permitido, mas pelo horário que chegamos e bem cansados, montamos nossas barracas no meio das árvores. Depois de um belo banho no rio, fui preparar o meu jantar, que era sopão de carne com pedaços de salame. Saciada a fome fomos dormir por volta das 21h30min.
Levantei por volta das 07:00 hrs com tempo perfeito e com o Sol já nos dando as boas vindas para mais 1 dia de caminhada. Depois de um breve café da manhã e vários clics da Prainha retomamos a caminhada pouco depois das 08:00 hrs na direção da casa da D. Ana Benta. 
A partir desse trecho encontramos várias placas da AMAS-CIPÓ que apontavam Tabuleiro numa direção e Lapinha na direção contraria - algumas também continham frases. Nesse trecho encontramos a trilha que vem da Lapinha e contorna o Pico do Breu pelo sul.
Pico do Breu ao fundo
A trilha é bem demarcado, parecendo uma estrada e sempre seguindo na direção nordeste, mas por um descuido, nosso passamos a entrada que leva a casa da D. Ana e chegamos a um grande curral. Com uma cerca de arame separando a propriedade, a porteira estava trancada a cadeado e agora o que fazer? A Rosana pulou a porteira e resolveu seguir até uma casa que é a sede do sítio, mas teve que retornar. O caminho para casa da D. Ana era na direção sudeste, seguindo por uma estrada à direita. 
Reunidos novamente, seguimos por ela até chegar na casa por volta das 09:00 hrs. 
D. Ana
D. Ana é uma senhora com mais de 80 anos, mas aparenta ter bem menos e sua simpatia e vitalidade é de dar inveja. Ela mora sozinha e naquele momento só estava com seu sobrinho, que não quis aparecer. Depois de conhecê-la e tomarmos um café, nos despedimos e retomamos a caminhada. Daqui em diante tínhamos 2 opções: voltar até o curral e seguirmos por uma trilha rente a cerca de arame ou continuar pela estrada no sentido norte até chegar em um pequeno vale e foi o caminho que escolhemos. 
Já no meio da vale, a trilha segue por alguns minutos na direção sul para repentinamente virar na direção norte já na crista da serra. 
Trilhas pela serra
Bifurcações surgem à direita e do lado esquerdo o visual é de encher os olhos da Serra do Breu. Seguimos por esse trecho no plano por cerca de 2 km até chegarmos a uma porteira do lado direito e nesse ponto saímos da estrada e seguimos na direção nordeste pelo meio do pasto. 
Visual da região
Junto da porteira encontramos outra placa indicativa jogada ao chão apontando Lapinha para um lado e fixamos ela no solo com algumas pedras, mas pode ser que não aguente muito. 
Ela serve de referencia para sair da estrada.
Seguindo por caminho de vacas, surge ao fundo uma casa isolada à esquerda no meio dos campos rupestres e próximo dela cruzamos um pequeno riacho com vários pequenos poços, mas não é uma água potável, já que devido ao pequeno volume, o gosto da água é ruim.
Nascentes junto da trilha
Mais alguns metros e outra placa, mas essa com uma frase de Charles Chaplin. Surgem outros serrotes à direita e chegamos a mais uma bifurcação com trilha bem demarcada dos dois lados. 
Para a direita a trilha parece levar até uma casa, na borda da mata, mas nossa direção é seguir para esquerda. 
Depois de outro trecho de serrotes, onde a caminhada é no meio deles, chegamos no fundo de um pequeno vale, onde vamos cruzar a porteira da Água Preta (existe uma placa no local).
Protegido pela mata ciliar, o riacho tem água de boa qualidade e é o melhor lugar para encher os cantis com ela geladinha. 
Mais nascentes
Nem ficamos muito tempo aqui e depois de cruzar uma pinguela em cima do riacho, a trilha sai em campo aberto novamente e vamos seguindo próximo ao rio. Outra casa surge do lado direito junto da mata e uma placa indica a Cachoeira da Escadinha, que nem chegamos a conhecer. 
Chegando na casa
Uns 15 minutos desde que passamos pela porteira da Água Preta, já visualizamos a casa da D. Maria e Seu Zé, ao lado da trilha, onde chegamos por volta das 12h30min. 
Só encontramos Seu Zé e sem mais demora deixamos nossas mochilas na sala e seguimos para o topo da Cachoeira do Tabuleiro. 
Casa da D. Maria e Seu Zé
Saímos por volta das 13:00 hrs e com algumas indicações de Seu Zé, seguimos por trilha bem demarcada tendo apenas uma recomendação: assim que chegássemos na primeira porteira, tínhamos que seguir na bifurcação da esquerda. 
Tivemos só um pequeno probleminha ao pegar caminho errado, mas é só não cruzar a segunda porteira. 
Já de volta à trilha, seguimos rumo sudeste até chegar ao início de um pequeno morro e no topo já víamos o fundo do vale do Ribeirão do Campo, que é o rio da Cachoeira do Tabuleiro. 
Pequenas cachoeiras no Ribeirão do Campo
Agora era só descer até o leito dele por trilha demarcada, íngreme e cheia de pedras, onde chegamos pouco antes das 15:00 hrs. 
Junto a um descampado encontramos uma placa de proibido acampar colocada pelo pessoal do Parque, mas parece que não vem sendo respeitada. Já no leito do rio, seguimos descendo e aproveitando as inúmeras pequenas cachoeiras e poços, que são um convite ao banho, mas com água gelada. 
A caminhada pelo rio foi rápida e em 15 minutos chegamos no topo da cachoeira, encontrando um grupo de umas 5 ou 6 pessoas que estavam acampados na casa da D. Maria também. 
Topo da Cachoeira do Tabuleiro
O volume de água era bem pouco, mas a beleza do lugar é sensacional. A queda tem 273 metros (sendo considerada a 3ª maior do país e 1ª de MG). 
Do topo se tem uma visão panorâmica de toda a trilha que leva até o poço que fica na base, sendo que parte dessa caminhada é feita pelo leito do rio, pulando pedras e é esse roteiro que iremos fazer no dia seguinte. As laterais do topo são verticais e alguns pontos parecendo serem negativos.
O poço onde fica a base só pode ser visto se deitarmos sobre um pequeno platô na beirada e junto do topo o rio represou uma pequena quantidade de água onde eu refresquei meus pés por um longo tempo.
Lado de fora da casa de D. Maria
Pouco antes das 16:00 hrs voltamos para a trilha a fim de vencer os quase 300 metros de aclive morro acima e fomos chegar na casa da D. Maria já com o Sol se pondo.
O local onde normalmente a galera acampa fica separado da casa e já estava com 3 barracas montadas e só de garotos, por isso resolvemos montar as nossas de frente para casa. 
Depois de um banho quente, fomos jantar na cozinha da casa com cardápio que era arroz, feijão, salada e carne de boi com batata e eu acrescentei também o que restava do salame. 
Com Seu Zé e D. Maria
Outra noite tranquila e sem ventos. O difícil foi aguentar 2 galos (um deles era um Galo Garnizé, que é um mini Galo) cantando antes do amanhecer, por volta das 05:00 hrs, que fizeram a gente levantar bem mais cedo. 
Descendo pela trilha
O tempo estava fechado e nas partes mais altas da serra, a neblina encobria tudo. Só torcíamos para que não chovesse porque proibiriam o acesso à parte baixa da cachoeira.
Depois de um breve café da manhã incluso no valor do camping, desmontamos as barracas e nos despedimos da D. Maria e Seu Zé.
Agora era mochilas nas costas e pé na trilha. 
Grandes vales na região
Saímos pouco antes das 08:00 hrs e ao longo da descida avistamos um enorme cânion à esquerda – é o do Rio Preto e que pode ser uma outra boa opção de travessia. Conforme seguíamos a trilha já avistávamos a guarita do Parque Municipal e lá era o nosso objetivo, chegando pouco depois das 09:00 hrs. 
Só que não esperávamos receber uma triste noticia – o acesso à base da cachoeira estava proibido devido a previsão de chuvas e só nos autorizavam a visitar o mirante. 
Até pensamos em fazer na surdina, mas melhor não e ao retornarmos para a guarita já tinham liberado o acesso à parte baixa, pois o tempo melhorou. 
Cachoeira do Tabuleiro ao fundo
Deixamos as mochilas junto da guarita e pagamos taxa de visitação. Alguns trechos da trilha são de pedras e o mais complicado é o inicio da descida até o rio. Por ser de chão batido e escorregadio, se chover o risco de acidentes é muito grande e ao chegar ao leito do rio fomos pulando algumas pedras até a base da cachoeira. Encontramos um casal que já estava aproveitando o Sol e a garota praticava topless em cima de uma pedra no meio do poço. 
Chegando na base
Era uma francesa, que mesmo depois de chegarmos, ficou na borda do poço tomando Sol ao natural. 
Não era siliconada, mas chamava a atenção e com mais gente chegando, ela resolveu se vestir. 
Poço da cachoeira
O poço tem uns 20 metros de profundidade com uma enorme rocha no meio, sendo um lugar que merece ficar por algumas horas contemplando, porque o visual é fenomenal. Em certos momentos, devido ao vento muito forte, só chegava no poço um pequeno spray de água.
Para quem olha a cachoeira pela parte de baixo vê o formato de coração no paredão - é lindo. Ficamos um certo tempo mergulhando aqui e depois de vários clics, voltamos para a guarita, onde chegamos pouco antes das 13:00 hrs.
Névoa da Cachoeira do Tabuleiro
Agora era conseguir um transporte até Conceição do Mato Dentro e de lá para BH. O marido da D. Maria – Seu Zé – tinha nos passado um contato e ligamos da guarita, mas vimos uma van estacionada com várias pessoas e conseguimos uma carona para Conceição do Mato Dentro, nos deixando em frente a Rodoviária da cidade por volta das 14:00 hrs. 
Assim que descemos da van, um taxista com um único passageiro parou ao nosso lado perguntando se não queríamos ir com ele para BH. Na hora ficamos em dúvida e fomos ao guichê da empresa Serro para saber se tinha algum ônibus com lugares vazios saindo dali a pouco. Depois de ouvir o funcionário dizer que só tinham passagens para as 18:00 hrs, não pensamos 2x e seguimos no táxi até BH.
O único problema foi o taxista que parecia estar treinando para a Fórmula 1. Em todas as curvas a gente escutava os pneus cantando e com ele, placas de proibido ultrapassar não existiam. 
A todo momento olhava para o Rodrigo ao meu lado e nem precisava dizer nada. 
Eu estava no banco atrás do passageiro e dava para ver a aflição dele também, já que ele segurava com as duas mãos o puxador da porta quando surgia uma curva (não era só eu que estava quase cagando nas calças). O nosso receio era que pegássemos um trecho escorregadio e acontecesse um grave acidente, mas assim que chegamos em Lagoa Santa, ele foi obrigado a diminuir a velocidade, já que o trecho passa por dentro da cidade e de algumas pequenas vilas.
Graças a Deus chegamos na Rodoviária de BH inteiros. O percurso foi muito rápido, em cerca de 2h30min e assim que descemos do táxi já corremos para o guichê da Viação Cometa para ver se ainda conseguiríamos passagens naquele momento, a tempo de chegar em SP por volta da meia noite, mas o último ônibus já tinha saído as 14:00 hrs e outro só as 20h30min e com isso a previsão era de chegarmos em SP no início da manhã, mas no meio da estrada pegamos um acidente que nos atrasou por quase 4 horas. 


Dicas e informações úteis (Atualizado Julho/2020)


# Relato do Rodrigo: 

www.exploradores.com.br/travessia-lapinha-x-tabuleiro/

# Logística
- Ônibus Belo Horizonte-Santana do Riacho: Empresa Saritur.
 ww.saritur.com.br
- De Santana do Riacho até a Lapinha não existe linha de ônibus circular.  
São 3 opções: 
- A 1ª é conseguir uma carona no ônibus escolar em dias de semana que sai de uma escola ao lado da Igreja Matriz, por volta das 12:00 hrs.
- A 2ª opção é contratar um transporte e não é difícil conseguir.
- A última opção é seguir na caminhada por um trecho da estrada poeirenta e depois por trilha em um total de uns 8 Km cruzando um morro que separa a cidade do distrito.
- Ônibus circular saindo do Distrito do Tabuleiro para Conceição do Mato Dentro até existe, mas somente as 2as, 4as, 6as e Sabados.
- Uma opção é pegar carona em dias de semana no ônibus escolar que sai por volta das 11:00 hrs da Igrejinha do Tabuleiro.
- Ou contratar um transporte. Seu Zé tem o telefone de um que pode ser útil. Na guarita do parque eles também têm alguns telefones de pessoas que oferecem transporte.
- Taxista Edson, que nos levou de Conceição do Mato Dentro até BH.
Tel: (31) 99673-4883.

Informações passadas pelo trilheiro Jeremias Becker: - Para quem pretende passar pelo Pico do Breu, agora é cobrada uma taxa de $25 Reais (ano 2020), em um posto de controle no inicio da trilha. E no Abrigo de Montanha o acesso é liberado agora. 
Na página de comentários do tracklog, no site do wikiloc, ele postou ótimas informações recentes e que podem ser úteis a quem pretende repetir essa caminhada: Clique aqui.

Infelizmente D. Ana Benta faleceu no final de 2014 e quem está agora cuidando da casa é o sobrinho Lúcio que continua recebendo os trilheiros.
Contato do Lúcio (31) 99129-0991 e (31) 99652-9156

# Recentemente entre a casa da falecida D. Ana Benta e D. Maria, o IEF (Instituto Estadual de Florestas) instalou um posto de controle no trajeto.

# Foi criado também um outro ponto de apoio: a casa do Chico Lage, que pode ser uma boa opção, se não der para chegar na casa da D. Maria.

É proibido o camping na Prainha.

# Para quem quiser fazer essa travessia contornando ao sul a Serra do Breu pode economizar umas 3 horas em relação a quem passa pelo topo do Pico do Breu.

# Para quem pretende fazer o mesmo percurso que a gente, passando pelo topo do Pico do Breu é preciso tomar muito cuidado. A partir do Abrigo de Montanha, que tá próximo da base do Pico da Lapinha, a trilha não é tão demarcada e em vários trechos tivemos que caminhar somente nos orientando pelo visual. Mesmo quem não tem GPS recomendo levar o tracklog impresso desse trecho até o topo do Pico do Breu. Ao descer do Pico do Breu também não existe trilha e a navegação é somente no visual, por isso muito atenção aqui.

# Pouco antes de chegar ao topo do Pico do Breu, estávamos com um tracklog que nos levou a contornar um dos morros pelo sul. Se puder, contorne-o pelo norte, economizando uns 30 minutos de caminhada.

# O topo do Pico do Breu não possui lugares confortáveis para montar barraca e o único ponto de água anterior fica no Abrigo de Montanha.

# Para quem não tem muita experiência em caminhadas, não recomendo fazer a Lapinha-Tabuleiro pelo Pico do Breu. Em vários trechos a navegação é quase sempre no visual e na base do Pico do Breu existe um trecho de paredão, onde o risco de acidentes é grande, se não tomar cuidado.

# Se quiser incluir o topo do Pico da Lapinha (conhecido também como Pico do Cruzeiro) a essa travessia, deve acrescentar no mínimo uns 40 minutos ao total da caminhada.

# Na página do wikiloc, onde está o tracklog dessa travessia, vários usuários atualizaram essa caminhada, com alguns comentários importantes e úteis. Se puder, veja lá na página.

# Obrigatório levar um boné e protetor solar. Em toda essa travessia não existe um único trecho de sombra. É só cerrado e campos rupestres. Por um lado se tem um lindo visual panorâmico em toda a caminhada, mas o Sol não perdoa.

# Taxa de visitação da Cachoeira do Tabuleiro: $10/pessoa (ano 2020). Para acessar a parte alta, o Parque só permite a entrada até as 11:00hrs. 
Para chegar no poço da base, somente até as 14:00hrs.

Em dias de chuva ou com previsão, o Parque não permite o acesso à parte baixa da Cachoeira do Tabuleiro. Atente a isso.

# Limite de visitantes dentro do Parque é de 200 turistas por dia.

# Descendo a trilha que sai da D. Maria é possível pegar uma bifurcação à esquerda e emendar com outra travessia. A Tabuleiro-Extrema que passa pelos cânions do Rio Preto e Peixe Tolo e algumas cachoeiras. É uma mega pernada, porque essa travessia irá terminar em Congonhas do Norte. 

# A região da Serra do Cipó, que fica próximo da Lapinha, oferece dezenas de travessias e trilhas que levam a cânions e cachoeiras. E a maioria delas com trilhas bem demarcadas e com caminhadas por campos rupestres.

# Uma boa opção para quem tem dias sobrando para finalizar essa travessia é seguir para a Cachoeira Bicame, que fica ao norte da Serra do Breu. Pelo Google Maps é possível visualizar toda a trilha que leva até lá.


# Pontos de água confiáveis
- No trecho inicial na subida da serra, a trilha cruza com pequenos riachos.
- No Abrigo de Montanha.
- Na casa da D. Ana Benta.
- Casa do Chico Lage.
- Casa da D. Maria e Seu Zé.


17 comentários:

  1. uaauuu! cheguei agora mas volto pra ler tuuuuuuuuuuudo, agora to no trabalho numa folguinha pro lanche!

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    1. Ola Ana.
      Esses relatos que escrevo são bem extensos e detalhados.
      Sempre escrevo assim.

      A região é linda e faltou ainda incluir muita coisa.
      Boa leitura.


      Abcs

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    1. Blz Rafa.
      Sem dúvidas essa travessia tá entre as primeiras das mais bonitas que eu já fiz.
      Boa parte da caminhada é sempre com visual para todas as direções e para finalizar, tem a parte alta e baixa da Cachoeira do Tabuleiro, que é sensacional.
      É privilegiado quem mora nessa região.


      Abcs

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  3. Fala Augusto,
    Que bacana que esteve por lá... e que tenha gostado.
    Eu também gosto muito desses descampados, ver ao longe...

    E parabéns pelo escrito, como sempre pontual e imbatível!
    Abração

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    1. Blz Francisco.
      Demorei muito para fazer uma travessia por uma região como essa.
      Agora tô vendo outras opções próximas.
      E vai ser uma caminhada também por cerrados e campos rupestres, só que um pouco mais longa.
      Vou dar um tempo nas trilhas pela mata atlântica e nos campos de altitudes.

      Valeu.

      Gde abc.

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  4. Parabéns e obrigado por mais um relato!

    Começo agora a preparação de mais um rolezinho previsto para 2014 e, como tem sido sempre, consultar os seus relatos virou quase que uma obrigação para mim!

    Obrigado mais uma vez!

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    1. Ola Fábio.

      Esse travessia na Serra do Cipó é linda viu.
      Para quem estava só acostumado a trilhar pela Mantiqueira e na Serra do Mar, essa região de campos rupestres e cerrado vale o esforço.
      Pena que é muito longe de Sampa e a logística p/ chegar ou sair é sempre complicada.
      Mas com certeza minhas próximas caminhadas serão nesse ambiente.

      Aproveite.


      Abcs

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  5. Cara que legal o relato, quero ir com minha esposa, mas estamos um pouco fora de forma. Ao sul pelo Breu economiza 3 hs, mas ai fica em quantas hs o percurso? Do Distrito de Tabuleiro até o pico.

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  6. Se vc seguir pelo sul, não passando pelo topo do Pico do Breu vai ter uma economia de tempo bem grande.
    Iniciando bem de manhãzinha na Lapinha, creio que até dê p/ chegar na casa da D. Maria no final da tarde.
    Boa parte dessa travessia é no plano, com pouquíssimas subidas.
    O trecho de descida é a partir da casa da D. Maria em direção ao Distrito do Tabuleiro. É um longo trecho.
    Já se vc quiser vir do Distrito do Tabuleiro p/ a Lapinha, como vc perguntou, eu não recomendo.
    É um trecho longo de subida até a D. Maria e mais outro até a base do Pico do Breu.
    Em 1 dia é dificil.
    É cansativo demais fazer Tabuleiro- Lapinha.
    Veja no tracklog do Rodrigo a declividade dessa travessia.
    http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=5048439


    Abcs

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  7. Augusto, onde imprimir o tracklog??

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  8. Ola Rafaela.

    O tracklog até dá p/ imprimir, mas vc terá de fazer isso lá no site onde eu postei.
    É só abri-lo no google maps e depois imprimir através do print screen.
    Na verdade o tracklog é p/ ser feito o download p/ um aparelho GPS p/ vc levar na trilha.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Olá Augusto, tô namorando esta travessia (Lapinha x Tabuleiro), e suas dicas estão sendo de muita valia.

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    1. Ola Nazareno.
      Vc, como um bom mineiro, deve conhecer muito bem o cerrado e esse tipo de vegetação é predominante nessa travessia e na minha opinião é a grande atrativo.
      Ela possibilita vc ter belos visuais ao longo dessa caminhada.
      Fechando com chave de ouro na Cachoeira do Tabuleiro.
      Só a logística que é um pouco complicada, mas vale a pena.

      Abcs

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  11. Bom dia Augusto.
    Já faz um tempo que estou querendo fazer esta travessia.
    Quero ir de carro até a Lapinha e contratar alguém que me leve de volta até o carro.
    Poderia me detalhar mais como fez a volta do Tabuleiro?

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    1. Oi Camila, tudo bom?
      Se vc pretende fazer essa travessia sozinha, a melhor opção é deixar o carro em Santana do Riacho e na cidade contratar um tipo de "mototáxi" que é bem barato e que te leve até a Lapinha.
      O acesso até Santana do Riacho é todo asfaltado. Já dali até a Lapinha é estrada de terra, por isso é melhor contratar um transporte.
      Já para sair do Tabuleiro, a melhor opção é tentar uma carona até Conceição do Mato Dentro e de lá seguir de onibus até Cardeal Mota e de lá retornando até Santana do Riacho p/ pegar o seu carro.
      Uma outra opção é deixar o carro em Cardeal Mota (existem muitos campings e pousadas e vai ser bem fácil conseguir deixar seu carro por alguns dias).
      E depois pegar o onibus para Santana do Riacho e de lá seguir p/ a Lapinha.
      Com isso ficaria mais fácil vc sair de lá, porque só pegaria um onibus de Conceição até Cardeal Mota.

      O roteiro que a gente fez para sairmos do Tabuleiro foi pegar uma carona na cachoeira, que nos deixou em Conceição do Mato Dentro e de lá pegamos um táxi-lotação até BH.
      Se fossemos de ônibus demoraríamos muito e tinhamos pressa em voltar p/ BH.


      Abcs

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